segunda-feira, 21 de abril de 2014

Esquema de leitura: Em torno da Representação da natureza no Brasil, Roberto da Matta

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplinas: Fronteira, Recursos Naturais e Conservação da Natureza.
Professores: José Luiz Franco e José Augusto Drummond
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura
Texto: DA MATTA, Roberto. Em torno da representação da Natureza no Brasil: Pensamentos, Fantasias e Divagações. In: BOURG, Dominique (Org.). Os Sentimentos da Natureza. Lisboa: Instituto Piaget, 1993. Páginas 127-148


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** Apesar das grandes diversidades regionais brasileiras, é possível pensar em uma ideologia, em um conjunto de valores subjacentes, que orientam a relação entre homem e natureza.



** Dilema brasileiro >>> O sistema social brasileiro contempla valores modernos, tais como o individualismo igualitário, o progresso material e o controle da natureza e, ao mesmo tempo, também contempla valores tradicionais que continuam a comandar as práticas sociais mais corriqueiras (pp. 128-129).

-- O dilema brasileiro está na raiz da clivagem entre discursos (individualistas) e práticas políticas (clientelistas);



** O dilema brasileiro também pode ser encontrado nas nossas representações sociais acerca da natureza.



** O Brasil, tal como outros países de Terceiro Mundo, constitui um fértil campo de estudos acerca da natureza, dada a diversidade de valores e ideologias existentes (p. 129).



** Representações sociais da natureza, no Brasil >>>

-- Terra provedora, mãe terra, mãe pródiga, abundante em riquezas e que suporta homens, vegetais e animais.

-- Quanto mais pródiga a natureza, pior o povo. A chave do sucesso histórico repousa na existência de um povo com caráter suficientemente forte para vencer as dificuldades impostas pela natureza.

-- Puritanos na América do Norte: ganharam uma terra para domesticar X Portugueses no Brasil: ganharam uma terra que corresponde a uma visão passiva do Paraíso (visão edênica).

-- Implícita na visão edênica sobre a natureza brasileira está, também, a ideia de que essa natureza é boa para pilhar, isto é, que basta “esticar a mão” para tomar-lhe os frutos, o que implica um contato superficial. Trata-se do que Da Matta denominou como “Extraccionismo Predador” (p. 134).

-- Essa visão dominou a história econômica brasileira, marcada por ciclos, cada um dos quais correspondente à descoberta de uma fonte natural explorada à exaustão: açúcar, ouro, café e borracha.

         A obsessão pela extracção gera uma lógica relacional ambígua que oscila entre uma concepção da natureza habitada pelo maravilhoso, local de poderes mágicos, e uma concepção do mundo natural à mercê do homem. Não sendo percebida como um domínio compartimentado e independente do homem, a natureza encontra-se ligada à sociedade por intermédio de seres e de zonas intermediárias. Encontram-se nesta categoria animais específicos como o boto [...], bem como os animais domésticos (p. 134 e 135).


-- Imbricação da Natureza na Cultura e da Cultura na Natureza, o que afasta as representações sociais brasileiras da fórmula ocidental Natureza versus Cultura. Sociedade brasileira como holística ou hierárquica (herança ibérica). Aqui, a Natureza (tal como todo o resto) insere-se em um grande sistema de relações complementares e desiguais, que englobam o outro mundo, os animais, as plantas e os humanos.  


         De tal maneira que, a uma representação da natureza como esfera passiva e metaforicamente concebida como serva – escrava do homem que dispõe dela como muito bem entende --, corresponde uma estrutura social que se fundamenta, do mesmo modo, na passividade obrigatória do trabalhador e na submissão total ao senhor. Portanto, é impossível compreender o sistema de monocultura patriarcal característico do Estado então em formação no Brasil, sem referir os valores de uma sociedade que, até à independência e ao aparecimento dos movimentos abolicionistas e republicanos, assentava numa pesada hierarquia. Entre os homens e a natureza estabeleceu-se uma lógica idêntica àquela que governava os homens entre si: a lógica da desigualdade (p. 140).


-- Entende-se que o Brasil foi “descoberto”, e não “fundado>>>

(a) A “descoberta” é um fruto do acaso, da sorte e, por isso, não demanda a assunção de posições e de valores pelos sujeitos envolvidos. Continuidade. As instituições humanas ficam isentas de responsabilidade nos processos históricos de formação da sociedade.

(b) A “fundação”, por sua vez, é um ato de vontade. Demanda clareza dos valores, normas e procedimentos a serem adotados. Ruptura.



** Extraccionismo predador >>> Assentado em coletividades masculinas preocupadas com enriquecimento fácil e com ascensão social no seu país de origem (p. 136).



Colonização do Brasil >>>
-- Portugueses
-- Prevalência da ética do aventureiro (prosperidade sem esforço, riquezas fáceis, títulos honoríficos, desejo de posição social), não da ética do trabalhador.
-- Carnaval. Rememora a chegada dos portugueses a uma terra edênica, que poderia matar a sede e a fome de todos. Inclusão dos “de fora” por meio de prazeres sensuais, do riso.

Vs.

Colonização da Nova Inglaterra >>>
-- Puritanos
-- Exclusão da ideia de passividade do mundo natural.
-- Prevalência da ética do trabalhador. O Novo Mundo era visto como o fim de uma viagem, e portanto, eram marginais os desejos de enriquecimento fácil e de obtenção de títulos honoríficos. A nova terra devia ser domesticada, não simplesmente pilhada ou explorada.
-- Dia de Ação de Graças. Reforço da união do grupo, em contraposição aos “de fora” (natureza, índios, etc).




** A natureza na sociedade >>>

-- Tal como o sagrado, a natureza exerce sua ação dentro e fora da sociedade. Fora da sociedade, a natureza manifesta sua inesgotável passividade e sua energia ameaçadora. Dentro da sociedade, a natureza manifesta-se pelas palpitações incontroláveis dos instintos, das paixões, ligando o homem à sua natureza animal e ao seu lado egoísta.

-- A substituição da representação antropocêntrica da natureza pelo moderno biocentrismo (nascido com o ecologismo) representa uma vitória do individualismo igualitário e, portanto, da clara demarcação entre natureza e cultura.

-- Perspectiva biocêntrica: a natureza é autônoma, possui direitos (e deveres), não pode ser mutilada, tem seus limites e fronteiras.

-- Na sociedade hierárquica ou tradicional, o escravo simboliza o encontro entre natureza e sociedade.

Na sociedade tradicional e hierárquica [...] o escravo simboliza a junção da natureza com a sociedade. De resto, é por isso que ele, tal como os animais domésticos, é objeto de castigos e atos de crueldade por parte dos seus senhores. A maldade e a crueldade para com os inferiores representa uma “segunda natureza”, que funciona como mecanismo para pôr em ordem ou reafirmar as fronteiras entre a natureza e a cultura, de uma maneira dramatizada. A malevolência para com os animais e as plantas – que se exerce ainda nos nossos dias – surge como um gesto destinado a instituir simbolicamente uma divisão quase impossível entre os dois campos. Como um ritual exorcista, visando separar as identidades que o quotidiano tende a fundir. Uma espécie de dramatização da linha de fronteira, para se afirmar como senhor face a uma natureza que, pretensamente, não sai da sua passividade generosa. Pergunto-me se este mesmo mecanismo não entrará também em ação no costume urbano que consiste em cimentar o pátio e, ainda na prática habitua que consiste em destruir a floresta à custa de incêndios enormes, muitas vezes incontroláveis. Uma maneira de exorcizar uma natureza considerada sufocante, extirpando-a da sociedade.  P. 141.


-- A presença da natureza na sociedade põe em perigo as fronteiras entre os englobantes e os englobados.



** Conclusão: Entre o Paraíso e a visão Ecológica >>>

-- Conciliação, no Brasil, entre a representação mágica da natureza (em que a natureza e o outro mundo se unem para formar um domínio ambíguo, denso e parcialmente desconhecido e que a todo instante se manifesta entre nós) e a representação moderna da natureza, sem que se perceba as enormes contradições que isso implica.

-- Continua-se a acreditar em uma natureza pródiga e em um Brasil paradisíaco, de riqueza e generosidade inesgotáveis: nossa história terminaria em “milagre”, em um “golpe de sorte” em que toda a gente se sai bem, sobe na vida e enriquece.


-- Considerando os traços ibéricos da formação cultural e econômica do Brasil, é de se esperar que a tradição ecológica encontre dificuldades para se estabelecer.     


DISCUSSÃO EM SALA

** No Brasil, não há separação entre cultura e natureza. A natureza entra na base da pirâmide hierárquica.

** Visão cornucopiana acerca da natureza. “Vamos topar com uma nova riqueza, a qualquer tempo”.

** Visão mágica sobre o mundo. Estamos sempre “pendurados” na natureza.

** Catarse è Ritual de inversão. Carnaval.

** Relação entre Recursos Naturais e Prosperidade >>> Tanto maior a dependência de recursos naturais como fonte de riqueza, tanto menor a prosperidade de um país. 
   
** Os países mais ricos geram riqueza por meio de investimento de ciência e tecnologia, não em mero beneficiamento de matéria-prima.

** Biodiversidade da Amazônia è Nova fonte de riqueza? Mais uma manifestação da visão cornucopiana acerca da natureza?


** Tipo de sociedade em que a culpa é terceirizada: “o imperialismo”, “os estrangeiros”, “os americanos”, “os portugueses”, “a metrópole”, etc...  

terça-feira, 15 de abril de 2014

Anotações de Aula: Socioeconomia do Meio Ambiente

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Socioeconomia do Meio Ambiente
Professores: Marcel Bursztyn e Doris Sayago
Aluna: Juliana Capra Maia


Anotações de Aula
                                                      

Aulas 01 e 02
  • A temática ambiental não é nova. Ela já está posta há milênios.
  • Malthus, que escreve em 1795, já suscitava os problemas populacionais diante da limitação dos recursos naturais. Abordou a sustentabilidade acidentalmente, temeroso de que faltassem alimentos às populações da cidades inglesas.
  • A ideia de “sustentabilidade” veio sendo construída ao longo de foi vários séculos, mediante esforço de diversos autores, tal como, aliás, ocorre em todas as disciplinas e com todos os conceitos.
  • A história humana é uma história da busca de utopias. Toda sociedade possui uma ou mais utopias ou distopias.
  • O indutstrialismo é o projeto de utopia da modernidade (K. Polanyi).
  • Utopias e distopias:
-- Crenças míticas e religiosas >>> Éden, Nirvana, Xangri-la, Brasília (D. Bosco: “A terra de que jorraria leite e mel). 
-- Renascimento >>> Morus, Bacon, Campanella.
-- Cidades ideais >>> Garden City, New Towns, Corbousier e a Carta de Atenas, Chang Garden.
-- Viajantes >>> Fernão de Magalhães (provou que o mundo era redondo, ou seja, finito), Gulliver, Eldorado, Apollo (viagens à Lua), Fitzcarraldo (filme).
-- Socialismos Utópicos Intra-Muros >>> Owen, Fourrier, Hertzl (idealização dos Kibutz).
-- Projetos de Sociedade >>> Anarquismo, Henry Ford, Kibutz, Fascismo e Comunismo.
-- Futurismo >>> Huxley, Orwell, Metrópole (filme), Fahrenheit 451 (filme).
-- Artes Plásticas e Música >>> Imagine (John Lennon) e representações do paraíso nas aretes plásticas.
-- Cyber utopias e realidades virtuais
-- Desenvolvimento Econômico >>> Tinbergen (RIO, 1975), Willy Brandt (Norte X Sul), Amartya Sen.
-- Decrescimento
-- Utopias ecológicas >>> Ecotopias, Ecovilas, Green State, Ecodesenvolvimento, Ecologia Profunda (Arne Naess). Bioeconomia (Georgescu-Roegen)



Formulações recentes: Ecodesenvolvimento, Crescimento Zero, Ecologia Profunda, Bioeconomia, Economia Budista, Tecnologias Prorpiadas, Neomalthusianismo, Desenvolvimento Humano (= Conceitos Econômicos + Qualidade de Vida), Desenvolvimento Sustentável, Sustentabilidade Forte, Sustentabilidade Fraca, Ecologia Industrial.
  • A utilização da palavra “Desenvolvimento” populariza-se a partir de 1780, isto é, quando é necessária para compreender a nova realidade (novas atividades fabris).
  • Revolução Industrial >>>
-- Separação entre capital e trabalho;
-- Possibilidades ilimitadas de se produzir;
-- Avanço das ciências e das tecnologias;
-- Divisão das tarefas para a produção de mercadorias (proletários alienados da forma de produzir mercadorias);
-- Incompatibilidade da escravidão e do servilismo com as novas formas de produzir.
 
Filme >>> Shame, de Igmar Bergmann

  • Crescimento do Estado >>>
-- Com Revolução Industrial, começou a ser cada vez mais necessária a burocratização.
-- O Estado é chamado a coordenar funções essenciais à industrialização.
-- Não pode haver apenas a cobrança de tributos e a função jurisdicional. 
-- Começa a se tornar necessário manter um corpo de guerreiros permanentes, custeados pelo Estado (Exército), um grupo de funcionários responsáveis pela diplomacia, etc. 
  • A partir do século XVIII, o desenvolvimento começa a ser associado à territorialidade.
  • Toda e qualquer sociedade precisa produzir, minimamente que seja. E para produzir, são necessários três fatores:
(a) Terra (“N”, Natureza)
(b) Capital (“K”, Conhecimento, Equipamento)
(c) Trabalho (“L”, Labor).



Aula 03
  • Boa parte dos ordenamentos jurídicos e guerras ao longo da história têm a ver com problemas e disputas ambientais. O Código de Hamurabi, o primeiro conhecido, regula o uso da água na Mesopotâmia.
  • Sempre existiram políticas públicas de meio ambiente. No Brasil e no mundo.
  • Peculiaridade dos anos 70 >>> Criação de instituições, órgãos e legislações específica e diretamente responsáveis pelo meio ambiente.
  • Não raro os preceitos ambientais conflitam com os preceitos de outras áreas (agricultura, urbanismo, etc.).
  • Fim da Segunda Grande Guerra >>> Boom econômico. Enorme demanda por reconstrução das nações arruinadas pelo conflito. Crescimento constante do PIB devido à reconstrução do estoque de capital (“formação bruta de capital fixo”). 1945 a 1974: prosperidade constante.
  • A economia funciona em ciclos econômicos de prosperidade e de recessão. A grande tarefa do Estado tem sido intervir na economia para evitar que a diferença entre o ciclo de prosperidade e de depressão não seja tão profunda.
  • Planejamento. Fortemente incentivado no regime soviético, que, na NEP (Nova Economia Política), lançou os Planos Quinquenais, com previsão orçamentária. No Brasil, são os PPA (Planos Plurianuais, elaborados no primeiro ano de cada mandato e vigente por 4 anos, isto é, do seu segundo ano de governo até o primeiro ano do governo seguinte).
  • Pigot: 1920. Relação entre o bem estar e a economia. Introdução do conceito de externalidade.
  • Século XX: século da construção do Estado do Bem Estar Social.
  • O surgimento dos Planos Quinquenais na URSS coincide com a Quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929 (referência sobre o período: Galbreth e Eric Hobsbawm), evento que levou a uma crise econômica no centro do Capitalismo e que perdurou entre 1929 e 1933.
  • Crise de 1929 >>> Motivação de criação do New Deal por J. M. Keynes, sob o governo de Franklin Delano Roosvelt. Criação de empregos, pelo Estado. E de onde vem o dinheiro para custear tais empregos? Do monopólio que o Estado possui de gerar moeda.
  • Depois da Segunda Guerra Mundial, o “planejamento” passa a ser universalizado, ou seja, passa a ser praticado por praticamente todo o mundo ocidental.
  • Experiência americana >>> Investimentos estatais na Bacia do Rio Tenessee, por meio de uma agência de fomento do desenvolvimento (TVA). Poucos anos depois, foi criada a Companhia do Rio São Francisco (hoje, Codefasf) no Brasil, a Companhia do Desenvolvimento do Vale do Orinocco, na Venezuela; a Companhia no Vale do Rio Senegal (?), no Senegal.
  • Após a Segunda Guerra Mundial, o Estado do Bem Estar Social passa a “se espalhar” por todo o mundo: garantias trabalhistas, previdência pública, saúde pública, ócio. A política do Welfare State torna-se uma espécie de antídoto para o Socialismo. Sucesso da Social-democracia (Alemanha, Grã-Bretanha, Escandinávia). 
  • Anos 60: o proletariado vai ao paraíso!


PROBLEMA, para pensar >>> Intervenções anticíclicas estatais servem para manter as taxas de (de) crescimento da economia em taxas tais que os ciclos econômicos não sofram recessões intensas. Mas isso não quer dizer que o Estado evita o crescimento para evitar o decrescimento?


  • A crise do Petróleo ocorreu em tempos de pleno emprego. Pleno emprego reduz a elasticidade da economia e adianta a ocorrência de crises. Noutras palavras, há certas taxas de desemprego, poupança e reservas ambientais que são estratégicos para as economias.
  • Nos anos 1960, os primeiros pensadores começam a se preocupar com os limites da prosperidade econômica do Ocidente. Esses limites seriam estabelecidos pela saturação de algum dos elementos da economia: Terra, Capital ou Trabalho. Exemplo: Hardin (Tragédia dos Comuns) e a Bomba Demográfica.
  • Empresários do Clube de Roma encomendaram um estudo a respeito dos limites da prosperidade econômica. Resultado: Relatório de 1971, denominado “Limites do Crescimento”. Inauguração da fase dos olhares pessimistas (“Profetas do Apocalipse”).
  • Convocação da 1ª Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo). 1972.
  • Resultado: criação de instituições públicas preocupadas com meio ambiente. Noutras palavras, problema ambiental tem endereço certo.
  • EUA: criação de uma agência de meio ambiente em 1970. Brasil: criação, em 1973, da Secretaria Especial do Meio Ambiente.
  • Código de Águas do Brasil >>> Data da década de 30.
  • Problemas ambientais mais severos no Brasil, sob a perspectiva dos seres humanos >>> fornecimento de água potável, esgotamento sanitário, coleta de águas pluviais, coleta de resíduos sólidos.

  • 1ª Crise do Petróleo >>> 
-- Dezembro de 1973.
-- A OPEP quintuplica o valor do barril do petróleo: de Us$ 4.00, passou a Us$ 20.00.
-- Deveu-se a um processo geopolítico, não à escassez do produto.
-- Não havia estoques estratégicos, nem para uso doméstico, nem para uso industrial, nem para uso bélico. As fábricas simplesmente pararam.

  • Nessa época, ninguém estava preocupado com fontes alternativas de energia, com produção de tecnologias mais eficientes, isto é, menos dependentes de recursos naturais.
  • O Brasil, em pleno regime ditatorial, tornou-se pioneiro na produção de biocombustível (álcool) nessa época. Os países ocidentais apelaram para a Energia Nuclear (em especial França, Alemanha e Japão), que é limpa, mas de altos riscos.
  • Vazamento de Chernobill, em 1987, na Ucrânia. Fica claro que existem falhas humanas, que essas falhas humanas ocorrem com mais frequência que gostaríamos; que a questão ambiental era transfronteiriça (a nuvem nuclear de Chernobill pairou sobre a Europa). Compreensão de que estamos todos no mesmo barco e de que, se ele afundar, afundamos todos.
  • Tanto maior o tamanho da crise, tanto maior o espaço para questionamento dos padrões vigentes por meio do lançamento de ideias. 

Crise = Risco + Oportunidade


  • Crise do petróleo: Gerou a necessidade de mais produtos com menos unidade de energia. O problema é que muitos produtos foram gerados. Resultado: demanda por grande quantidade de energia.
  • 100 anos depois da Crise de 1929 (proteção do capital e do trabalho), ultrapassado o neoliberalismo (proteção da terra e do capital), estamos na iminência de uma nova crise.
  • Proteção do trabalho implica maior intervenção estatal e, por conseguinte, maior gasto público. Há gastos altos com previdência social, com serviços públicos, com burocracia.
  • Diante da crise do petróleo, as ideias Neoliberais ganham prestígio. Foram adotadas medidas neoliberais inicialmente no Chile, com o golpe militar que depôs Salvador Allende e erigiu Pinochet (11.09.1973). Chile: laboratório do neoliberalismo.
  • Em seguida, sob Margareth Tatcher, a Grã-Bretanha adotou medidas neoliberais: privatização de ativos públicos, tais como fábricas de automóveis (todas as fábricas de automóveis na Grã-Bretanha eram públicas!), siderúrgicas, minas de carvão (não conseguiu privatizar os serviços de saúde, nem os serviços ferroviários). A participação do governo na economia cai de 50% (cinquenta por cento) para 35% (trinta e cinco por cento), o que reduziu imensamente o custo dos serviços públicos e, em consequência, os tributos. Resultado: 11 anos de sucesso do governo neoliberal. E só. 
  • O modelo neoliberal britânico influenciou os Estados Unidos, sob Ronald Regan. Redução dos custos estatais e dos tributos (observe-se: nos Estados Unidos a participação do Governo no mercado era de 12%).
  • O modelo neoliberal britânico também influenciou a França, sob François Mitterrand, um socialista (!). Venda de empresas públicas (Renault).
  • Neoliberalismo >>> Proteção ao meio ambiente (proteção à terra e ao capital). Surgimento, nos Estados Unidos, de ideias e políticas voltadas à proteção ambiental. Exemplo: “bacia aérea” (clean air act). Não há incompatibilidade entre o neoliberalismo e a proteção ao meio ambiente. Por que? Hipótese: meio ambiente é um bem comum, não privatizável. Noutras palavras, ou todos observam os mandamentos da preservação, ou todos terão de pagar pela poluição de meia dúzia (“tributo é roubo”).
  • 4ª Fase: pós-industrial. Paradigma da “sustentabilidade”, isto é, do equilíbrio entre as três esferas, quais sejam, terra, capital e trabalho.
  

Aula 04 

  • Dumping social >>> Transferência dos custos sociais de uma atividade econômica. Não contabilização dos impactos sociais da atividade econômica no seu preço final. Socialização dos prejuízos sociais. Prática insustentável a longo prazo. Exemplo: utilização de trabalho escravo ou de trabalho infantil para reduzir os custos da produção.   
  • Dumping ambiental >>> Transferência dos custos ambientais de uma atividade econômica. Não contabilização dos impactos ambientais da atividade econômica no seu preço final. Socialização dos prejuízos ambientais. Prática insustentável a longo prazo. Exemplo: desconsideração dos custos com recuperação das áreas degradadas nas atividades mineradoras.    

terça-feira, 8 de abril de 2014

Esquema de Leitura. Lowy. De Marx ao Ecossocialismo.

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Socioeconomia do Meio Ambiente
Professores: Marcel Bursztyn e Doris Sayago
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura
Texto: LOWY, Michael. “De Marx ao Ecossocialismo”, disponível em http://www.mra.org.br - Marxismo Revolucionário Atual, Consultado em 27.07.2007 às 11:14.


* O socialismo e a ecologia são cada um à sua maneira, herdeiros da crítica romântica.

Críticas comuns desferidas, simultaneamente, pelo Socialismo e pela Ecologia

Valores qualitativos reivindicados, simultaneamente, pelo Socialismo e Ecologia

- A racionalidade instrumental;
- A autonomização da economia;
- O reino da quantificação;
- A produção como objetivo em si;
- A ditadura do dinheiro;
- A redução do universo social ao cálculo das margens de rentabilidade;
- A redução do universo social à necessidade da acumulação do capital.


- O valor de uso;
- A satisfação das necessidades;
- A igualdade social para o primeiro;
- A salvaguarda da natureza e o equilíbrio ecológico.
- A economia como “encaixada” no meio ambiente social e natural.



* Os ecologistas acusam Marx e Engels de produtivismo. A acusação é justa? Sim e não.
a)  Não, porque, mais do que ninguém, Marx que denunciou a lógica capitalista de produção, a acumulação do capital, das riquezas e das mercadorias como objetivo em si. A própria ideia de socialismo consistiria uma produção de valores de uso, de bens necessários à satisfação de necessidades humanas. Para Marx, o objetivo supremo do progresso técnico não é o crescimento infinito de bens [“o ter”], mas a redução da jornada de trabalho e o aumento do tempo livre [“o ser”].
b)  Sim, porque se encontra amiúde, em Marx ou Engels uma tendência a fazer do “desenvolvimento das forças produtivas” o principal vetor do progresso. Postura pouco crítica para com a civilização industrial, principalmente, em sua relação destruidora para com o meio ambiente.

* Os escritos de Marx e de Engels carecem de uma perspectiva ecológica de conjunto.
- Nem o esgotamento das matérias-primas, nem a ameaça de destruição do equilíbrio ecológico do planeta pela lógica produtivista eram um problema para Marx. Tais consistem questões eminentemente contemporâneas.
- A questão ecológica apresenta-se como desafio à renovação do pensamento marxista no limiar do século XXI. Exige revisão crítica de conceitos elementares (tais como “as forças produtivas”), da ideologia do progresso e do paradigma tecnológico da civilização industrial moderna.
- Ainda hoje o marxismo (teórico ou prático) está longe de ter alcançado uma adequada sistematização ecológica. O movimento operário tradicional europeu ainda é marcado pelas ideologias do “progresso” do produtivismo. Já defendeu a adoção de políticas claramente antiecológicas, tais como o uso da energia nuclear e o fomento da indústria automobilística.
- Contribuições teóricas dignas de nota >>> 
      a)  Walter Benjamim >>> Um dos primeiros marxistas do século XX a denunciar a ideia de que a subjugação da natureza consistia um ensinamento eminentemente capitalista. Benjamim propunha uma nova concepção da técnica como “controle da relação entre a natureza e a humanidade”. Sugeriu enriquecer o marxismo com as ideias de Fourier, que sonhara “com um trabalho que, bem longe de explorar a natureza, está em condições de fazer emergir dela as criações que estão adormecidas em seu seio”.
      b) James O’Connor >>> à primeira contradição do capitalismo – entre forças e relações de produção –, analisada por Marx, deve-se acrescentar uma segunda, ou seja, a contradição entre as forças produtivas e as condições de produção: os trabalhadores, o espaço urbano, a natureza”.

* Méritos da Ecologia >>> Alerta acerca dos perigos que ameaçam o planeta – dirigindo a humanidade a uma verdadeira catástrofe -- em consequência do atual modo de produção e consumo. Alerta para uma crise civilizatória, dados:
a) O crescimento exponencial da poluição do ar, do solo, da água;
b) A eliminação de espécies vivas;
c) A desertificação das terras férteis;
d) A acumulação de dejetos nucleares incontroláveis;
e) A ameaça constante de novas Tchernobys;
f) A destruição em um ritmo acelerado das florestas;
g) O efeito estufa;
h) O perigo de ruptura da camada de ozônio

* * Deméritos da Ecologia >>>
a) Ignorar a conexão entre o produtivismo e o capitalismo, o que conduziria à ilusão de um “capitalismo limpo” ou de reformas capazes de controlar seus “excessos” (ecotaxas, por exemplo). 
b) Tomar o capitalismo e o socialismo como variantes do mesmo modelo, tomando como paradigma as economias socialistas na Europa Oriental. 
c) Arvorar-se ao papel de criticar o capitalismo em lugar do marxismo, desconsiderando, para tanto, a relação entre o produtivismo e a lógica do lucro. Noutros termos, a lógica do mercado e do lucro é incompatível com as exigências ecológicas. 
d)  Nas suas correntes fundamentalistas (o autor cita textualmente a Deep Ecology), a Ecologia, sob o pretexto do combate à ética antropocêntrica, recusa o humanismo e coloca todas as espécies vivas no mesmo plano. “Será justo considerar que o bacilo de Koch ou o anófele têm o mesmo direito à vida que uma criança doente de tuberculose ou malária?”. 

Ecossocialismo >>>  Desenvolveu-se no decorrer dos últimos vinte e cinco anos a partir das pesquisas de alguns pioneiros russos do final do século XIX e início do século XX (Sérgio Podolinsky, Vladimir Vernadsky).
a)  Autores: Manuel Sacristán, Raymond Williams, Rudolf Bahro, André Gorz, James O’Connor, Barry Commoner, Ted Benton, Juan Martinez Allier, Francisco Fernandez Buey, Jorge Reichman. Jean-Paulo Déléage, Jutta Dittfurth, Thomas Ebermann, Rainer Trampert, Erhard Epple, Lemar Altvater, Frieder Otto Wolff.
b) Argumentos:
-   Há limitações ecológicas para a expansão dos padrões de produção e de consumo dos países avançados aos demais países. Noutras palavras, os altos padrões de produção e de consumo dos países ricos só se sustentam em decorrência das desigualdades sociais e econômicas existentes entre povos do Norte e povos do Sul.
-  A globalização conduz à intensificação dos problemas ecológicos nos países periféricos em consequência de uma política deliberada de “exportar a poluição”.
-  A expansão da economia de mercado, mesmo sob o pálio da desigualdade socioeconômica Norte X Sul, ameaça a sobrevivência da espécie humana.
-  O tempo do mercado capitalista não é o tempo da Terra. A racionalidade do capitalismo (lucro imediato) é contraditória à racionalidade ecológica que leva em consideração a longa duração dos ciclos naturais.
                    
Conclusões do autor >>>  
a)  Propõe uma aliança entre os “vermelhos” e os “verdes”, entre o movimento operário e o movimento ecológico, com a finalidade de lutar por uma utopia comum.
b)   Reformas parciais são insuficientes para lidar com a crise da civilização contemporânea. Deve-se substituir a racionalidade estreita do lucro por uma racionalidade holística, social e ecológica:
-    Substituição das atuais fontes de energia por outras, não-poluentes e renováveis, tais como a energia solar.
-  Controle sobre os meios de produção e sobre as decisões de investimento e de mutação tecnológica. 
-   Reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo, baseada em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a salvaguarda do meio ambiente.
c)  Economia de transição para o socialismo. As mudanças radicais necessárias ao equilíbrio ecológico levarão a um modo de vida alternativo, a uma nova civilização, para além do reino do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade e da produção ao infinito de mercadorias prejudiciais ao meio ambiente.

                    
E quais são as condições para que verdes e vermelhos possam se unir em torno dessa causa comum?

A Ecologia deve:
- Renunciar às tentações do naturalismo anti-humanista.
- Abandonar a pretensão em tomar o lugar da crítica da economia política.


Por sua vez, o Marxismo deve:  
- Desembaraçar-se do produtivismo, substituindo o esquema mecanicista da oposição entre o desenvolvimento das forças produtivas e relações de produção que o entravam, pela ideia de uma transformação das forças potencialmente produtivas em forças efetivamente destruidoras.

* Não alimentar ilusões acerca da possibilidade de ecologizar o capitalismo não implica abandonar toda e qualquer pretensão de sugerir ou de atuar em favor de algumas reformas imediatas. O atendimento dessas demandas já poderia fomentar a convergência entre vermelhos e verdes. Sugestões do autor:
a)  Promoção dos meios coletivos de transportes – trem, metrô, ônibus, bonde – baratos ou gratuitos como alternativa aos engarrafamentos e à poluição provocados nas cidades e nas zonas rurais pelos veículos automotores individuais e pelo sistema dos transportes rodoviários;
b)  Luta contra o sistema da dívida e dos “ajustamentos” ultraliberais imposto pelo FMI e pelo Banco Mundial aos países do Sul, com dramáticas consequências sociais e ecológicas: desemprego massivo, destruição da proteção social e das culturas alimentícias, assim como dos recursos naturais destinados à exportação;
c)  Defesa da saúde pública contra a poluição do ar, da água [lençóis freáticos] ou da alimentação pela avidez das grandes empresas capitalistas;
d)  Redução do tempo de trabalho como resposta ao desemprego e como visão da sociedade que privilegia o tempo livre em contraposição à “acumulação de bens”.
e) Agregar às reivindicações as pautas dos movimentos sociais de todos os matizes, dado que  tais movimentos sociais (feminismo, movimento negro, movimento LGBT, etc.) constituem movimentos emancipadores.

* A Europa seria o continente mais favorável para a levar a efeito essas experiências.

Artigo publicado em periódico. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson

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