sábado, 28 de março de 2015

Esquema de leitura: Regimes de historicidade (Prefácio e Introdução). François Hartog.

Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável / Doutorado
Disciplina: Dimensão histórico-sociológica do constitucionalismo (DIR)
Professores: Cristiano Paixão e José Otávio Guimarães
Discente: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura.
Referências: 
HARTOG, François. "Prefácio - Presentismo pleno ou parão?" e "Introdução - Ordens do tempo, regimes de historicidade", em Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. Pp. 09-16 e 17-41.
RODRIGUES, Henrique Estrada; NICOLAZZI, Fernando. "Entrevista com François Hartog: História, historiografia e tempo presente", em História da Historiografia, n. 10, Dez/2012, pp. 351-371.

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Prefácio - Presentismo pleno ou parão?


** O Capitalismo, desde a Itália do século XIII até os tempos atuais, sempre se caracterizou por sua incrível plasticidade. Está plenamente adequado ao presentismo (F. Braudel) -- busca do ganho imediato. As democracias, não. 


** Crise econômica mundial de 2008. Raiz no capital especulativo. Novidade? De acordo com Marc Bloch, desde Atenas, o progresso econômico consiste uma sucessão de bancarrotas.


** Presentismo >>> Tirania do instante. Estagnação de um presente perpétuo.
-- Regime de historicidade.
-- "Presentismo" não equivale a "presente". O conceito foi construído a partir da noção de "futurismo", isto é, "o futuro no comando". 
-- Vivenciado de forma diferente, de acordo com o local ocupado na sociedade. Pode ser, por um lado, o tempo dos fluxos instantâneos, da aceleração ad infinitum. Pode ser, por outro lado, um tempo em desaceleração, sem passado e sem futuro real, um tempo de precarização.
-- Conceito que ajuda a compreender os riscos e as consequências de um presente onipresente, onisciente, que se impõe como único horizonte possível e que valoriza apenas o que é imediato
-- Cicatriz do presentismo >>> Cidades genéricas, sem história, sem identidade, sem lugar.
-- Suspensão da produção do tempo histórico.

[..] é o tempo do instantâneo, do imediato, da circulação generalizada, da rapidez das trocas, da mobilidade, em todos os sentidos do termo, mas é também o tempo da desaceleração, é também o tempo de todas essas pessoas que estão na incapacidade de encontrar os meios da sua sobrevivência, todos os imigrantes, todos os desempregados, todos os jovens, particularmente na Europa, que não encontram trabalho, que vivem no que o sociólogo Robert Castel (1933-...) define como précariat. [...], passa-se de uma situação precária, que normalmente não dura muito, a uma situação chamada précariat, que é justamente alguma coisa na qual nós nos instalamos. A précariat tem por consequência imediata que todos os projetos são interditos. (RODRIGUES; NICOLAZZI, 2012, pp. 364).

** Problema: Seria o presentismo um modo inédito de relacionamento com o tempo e, pois, um novo regime de historicidade, sobretudo para o mundo Ocidental que, durante 2 séculos, caminhou e fez com que os outros caminhassem em direção ao futuro?
O presentismo pode, assim, ser um horizonte aberto ou fechado: aberto para cada vez mais aceleração e mobilidade, fechado para uma sobrevivência diária e um presente estagnante. A isso deve-se ainda acrescentar outra dimensão de nosso presente: a do futuro percebido não mais como promessa, mas como ameaça; sob a forma de catástrofes de um tempo de catástrofes que nós mesmos provocamos. (HARTOG, 2013, Pp. 15).


Introdução - Ordens do tempo, regimes de historicidade



** As relações que as sociedades estabelecem com o tempo são pouco discutíveis, pouco negociáveis. Naturalização das relações com o tempo.
-- Homero: a História ocorria entre a prática de uma injustiça até a sua reparação.
-- Santo Agostinho: 7 eras históricas, correspondentes aos 7 dias que Deus precisou para criar o mundo, conforme mencionado no Gênesis.


** História recente >>> Abalo da nossa relação com o tempo >>> Queda do Muro de Berlim, em 1989. Derrocada do Comunismo. Escalada de múltiplos fundamentalismos.
-- A ordem do tempo foi colocada em questão, seja no Oriente, seja no Ocidente.
-- Rompimento entre o hoje, o ontem e o anteontem. 


** O tempo é tão natural para o historiador que ele o naturaliza. A historiografia tem colocado essa relação em perspectiva ("História do Tempo Presente", 1980, René Remond).


** Regime de Historicidade >>> 
-- Como uma sociedade trata o seu passado e do seu passado.
-- Modalidade de consciência de si de uma sociedade humana.
-- Forma de experimentar o tempo.
-- Ferramenta heurística para apreender os momentos de crise do tempo, quando as articulações entre passado, presente e futuro se perderam. Hipótese formulada a partir da nossa contemporaneidade.

** Cronosofias >>> Profecias + Periodizações. 
-- Voltaire, Hegel, Bousset, Marx, Comte, Spengler, Toynbee, Santo Agostinho.
-- Tentativas de relacionar passado e futuro.
-- Evolucionismo do século XIX, Arqueologia e Antropologia Física: Naturalização do tempo. A história da humanidade tem milhões de anos (primeiros hominídeos), não os singelos 6 mil anos do Gênesis.  

** Dever de memória versus Esquecimento. 

-- Berlim pós queda do muro >>> o tempo era um problema evidente. O que construir? O que demolir? O que reformar? O que conservar?
A memória como este movimento que se impôs praticamente em todo o mundo deve ser colocada em relação com os acontecimentos traumáticos do passado. E também com uma dúvida em relação à história, já que se considera que a história não é capaz de apreender este passado. Em seguida, a memória é presentista, pois ela é convocação do passado ou de certos momentos do passado no presente em função do presente, para responder às questões do presente. 
Mas ela é também, o que torna complexa a coisa, este fenômeno que permite, em um certo sentido, escapar ao presentismo em razão de certa convocação do passado. (RODRIGUES; NICOLAZZI, 2012, pp. 367)


A memória é presentista. Mas também é uma forma de tentar escapar do presentismo. (RODRIGUES; NICOLAZZI, 2012).


 ** Tempo Histórico >>> Resultado da distância entre o campo da experiência e o horizonte de expectativa (Koselleck). Tempos atuais: distância máxima entre experiência e expectativa, até a ocorrência de uma ruptura. Resultado: suspensão do tempo histórico.


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ASPECTOS FOCAIS TRATADOS EM AULA



1. Questões suscitadas pelos alunos

** Regime de historicidade (Koselleck);

** Presentismo >>> Fratura do tempo, "ditadura do instante". Alarmismo? Resposta José Otávio: Não é alarmismo ou catastrofismo. O autor estuda o presente e as informações que o presente lhe traz. 

** Categorias "passado", "presente" e "futuro" >>> Por que não abrir mão delas? Relativiza-se todo o resto, por que não essas três?

** Campo da experiência versus horizonte de expectativa.

** O futuro é tão opaco ou tão negativo, que preferimos nem pensar nele. Sem futuro, tudo o que nos resta é o presente, um tempo parado. E um presente que se arvora ao direito, inclusive, de modificar o passado. 



2. Texto do F. Hartog

** Introdução e capítulo 01 foram escritos com distância de 11 anos um do outro. 

** Presentismo pleno X presentismo padrão >>>
-- Presentismo padrão: Momento de pausa, de parada, que precederá um novo momento futurista (modernidade, hipermodernidade).
-- Presentismo pleno: Um presente vivido de forma particularmente diferente. Pós-modernidade?

** Diálogo forte de Hartog com Koselleck >>>
-- Todas as culturas humanas articulam passado-presente-futuro. Categorias essenciais do entendimento humano.
-- O presente é um resultado da tensão entre espaço de experiência e horizonte de expectativa.
-- O próprio conceito de regime de historicidade só é possível em contexto presentista.

** Marshall Sahlins. Ilhas de História.
-- Impossibilidade de compreensão mútua entre sociedade de ilhéus do pacífico e o capitão Cook, dada as diferentes formas de encarar o tempo.  
-- O tempo histórico guia a nossa ação. 
-- Relativização do tempo no espaço. 

** Regime de historicidade >>>
-- É um mecanismo heurístico, bom para ler momentos de crise. Hartog é um pesnador das fronteiras (Homero, Chateaubriand). 
-- Não é uma filosofia da História ou cronosofia (tal como Santo Agostinho, Spengler, Fukuyama, Marx).
-- Não propõe qualquer articulação fixa entre passado, presente e futuro.
-- Revel: o regime de historicidade é uma categoria frouxa, "mole" (o que não necessariamente é ruim em ciências humanas, vide "mentalidades").
-- Maneira de nos questionarmos sobre a nossa relação com o tempo.
-- Permite discutir memória e história. 

** O tempo foi, por pelo menos 03 séculos, o impensado da História. Foi o recalque. O regime de historicidade se propõe ir para além disso.

** Modernidade: o futuro impera sobre o presente e sobre o passado. 

** Antiguidade: o passado impera sobre o presente e sobre o futuro. 

** O passado que está na memória está instável. Ele é fruto do trauma.

** O futuro, quer pelo pós-guerra, quer pelo meio ambiente, também está instável.


** Dificuldade de articular passado-presente-futuro. Se o futuro escapou, se o passado nada mais explica, enfoquemos o presente. Mundo pobre. 



3. Entrevista com Hartog

** Discussão com os Annales (especialmente com a tradição de Ferdinand Braudel).

** Regime de historicidade do historiador versus regime de historicidade do objeto pesquisado. 

** Aceleração ou desaceleração do tempo?

** Memória versus trauma de memória.



4. Texto do Revel

** Professor da École de Hautes Études en Sciences Sociales.

** Hartog e Koselleck são historiadores de arquivos.

** Desde os seus primórdios, a École de Hautes Études en Sciences Sociales se foca no estudo do contemporâneo. Ruptura da separação entre historiadores e cientistas sociais (separação típica do positivismo).

** História é aquilo que eu vejo >> História Antiga >> Também a História do Século XX.

** Exercício de Marc Bloch: Olhar o presente e retroagir ao passado. O problema é quando o presente também se evapora, isto é, quando o próprio presente está ininteligível. Noção não estabilizada do presente.

** Tempo Histórico >> Produto da relação entre espaço de experiência (o que se considera ser o passado) versus horizonte de expectativa (projeto de futuro). Conceito abstrato, preenchido pelo historiador.

**  Século XX >> Século da Catástrofe. Nascimento de um estilo literário, a narrativa do testemunho. 

** 1789, Queda da Bastilha, que inaugura a um novo tempo. 200 anos depois, cai o Muro de Berlim. Em Berlim, havia duas experiências diferentes de tempo. Mas havia também dois projetos de futuro: o capitalismo e o socialismo. Com a queda do muro, ocorre a saída do futurismo para o presentismo. 

terça-feira, 3 de março de 2015

Esquema de leitura: Rachel Carson, Silent Spring and the environmental movement, de Caula Beyl

Centro Universitário de Brasília - Uniceub

Faculdade de Direito
Pós Graduação em Direitos Sociais, Ambiental e do Consumidor
Monografia Final
Discente: Juliana Capra Maia
Esquema de leitura
Texto: BEYL, Caula A. Rachel Carson, Silent Spring, and the environmental movement. HortTechnology, v. 2, n. 2, p. 272-275, 1992. Disponível no link: http://horttech.ashspublications.org/content/2/2/272.full.pdf


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** Primavera Silenciosa foi escrito em uma linguagem simples, fácil e bonita. Beneficiou-se:

  • Do respeito que Rachel Carson já possuía como cientista e escritora.
  • Da revelação dos efeitos teratogênicos da talidomida, um tranquilizante.
  • Do estilo da prosa de Rachel Carson que, hábil escritora, conseguiu apresentar dados científicos a respeito de pesticidas de forma compreensível, acessível. Trata-se de um feito que poucos cientistas já conseguiram alcançar. 


Rachel Carson. A mulher.

** O exame da biografia de Rachel Carson dificilmente indicaria que ela encamparia uma cruzada contra a indústria química. 
  • Era uma menina reservada, solitária, oriunda de uma pequena cidade do interior da Pensilvânia (Springdale). 
  • Desde os 11 anos de idade, nutria o desejo de ser escritora.
  • Na Faculdade, alterou a sua opção, de Língua Inglesa para Biologia, tendo sido alertada que "não havia futuro para as mulheres nas ciências, à exceção da docência para o ensino médio ou em faculdades obscuras" (Gartner, 1983) e que "as ciências eram um campo muito árido para as mulheres" (Hynes, 1989).
  • Mestrado na Universidade Johns Hopkins, 1932. Título da tese: “The Development of the Pronephros During the Embryonic and Early Larval Life of the Catfish (Inctalurus puncfatus)”. 
  • Vida profissional após a conclusão do mestrado: Bureau of Fisheries; Fish and Wildlife Service. 


** Começou a escrever seus livros quando ainda era servidora pública do Fish and Wildlife Service >>>
  • Under the Sea Wind, 1941. Recebeu avaliações favoráveis da comunidade científica. Entretanto, suas vendas foram fracas. O público estava mais preocupado com as consequências de Pearl Harbor. Os royalties de Rachel Carson chegaram a apenas US$ 1000 (Brooks, 1972).
  • The Sea Around Us, 1951. Best Seller. Vendia mais de 4 mil cópias por dia em Dezembro de 1951. Nesse livro, Carson fez a experiência de publicar capítulos selecionados em revistas de grande circulação, antes da publicação do livro propriamente dito. A estratégia mostrou-se um sucesso. Permitiu que ela se aposentasse do Fish and Wildlife Service em 1952.
  • The Edge of the Sea, 1955. Também vendeu bem. Garantiu a independência financeira de Rachel Carson.    

Thus, when Silent Spring appeared, she was not only a well-known “scientist cum author,” but she had the necessary financial foundation and lack of constraints imposed by government or university ties to write with an extraordinary sense of freedom. Pp. 272.


** Silent Spring representou uma completa mudança de direção para Rachel Carson. Ela decidiu, com certa relutância, aceitar o fardo de escrevê-lo. 
  • Em 1958, Carson recebeu uma carta de Olga Huckins, descrevendo uma enorme devastação, provocada por pulverização de DDT e óleo diesel (para controle de mosquitos), no seu santuário de fauna em Cape Cod. Huckins pediu a Carson o contato de alguém em Washington. Carson, não conseguindo resolver a questão por intermediários, entendeu que precisava resolvê-la pessoalmente.
  • Silent Spring demorou 4 anos e meio para ser escrito. E saiu em meio a diversas crises pessoais de Rachel Carson: adoção de um sobrinho, crises de úlcera, crises de artrite, infecções por staphylococcus e, ao final, câncer. 
  • A publicidade ao redor do DDT era muito forte. Tratava-se de um produto barato e de fácil fabricação. Não era considerado uma ameaça à saúde humana, desde que utilizado com parcimônia. Em outros termos, escrever sobre o DDT era declarar uma guerra.   

** Silent Spring inicialmente apareceu como um artigo dividido em 3 partes, na revista New Yorker, nos dias 16, 23 e 30/06/1962. Choveram opiniões favoráveis e contrárias e, mesmo antes da publicação do livro, a editora foi ameaçada com ações judiciais.  



Primavera Silenciosa: ação e reação

** Silent Spring foi um best seller instantâneo. Na New Yorker, houve mais de 50 editoriais a respeito do tema e publicações em mais de 20 colunas.
  • O livro possui 54 páginas de referências. Rachel Carson, uma cientista treinada, fez questão que o livro fosse "inabalável".

** Reações >>>
    • Atenção aos atributos pessoais da autora. Qualificada como histérica e solteirona.
    • Edwin Diamond. Saturday Evening Post. Referência: Diamond, E. 1963. The myth of the “pesticide menace.” Saturday Evening Post 28 Sept., 236:16,18. 1963.
    a) “Thanks to a emotional, alarmist book called ‘Silent Spring,’ Americans mistakenly believe their world is being poisoned”.
    b) “...what I interpret as bias and oversimplification may be just what it takes to write a best seller”.
    c) “Nor has anyone, with the possible exception of Miss Carson, proposed to abolish pesticides”. 
    • On the whole, her book will come to be regarded in time as a gross distortion of the actual facts, essentially unsupported by either scientific experimental evidence or practical experience in the field”.  White-Stevens at the Synthetic Organic Chemical Manufacturer’s, 1962. Referência: Van Fleet, C.C. 1963. Silent Spring on the Pacific Slope. A postscript to Rachel Carson. Atlantic Monthly 212:81-84.
    • She tries to scare the living daylights out of us and, in large measure, succeeds”. New York Times. 1962. Silent spring is now noisy summer. New York Times, 22 July.  
    • A Revista The Economist acusou Rachel Carson de fazer um jogo de propaganda com as estatísticas de câncer para concluir por uma "alarmante" epidemia de câncer. Referência: Economist. 1962. Review of Silent Spring. Economist (London) 20 Oct., p. 248-251. 

    Personal attacks were made on the author in an attempt to counter and diffuse the enormously persuasive case that she had built. She was labeled a “bird lover,” “cat lover,” “fish lover,” “nun of nature,” and “priestess of nature” (Graham, 1970). She was accused of “worrying about the death of cats but not caring about the 10,000 people who die daily from malnutrition and starvation in the world” (Diamond, 1963). Pp. 273 


    ** Argumentos pró-pesticidas >>>
    • Sprays químicos tornaram possível grandes excedentes de commodities agrícolas. 
    • Pesticidas químicos têm sido utilizados como instrumento para eliminar diversas doenças, cujos vetores são insetos. 
    • Se os pesticidas rompem o "equilíbrio natural", eles o fazem a favor do homem.
    • Pesticidas são seguros desde que utilizados adequadamente.


    ** As críticas a Primavera Silenciosa normalmente não são justas. Não costumam representar fielmente os argumentos invocados pela autora em seu livro. "Falácia do Espantalho".

    Her feelings concerning pesticide use are best summarized on page 12 of Silent Spring. “It is not my contention that chemical insecticides must never be used. I do contend that we have put poisonous and biologically potent chemicals indiscriminately into the hands of persons largely or wholly ignorant of their potential for harm.“. In Audubon magazine she wrote, “We do not ask that all chemicals be abandoned. We ask moderation. We ask the use of other methods less harmful to our environment” (Carson, 1963). Countering claims that she was advocating a back-to-nature philosophy, she said, “We must have insect control. I do not favor turning nature over to insects. I favor the sparing, selective and intelligent use of chemicals. It is the indiscriminate, blanket spraying that I oppose” (Frisch, 1964). Two weeks after her death this was reemphasized in the New Yorker “She was not a fanatic or a cultist. She was not against chemicals, per se. She was against the indiscriminate use of strong, enduring poisons capable of subtle, long-term damage to plants, animals, and man” (1964). Pp. 274.


    ** Argumentos de Carson, acerca dos pesticidas >>>
    • Os homens fazem parte da cadeia da vida. Qualquer coisa que afeta a natureza, também os afetará. 
    • O propalado "uso seguro de substâncias químicas" desconsidera os efeitos sinérgicos e cumulativos dos poluentes. 
    • As pessoas têm direito de viver livres de um ambiente exponencialmente afetado por pesticidas, cujos efeitos de longo prazo são desconhecidos.
    • Insetos desenvolvem resistência a pesticidas. Carson recomenda métodos menos agressivos de eliminá-los. 
    • Os "índices máximos permitidos pelo governo" transmitem a falsa impressão de que há segurança e controle sobre a poluição provocada pelos pesticidas. 
    • Os pesticidas no tempo de Rachel Carson não eram seletivos. Desse modo, ela denunciava que eles não faziam seleção entre as espécies funcionais (polinizadores, por exemplo) e as parasitárias da agricultura, sacrificando ambas categorias. 
    • Permitiu-se o uso de pesticidas com pouco ou nenhum estudo avançado acerca dos seus efeitos nos solos, nas águas, na vida selvagem e no próprio homem. 
    • Não se proclamava contrária ao uso de pesticidas, mas ao seu uso desregrado. 

    >>> Sob uma perspectiva contemporânea, é surpreendente saber que esses argumentos, bastante razoáveis, causaram reações tão agressivas da mídia, de políticos e de cientistas. 



    Impactos

    ** O Presidente J.F. Kennedy determinou a investigação da matéria dos pesticidas por um comitê. 


    ** O relatório subscreveu as constatações de Rachel Carson. Criticou os programas federais de dedetização (direcionados à eliminação do besouro japonês, da formiga de fogo, entre outros insetos). Denunciou a possibilidade de um pesticida rejeitado pelo USDA (Departamento de Argicultura) permanecer em uso por 5 anos, sem autorização. Recomendou:
    • Coordenação entre agências governamentais.
    • Redução imediata do uso do DDT, com sua eventual eliminação a longo prazo.
    • Apresentou preocupações a respeito dos efeitos persistentes dos pesticidas na natureza.
    • Apresentou preocupações a respeito da inexistência de garantias para a saúde humana.
    • O incremento das pesquisas acerca de controles específicos dos pesticidas.
    • O incremento das pesquisas acerca dos seus efeitos crônicos e sinérgicos dos pesticidas.
    • O incremento das pesquisas acerca da potencialização da toxidade dos pesticidas se combinados com drogas comumente utilizadas pela população.  

    ** O livro de Carson foi citado na Câmara dos Lords, no Reino Unido, resultando em controle no uso do aldrin, dieldrin e heptachlor.


    ** Silent Spring foi publicado na França, na Alemanha, na Itália, na Dinamarca, na Suécia, na Noruega, na Finlândia, na Holanda, na Espanha, no Brasil, no Japão, na Islândia, em Portugal e Israel, influenciando a legislação ambiental em todos esses países.


    ** Em 1970, foi criada a EPA (Environmental Protection Agency), com a finalidade de proteger o meio ambiente nos EUA.

    segunda-feira, 2 de março de 2015

    Esquema de leitura: Meio século de Primavera Silenciosa: um livro que mudou o mundo, de Ramón Stock Bonzi.

    Centro Universitário de Brasília - Uniceub
    Faculdade de Direito
    Pós Graduação em Direitos Sociais, Ambiental e do Consumidor
    Monografia Final
    Discente: Juliana Capra Maia
    Ficha de Leitura
    Texto: BONZI, Ramón Stock. Meio século de Primavera silenciosa: um livro que mudou o mundoDesenvolvimento e Meio Ambiente, n. 28, p. 207-215, jul./dez. 2013. Editora UFPR.  

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    Introdução

    ** Publicação antecipada, na revista New Yorker, no verão de 1962, de trechos de Primavera Silenciosa, o quarto livro de Rachel. O livro só seria publicado em setembro.

    ** Primavera Silenciosa: denúncia do uso desenfreado de pesticidas que colocaria em risco a fauna, a flora e a saúde humana >>> 
    • Gerou um debate nacional a respeito dos pesticidas, da responsabilidade da ciência e dos limites do progresso tecnológico.
    • Até hoje é alvo de críticas. 
    • A publicação do livro é um acontecimento comunicacional que mudou o mundo. A essa obra tem sido atribuído o nascimento do movimento ambientalista moderno.

    ** Questão: como um livro que destoava tanto com o senso comum da época pôde conquistar legitimidade e tornar-se um dos produtos culturais mais importantes da história recente?


    O ambiente faz a alma

    ** Rachel Carson >>> 
    • Mãe do ambientalismo.
    • Escritora de mão cheia. Publicou a sua primeira história, "A Battle in the Clouds", aos dez anos de idade.
    • Influenciada por sua mãe, Maria Mc Lean, a escrever e a observar a natureza.
    • Ingressou na Faculdade da Pensilvânia para Mulheres, com planos de se graduar em língua inglesa. Acabou alterando sua opção para biologia, por incentivo de uma professora.
    • Estudou no Laboratório de Biologia Marinha de Woods Hole e tornou-se mestre em zoologia pela Universidade John Hopkins, em 1932.
    • Sem dinheiro para continuar os estudos, Carson passou a trabalhar como assistente de um laboratório na área de genética. Para garantir renda extra, começou a escrever artigos sobre a história natural da Baía de Chesapeake.
    • 1936: ingressa no Departamento Federal de Pesca. 
    • 1941: Publica Under the Sea Wind, que recebeu boas críticas, mas que não vendeu satisfatoriamente.
    • 1945: ano em que Carson, supostamente, tomou conhecimento dos impactos do DDT na fauna aquática. Essa informação consta de  The Gentle Subversive, Lytle (2007, p. 148).
    • 1951: lançamento de "The Sea around Us". Trata-se de um apanhado das pesquisas oceanográficas de Rachel Carson, que levou 10 anos para escrevê-lo. Rendeu prêmios e fama.
    • 1955: lançamento de "The edge of the sea". Consagração de Carson como a principal escritora de ciências nos Estados Unidos.


    Viver melhor através da química

    ** Desde 1940, a "Revolução Verde" vinha progressivamente aumentando a produção rural, por meio do desenvolvimento de sementes de alto rendimento, sistemas de mecanização, herbicidas, fertilizantes, fungicidas e pesticidas químicos.
    • "Uma vida melhor através da química" era possível e desejável.
    • Fertilizantes desenvolvidos com "sobras" da 2ª Guerra Mundial.
    • DDT: utilizado em batalha para combater os insetos transmissores de tifo, febre amarela e malária.
    A confiança na “química” era tanta que crianças eram borrifadas com DDT a fim de combater pulgas e mosquitos. A publicidade exortava as donas de casa a se livrarem de baratas com a aplicação do pesticida. Um método seguro que podia ser aplicado até no quarto do bebê. No nível governamental, entomologistas e agentes da saúde envolvidos em campanhas de controle da malária chegavam a comer colheradas de DDT para convencer a população de que a substância não representava perigo. Os capitães da indústria ostentavam ainda o máximo reconhecimento científico: o Prêmio Nobel de Medicina de 1948 foi concedido ao químico Paul Müller por descobrir a utilidade do DDT como inseticida. Pp. 209.


    Chamado selvagem

    ** Primavera silenciosa não estava nos planos de Rachel Carson. Após a publicação dos livros a respeito do mar, a autora escreveria acerca da era atômica. Carson teria mudado de ideia após receber um pedido de socorro de uma amiga, Olga Owens Huckins, proprietária de um santuário da vida selvagem. Em carta, Olga denunciava a mortandade de pássaros após a pulverização de uma propriedade vizinha.

    ** Carson julgou que a questão merecia a publicação de um artigo na imprensa. Reestudando o caso, optou pela elaboração de um livro curto. Esse livro seria publicado quatro anos depois, em 1962.


    Uma outra revolução verde

    ** O livro tornou-se um best seller tão logo foi lançado. Mas por quê?
    • Para o autor, isso decorreu da associação, realizada por Rachel Carson, entre o controle químico de insetos e a bomba atômica. Observação: a crise dos mísseis em Cuba quase levou EUA e URSS a uma guerra nuclear em 1962.
    • O tema nuclear era extremamente sensível. Qualquer associação com a questão nuclear tinha grande potencial para gerar comunicação.
    • A associação entre o uso da talidomida e a má formação fetal também ocorreu na época do lançamento do Silent Spring. O livro beneficiou-se da associação entre pesticidas e a talidomida: tanto uns quanto outra eram utilizados sem suficientes testes prévios.  
    Desta maneira, bomba atômica e talidomida forneciam esquemas de aprendizado que facilitavam a apreensão das novas informações que Carson trazia ao conhecimento do grande público com seu Silent Spring. Pp. 211.


    O império contra-ataca

    ** Quase imediatamente, a autora tornou-se alvo de ataques vindos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e da indústria de pesticidas, que gastou 250 mil dólares em “relações públicas” a fim de desqualificá-la.

    ** Mais famoso crítico de Silent Spring: Robert White-Stevens, bioquímico e diretor-assistente da divisão de pesquisas agronômicas da American Cyanamid. 
    • Acusou Silent Spring de contemplar descrições grosseiras da realidade; desacreditou Rachel Carson por ser uma mulher solteira aos 55 anos de idade, bem como de ser uma cientista "menor" (já que: 1) não era doutora; 2) era bióloga, e não bioquímica).
    • Ridicularizava a idéia de "equilíbrio ecológico", defendendo o argumento de que os seres humanos haviam adquirido o direito e o poder de manipular a natureza como quisessem. 


    Da paisagem como legítima defesa

    ** O clamor dos ambientalistas transformou a mídia na "voz do povo".

    ** Rachel Carson posiciona-se como defensora de bandeiras humanistas apreciadas "pela maioria das pessoas”, tais como "a sobrevivência da raça humana, a conservação e a preservação da natureza, o direito à qualidade de vida/saúde e até a defesa do símbolo nacional do país, a águia americana" Pp. 213.

    ** Rachel Carson coloca-se em defesa da wilderness, um conceito-valor que estaria associado à própria identidade dos norte-americanos >>> acréscimo de legitimidade.  


    Da ciência como legitimadora do discurso

    ** Evidências científicas de que o uso de pesticidas afeta os insetos polinizadores, prejudicando, portanto, os rendimentos econômicos provenientes da agricultura >>> Paisagens inúteis tornam-se produtivas. Elas fornecem "serviços ambientais", um conceito que só seria aprofundado nas décadas subsequentes.

    ** Os ataques da indústria química perderam boa parte de sua força após a publicação do Parecer do Comitê de Consultoria Científica da Presidência, em 15 de maio de 1963. O documento ratificou a existência de fatos que endossavam os argumentos do livro de Rachel Carson. 

    Parecer do Comitê de Consultoria Científica da Presidência dos EUA >>> Legitimidade científica aos argumentos de Silent Spring.

    ** 1972: proibição do DDT nos EUA pela EPA (Environmental Protection Agency). 

    ** Em 2006, a OMS deu parecer favorável ao uso do DDT nos países africanos afetados pela Malária, ao argumento de que os seus benefícios em ambientes fechados ultrapassam os seus riscos à saúde humana


    Considerações Finais

    A permanência da obra se deve muito mais ao que Primavera silenciosa trouxe de novo enquanto visão de mundo do que em termos de descobertas científicas. Seu poder comunicacional repousa na capacidade que a autora teve de retirar a questão dos “biocidas” da esfera técnico-científica para abordá-la na arena pública, evidenciando a necessidade de uma nova concepção civilizatória que não trate a Natureza como inimiga do Homem. Como sabemos, esta é uma ideia-chave do ambientalismo moderno. Pp. 214.

    Artigo publicado em periódico. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson

    Universidade de Brasília - UnB Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS Centro Universitário de Brasília - Uniceub Faculdade de Direito P...