segunda-feira, 31 de março de 2014

Esquema de Leitura: Henessy, Alistair. The frontier in Latin American History.

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Disciplina: Unidades de Conservação e Desenvolvimento Sustentável 2 – Fronteira, Recursos Naturais e Conservação da Natureza
Professores: José Luiz de Andrade Franco e José Augusto Drummond
Esquema de leitura
Texto: HENNESSY, Alistair. The frontier in Latin American history. Albuquerque, University of New Mexico Press, 1978.




1. The Turner Thesis and Latin America
  • Frederick Jackson Turner, The significance of Frontier in American History, 1893. Texto clássico. Espécie de mito fundante dos Estados Unidos (Turner está para os EUA assim como Gilberto Freyre está para o Brasil).
  • Nos Estados Unidos, a fronteira é um conceito revestido de significados mágicos. A imaginação literária norte-americana é dominada por uma permanente procura por novos “Oestes”.
  • Conceito de “Fronteira”, nos Estados Unidos >> Conquista do Oeste >> Libertação das amarras, oportunidades ilimitadas, restauração da Arcadia perdida ao longo do caminho em direção à industrialização e ao progresso.

In Latin America, by contrast, there is no West, there is no Frontier; there are only frontiers”. Pp 06.

  • Nos Estados Unidos, o uso da palavra “fronteira” não equivale ao uso europeu, à conotação de limites, de divisas fortificadas que separam populações densas. Ao contrário, “fronteira” significa um espaço aberto para a conquista.
Survival demanded fresh values; the cultural baggage of the Old World had to be discarded and new skills learned and applied. Under the influence of the fronter environment, characteristics were developed on wich rested the greatness and uniqueness of the nation – individualism, a democratic spirit, hard work, inventiveness, optimism, a distrust of government intervention and a belief in self-help. A crucial aspect of Turner's thesis was the idea of 'perennial rebirth'. The frontier was a magic fountain in wich America continually bathed and was rejuvenated. The frontier also fulfilled a critical function by constantly renewing democracy as each wave of settlement touched a new frontier. Pp. 07.

  • Críticas mais contundentes encontradas na literatura contra o argumento de Turner >>>
    a) Apenas uma pequena porção de americanos esteve sujeita à influência da fronteira;
    b) Concentrando-se nas fronteiras, Turner deixou de se concentrar nos dilemas raciais e nos dilemas urbanos;
    c) O trabalho de Turner reflete os preconceitos contra os índios, típicos de 1890.
    d) A fronteira não atuou com uma opção segura para o descontentamento com o industrialismo e não pode explicar a inexistência de um movimento socialista norte-americano.
    e) A imagem de “espaços fechados” utilizada por Turner era exagerada.
    f) O uso de metáforas, por Turner, serviu para ocultar que seu conceito de “Fronteira” era impreciso.
    g) Existem contradições nos pressupostos evolucionistas de sua teoria.
    h) O trabalho de Turner adota uma certa “retórica do exagero”.
    i) As contribuições da fronteira para a democracia norte-americana, em termos de inventividade e inovação, estão superestimadas no trabalho de Turner.
    j) A utopia agrária de Turner desconsiderou o papel dos especuladores imobiliários e dos empresários das estradas de ferro.
    k) Os valores levados à fronteira foram mais importantes que as condições naturais da fronteira. Noutras palavras, foram as ideias e instituições levadas pelos colonos do Leste que formaram o Oeste, não os pioneiros do Oeste que moldaram os do Leste.
    l) Havia condições de pré e auto seleção naqueles que se tornaram homens de fronteira. Dessa forma, a Fronteira teria confirmado traços preexistentes, e não os criado.

Não obstante todas essas críticas, parece restar confirmado o argumento central de Turner, segundo o qual existe uma conexão íntima entre a Fronteira e a Democracia norte-americana. Resta saber qual exatamente seria essa conexão. Pp. 08.

  • Mesmo com todas as críticas que sofreu, o trabalho de Turner continuou a ser um clássico bastante comentado e vendido. Para Hennessy, Turner estava fornecendo um tipo de resposta de que o público em geral – e não apenas a Academia – necessitava: o mito de criação da nação.
  • Na América Latina, os acontecimentos foram bem distintos. A relação entre Academia e povo é muito menos relevante que nos Estados Unidos. Uma população largamente iletrada e a pouca quantidade de historiadores faz com que as necessidades públicas (a necessidade de um mito de criação, por exemplo) não possam ser atendidas via historiografia. Ademais, dadas as condições socioeconômicas latinoamericanas, a historiografia dessa região será muito mais uma espécie de “manifesto de um povo oprimido” (pp. 10 e 11).

The history of independente Latin America has not been one of economic success or political stability. Whatever criticism are levelled against the Turner thesis in the US, they have normally been made within the framework of capitalism, the basic postulates of wich are not called into question. But Latin America's experience of capitalism has prodced failures and dependence on outside powers, the more difficult to accept when compared with North American success. Thus it is not suprising that Latin America historians have come to be critical of thoose processes which produced frontier expansion in the United States, nor will the word frontera, although it has connotations of an expanding area of settlement, deriving from medieval Spain, echo through the halls of the mind. Indeed, the multiplicity of political frontiers – limites territoriales – after the break up of the Spanish Empire, makes Latin America approximate more closely to Europe than to United States. Pp. 11.

  • O conceito de “fronteira”, na América Latina, está muito mais próximo do utilizado pelos europeus que pelo utilizado pelos norte-americanos. Ademais, a historiografia latino-americana costuma enxergar as ideias de Turner como especie de imperialismo (sobretudo se considerarmos que os territórios do Oeste dos Estados Unidos não eram desocupados e, politicamente, pertenciam ao Canadá e ao México). Pp. 11.
  • Se o mito da fronteira prestou-se ao serviço de justificar a democracia norte-americana e assim reforçar o nacionalismo, é fácil compreender porque a fronteira na América Latina não desempenhou esse mesmo papel. É que, sem democracia (?), houve pouca necessidade (?) de cunhar mitos fundantes que elevassem a autoestima nacional.
  • Conforme Hennessy, de todos os países latinoamericanos, é ao Brasil que mais se adqequa o conceito de “fronteira”, de acordo com a acepção que lhe atribuiu Turner.
    a) A economia brasileira foi marcada por ciclos de commodities: madeira, açúcar, ouro, café, cacau e borracha. Esses ciclos implicaram a mobilidade da população.
    b) Sob a perspectiva dos movimentos migratórios, a população brasileira se assemelha mais à população norte-americana que à população dos países vizinhos, de colonização espanhola.
    c) A grande diferença entre Brasil e Estados Unidos é que, enquanto nos Estados Unidos o território, uma vez ocupado, permanecia ocupado (mesmo que por outro público), no Brasil a decadência dos ciclos produtivos era sucedida do abandono da terra, o que criou grandes vazios.
  • Bandeirantes >>> Imagem do homem de fronteira típico. Comparável ao homem da fronteira dos Estados Unidos. Caracterizados na historiografia como agressivos, opressores, interesseiros e sem raízes, mas também como mestiços que incorporaram diversas características e valores indígenas, legando-os aos seus ancestrais.
  • Frederick J. Turner << >> Gilberto Freyre.
In the more densely settled northeast, Gilberto Freyre's Masters and Slaves, enphasizing the mixing of the early Portuguese settlers with the indigenous peoples and with African slaves, seemed a more appropriate text to explain historical influences. But common to both the bandeirante and Freyre school of historians is the emphasis on adaption to environment through miscigenation – on primarily Indian and European, the other European and African. Freyre's influence has been greater because by extolling the African heritage, he helped to overcome the stigma caused by a slave past. While Brazil's younger social historians criticise his argument for its overemphasis on cotinuitis and the processes of accommodation and underemphasis on conflict, its importance as a myth is comparable to the frontier of Turner's thesis. The Brazilian equivalent of the frontier myth is the myth of racial harmony, and this comes to provide both an explanation of the 'non violent' nature of Brazilian history in contrast to that of Spanish America and a legitimation of present policies. Pp. 12 e 13.

  • América Latina >> Carências de registros escritos. Cultura oral. Dificuldade em reconstituir as condições em que viviam os homens da fronteira. Probabilidade quase nula de que os habitantes da fronteira tenham exercido qualquer tipo de influência decisiva sobre as elites que atuavam nos centros de poder. As tradições centralizantes são muito arraigadas na América Latina, o que explica a artificialidade de seus arranjos federativos (fls. 14).
  • Nem toda ocupação de fronteira gera arranjos políticos democráticos. Isso não é válido sequer para os Estados Unidos, em que houve a expansão dos plantations escravistas nas planícies dos Estados do Sul.
  • Estados Unidos X América Latina. Na América Latina a escassez de mão de obra não se reverteu em favor do poder de barganha dos trabalhadores, antes os converteu em servos.
A major contrast, therefore, between North and Latin American frontiers is that those in Latin America were differentiated by availability of labour in varying forms whereas, in the United States, opportunity provided the stimulus, attracting to the frontier labour which was always available because of a constant flow of new immigrants (although not too many to inhibit a high-wage economy or render technological invention unnecessary) and the highly mobile nature of North American society. What is signifficant and needs explanation is the question why, in Latin America, scarcity of labour did not increase labour's bargaining power but, on the contrary, led to its virtual enserfment. Pp. 16.

  • O que vem a ser uma fronteira? Em que momento uma fronteira deixa de sê-lo? Conceito vago e ambíguo. O próprio Turner utilizou o conceito em três diferentes acepções: uma região geográfica, um processo de adaptação e a existência de uma área não utilizada nos limites de uma área ocupada.

      – Na América Latina, a fronteira não é propriamente uma área virgem, em que o homem jamais pisara. Mitos como o Eldorado incentivaram expedições até as localidades mais remotas do continente.

      – Crítica à ideia de que a fronteira é uma linha móvel.

      – A fronteira, na América Latina, está mais relacionada ao crescimento das cidades fundadas nessas investidas, à ocupação das áreas lindeiras e à sua interligação com outras cidades.

      – Ocupação do território em “ilhas”, até mesmo em decorrência:

        a) das baixas e lentas taxas de migração;
        b) da inexistência de grandes rios que servissem como canais de transporte para os migrantes até o interior do continente (exceção ao São Francisco, no Brasil, e ao Magdalena, na Colômbia);
        c) da existência de doenças tropicais sobre as quais os europeus nada conheciam;
        d) ademais, a experiência ibérica era de pastorialismo (que incentiva certo nomadismo) e de miscigenação;
        e) a terra não era fartamente disponível: estava concentrada em grandes latifúndios desde o século XVI.

The Latin American frontier involved an adaptation to peoples as well as, perhaps even more than, to environment”. Pp. 19.

  • América Latina >>> Fronteira inclusiva >>> Objetivos da colonização espanhola e portuguesa >>> “Converter os pagãos ao cristianismo e, enquanto isso, ficar ricos”. Aspectos étnicos, culturais, econômicos da cultura englobada passam a fazer parte da cultura englobante. Miscigenação intensa. Vista por cientistas racialistas como causa do atraso dos países latinoamericano. Justificativa para a propagação da ideia de litoral-civilizado X interior-bárbaro, bem como para a adoção de políticas de atração de migrantes europeus (“purificação racial”).
In Spanish America and in Brazil miscegenation created a new human type, and it is on peripheral frontiers in Latin America that racial mixing most readily occurs in spite of many attempts, especially by the Church, to prohibit it”. Pp. 19

  • Estados Unidos >>> Fronteira excludente. A fronteira física também é uma fronteira racial, econômica, étnica, cultural. Lado “de dentro” e “de fora” pouco se comunicam, pouco interagem.
  • Mito historiográfico de Turner >>> Acentuou a influência do meio ambiente na formação do caráter nacional X Mito historiográico de Gilberto Freyre >>> Acentuou a influência da hereditariedade na formação do caráter nacional.
Whereas in United States the frontier was the great rejuvenator, constantly revivifying democratic idealism, in Latin America rejuvenation would come from an intellectual and spiritual elite. In this process there was no role for the common man, for the Indian, mestizo or mulatto”. Pp. 22.

  • Adoção, pelos latinoamericanos, das ideias europeias como exemplo: motivo pelo qual atribuiu-se à juventude letrada a tarefa de revolucionar os respectivos países (diversamente, nos Estados Unidos a fronteira foi tratada como um fator de constante renovação).
The irony of the prhase 'free land' is that land was only free if the pre-emptive claims of indigenous peoples were ignored. What might apppear to be empty lands could well be buffalo hunting grounds; […]. Yet as the history of submerged minority groupes comes to be written we are becoming aware that there is an underside to the democratic myth. Freedom not only meant freedom from European class systems, it also meant freedom to break those unable to compete. The frontier symbolized not only democracy, but the rage of property, dressed in the postulates of Lockean individualism; physiocratic notions of agriculture as the source of wealht, toghether with nineteenth century evolutionary views, meante that hunters were relegated to the status of non-people. From this perspective, the land speculator and not the rugged pioneer appears the more significant frontier figure”. Pp. 23.

  • De acordo com a tese de Turner acerca das fronteiras, as migrações para o campo teriam servido como válvula de escape para a insatisfação com as cidades. Na verdade, as cidades é que serviram de válvula de escape para as insatisfações com as condições de trabalho dos campos, especialmente entre 1880 e 1890. Dessa forma, não existe uma dicotomia evidente entre as experiências latino-americana e estado-unidense, muito embora a possibilidade de ir para o Oeste tenha se atuado como importante fator psicológico nos EUA (o que foi negado aos colonos latino-americanos). Pp.24.
  • Turner ignora o papel do capital na formação econômica dos povos estado-unidense e latino-americanos: ao passo que o capital nos EUA, para criação de gado, agricultura ou exploração mineral, era fundamentalmente nacional (inovação), nas nações latino-americanas, era de origem internacional, o que contribuiu para o aspecto dependente dessas economias (acomodação).
Thus were perpetuated the hierarchical corporatist and patrimonial assumptions of late medievalism, together with the cultural norms of Mediterranean peasant society and the religious beliefs of the Spanish Catholic Church”. Pp. 25.

  • Ocupação latino-americana >>> Perpetuação de formas sociais e econômicas arcaicas nas fronteiras. Proporção homem X terra desfavorável (muita terra, poucos homens), que não se reverteu em favor dos trabalhadores. Ao contrário, grandes proprietários artificialmente criavam a escassez de terras restringindo o acesso a elas e forçando os trabalhadores a lhes servirem. Esse, para Henessy (pp. 25), é o aspecto mais relevante para a comparação entre a repercussão das fronteiras para a socioeconomia dos EUA quando comparada à da América Latina.
Labour scarcity stemming from demographic catastrophe of the sixteenth century coupled with the slow rate of immigration from Europe and the difficulties of attracting capital to frontiers made many of these regions deserts of exile and despair, where rural bosses exercised domination virtually independent of the control of the central government; this was the case in Mexican California, whise isolation made it a lotus eater's paradise”. Pp. 25.

  • A introdução do capital nas áreas fronteiriças da América Latina deveu-se à demanda internacional por matéria-prima: cobre, ferro, zinco, óleo. Essas atividades econômicas eram majoritariamente controladas por empresários estrangeiros, assim como eram financiadas por bancos estrangeiros.
  • Olhando sob uma perspectiva histórica, a incapacidade de criar fronteiras dinâmicas acabou por fomentar o desequilíbrio econômico e social na América Latina. Hoje, as grandes cidades latino-americanas exercem sobre o campo o mesmo tipo de dominação que, no passado, as metrópoles exerciam sobre as colônias, ou que as nações industrializadas exercem sobre as nações não-industrializadas (pp. 26).
It is tempting to reverse Turner's hypothesis by asserting that, far from stimulating democratic values and creating a democratic myth, the frontier in Latin America has bred a spirit of lawless anarchy and perpetuated outworn forms of social and economic organization whise typical political expression is pastoral despotism. […]. It could be argued […] that, instead of a expanding frontier, Latin America has produced a contracting frontier in wich cities are being engulfed by a rising tide of peasant migrants escaping from the misery of poverty in the countryside and are importing into the cities the residual legacies of rural boss-rule”. Pp. 26.

  • Hoje >>> Os intelectuais latino-americanos estão mais preocupados com as muitas mazelas das cidades que com a discussão acerca da ocupação das fronteiras. Uma reversão do fluxo migratório para o interior, a fim de colonizar as fronteiras, dependeria de um novo estímulo econômico (a descoberta de jazidas, por exemplo), combinado a uma mitologia de fronteiras adequada.


2. Types of frontier

A fronteira das missões. América do Norte >>>
  • Fronteira típica da América Espanhola. Apesar de a primeira leva de aventureiros ter se embrenhado no continente em busca de metais preciosos, foram as missões que exerceram a tarefa de pacificar e consolidar a ocupação branca.
  • Franciscanos e Jesuítas foram introduzidos nas Colônias espanholas a partir do século XVI, com finalidades militares e de erigir o domínio católico.
  • Fundação de Santa Fé, em 1609. Ponto final da estrada real espanhola. Proteção espanhola aos índios católicos contra os não convertidos. A cidade permaneceu isolada até 1820.
  • As missões eram inicialmente subsidiadas pelo governo espanhol: guarda, provimento para a construção de templo, para a aquisição de sinos. Com o tempo, o governo espanhol esperava que elas se tornassem autossuficientes, deixando de financiá-las (exceto quando essas missões estavam situadas em locais estratégicos).
  • As verbas para financiamento das missões eram oriundas das reservas destinadas à guerra. Sua arquitetura revela a finalidade militar.
  • Conflitos endêmicos entre padres e índios não civilizados, e entre índios civilizados e não civilizados >>> Diminuição da relevância da atividade dos feiticeiros e pajés. Utilização da devastação da doença e dos terremotos para insuflar revoltas contra as missões.
  • As missões jesuítas foram erigidas desde a Califórnia até o Arizona, passando pelo Novo México e pelo Texas. Estima-se que, no século XVII, tenham convertido cerca de 400 mil pessoas. Desempenharam papel relevante na defesa do Império Espanhol contra o avanço russo, inglês e francês.
  • Quando o império espanhol colapsou, havia 21 missões e 4 presídios na América do Norte. Compunham-se de 30 mil índios convertidos, 400 mil cabeças de gado e 300 mil suínos e ovinos, embora a economia local ainda fosse tipicamente de subsistência.
  • Com a Independência do México, o norte (onde se concentravam as missões) passou a ser visto como um problema: distante, sem comunicações e pouco povoado. 1824: Lei de incentivo à ocupação do norte; 1834: As missões são secularizadas.
  • A fronteira das Missões. América Central e América do Sul >>> Jesuítas. Sucesso em adquirir fundos, por meio da educação aos filhos da elite local. Com tais recursos, a Ordem tornou-se grande proprietária de terras em toda a América Central e do Sul.
  • Na América Espanhola, em geral, os jesuítas atuaram como definidores dos limites dos territórios conquistados. No Equador e no Paraguai, por exemplo, os limites dos territórios espanhóis foram demarcados exclusivamente pela influência territorial exercida pelas missões jesuítas.
  • Jesuítas no Paraguay (onde hoje é o leste da Bolívia) >>> Sucumbiram ao ataque de 3.000 bandeirantes, que atacavam as missões em busca de mão-de-obra escrava. Para evitar os bandeirantes, os jesuítas dirigiam-se cada vez mais em direção ao sul. Tentaram chegar ao Atlântico, mas foram bloqueados pelos paulistas.
  • No Brasil >>> as Missões Jesuítas tinham finalidades mais locais, ou seja, menos internacionais ou geopolíticas que na América Espanhola. Amplos poderes em relação às populações indígenas. Sua proeminência e liberdade provocou a inveja das outras ordens religiosas e a antipatia dos proprietários de terras locais. Com as sua expulsão sob o Marquês de Pombal, as terras dos jesuítas entraram no mercado, os índios foram liberados como força de trabalho escrava e houve a necessidade de introduzir outra ordem religiosa para assumir-lhes a função catequizadora: os franciscanos.


A fronteira indígena >>> A rápida conquista dos incas e astecas e a miscigenação deixam a impressão de que não houve resistência dos indígenas à assimilação.
  • Os apaches (México) resistiram até o final do século XIX. Eram intratáveis. Suas terras, ou as terras em que lutavam, incluíam grandes porções do Texas até o Arizona. Embora constituíssem um grupo linguístico uniforme, não tinham organização política centralizada, o que dificultava aos espanhóis a tarefa de lidar com eles;
  • Os araucanians (Chile), dos quais os mapuches eram descendentes, resistiram até 1880. Como no Norte do México, os espanhóis herdaram uma fronteira indígena pré-colombiana no Chile. Os incas nunca conquistaram as tribos residentes no sul do Chile: seu império nunca atravessou o Rio Maule. A partir de 1840, chegaram colonos alemães à região. E só quando o presidente Allende reconheceu os direitos dos mapuches às terras, os colonos se viram com um problema indígena.
  • Índios na fronteira entre Chile e Argentina. Isolados por mais de 200 anos (1590 a 1790). Uma vez tendo adquirido cavalos e boleaderas, tornaram-se fortes adversários, que demandaram o esforço de 12 mil soldados hispânicos. Criação de fortes que, mais tarde, serviriam como núcleos urbanos. Habitadas por mestiços, criou-se uma espécie de “fronteira suave” entre indígenas e hispânicos. A expansão da pecuária demandou o extermínio dos índios locais.
  • Morelos, México, 1890 >>> O aumento da demanda pelo açúcar mexicano incentivou os fazendeiros a tomarem as terras ao redor das vilas e a escravizar o seu povo. A revolta do estado de Morelos ficou conhecida como “movimento zapatista”.
  • Bolívia, 1860 a 1870 >>> Os indígenas também experimentaram a expropriação derivada da expansão das fazendas. O ditador Melgarejo distribuiu as terras de 70 mil indígenas entre 800 apoiadores.
  • Península de Yucatán, então sob controle dos caciques maias. Servia como refúgio para fugitivos vindos das colônias espanholas na América e, depois, do México. Avanço da plantation de bananas, açúcar e algodão. Anexação ao território mexicano como “território de Quintana Roo”.
  • Chimichecs. Embora os Astecas tenham sido dominados pelos espanhóis em 5 anos, demorou 50 para que os Chichimecs fossem conquistados. Nômades guerreiros, os Chimichecs ocupavam uma área seca, de difícil domesticação, nos arredores do império asteca. Praticavam o canibalismo e o escalpelamento dos inimigos. De uma guerra de sangue, os espanhóis passaram a uma guerra de conquista (“matar pela delicadeza”): doavam aos Chimichecs carne, milho, roupas. Uma vez “amansados”, suas terras foram distribuídas a índios de fora.
Pacified indians were used to colonize new frontiers in Jalisco and Sonora. Opatas from south Sonora were sent into Arizona to teach agriculture to the Pimas and then the Pimas were used by the Jesuit, Father Kino, in the 1690s to defend his missions from Apache attack”. Pp. 63.
    – Cavalos >>> Conferiam agilidade aos guerreiros e, por conseguinte, dificuldade para a conquista de territórios indígenas pelos espanhóis.

  • Brasil >>> A fronteira indígena é, essencialmente, a fronteira da selva.
    – Índios brasileiros não eram sedentários, mas nômades caçadores e coletores, vivendo a maior parte do tempo nas clareiras das florestas (p. 67).
    – Para evitar a escravidão (escravos africanos eram mais caros), fugiam, cada vez mais, em direção ao interior do país.
    – Mas os portugueses precisavam de sua participação no projeto colonial, especialmente para colonizar as áreas disputadas pela Espanha. Pombal assinou um decreto incentivando os homens portugueses a se casarem com índias, a fim de estabilizar populações nas áreas disputadas.
    – Tupiniquim + Portugueses Vs. Tupinambás + Franceses
    – Jesuítas foram incapazes de impedir as expedições para captura de indígenas.
    – Piauí e Maranhão >>> Os colonos não conseguiam pagar pelos escravos negros, motivo que os levava a buscar os indígenas como mão-de-obra escrava alternativa. Resultado: revolta dos Tapuyas, em 1712 e 1713.
    – Poucos índios brasileiros aprenderam a montar. Mas, dentro das florestas, eram impossíveis de capturar. Por isso, os capitães do mato colocavam fogo nas florestas.
    – 1808. Declaração de guerra do Espírito Santo contra os Aymorés. Autorizou-se a utilização dos prisioneiros como escravos.
The reduction of missionary protection after the expulsion of the Jesuits in 1767 combined with a pastoral frontier pushing into their hunting grounds, as well as the rising price of African slaves caused by the British blockade, seems to have resulted in a sharp rise in the incidence of Indian slavery in the early days of independence. In Pará, especially, always plagued by labour shortages, conditions became so bad that in the middle 1830s, the state was convulsed by a series of guerrilla wars or cabanagens”. Pp. 68.


A fronteira quilombola >>> Ocupações fronteiriças de escravos fugitivos, que inovavam nas técnicas agrícolas, na língua, nos aspectos culturais. Quilombos ou mocambos. O seu exemplo era o maior risco para a empreitada colonial. Por isso, os castigos para negros fugidos era, normalmente, extremamente severo (castração pública, açoite, amputação de membros, castigos com fogo ou brasas, etc).

The indian frontier was not the only frontier of resistance in the Americas. Wherever there were slave plantations – in the Carolinas, Florida, Central America, in the Caribbean or South America, there were also runaways who fled into uninhabited hinterlands to establish hideouts. These maroon communities, palenques in Spanish America, and quilombos or mocambos in Brazil were by definition frontier societies, sited in inaccessible unsettled and inhospitable regions. Pp. 68.

  • Palmares, Brasil. 1605 a 1692. 8 expedições foram mandadas para destruí-lo (duas holandesas, seis portuguesas). O governo contratou os paulistas (bandeirantes) que conseguiram destruir o quilombo após 2 anos de lutas e 20 dias de cerco.
  • Multiplicação de quilombos na região mineradora. Dificuldade dos brancos em controlar os escravos. Ameaça ao império português.
The precedent was too dangerous for a society totally dependent on slave labour and where whites were in a minority. Had Palmares not been destroyed it might have provided an inspiration and model for other African states in the hinterland, confining the Portuguese to their original coastal possessions”. Pp. 69.

  • Também houve quilombos >>>
    (a) no Haiti (fronteira entre o lado francês e o lado espanhol da ilha);
    (b) na Jamaica (os britânicos tiveram que reconhecer seus direitos por meio de Tratado);
    (c) na Guiana Inglesa e na Guiana Francesa (onde foram destruídos ao longo do século XVIII);
    (d) em Suriname, onde ainda existem (40 mil descendentes divididos em 6 tribos).
    (e) na Colômbia, uma comunidade quilombola foi reconhecida, mas acabou sendo absorvida na economia agro-açucareira ou bananeria panamenha.
    (f) no México, uma comunidade quilombola foi reconhecida.
    (g) em Cuba, diversas cidades serranas devem suas origens aos palenques.
  • Os quilombos se beneficiavam das disputas metropolitanas por colônias. Alguns eram autossuficientes, outros negociavam piratas e até com os mesmos latifúndios de onde haviam fugido.
  • A relação entre indígenas e negros fugidos carece de estudos. Há indícios de miscigenação, mas também há indícios de que quilombolas caçavam índios e vice-versa (pp. 70). Ademais, os negros fugidos não se imiscuíam na política local (movimentos de independência, por exemplo): queriam apenas ser deixados em paz. Mas isso só era possível enquanto o interior permanecesse desocupado.
  • Fuga dos escravos negros para as grandes cidades. Anonimato da multidão e proteção dos abolicionistas (São Paulo).
Maroon comunities are significant in that they provide some of the longest and most persistent examples of resistance to colonial rule. But only recently has their historical experience been incorporated into ideologies of nacionalist movements. Their positive achievements help to offset the 'Sambo' image of the slave as contented, or the view that Africans showed a natural predisposition towards slavery. Conditions forced maroons to become masters of guerrilla warface and in this respect they provide an ancestry in the rural guerrillas of the 1960s. Most maroon leaders were anonymous and so are not found in the pantheon of nationalist heroes. But the maroon experience and the adaptation of black frontiersmen to forbidding environments constitutes a myth wich can have the function of liberating the historiography of newly independent black countries – such as the Guyanas – from independence on an interpretation of the past where blacks are always seen as the passive recipients of superior white rules – a black equivalent of the Turner thesis”. Pp. 71.


A fronteira da mineração >>> Maior incentivo para a ocupação do interior da América Latina. Motor de migrações em número relevante.
  • Mineração em pequena escala: irrelevante para fins civilizatórios. Pouco lucrativa. Praticada por índios, escravos fugidos, mestiços. p. 72.
  • A mineração em grande escala na América Latina, relevante para fins civilizatórios, decorreu da:
    a) Descoberta da montanha de prata de Potosi (atual Bolívia), 1545 >>> A cidade imperial de Potosi foi o motor da economia espanhola entre 1545 e 1660. 120 mil habitantes: a maior cidade das Américas. Atraiu portugueses, espanhóis e estrangeiros de todos os cantos (p. 75). Era um centro comercial pujante, que se conectava a diversas cidades, tais como Buenos Aires e Lima. Produtos de todo o mundo podiam ser adquiridos em Potosi (perfumes, tapetes otomanos, especiarias, brocados italianos, vidro veneziano...). Com o declínio da economia mineradora, a cidade decaiu vertiginosamente. Hoje é uma cidade museu situada no meio de uma paisagem sem árvores. Maior parte do trabalho: servos indígenas indicados pelos caciques incas. A prata podia ser embarcada para a Espanha, após uma viagem de 4 dias de mula, em troca de gêneros europeus. Também podia viajar 2 meses até Sacramento, um comércio ilegal organizado por brasileiros. Entre 1870 e 1880, Potosi reviveu um novo ciclo de exploração da prata, rapidamente substituído pela exploração de estanho.
Wheat was imported from Chile, the ranary of the Peruvian viceroyalty; wheat, fruit, cotton and cloth came from Tcumán and Salta, pork from Tarija, corn and fruit from the Cochabamba valleys and from the distant Mojos and Beni where estates were worked by enslaved Chiriguana Indians of the Chaco captured in fierce raiding forays. Fish, packed in ice, was brought from Lake Titicaca, grapes and brandy from Arequipa; food was also sent up from the Jesuit missions in Paraguay until their expulsion. Mules on which the whole Andean transportation system depended were bred in Salta and driven intheir tens of thousands over the mountain passes. The key supplies of mercury, needed for the patio amalgamation process after its introducion in 1573, came from Huancavelica in Lower Peru”. Pp. 76.

    b) Descoberta de prata nos arredores da Cidade do México (Zacatecas) >>> Dois anos após a sua descoberta, a cidade já dispunha de 5 igrejas e atraía hordas e mais hordas de aventureiros. Por causa da prata, foram fundadas mais 4 cidades com a função de defesa contra os Chichimec, bem como com a função de fornecer víveres para o centro produtor de prata (atividade desenvolvida por grandes mineradores). Trabalho: escravo, livre ou sob regime de meação (repartimiento). Zacatecas tornou-se a mãe do Norte, o portão de entrada para o norte do México.
    c) Descoberta de ouro nas Minas Gerais >>> Comparada à exploração da prata, à do ouro foi relativamente pequena na América Latina. A descoberta do ouro em Minas Gerais suscitou a primeira corrida do ouro da história moderna. A importação de escravos era insuficiente para dar conta, ao mesmo tempo, da produção agrícola (plantation de tabaco e açúcar) e da produção aurífera. Cerca de 300 mil emigraram para o Brasil nesse período, mais que o total de imigrantes recebidos por toda a América Espanhola durante o período colonial. Portugal limitou a emigração em 1720, de modo a prevenir o seu despovoamento (p. 78). Tal como ocorreu na América Espanhola, a grande demanda por alimentos, escravos e gado na região das minas acabou por consolidar fortunas. A zona das minas era caracterizada por fortes conflitos: juventude dos migrantes, estrangeiros versus paulistas e falta de mulheres brancas. Crescimento da população mulata. Ouro Preto: financiada pela mineração, é um dos maiores monumentos barrocos ainda existentes.
  • Paulatinamente, os metais de base, utilizados na indústria, começaram a substituir os metais preciosos na atividade mineradora dos países latino-americanos. Chile: cobre e nitratos; Bolívia e Peru: nitratos. Investimento em estradas de ferro. México: prata e ferro, atraindo investidores norte-americanos, o que gerou insatisfação e mesmo revolta entre os mexicanos.


A fronteira do gado >>> Ovelhas, cavalos, mulas, porcos, bois, cabras, galinhas foram introduzidos na América pelos Europeus. Sob as condições naturais americanas, os animais domésticos europeus se multiplicavam rapidamente.
  • O gado era um instrumento para conquista das terras. Pisoteamento de roças indígenas, tornando-as imprestáveis à agricultura.
  • Gado: estoque móvel de insumos (não apenas de carne, como de couro, gordura e chifres), que se prestou, principalmente, ao abastecimento do mercado interno.
  • Economia central da Argentina e do Uruguai.
  • A pecuária argentina atraiu migrantes europeus: irlandeses, escoceses e bascos. O regime de pagamento dos peões (participação no crescimento do rebanho) permitia que eles, com o tempo, também se tornassem fazendeiros, perspectiva que atraía migrantes. Tornou-se central na Argentina devido à expulsão dos indígenas de seus antigos territórios.
  • No Brasil, a pecuária foi ainda mais extensiva que na Argentina. Entretanto, sempre configurou uma produção periférica, destinada ao abastecimento dos mercados centrais: a economia açucareira, mineradora, algodoeira.
    – As primeiras incursões em direção ao interior deveram-se aos vaqueiros, em busca de pastos novos para o gado.
    – O sertão, como os pampas argentinos, era a região do couro. Violento, testemunhava a confrontação entre vaqueiros e índios. O sertão recebia ex-escravos, escravos fugidos, mestiços.
    – As secas cíclicas no sertão incentivaram a pecuária nos pampas gaúchos, idênticos aos argentinos em termos de recursos naturais. A área, que era objeto de disputa entre espanhóis e portugueses diante dos termos do Tratado de Tordesilhas, acabou demarcada pelo Tratado de Idelfonso, em 1777. Os pampas gaúchos forneciam mulas e charque às demais regiões.
  • Venezuela >>> Economia mista, como no Brasil (Cacau e Gado). Vale do Orinoco: uma das maiores áreas de pecuária da América do Sul. Tal como o sertão, era uma área receptiva aos escravos fugidos e aos mestiços.
  • México >>> As condições naturais dos Zacatecas obrigavam os colonos a buscarem insumos agrícolas em outras regiões, mas os campos circunvizinhos eram adequados à pecuária, de modo que não somente abasteciam a região como também a Cidade do México. Com as ameaças indígenas, as fazendas mexicanas do norte caíram de preço. Por isso, muitas foram adquiridas por norte-americanos que introduziram na região uma pecuária altamente capitalizada. Traços do vaqueiro influenciaram hispânico não apenas a identidade do mexicano, como também do texano.


A fronteira agrícola >>> Os migrantes que vieram para a América Latina não o fizeram para se tornarem agricultores. Essa experiência, que funcionou nos Estados Unidos, tornou-se absoluta exceção na América Latina (Sul do Brasil, Santa Fé e Corrientes na Argentina, Sul do Chile), p. 89.
  • O latifúndio, no qual laboravam trabalhadores desprovidos de terras, tornou-se o modelo fundiário latino-americano, seja para a produção agrícola, seja para a pecuária. Esse formato fundiário estruturou todo o sistema produtivo.
  • Migrantes europeus não se submetiam a esse tipo de sistema econômico, motivo pelo qual dificilmente dirigiam seus olhares para a América Latina. A migração de pequenos produtores europeus foi estimulada pelos Estados latino-americanos somente no século XIX.
  • Argentina:
– Quarenta anos depois da independência da Argentina, pequenos proprietários ainda eram raridade. Em 1914, entretanto, 3 em cada quatro habitantes de Buenos Aires eram estrangeiros. p. 90. 
– Em locais específicos (Esperanza e Santa Fé), esses europeus que migraram para a Argentina adquiriram pequenas extensões de terras e passaram a cultivá-las. Na grande parte dos casos, entretanto, arrendavam ou meavam a produção com Estancieiros. Assim, diversamente do que ocorreu nos EUA, a expansão do trigo na Argentina – que a transformou em um verdadeiro celeiro – não foi consequência da propriedade familiar rural, mas uma combinação entre colonos, fazendeiros, meeiros e trabalhadores migrantes.
  • Esquemas de colonização: Colonizar, no pensamento comum, significa preencher espaços vazios, povoar. A América Latina testemunhou diversos projetos de colonização: públicos, privados; estatais, municipais, federais; utópicos; religiosos.
– Ao longo do século XIX, sob a égide das teorias racistas, a colonização por europeus era vista como solução para o atraso endêmico provocado pela inferioridade dos povos latino-americanos, particularmente mestiços. 
 Os estancieiros costumavam enxergar os migrantes europeus como mão-de-obra barata, apta a substituir os escassos escravos negros.
  • Colonização era sinônimo de agricultura. Prender o colono à terra trazia a estabilidade social que a pecuária, com seu característico nomadismo, não proporcionava.
  • A colonização por grupos religiosos minoritários foi bem-sucedida. É que acabou por criar comunidades autosuficientes motivadas a permanecerem em suas terras de modo a preservar os seus valores. Mormons, menonitas, welshes, judeus.
  • O sucesso da colonização dependia, normalmente, da disponibilidade de capital, da facilidade de acesso ao crédito, da legislação que reconhecesse o direito de herança, da prévia experiência dos colonos com a agricultura.
  • Alemães: Sucesso no sul do Brasil e no Sul do Chile. Japoneses: Sucesso na Amazônia e no Leste da Bolívia. Os japoneses introduziram diversas técnicas agrícolas bem sucedidas, que permitiram a sua rápida ascensão, de trabalhadores a donos de fazendas.


A fronteira da borracha >>>
  • Boom da borracha amazônica em 1914. Caricatura da expansão fronteiriça. Expansão econômica da fronteira provocando alteração nos seus limites políticos.
  • 40 anos de prosperidade, que legou à Amazônia alguns pequenos povoados isolados e Manaus, com seus casarões, cemitérios ornados e seu grandioso teatro, transportado tijolo a tijolo de barco e erigido no meio da floresta tropical.
  • Territórios cujas fronteiras não eram lá muito claras desde a colonização passaram a preoucupar os Estados. Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela e Peru foram afetados por disputas por territórios.
  • Não obstante o Tratado de San Idelfonso, de 1777, as fronteiras não foram fisicamente demarcadas em decorrência de dificuldades práticas. Dessa forma, os brasileiros continuaram a insistir no princípio defendido por Portugal: quem ocupa a terra é o seu dono.
  • 60 mil seringueiros migraram, principalmente do Nordeste para a região amazônica.
  • No incício do ciclo da borracha, o Acre, então, era boliviano. O Estado desempenhava papel central na produção de borracha (60% do látex amazônico era produzido no Acre). Os brasileiros estavam insatisfeitos de pagar impostos aos bolivianos. Em 1899, com o apoio tácito do governo brasileiro, o Acre foi declarado uma república independente sob a liderança e um aventureiro espanhol. Embora o exército boliviano tenha derrotado o movimento, um tratado entre Brasil e Bolívia garantiu a anexação do Acre ao Brasil.


A fronteira anglo-hispânica >>>
  • Califórnia, Novo México, Texas, Colorado, Arizona e Nevada >>> Área onde as culturas inglesa e espanhola foram forçadas a coexistir.
The conquest of the West was not simply the triumph of Anglo courage and determination against intractable nature, as Theodore Roosvelt liked to believe, but a process of adopting and adapting techniques wich had been pioneered on the Hispanic frontiers over previous centuries, as earlier frontier in the Thirteen Colonies had benefited from Indian example”. PP. 102.

  • Eram territórios espanhóis e, depois, mexicanos. Entretanto, dadas as dificuldades em colonizá-lo, bem como a sua grande extensão territorial, tanto a Espanha quanto o México falharam em mantê-lo.
  • Novo México. Fracasso do típico latifúndio mexicano (encomienda) e estabelecimento de um tipo diferente de povoado, baseado em uma economia pastoral e mercantil, com uma relação simbiótica com os índios residentes nas suas adjacências. A conquista desse território pelos Estados Unidos não modificou a situação. Hispânicos eram mais numerosos que os americanos de origem inglesa, naquela região, até o século XIX.
  • Califórnia. Ocupação inicial: missões franciscanas. Clima ameno, indígenas pacíficos. Os hispânicos não haviam encontrado ouro, até a ocupação anglo-americana. Quando isso ocorreu, toda uma tecnologia mineradora desenvolvida e aperfeiçoada na América Latina desde 1550 foi aplicada na Califórnia.
  • Texas. Convívio difícil entre anglo-americanos e hispano-americanos.
    – A vitória dos EUA sobre o México, aqui, incentivou hostilidades para com os hispânicos – fomentada por uma espécie de fundamentalismo protestante anti-católico – e sua consequente resposta agressiva aos anglo-americanos.
    – Além disso, o Texas recebia escravos e peões fugidos do México, o que aumentava as hostilidades.
    – Encontro entre o latifúndio escravista, os colonos germânicos e os colonos hispânicos em um único local. Economia: gado (os vaqueiros eram, em grande parte, hispano-americanos).
    – Hoje, o Texas é uma região bi-cultural, economicamente interdependente, mas socialmente segregada.
    – Movimento dos Chicanos: resultado da segregação de uma minoria que tem uma experiência de fronteira diversa daquela dos anglo-americanos. Ambos os grupos – hispânicos e anglo-americanos – perpetuaram os valores que suas sociedades trouxeram para a fronteira. p. 106.


As fronteiras políticas >>>
  • As esperanças de que as fronteiras da América Espanhola sobreviveriam à independência não duraram muito. A população estava esparsamente distribuída pelo continente, havia obstáculos naturais às comunicações e aos transportes, havia disputas de poder entre atores e grupos. Tudo isso contribuiu para a fragmentação da América Espanhola em diversos Estados, ruindo o ideal de uma “Confederação Bolivariana”.
  • Boa parte dos limites das novas nações permaneceram idênticos aos estatuídos pela Espanha, durante a administração colonial. No entanto, a inexistência de um sistema cartográfico seguro deixou espaço para conflitos relativos às fronteiras.
  • As disputas territoriais mais duradouras se referiram à definição dos limites da América Espanhola e da América Portuguesa. Tratado de Tordesilhas, assinado pelo Papa, em 1494, atribuiu a Portugal todas as terras situadas a leste do paralelo 23; à Espanha, todas as terras situadas a oeste.
  • Portugal, embora reconhecesse o Tratado, pragmaticamente aplicou o princípio da preferência do primeiro ocupante. Como resultado, missionários, bandeirantes e colonos disputaram terras no coração da América Latina até que, finalmente, prevaleceu a hegemonia brasileira.
  • Os fatos históricos mais relevantes da América do Sul são aqueles afetos ao incremento do território brasileiro às custas dos territórios vizinhos de origem hispânica, exceção feita ao Uruguai (Banda Oriental ou Província Cisplatina).
    – Guerra do Paraguai, 1865 a 1870. Aniquilamento, pela Tríplice Aliança, das intenções de dominação da Bacia do Prata pelo Paraguai.
    – Aquisição do Acre, território então boliviano ocupado por alguns colonos produtores de borracha.
  • As fronteiras políticas latino-americanas foram estabelecidas desconsiderando a existência de populações transfronteiriças (exemplo: indígenas nômades) e, em alguns casos, “cortando” em dois ou mais Estados um único povo (Fronteira Peru – Bolívia), o que, potencialmente, gera conflitos.
  • A inclusão dos países latino-americanos no mercado internacional também promoveu e continua a promover conflitos relativos a fronteiras. Exemplos: (1) reivindicação do Chile contra o Peru e a Bolívia sobre o Deserto do Atacama (exploração de nitrato), culminando na Guerra do Pacífico. (2) reivindicação de territórios amazônicos equatorianos pelo Peru, o que até hoje abala as suas relações diplomáticas. (3) Bolívia X Paraguai e a disputa por um deserto supostamente rico em petróleo. (4) Venezuela X Guiana e a disputa por um território rico em diamantes.
  • Dessa forma, apesar de possuírem uma história similar, uma origem cultural e religiosa similar, os países latino-americanos, após mais de um século de independência, desenvolveram lealdades próprias, nacionalismos, símbolos nacionais próprios. Conflitos potenciais provocados por migração. El Salvador para Honduras e Haitianos para a República Dominicana. Conflitos potenciais provocados por alteração nos cursos dos rios que servem como limites políticos (EUA X México). Conflitos potenciais provocados pelo uso dos recursos naturais (impactos ambientais de uma economia sobre outra).

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DISCUSSÃO EM SALA

Avaliação do texto do Turner >>>
  • Texto clássico, utilizado por muitos autores
  • A fronteira teria formado a identidade norte-americana
  • Pioneiros: percebidos como individualistas, autônomos, de senso prático, inventivos, etc. Tais características teriam desenvolvido condições ideais para o nascimento da democracia.

Aborda as fronteiras na América Latina >>>
  • No caso brasileiro, houve ondas de ocupação, tal como ocorreu nos Estados Unidos.
  • Os Ciclos Econômicos contribuíram para a ocupação do território brasileiro
  • “Buracos abertos”. São deixados para trás os ciclos que não deram certo.
  • Bandeirantes >>> Homens da fronteira brasileira.
  • Contraste com a fronteira norte americana >>> A mão de obra era escassa e essa escassez não laborou em favor dos trabalhadores. Eles foram obrigados a viver sob regime de servidão.
  • América Latina >>> Fronteira é adaptação das pessoas ao ambiente. Exemplo brasileiro: a miscigenação.
  • A expansão das fronteiras ao redor das cidades tem engolido as metrópoles brasileiras.
  • Henessy >>> O contato com a fronteira nos Estados Unidos era excludente (o indígena é “outro”, outra nação. Contra ele se fazem guerras e se fazem tratados), no Brasil o contato com a fronteira era includente (hierarquia medieval >>> incorporação do outro).
  • Miscigenação >>> O Bandeirante era um mestiço. Incorporava os elementos indígenas.
  • Lei >>> Marco muito forte para os americanos. Garantia da liberdade. Entre os brasileiros, assume outra significação. Senso de castigo. Domínio da impessoalidade em uma sociedade relacional.



Turner X Sérgio Buarque de Holanda >>>
  • Aventureiro (Sérgio Buarque de Holanda) X Pioneiro (Turner).
  • Ética nobiliárquica (Brasil e Portugal) X Ética do Trabalho (protestantes).
  • O que o colonizador europeu herdou ao longo do processo de colonização do Brasil? Miscigenação. Tecnologias, alimentação, valores miscigenados.  

segunda-feira, 24 de março de 2014

Esquema de Leitura: Turner. The frontier in american history.

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplinas: Fronteira, Recursos Naturais e Conservação da Natureza.
Professores: José Luiz Franco e José Augusto Drummond
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura
Texto: TURNER, Frederick Jackson. The Frontier in American History. New York: Robert E. Krieger, 1976. Artigo: The Significance of the Frontier in American History, pp. 1-38.

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** Tese central do autor >>> A história americana é a história do avanço da fronteira em direção ao Oeste.
“The existence of an area of free land, its continuous recession, and the advantage of American settlement westward, explain American development”. Pp. 01.

** De acordo com Turner, as instituições americanas teriam sido compelidas a se adaptar às mudanças e ao espraiamento da população, isto é, às mudanças envolvidas no atravessar de um continente, nas vitórias sobre a natureza e no desenvolvimento de cada área, transformando as condições econômicas e políticas primitivas na complexidade da vida urbana.

** O desenvolvimento político e social norte-americano teria nascido e renascido, continuamente, a partir da fronteira. Em relação à ocupação e expansão progressiva da fronteira, seria secundário até mesmo o problema da escravidão -- que vem sendo tratado pelos historiadores como essencial à compreensão do desenvolvimento da democracia norte-americana.
The true point of view in the history of this nation is not the Atlantic Coast, is the Great West. Even the slavery struggle, wich is made so exclusive an object of attention by writers like Professor Von Holst, occupies its importance place in American history because of its relation to westward expansion”. Pp. 03.


** Fronteira >>> Encontro entre o mundo selvagem e a civilização.
“In this advance, the frontier is the outer edge of the wave – the meeting point between sabagery and civilization. Much has been written about the frontier from the point of view of border warefare and the chase, but as a field of the serious study of the economist and the historian it has been neglected. 
The American frontier is sharply distingished from the European frontier – a fortified boudary line running through dense populations. The most significant thing about the American frontier is, that it lies at the hither edge of free land. In the census reports it is treated as the margin of that settlement wich has a density of two or more to the square mile". Pp. 03.

** Na fronteira, o mundo selvagem determinou a ação, os valores e as vidas dos colonos. A fronteira os encontrou se vestindo, criando, pensando, produzindo como europeus. Ela os tirou dos trens e os colocou em canoas. Despiu-lhes dos ornamentos da civilização e os vestiu com camisetas de caça e mocassins.

** No início, a fronteira era a Costa do Atlântico. Tratava-se de uma fronteira européia. À medida em que a fronteira se moveu em direção ao Oeste, tornou-se cada vez mais americana.

** O avanço da fronteira em direção ao Oeste significou um contínuo movimento de ruptura com a Europa, isto é, um crescente crescimento da independência (política, cultural e econômica) das colônias americanas em relação às nações europeias. Dessa forma, estudar a influência da cultura germânica, escocesa ou inglesa na formação dos Estados norte-americanos é pouco explicativo do porquê tais Estados são como são. Para realmente compreendê-los, e ao povo que neles habita, faz-se necessário compreender o fenômeno da ocupação fronteiriça: que costumes vieram da Europa, como foram modificados pela fronteira e como essa modificação repercutiu na própria Europa, após a sua americanização.
In this successive frontiers we find natural boundary lines wich have have served to mark and to affect the characteristics of the frontiers […]. The fall line marked the frontier of the seventeenth century; the Alleghanies that of eighteenth; the Mississippi that of the first quarter of the nineteenth; the Missouri that of the middle of this century (omitting the California movement); and the belt of the Rocky Mountains and the arid tract, the present frontier. Each was won by a series of Indian wars”. Pp. 09.

** A fronteira no Atlântico foi constituída por pescadores, mineiros, fazendeiros, vaqueiros, negociantes. Com exceção dos pescadores, todos os demais foram atraídos para o Oeste.

** As taxas desiguais de avanço obrigam a distinguir a fronteira em tipos: a fronteira dos negociantes, a fronteira dos rancheiros, a fronteira dos mineiros, a fronteira dos agricultores. E os interesses desses atores nem sempre coincidia. Os agricultores da fronteira, por exemplo, encontraram os índios equipados com armas de fogo, as quais lhes foram vendidas por negociantes brancos.



ÍNDIOS

** A trilha dos búfalos transformou-se na trilha dos índios que, por sua vez, transformou-se na trilha dos negociantes. Essas trilhas (principalmente no Sul, no Oeste longínquo e no Canadá) se transformaram em estradas e, finalmente, em estradas de ferro. Os locais outrora escolhidos por suas características geográficas como base para as tribos indígenas foram progressivamente ocupados por brancos.

** Os indígenas constituíam um perigo comum aos colonos que se dirigiam ao Oeste, demandando, portanto, ação coordenada. Congressos e conferências da época (1754) sugerem um esboço de unificação. O Conselho Geral deveria celebrar a guerra e a paz com os índios, regular o comércio com os índios, estabelecer a demarcação das terras indígenas, criar e gerir novos assentamentos de colonos como segurança contra os índios. As tendências unificadoras do período revolucionário teriam sido, dessa forma, facilitadas pela prévia cooperação na regulação da fronteira.



RECURSOS

** Entre os fatores de atração de migrantes para o Oeste, citam-se os solos férteis, as minas de sal, os minérios e os postos avançados do Exército.

-- Solos férteis >>> Os solos virgens e férteis situados nos vales dos rios e nas pradarias atraíam agricultores, continuamente. O pasto, por sua vez, atraía os rancheiros para o Oeste.

-- Sal >>> Os primeiros colonos ficaram amarrados à Costa em decorrência da necessidade de sal, sem o qual não podiam preservar suas carnes ou viver com algum conforto. Com a descoberta de minas de sal no interior, o Oeste começou a se libertar da dependência que tinha em relação à Costa. Foi a descoberta das minas de sal que possibilitou a colonização para além das montanhas.

-- O preço das terras na fronteira era baixo, o que atraía imigrantes e mesmo fazendeiros nativos: 
Year by year the farmers who lived on soil whose retrurns were diminished by unrotated crops were offered the virgin soil of the frontier at nominal prices. Their growing families demanded more lands, and these were dear. The competition of the unexhausted, cheap and easily prairie lands compelled the farmer either to go west and continue the exhaustion of the soil on a new frontier, or to adopt intensive culture. [...]. These States have been sending farmers to advance the frontier on the plains, and have themselves begun to turn to intensive farming and manufacture”. Pp. 21,22.



ECONOMIA E GEOPOLÍTICA

** A maioria da população que recorria às fronteiras era de imigrantes não ingleses. Winsconsin >>> Alemães. Pensylvania >>> Alemães, irlandeses e escoceses.

** Tentativas frustradas de reduzir a migração para o Oeste. Primeiro, do Rei da Inglaterra. Depois, dos Estados do Leste, que sofriam decréscimo populacional dadas as migrações para a região de fronteira.

** Os homens além das montanhas, mais e mais isolados, tornavam-se mais e mais independentes. Temor de que rompessem cultural e religiosamente com o Leste ("Tártaros Ingleses"), motivo pelo qual houve uma intensa campanha de construção de escolas e de igrejas nas áreas de fronteira.

** O avanço da população em direção ao Oeste gerou demanda por suprimentos no Leste o que, por sua vez, fomentou a produção local e reduziu a dependência norte-americana dos produtos ingleses. Noutras palavras, o avanço para o Oeste afetou profundamente não só a América, como também o Velho Mundo.



DEMOCRACIA

** As transformações sociais provocadas pela fronteira norte-americana promoveram a democracia, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. A fronteira promoveu o individualismo. Uma sociedade complexa foi jogada na natureza intocada, tornando-se uma espécie de organização primitiva baseada na família. A tendência é anti-social, isto é, o enfraquecimento dos laços de solidariedade. Essas circunstâncias produziriam antipatia em relação ao controle, especialmente ao controle direto. (Pp. 30).

** A mobilidade da população significa a morte do localismo. E a fronteira elástica em direção ao Oeste era um convite à permanente mobilidade.

** Condições fronteiriças nas colônias >>> Revolução americana. Liberdade individual confundida com ausência de governo efetivo. Essas circunstâncias também explicam a dificuldade em formar um governo forte no período da Confederação. O individualismo de fronteira, desde o principio, teria promovido a democracia (Pp. 30).

** Fronteira >>> Permissividade em relação à formas extremas de exploração do homem pelo homem, por exemplo, por meio da especulação.
“But the democracy born of free land, strong in selfishness and individualism, intolerant of administrative experience and education, and pressing individual liberty beyond its proper bounds, has its dangeres as well as its benefits”. Pp. 32.

Artigo publicado em periódico. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson

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