sábado, 27 de setembro de 2014

Ficha de leitura: Existe uma modernidade brasileira? Reflexões em torno de um dilema sociológico brasileiro. Sérgio Tavolaro.

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Oficina de textos científicos
Professores: José Augusto Drummond e Marcel Bursztyn
Aluna: Juliana Capra Maia
Ficha de Leitura
Texto: TAVOLARO, Sérgio B. F. Existe uma modernidade Brasileira? Reflexões em torno de um dilema sociológico brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, volume 20, nº 59, Outubro/2005. Pp. 05 a 22.


** Crítica à Sociologia da Dependência e à Sociologia da Herança Patriarcal-Patrimonial, correntes que resistem em ver a sociedade brasileira em pé de igualdade com as sociedades modernas centrais.
  • Tanto a Sociologia da Dependência quanto a Sociologia da Herança Patriarcal-Patrimonial seriam essencialistas: Caracteres historicamente construídos são deslocados de seus contextos e transformado e variáveis independentes, capazes de explicar qualquer momento da história ou da sociabilidade brasileira.  

** Ambas as correntes assumem que a modernidade se estrutura em torno de três pilares:

  • Diferenciação / complexificação social;
  • Secularização;
  • Separação entre público e privado.


** Teses da Sociologia da herança patriarcal-patrimonial
  • Autores: Freyre, Holanda, Faoro e Da Matta.
  • As distorções da sociabilidade moderna brasileira seriam efeitos da herança patrimonial-patriarcal: “[...] certos códigos de sociabilidade típicos da família patriarcal e do pater familias teriam permanecido ativos na dinâmica social do Brasil contemporâneo para além do período colonial”. P. 07.
  • Brasil: limbo de semi-modernidade.
  • Sérgio Buarque de Holanda: Ética da aventura X Ética do trabalho.
  • Raimundo Faoro: A singularidade da modernidade brasileira teria suas raízes no Estado patrimonial que se constituiu em Portugal desde os idos de sua formação. Porosidade entre os domínios públicos e a casa real. Pouco espaço para códigos impessoais.
  • Roberto da Matta: O Brasil é marcado pela coexistência entre um código pessoal e um sistema legal individualizante enraizado na ideologia burguesa liberal. Casa X Rua. O Brasil seria semitradicional. 
Assim, de acordo com a imagem da sociedade brasileira contemporânea projetada por essa primeira abordagem, a despeito de ter passado por processos de complexificação e modernização, nossa sociedade jamais atingiu o grau e a extensão da diferenciação social, da secularização e da separação entre o público e o privado observados nas “sociedades modernas centrais”. Tais características explicariam o status semimoderno da sociedade brasileira contemporânea. P. 10.


** Teses da Sociologia da Dependência
  • Autores: Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso. 
  • A posição periférica ocupada pelo Brasil no mercado capitalista internacional: Motivo de as principais instituições, formas de sociabilidade e os principais valores das sociedades centrais jamais terem enraizado na nossa sociedade com a mesma dimensão e profundidade.
  • De acordo com esta corrente, a experiência capitalista brasileira (capitalismo dependente) teria sido suficiente para solapar a ordem tradicional, mas não para instituir uma modernidade plena.
  • Brasil: modernidade periférica (e não semimodernidade).


** Tanto a Sociologia da Dependência quanto a Sociologia da Inautenticidade seriam eurocêntricas, no sentido de que as instituições típicas das sociedades europeias seriam vistas como etapa a ser alcançada por outras sociedades.
  • Adoção do discurso sociológico hegemônico acerca da modernidade, consolidado pelos autores: Marx, Weber, Durkheim, Simmel, Parsons, Luhmann e Habermas.
  • Sociedades modernas centrais seriam aquelas em que:

(a) Estado, mercado e sociedade civil ocupam necessariamente esferas plenamente diferenciadas entre si, reguladas exclusivamente por códigos próprios e dinamizadas por lógicas particulares; 
(b) a normatividade que regula as relações entre indivíduos e deles com o Estado e o mercado são plenamente desencantadas além de protegidas de influências de concepções de mundo e sistemas normativos não-racionalizados; e 
(c) os âmbitos público e privado, por sua vez, são também plenamente separados, cada um dos quais ordenado por códigos e lógicas particulares, comunicando-se apenas e tão-somente através de canais apropriados que mantêm inalterados os termos e as regras de cada um dos domínios.
    
  • Problema: nem as sociedades modernas centrais, nem as sociedades de modernidade tardia se encaixam uniformemente nesses parâmetros.
  • Sob essa visão, a sociedade brasileira seria invariavelmente “peculiar” em relação às sociedades centrais, dado que:
(a) Estado, mercado e sociedade civil são tidos como estruturalmente entrelaçados; 
(b) a normatividade que as permeia é vista como passível de influências de concepções de mundo e sistemas de normas apenas parcialmente racionalizados; e finalmente, 
(c) seus âmbitos de ação público e privado são, por sua vez, percebidos como interconectados.


** Soluções:
  • Considerar as peculiaridades das sociedades modernas, não somente os aspectos em que lhes parecem comuns.
  • Abandonar “as peculiaridades da modernidade brasileira” em favor da “modernidade no Brasil”. Foco na contingência.
  • Abolição de qualquer pretensão essencializante. Nada deveria ser mais avesso a essencializações que a Sociologia.
  • Compreender a modernidade como processo contingente decorrente de disputas entre grupos e forças sociais, isto é, como resultado de conflitos entre projetos, demandas, interesses e concepções de mundo.
  • Argumentos de Domingues e de Ortiz em prol das “múltiplas modernidades”. 

Domingues defende a necessidade de se avançar em direção a uma concepção multifacetada de modernidade. Trata-se, para ele, de vislumbrar as instituições modernas em sua dimensão processual, ou seja, como o resultado contingente e historicamente variável dos confrontos entre projetos particulares levados adiante por subjetividades individuais e coletivas. P. 11.

Ortiz, por sua vez, agumenta que o Brasil contemporâneo deve ser interpretado tendo-se como pano de fundo a noção de “modernidade mundo”. Para ele, atravessamos um momento em que a modernidade deixou de estar confinada a fronteiras nacionais; ao deslocar-se do Ocidente, tal processo pôs em xeque a existência de uma “única matriz moderna”. Parece-me, pois, que a modernidade vista como um tipo de sociabilidade histórico e contingente (já que fruto de disputas constantes entre projetos díspares), multifacetado e tendencialmente global abre-nos o caminho para uma alternativa àquele dilema sociológico. P. 11.

  • Versão de modernidade utilizada pelo autor:

(a) padrões variados de diferenciação/complexificação social >>> padrão de diferenciação liberal-capitalista; padrão de diferenciação social-democrático; padrão de diferenciação capitalista-corporativo; padrão de diferenciação autoritário (socialista ou capitalista); e padrão de diferenciação totalitário (socialista ou fascista). 
(b) padrões variados de secularização (tomados de José Casanova) >>> configurações em que associações religiosas têm papel ativo na vida pública; arranjos em que concepções religiosas se mantêm vivas e atuantes fundamentalmente em âmbitos sociais privados; e, finalmente, casos nos quais associações e concepções religiosas não têm peso marcante tanto em esferas sociais públicas como em âmbitos privados. 
(c) padrões variados de separação entre domínios públicos e privados (tomados de Bryan Turner) >>> o privado como âmbito de ação de indivíduos movidos pela busca de interesses subjetivamente definidos; o privado como domínio de códigos familiais de sociabilidade; o público entendido como resultante da vontade geral; e o público como esfera de sociabilidade controlada e definida pelo Estado.

A idéia de modernidade entendida como um tipo de sociabilidade multifacetada, constituída ao longo de disputas contingentes entre projetos, interesses e visões de mundo num contexto crescentemente globalizado, ajuda-nos a encontrar uma possível alternativa para o dilema que há muito intriga duas das principais abordagens no interior do pensamento social brasileiro. Em vez de reduzir as diversas configurações políticas, econômicas, institucionais e sociais experienciadas ao longo da recente história brasileira a um supostamente único tipo de configuração moderna (pré-determinado por tendências culturais e/ou econômicas), abre-se caminho alternativo para que se considere como as disputas que se desenrolaram entre nós vieram a se traduzir em padrões variados de diferenciação/ complexificação social, de secularização e de separação público/privado no decorrer de nossa história. P. 18.


** Minhas primeiras observações >>>
  • Mau uso ou mau entendimento do que vem a ser a Sociologia Compreensiva e a formulação de tipos ideais: Causalidade versus Condição Adequada.
  • Ao fim e ao cabo, para o autor, a modernidade é a ordem social pós-revolução industrial de cada nação que a experiencia? É o tempo presente em que cada uma vive? Relativismo exacerbado. Perda do valor explicativo dos conceitos. Falta de coragem científica?
  • Sobre o Eurocentrismo: toda Sociologia, Antropologia ou Ciência Política será comparativa. É um imperativo da linguagem como forma de estruturação mental.
  • Sobre a versão estendida de modernidade: “pode ser dominada pela religião... Ou não”. Que tipo de afirmação é essa? Que tipo de medição isso possibilita?

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Exercício: Van Wey, Teorias subjacentes ao estudo de interações homem-ambiente

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável / Doutorado
Disciplina: Ciência e Gestão da Sustentabilidade
Professores: Elimar Nascimento, Thomas Ludewigs, Maurício Amazonas e Frederick Mértens.
Discente: Juliana Capra Maia
Texto: VAN WEY, Leah K.; OSTROM, Elinor; MERETSKY, Vicky. “Teorias subjacentes ao estudo de interações homem-ambiente”, in MORAN, Emilio F. (org.) e OSTROM, Elinor (org.) Ecossistemas Florestais: Interação Homem-Ambiente. Tradução: Diógenes S. ALVES e Mateus BATISTELLA. Traduzido de: Seeing and the trees: Human-environment interactions in Forest ecossistems, 2005. Massachusetts Institute of Technology. São Paulo: Editora SENAC/EDUSP, 2009.


PERGUNTA:

Segundo Van Wey et al (2009), teorias que abordam a relação homem-ambiente podem ser classificadas em três grandes grupos:
(a) Teorias tradicionais;
(b) Teorias com base em estruturas; e
(c) Teorias com base em agência ou expediente humano.

Considerando a expansão agrícola no Cerrado e/ou Amazônia (escolha um ou os dois, como quiser), forneça exemplos (ao menos um para cada grupo a), b) ou c)) de como estas teorias podem ajudar a explicar os processos de ocupação da (s) região (ões) e a decisão sobre o uso da terra, ou de ONDE a conversão de vegetação nativa para agricultura/pecuária é mais provável de ocorrer.

(a) Teorias tradicionais >>>
As teorias tradicionais são utilizadas há mais tempo e relacionam população (normalmente, tamanho ou densidade) ao meio biofísico (uso da terra). Os autores afiliados a tais teorias e citados no texto são: Malthus; Ehrlich e Ehrlich; Grant; B. Lee Turner; Boserup; K. Davis; Blisborrow; Von Thünen.
As teorias tradicionais, especialmente as proposições de Von Thünen acerca do impacto da localização da terra sobre o seu uso (distância em relação aos centros consumidores), podem ajudar a explicar a expansão agrícola sobre o Cerrado. Até 1960, o Centro-Oeste era uma das regiões mais inóspitas do Brasil. Desprovida de rios navegáveis, de estradas ou de recursos naturais cobiçados, as terras situadas no Cerrado eram baratas e incultas, dados os enormes custos de transporte envolvidos nas atividades produtivas cujos destinatários em potencial seriam os centros urbanos situados na região costeira do país. A criação do Distrito Federal na parte central do Estado de Goiás e a mudança da capital para o Centro-Oeste criou uma nova centralidade regional: (1) atraiu – como ainda atrai – levas de migrantes, o que vem aumentando sistemática e progressivamente a pressão sobre a terra; (2) aumentou a demanda por alimentos, outros bens e serviços, estimulando a agricultura e a pecuária nos arredores da nova capital; (3) provocou incremento do sistema viário que liga o Centro-Oeste às demais regiões do Brasil, facilitando o escoamento da produção agrícola e, portanto, a conversão de áreas naturais em áreas cultivadas. De acordo com esta explicação, a conversão das áreas naturais em terras cultivadas tende a ocorrer nas proximidades das estradas e dos centros urbanos.     

(b) Teorias com base em estruturas >>>
Assumem que indivíduos, unidades domésticas e comunidades atuam em consonância com fatores estruturais, sejam sociais, sejam biofísicos. O texto cita as seguintes explicações estruturais: Teoria da Dependência; Forças políticas e governamentais; Transição Demográfica; Ciclo de Vida de uma Unidade Doméstica.
As teorias estruturais, especialmente a Teoria da Dependência e das Forças Políticas e Governamentais, também podem ajudar a explicar a expansão da agricultura e da pecuária sobre o Cerrado.
Sob a ótica das forças políticas e governamentais, o incremento das atividades produtivas no Centro-Oeste pode ser explicado como resultado de uma diretriz governamental clara que visa transformar o Centro-Oeste em região produtora de bens primários. Essa diretriz vem sendo alcançada por meio da disponibilização de crédito (FCO) e por meio do fornecimento de tecnologia (estudos da Embrapa para correção da acidez dos solos do Cerrado) do poder central em prol dos produtores locais. Aqui, a fronteira agrícola ou pecuária avançará sobre as áreas nativas privilegiadas pelas políticas públicas. 
 Sob a ótica da Teoria da Dependência, por sua vez, a expansão da fronteira agrícola sobre as áreas de Cerrado pode ser compreendida como resultado da inserção do Brasil na ordem econômica internacional como produtor de bens primários. Ademais, soja, milho e gado bovino (principais vetores da expansão agrícola e pecuária sobre o Cerrado) constituem commodities na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF) brasileira. Em outras palavras, tais produtos não geram riqueza apenas para aqueles que os comercializam (isto é, troca de Mercadoria por Dinheiro), mas também para aqueles que com eles especulam (isto é, troca de Dinheiro por Dinheiro). Dessa forma, o avanço desenfreado das atividades agropastoris sobre as áreas naturais é o resultado espacial do avanço do capital especulativo na economia brasileira. Aqui, toda e qualquer área disponível para agricultura mecanizável configura, potencialmente, região de avanço da fronteira agropastoril sobre matas nativas. 

(c) Teorias com base em agência ou expediente humano >>>
Aqui, os atores são a principal força da mudança social. São eles que tomam esta ou aquela decisão com base nas estratégias disponíveis. Constituem fundamento da Economia Neoclássica, da Geografia Econômica, da Teoria da Ação Coletiva (Olson, Hardin), da Ecologia da Paisagem.

Considerando o caos fundiário existente em todo o Brasil, bem como a relativa facilidade em fraudar os registros públicos, a Teoria da Ação Coletiva também pode auxiliar na compreensão do avanço das atividades agropastoris sobre as áreas de cerrado nativo. Apesar de leis que dispõem em sentido diverso, a posse ainda é o mais seguro regime da propriedade privada sobre a terra no Brasil. Em outras palavras, no Brasil, a terra é um common. Em sendo assim, o cálculo racional de cada produtor incentiva o máximo da exploração, no menor tempo e da maior área possível de terras. Noutros termos, o cálculo racional induz à degradação ambiental. Sob esta ótica, a fronteira agropecuária avançará preferencialmente sobre as áreas nativas desocupadas e desprovidas de definição clara de propriedade.  

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Resumo: Subdesenvolvimento e Desenvolvimento na Obra de Celso Furtado

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Ciência e Gestão da Sustentabilidade
Professores: Elimar Nascimento, Thomas Ludewigs, Maurício Amazonas e Frederick Mértens.
Discente: Juliana Capra Maia
Resumo do Texto:
SAES, Flávio Azevedo Marques de. “Subdesenvolvimento e desenvolvimento na obra de Celso Furtado”, in CORSI, Francisco Luiz; CAMARGO, José Marangoni (organizadores). Celso Furtado: os desafios do desenvolvimento. São Paulo: Cultura Acadêmica; Marília: Oficina Universitária, 2010.


O capítulo de Flávio Saes na coletânea de artigos a respeito de Celso Furtado (CORSI e CAMARGO, 2010) aborda o desenvolvimento, o subdesenvolvimento (dois conceitos elementares à teoria do economista da CEPAL) e sua relação com a industrialização. Afinal: a industrialização seria o caminho da superação do subdesenvolvimento e da pobreza?
Uma primeira leitura do clássico de 1959, “Formação Econômica do Brasil”, levaria a crer que a industrialização é o caminho para o desenvolvimento brasileiro. Afinal, o texto explica o processo histórico por meio do qual uma economia escravista e exportadora – de açúcar, de ouro e de café – se transformou em uma economia progressivamente industrial e dirigida ao mercado interno (configuração econômica que tende a reduzir a pobreza). Em 2005, entretanto, Celso Furtado afirmou que não concluíra “Formação Econômica do Brasil”. Afirmou que não acreditava que a industrialização da economia brasileira consistisse elemento suficiente para superar o nosso subdesenvolvimento. Informou que não revelou antes tais conclusões para que elas não minassem iniciativas bem intencionadas e com algum potencial, tais como a criação da SUDENE.
E por que a industrialização da economia brasileira não seria suficiente para nos levar ao desenvolvimento? Porque essa industrialização viria por meio da “modernização”, isto é, por meio da adoção de padrões de consumo sofisticados sem o correspondente processo de acumulação de capital e progresso nos métodos produtivos. Como resultado, de acordo com Furtado, a industrialização brasileira (“industrialização subdesenvolvida”) provocaria um aprofundamento da concentração de renda, bem como um acirramento da resistência política às mudanças que conduziriam à homogeneização social (até porque tais mudanças implicariam, necessariamente, alteração nos padrões de consumo).
Veja-se: para Furtado, desenvolvimento não é sinônimo de simples progresso técnico ou de aumento de capital.  O principal aspecto do desenvolvimento é a homogeneização social (p. 92), isto é, a eliminação da pobreza. Por seu lado, o subdesenvolvimento não é conceituado, pelo autor, como “uma etapa em direção ao desenvolvimento, mas sim como produto histórico da expansão do capitalismo industrial” (p. 92), caracterizado pela disparidade na produtividade entre áreas rurais e urbanas, relevante percentual da população vivendo em nível de subsistência fisiológica e massas crescentes de subempregados em zonas urbanas.
Então, é possível superar o subdesenvolvimento? Como? De acordo com o autor, sim. O subdesenvolvimento não seria uma sina, um destino que os países subdesenvolvidos teriam de carregar por todo o sempre. No capítulo ora resumido, são citados três casos de superação do subdesenvolvimento: China, Coréia do Sul e Taiwan. Nos casos das três economias, houve forte intervenção do Estado (sendo o caso chinês o mais extremo). Na Coréia do Sul e em Taiwan, os Estados Nacionais investiram na universalização da educação, na reforma agrária (retomada dos territórios ocupados pelo Japão até a 2ª. Guerra), em planos de desenvolvimento, em crédito indutor de investimentos e em busca de autonomia tecnológica.

Esse modelo, entretanto, seria inadequado para o Brasil. A uma, porque não há espaço para a centralização excessiva do Estado. A duas, porque já existe um processo de modernização bastante avançado. A três, em decorrência do já avançado processo de globalização. Então, qual caminho adotar? Indiscutivelmente, Furtado ressalta, é impossível superar o subdesenvolvimento pelo livre jogo das forças do mercado. O Brasil deveria buscar soluções criativas da sua cultura, a fim de mitigar a força do ciclo vicioso ditado pelos bens de consumo sofisticados produzidos nos países centrais.

Resenha de Rachel Carson and Her Sisters: extraordinary women who have shaped America´s environment.

Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós-Graduação 
Doutorado
Discente/Resenhista: Juliana Capra Maia
Resenha publicada na Revista Sustentabilidade em Debate - Brasília, v. 5, n. 2, p. 104-107, mai/ago 2014 e disponível (livre acesso) em http://periodicos.unb.br/index.php/sust/article/view/11512/8216.
Texto resenhado:
MUSIL, Robert K. Rachel Carson and her sisters: extraordinary women who have shaped America´s environment. London: Rutgers University, 2014.


Robert K. Musil escreveu Rachel Carson and her Sisters ao redor de um argumento central: grande parte do que se conhece como militância e ciência ambiental norte-americanas deve-se à atuação de mulheres majoritariamente ignoradas pelo público em geral e mesmo pelos leitores especializados. De acordo com o relato de Musil, a ignorância acerca das contribuições das mulheres para o ambientalismo norte-americano não pouparia sequer a bióloga marinha Rachel Carson (1907 –1964), autora do clássico Silent Spring, publicado originalmente em setembro de 1962 e considerado por muitos como um verdadeiro divisor de águas para o movimento ambientalista no século XX. A despeito de ter falecido em 14 de abril de 1964 - isto é, há 50 anos - em decorrência de câncer de mama, Carson, nos dias atuais, continua a ser rotulada em talk shows e em pronunciamentos estigmatizantes de representantes da grande indústria como uma “solteirona defensora de passarinhos”.

Musil tem credenciais para escrever sobre o assunto. É um misto de acadêmico e ativista ambiental. É professor de política ambiental na American University, em Washington D. C., tendo estudado saúde ambiental e literatura em universidades prestigiadas como Yale, Northwestern e Johns Hopkins. Escreveu também o livro intitulado Hope for a Heated Planet: How Americans Are Fighting Global Warming and Building a Better Future (Rutgers, 2009).

Este livro de Musil busca se contrapor a esse estereótipo. Vai além da defesa de Carson, trazendo contribuições relevantes à história do movimento ambientalista, à história das mulheres envolvidas nesse movimento e à própria história da ciência. Resgata trajetórias de mulheres pioneiras que, desde o século XIX e a despeito dos preconceitos derivados de sua condição feminina, vêm lançando ideias e defendendo bandeiras que reverberaram na construção dos argumentos e das causas ambientalistas contemporâneas.

O autor apresenta os argumentos e as batalhas em prol da natureza, da saúde pública e da educação feminina travadas por diversas antecessoras de Rachel Carson, as pioneiras Susan Cooper, Graceanna Lewis, Martha Maxwell, Florence Merriam Bailey, Olive Thorne Miller, Mabel Osgood Wright, Neltje Blanchan, Anna Botsford Comstock, Mary Hunter Austin, Ellen Swallow Richards, Alice Hamilton, Harriet Hardy e Mary Admur. Essas mulheres ajudaram a fundar e militaram em organizações ambientais e cívicas, tais como Agassiz Association for Nature Study, American Ornithological Union (AOU), Audubon Naturalist Society (ANS), Women’s Education Association (WEA), American Association of University Women (AAUW), American Home Economics Association (AHEA), Association for the Advancement of Science (AAAS) e Women’s International League for Peace and Freedom. Elas contribuíram também para a expansão de diversas áreas do conhecimento e de ação vinculadas ao ambientalismo, dentre as quais taxidermia, montanhismo, jardinagem, medicina do trabalho, química, botânica, toxicologia, etnologia, estudos sobre áreas costeiras, agricultura, silvicultura, ornitologia, literatura, poesia, fotografia e pintura de aves, conchas e espécimes vegetais.

Musil desnuda, desse modo, a ancestralidade intelectual e cívica de Rachel Carson. Narra as condições sociais e históricas que permitiram que a nativa de Springdale, Pennsylvania, nascida em 27 de maio de 1907, caçula, lograsse estudar, trabalhar em órgãos ambientais federais, escrever livros de peso e, principalmente, ser ouvida em suas advertências acerca dos riscos que o uso indiscriminado do diclorodifeniltricloroetano (DDT) representava para a saúde humana e ao equilíbrio ambiental.

O autor também nos introduz às contribuições de três sucessoras políticas e intelectuais de Carson: Terry Tempest Williams, Devra Davis e Theodora Emily Colborn, que seriam as suas principais “irmãs”, para usar o termo que aparece no título. Sob diferentes perspectivas, essas mulheres dedicaram as suas vidas às premissas de Silent Spring, isto é, à investigação e à exposição das conexões entre os meios de vida da sociedade moderna, a degradação ambiental e os danos à saúde humana. Ao tratar das ideias dessas autoras, Musil demonstra que Silent Spring não se encerrou em si mesmo.

Terry Tempest Williams é uma admiradora declarada de Carson e, de acordo com Musil, ambas teriam muito em comum. Ambas são reconhecidas como cientistas que aliam explicações causais e sensibilidade, biologia e literatura. Tanto Carson quanto Williams foram chamadas a dar explicações a congressistas norte-americanos sobre assuntos ambientais de sua especialidade. Ao longo de suas trajetórias, ambas defenderam a necessidade da adoção de uma postura ética em prol da solidariedade entre os seres humanos e as demais espécies. Ambas participaram de movimentos ambientalistas e usaram achados científicos como argumentos em prol da transformação do status quo.

Finalmente, Carson e Williams partilham a experiência do engajamento em movimentos sociais pela erradicação de testes, rejeitos e armamentos nucleares. Consideravam a escalada nuclear como uma ameaça transfronteiriça à saúde ambiental, fomentada diretamente pela arrogância humana. A militância antinuclear não é a face mais conhecida de Carson. Entretanto, em plena Guerra Fria, a autora proferiu diversos discursos a respeito do tema (o que lhe rendeu os rótulos de “subversiva” e de “comunista”). No prefácio à segunda edição do seu livro The Sea Around Us (cuja edição original é de 1951), ela alertara que os radioisótopos, assim como o DDT, uma vez liberados na natureza, se assimilavam às cadeias alimentares, cujo topo é ocupado por humanos.

A segunda “irmã”, Devra Davis, por sua vez, escreveu, entre outras obras, When Smoke Ran Like Water: Tales of Environmental Deception and the Battle Against Pollution, publicado em 2002, e The Secret History of the War on Cancer, publicado em 2007. Tal como Carson, Davis é uma cientista engajada na luta contra a poluição. Conhece bem os corredores do poder e o jogo de dúvida-negação-protelação praticado pelas indústrias poluidoras. Os seus trabalhos enfocam os efeitos sanitários deletérios da poluição atmosférica (especialmente o câncer), que se tornou objeto de interesse da autora em decorrência das mortes provocadas em sua família pela fumaça poluente, na cidade de Donora, Pennsylvania. Não obstante as acusações de que os seus trabalhos seriam “cientificamente suspeitos”, Davis e os seus colaboradores estão no centro das discussões internacionais a respeito do aquecimento global.

Finalmente, as pesquisas da terceira “irmã”, Theodora Emily Colborn, Ph. D. em biologia pela University of Wisconsin e autora de Our Stolen Future, também partiram dos argumentos esposados em Silent Spring, segundo os quais poluentes despejados na natureza e absorvidos por animais e vegetais da base da cadeia alimentar provavelmente provocariam danos celulares e genéticos e, por consequência, câncer entre os predadores de topo de cadeia (seres humanos, em especial). Estudando populações humanas e de peixes da região dos Grandes Lagos – área da América do Norte bastante afetada por atividades poluentes –, não encontrou evidências da suposta ligação direta entre câncer e poluição, mas constatou evidências de conexão entre distúrbios endocrinológicos e poluição. De acordo com Colborn, o contato com os bifenilos policlorados (PCBs), poluentes não venenosos, mas persistentes e ubíquos, estaria diretamente relacionado à infertilidade masculina e feminina, à baixa libido, às irregularidades menstruais, aos nascimentos prematuros e às anormalidades no sistema imunológico, tais como a incapacidade de produzir anticorpos.

O ponto alto do texto de Musil, entretanto, é a segunda metade do Capítulo 3, intitulado “Carson and her sisters: Rachel Carson did not act alone”, que retrata os bastidores sociais e políticos da publicação de Silent Spring. Ficam claros os motivos pelos quais o trabalho de Carson é considerado o texto fundador do ambientalismo contemporâneo. Musil revela que, para além de consistir um livro bem escrito e baseado em sólidos argumentos científicos, isto é, para além de unir razão científica e boa literatura, a produção e o lançamento de Silent Spring foram cuidadosamente planejados como instrumento de advocacy ambiental. 

As conexões de Carson na academia e na política (pelas quais Marie Rodell e Marjorie Spock foram as grandes responsáveis) permitiram que Silent Spring se fortalecesse com dados empíricos, com apoio de associações civis (de caçadores e de pescadores, inclusive) e de eminentes pesquisadores de universidades norteamericanas de peso: E. O. Wilson, em Harvard; George J. Wallace, na Michigan State University; Joseph Hickey, na Universitade de Wisconsin.

Carson, o seu círculo de apoiadores e os seus editores sabiam que, tão logo publicado, Silent Spring seria duramente atacado pelos representantes da indústria química. Assim, revela Musil, para lhe garantir credibilidade, eles procuraram estrategicamente desvencilhar a obra de toda e qualquer manifestação ecologista considerada radical: vegetarianos, veganos, orgânicos ou defensores dos direitos dos animais, mesmo que, pessoalmente, Carson simpatizasse com algumas dessas manifestações.

Ademais, antes de sua publicação, em cuidadoso trabalho de marketing, os parceiros de Carson distribuíram exemplares de Silent Spring a personalidades políticas de alta importância, tais como o Secretário do Trabalho de John Kennedy, Frances Perkins; a Senadora Maurine Neuberger; a Congressista Leonor Sullivan; William O. Douglas, membro da Suprema Corte dos Estados Unidos. Receberam exemplares também os líderes de associações tais como Garden Clubs of America, American Association of University Women, League of Women Voters, National Federation of Women’s Clubs, National Council of Jewish Women, National Council of Women of the United States, Audubon Society e Consumer’s Union.

Como consequência dessa estratégia, Carson foi convidada a apresentar as suas ideias em congressos e seminários. Depois disso, a rede de contatos em prol da erradicação do DDT foi progressivamente ampliada, envolvendo o Secretário do Interior de John Kennedy, Stewart Udall, o diretor do Sierra Club, David Brower, e Howard Zahniser, da Wilderness Society.

Portanto, Silent Spring não tem apenas o mérito de ser um livro bem escrito, contendo graves denúncias – apoiadas em evidências científicas – acerca dos efeitos sanitários deletérios do uso indiscriminado de pesticidas. Silent Spring seguiu também uma fórmula de sucesso no seu lançamento, um modo de agir bem sucedido do nascente movimento ambientalista, motivo pelo qual, com justiça, Rachel Carson é apontada como uma das fundadoras do movimento ambientalista contemporâneo.

Esquema de Leitura: Desenvolvimento e subdesenvolvimento na obra de Celso Furtado

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Ciência e Gestão da Sustentabilidade
Professores: Elimar Nascimento, Thomas Ludewigs, Maurício Amazonas e Frederick Mértens.
Discente: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura:
SAES, Flávio Azevedo Marques de. “Subdesenvolvimento e desenvolvimento na obra de Celso Furtado”, in CORSI, Francisco Luiz; CAMARGO, José Marangoni (organizadores). Celso Furtado: os desafios do desenvolvimento. São Paulo: Cultura Acadêmica; Marília: Oficina Universitária, 2010.


Introdução

** Celso Furtado: Associado ao desenvolvimentismo. Subdesenvolvimento e desenvolvimento são temas centrais da sua teoria.

** Consensos desenvolvimentistas (p. 82):
(a) A industrialização é, para o Brasil, o caminho para a superação da pobreza e do subdesenvolvimento.
(b) No Brasil, forças espontâneas de mercado não fomentarão uma industrialização racional e eficiente. É necessário que o Estado a planeje. 
(c) Por meio de planejamento, o Estado Brasileiro definirá quais setores econômicos deseja expandir, bem como os instrumentos de promoção dessa expansão. 
(d) O Estado deve ordenar também a execução da expansão, captando e direcionando dinheiro e investindo diretamente nos setores em que a iniciativa privada é insuficiente.

** Foco do capítulo: item “a”, ou seja, a industrialização como caminho para a superação a pobreza.



Formação econômica do Brasil (1959): Um texto desenvolvimentista?

** Formação Econômica do Brasil: aparentemente, é uma obra desenvolvimentista. Explica o processo histórico por meio do qual uma economia escravista e agroexportadora se transformou em uma economia industrial dirigida ao mercado interno.
(a) Ciclo do Açúcar. Após um século de crescimento (1550 a 1650), a economia agroexportadora e escravista entra em declínio. A decadência deveu-se à competição com as Antilhas e à consequente redução dos preços internacionais do açúcar. Como terra e escravos eram bens já disponíveis e a lavoura não demandava vultoso capital, os engenhos minguaram progressivamente ao longo de um século (isto é, não acabaram de uma vez). Declínio da produção açucareira = Aumento do setor de subsistência. Formação do “complexo econômico nordestino”.
(b) Ciclo do Ouro. As imigrações de portugueses para Minas Gerais ampliaram a presença dos trabalhadores livres, embora a escravidão ainda fosse a base da economia. Distribuição de renda menos desigual. Surgimento de um mercado interno que, entretanto, não deu origem a uma produção manufatureira relevante. Motivo? Os portugueses não dispunham do conhecimento técnico necessário. 
(c) Ciclo do Café. Fim do tráfico de escravos = déficit de mão-de-obra, superado pelo incentivo à migração europeia, especialmente italiana. Articulação entre o setor de subsistência e o setor agroexportador: os salários recebidos pelos colonos geravam demanda por produtos locais. Aumentou a sensibilidade da economia brasileira às crises internacionais. 
(d) Industrialização. Transforma-se no centro dinâmico, no motor da economia após a Revolução de 30. Essa transformação se deveu à uma Crise internacional (Crack da Bolsa de Nova Iorque) + Crise de superprodução do café. PIB, renda, investimento e crescimento passam a depender de variáveis endógenas, não mais de variáveis exógenas.


Industrialização voltada ao mercado interno
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Desenvolvimento, eliminação da pobreza


** Furtado, em 2005, entretanto, afirmou que não concluíra Formação Econômica do Brasil e que não acreditava que a industrialização seria suficiente para superar o subdesenvolvimento. Dilemas da industrialização subdesenvolvida (ou subdesenvolvimento industrializado).



Os Conceitos de Desenvolvimento e Subdesenvolvimento em Furtado

** Desenvolvimento >>> “[...] ocorre por meio da inovação técnica, que permite o aumento da produtividade, e da acumulação de capital, conduzindo à homogeneização social”. P. 92.

** Subdesenvolvimento >>> “O subdesenvolvimento não é uma etapa em direção ao desenvolvimento [...]. Ao contrário, o subdesenvolvimento é um produto histórico da expansão do capitalismo industrial”.  P. 92.
(a) Se é fruto do capitalismo industrial, o subdesenvolvimento se define a partir da Revolução Industrial.  
(b) Constituem características do subdesenvolvimento: disparidade na produtividade entre as áreas rurais e urbanas, uma grande maioria da população vivendo em um nível de subsistência fisiológica, massas crescentes de pessoas subempregadas nas zonas urbanas.
(c) Toda economia subdesenvolvida é necessariamente dependente. O subdesenvolvimento é uma criação da situação de dependência. 
(d) Permanecer no subdesenvolvimento não é uma sina, um destino necessário dos países subdesenvolvidos.



A Armadilha Histórica do Subdesenvolvimento

** Modernização >>> Adoção de padrões de consumo sofisticados sem o correspondente processo de acumulação de capital e progresso nos métodos produtivos.

** Nos países centrais, progresso técnico e aumento dos padrões de consumo são processos simultâneos. É que a industrialização gerou escassez de mão-de-obra e a consequente elevação dos salários, permitindo que a maior parte da população tivesse acesso a bens de consumo mais sofisticados.

** Nas economias periféricas, entretanto, há um descompasso entre os padrões de consumo e o progresso produtivo e tecnológico. O progresso técnico penetra nas economias subdesenvolvidas por meio de bens de consumo importados, circunstância que o torna inócuo para fins de homogeneização social. 
(a) Aprofundamento da concentração de renda. 
(b) Aprofundamento da resistência política às mudanças que conduziriam à homogeneização social, dado que tais mudanças implicariam, necessariamente, alteração nos padrões de consumo. 
(c) Exemplo: os ciclos do café e da borracha permitiram que as elites paulista e amazônica tivessem acesso a bens de consumo típicos das economias centrais sem que isso, entretanto, provocasse qualquer mudança na economia agroexportadora de então.



A Superação do Subdesenvolvimento

** Estudo de casos: China, Coréia do Sul e Taiwan.

** Com forte atuação dos Estados Nacionais, a homogeneização social precedeu o desenvolvimento industrial e o amplo acesso a bens de consumo dos países centrais.

** China: fechamento do mercado nacional. Governo fortemente centralizado.

** Coréia e Taiwan:
(a) Universalização da educação 
(b) Reforma agrária 
(c) Planos de desenvolvimento 
(d) Crédito indutor de investimentos 
(e) Busca de autonomia tecnológica



Em busca de um novo modelo?

** Pressuposto: Impossibilidade de superação do subdesenvolvimento pelo livre jogo das forças de mercado.


** Solução para o Brasil, em que a modernização já aconteceu: busca de novas alternativas em nossas raízes culturais. Alternativas para nos desvencilharmos do consumo de bens típicos de economias centrais.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Resumo: PEET, Richard; HARTWICK, Elaine. Theories of development. Capítulo 03.

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Professores: Elimar Nascimento, Maurício Amazonas, Frederick Mértens e Thomas Ludwigs.
Discente: Juliana Capra Maia
Resumo:
PEET, Richard; HARTWICK, Elaine. Theories of development: contentions, arguments, alternatives. 2aEdição, New York, The Guilford Press, 2009, capítulo 03.



O Capítulo 03 do texto de PEET e HARTWICK trata das doutrinas que orientaram as economias ocidentais no século XX, especialmente a doutrina de John M. Keynes, do desenvolvimentismo (decorrente das teorias keynesianas) e do Neoliberalismo.
A partir do final do século XIX, começaram a pulular formulações teóricas críticas à Economia Clássica e Neoclássica. Wilhelm Roscher, Bruno Hildebrand, Karl Knies e Gustav Schmoller (todos da Escola Histórica, alemã); Thorstein Veblen e Joseph Schumpeter (treinado na Escola Austríaca) já vinham chamando atenção para os limites da economia assentada no Liberalismo.
Entretanto, a Crise de 1929 foi o acontecimento que incentivou formulações teóricas e políticas radicalmente divergentes às premissas do laissez faire. A mais relevante e influente dessas formulações teóricas foi elaborada por John Maynard Keynes. Suas teorias influenciaram as diretrizes da política econômica adotada inicialmente nos EUA e em seguida em praticamente todos os países ocidentais.  
O modelo do Welfare State chamava o Estado a desempenhar papel fundamental na economia: a) Incentivando ou desincentivando a propensão marginal ao consumo, mediante controle das taxas de juros básicas da economia; b) Mediante política fiscal: o gasto público (seja o investimento em infraestrutura, em tecnologia ou em assistência social) é essencial para a manutenção da economia; c) Mediando os mercados financeiros para evitar o “efeito manada”.
As teorias keynesianas e o desenvolvimentismo permaneceram como padrões gerais das economias até fins das décadas de 1970/1980. Formulações teóricas neoliberais surgiram como resposta à crise econômica provocada por dois choques do petróleo (provocados pelo aumento de 200% nos preços do óleo bruto por todos os países produtores) e pela crise dos juros.
A doutrina neoliberal, criada por Ludwig von Mises, fortalecida por Friederick von Hayek e difundida por autores como Milton Friedman, Harry Johnson, P.T. Bauer e Deepak Lal, foi encampada por políticos conservadores: no Reino Unido, durante o governo de Margareth Tatcher; nos Estados Unidos, durante o governo de Ronald Reagan.
O “Consenso de Washington”, adotado pelo FMI e pelo Banco Mundial representou o coroamento dessa doutrina. Suas dez diretrizes foram impostas a todos os países em desenvolvimento que desejavam renegociar a dívida externa a fim de sanear as contas públicas, bem como aos países recém-emancipados do domínio colonial. Segue lista das diretrizes: a) Disciplina fiscal; b) Redução do gasto público (preferentemente em defesa, administração pública, subsídios e empresas estatais); c) Reforma Tributária; d) Taxas de juros adequadas ao investimento na produção, não na especulação; e) Taxa de câmbio competitiva (equilibrada entre controle de inflação e fomento às exportações); f) Abertura dos mercados às importações e exportações; g) Estímulo ao investimento estrangeiro; h) Privatização das estatais; i) Desregulação: diminuição do controle do Estado sobre determinadas atividades econômicas; j) Segurança à propriedade privada.
Os grandes impactos sociais abalaram as políticas neoliberais no início dos anos 2000. Como resposta às manifestações da sociedade civil, criou-se o que passou a ser chamado “Consenso de Washington Aumentado”, isto é, pela moderação do Consenso de Washington por meio de novas diretrizes institucionalistas:  a) Governança corporativa; b) Medidas anticorrupção; c) Flexibilização do mercado do trabalho; d) Acordos internacionais de comércio; e) Padrões e normas financeiros; f) Abertura prudente da balança de capitais; g) Regimes sem taxas de intermediação do câmbio; h) Banco Central independente; i) Metas para controle da inflação; j) Redes de proteção social; k)Metas de redução da pobreza.
Ao final, os autores tecem diversas críticas ao Consenso de Washington, ao Consenso de Washington aumentado e à própria doutrina neoliberal. Destacamos as críticas ao modelo neoliberal: 1) Os pressupostos do Neoliberalismo não são empiricamente verificáveis; 2) A Economia padece com uma visão limitada da sociedade: elege premissas acerca do comportamento humano que seriam válidas para todos os tempos e sociedades; 3) Mercados são construções sociais e institucionais que exigem regras e regulamentos para funcionar eficazmente.  Houve um grande esforço estatal para conseguir instituir o laissez-faire; 4) Mercados não "harmonizam" as relações sociais. Ao contrário, relações entre empregadores e empregados são conflituosas. Historicamente, foram construídas sobre séculos de luta e greves; 5) Preços não representam os custos sociais e ambientais das atividades econômicas. Sistemas de mercado são ambientalmente destrutivos e socialmente irresponsáveis. Depois de 200 anos de pilhagem, o mundo natural já mostra sinais de limitações ao nosso estilo de vida atual. 6) Os economistas estão aficionados em sua autoimagem científica, vidrados na beleza de seus modelos formais. Por isso, recusam-se a reconhecer as deficiências sobre as quais os construíram.  7) Ao mencionarem o “indivíduo livre”, os neoliberais se referem ao empresário, ao capitalista, ao patrão. Por liberdade, entendem a oportunidade de ganhar dinheiro. Os neoliberais são contrários ao Estado devido ao seu poder de redistribuir a riqueza existente, limitando a liberdade dos ricos ganharem mais dinheiro. Os neoliberais disfarçam seu apoio aos ricos usando os termos nobres tais como "liberdade" e "democracia".

Artigo publicado em periódico. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson

Universidade de Brasília - UnB Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS Centro Universitário de Brasília - Uniceub Faculdade de Direito P...