quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Exercício: Van Wey, Teorias subjacentes ao estudo de interações homem-ambiente

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável / Doutorado
Disciplina: Ciência e Gestão da Sustentabilidade
Professores: Elimar Nascimento, Thomas Ludewigs, Maurício Amazonas e Frederick Mértens.
Discente: Juliana Capra Maia
Texto: VAN WEY, Leah K.; OSTROM, Elinor; MERETSKY, Vicky. “Teorias subjacentes ao estudo de interações homem-ambiente”, in MORAN, Emilio F. (org.) e OSTROM, Elinor (org.) Ecossistemas Florestais: Interação Homem-Ambiente. Tradução: Diógenes S. ALVES e Mateus BATISTELLA. Traduzido de: Seeing and the trees: Human-environment interactions in Forest ecossistems, 2005. Massachusetts Institute of Technology. São Paulo: Editora SENAC/EDUSP, 2009.


PERGUNTA:

Segundo Van Wey et al (2009), teorias que abordam a relação homem-ambiente podem ser classificadas em três grandes grupos:
(a) Teorias tradicionais;
(b) Teorias com base em estruturas; e
(c) Teorias com base em agência ou expediente humano.

Considerando a expansão agrícola no Cerrado e/ou Amazônia (escolha um ou os dois, como quiser), forneça exemplos (ao menos um para cada grupo a), b) ou c)) de como estas teorias podem ajudar a explicar os processos de ocupação da (s) região (ões) e a decisão sobre o uso da terra, ou de ONDE a conversão de vegetação nativa para agricultura/pecuária é mais provável de ocorrer.

(a) Teorias tradicionais >>>
As teorias tradicionais são utilizadas há mais tempo e relacionam população (normalmente, tamanho ou densidade) ao meio biofísico (uso da terra). Os autores afiliados a tais teorias e citados no texto são: Malthus; Ehrlich e Ehrlich; Grant; B. Lee Turner; Boserup; K. Davis; Blisborrow; Von Thünen.
As teorias tradicionais, especialmente as proposições de Von Thünen acerca do impacto da localização da terra sobre o seu uso (distância em relação aos centros consumidores), podem ajudar a explicar a expansão agrícola sobre o Cerrado. Até 1960, o Centro-Oeste era uma das regiões mais inóspitas do Brasil. Desprovida de rios navegáveis, de estradas ou de recursos naturais cobiçados, as terras situadas no Cerrado eram baratas e incultas, dados os enormes custos de transporte envolvidos nas atividades produtivas cujos destinatários em potencial seriam os centros urbanos situados na região costeira do país. A criação do Distrito Federal na parte central do Estado de Goiás e a mudança da capital para o Centro-Oeste criou uma nova centralidade regional: (1) atraiu – como ainda atrai – levas de migrantes, o que vem aumentando sistemática e progressivamente a pressão sobre a terra; (2) aumentou a demanda por alimentos, outros bens e serviços, estimulando a agricultura e a pecuária nos arredores da nova capital; (3) provocou incremento do sistema viário que liga o Centro-Oeste às demais regiões do Brasil, facilitando o escoamento da produção agrícola e, portanto, a conversão de áreas naturais em áreas cultivadas. De acordo com esta explicação, a conversão das áreas naturais em terras cultivadas tende a ocorrer nas proximidades das estradas e dos centros urbanos.     

(b) Teorias com base em estruturas >>>
Assumem que indivíduos, unidades domésticas e comunidades atuam em consonância com fatores estruturais, sejam sociais, sejam biofísicos. O texto cita as seguintes explicações estruturais: Teoria da Dependência; Forças políticas e governamentais; Transição Demográfica; Ciclo de Vida de uma Unidade Doméstica.
As teorias estruturais, especialmente a Teoria da Dependência e das Forças Políticas e Governamentais, também podem ajudar a explicar a expansão da agricultura e da pecuária sobre o Cerrado.
Sob a ótica das forças políticas e governamentais, o incremento das atividades produtivas no Centro-Oeste pode ser explicado como resultado de uma diretriz governamental clara que visa transformar o Centro-Oeste em região produtora de bens primários. Essa diretriz vem sendo alcançada por meio da disponibilização de crédito (FCO) e por meio do fornecimento de tecnologia (estudos da Embrapa para correção da acidez dos solos do Cerrado) do poder central em prol dos produtores locais. Aqui, a fronteira agrícola ou pecuária avançará sobre as áreas nativas privilegiadas pelas políticas públicas. 
 Sob a ótica da Teoria da Dependência, por sua vez, a expansão da fronteira agrícola sobre as áreas de Cerrado pode ser compreendida como resultado da inserção do Brasil na ordem econômica internacional como produtor de bens primários. Ademais, soja, milho e gado bovino (principais vetores da expansão agrícola e pecuária sobre o Cerrado) constituem commodities na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF) brasileira. Em outras palavras, tais produtos não geram riqueza apenas para aqueles que os comercializam (isto é, troca de Mercadoria por Dinheiro), mas também para aqueles que com eles especulam (isto é, troca de Dinheiro por Dinheiro). Dessa forma, o avanço desenfreado das atividades agropastoris sobre as áreas naturais é o resultado espacial do avanço do capital especulativo na economia brasileira. Aqui, toda e qualquer área disponível para agricultura mecanizável configura, potencialmente, região de avanço da fronteira agropastoril sobre matas nativas. 

(c) Teorias com base em agência ou expediente humano >>>
Aqui, os atores são a principal força da mudança social. São eles que tomam esta ou aquela decisão com base nas estratégias disponíveis. Constituem fundamento da Economia Neoclássica, da Geografia Econômica, da Teoria da Ação Coletiva (Olson, Hardin), da Ecologia da Paisagem.

Considerando o caos fundiário existente em todo o Brasil, bem como a relativa facilidade em fraudar os registros públicos, a Teoria da Ação Coletiva também pode auxiliar na compreensão do avanço das atividades agropastoris sobre as áreas de cerrado nativo. Apesar de leis que dispõem em sentido diverso, a posse ainda é o mais seguro regime da propriedade privada sobre a terra no Brasil. Em outras palavras, no Brasil, a terra é um common. Em sendo assim, o cálculo racional de cada produtor incentiva o máximo da exploração, no menor tempo e da maior área possível de terras. Noutros termos, o cálculo racional induz à degradação ambiental. Sob esta ótica, a fronteira agropecuária avançará preferencialmente sobre as áreas nativas desocupadas e desprovidas de definição clara de propriedade.  

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