quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Esquema de leitura: Natureza rica, povos pobres? Questões conceituais e analíticas sobre o papel dos recursos naturais na prosperidade contemporânea, de José Augusto Drummond.

Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós Graduação
Doutorado
Disciplina: Oficina de Textos Científicos
Professores: José Augusto Drummond e Marcel Bursztyn
Discente: Juliana Capra Maia
Esquema de leitura
Referência: DRUMMOND, José Augusto L. Natureza rica, povos pobres? Questões conceituais e analíticas sobre o papel dos recursos naturais na prosperidade contemporânea. Ambiente e Sociedade (Campinas), Campinas, v. 5, n.9, p. 127-149, 2002.

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** O artigo se propõe a investigar a premissa de que riqueza natural e riqueza social andam (ou devem andar) juntas. 
  • Premissa que configura certo "pressuposto" não comprovado da literatura ou como uma postura normativa não verificada.
  • Haveria um número apreciável de motivos para supor exatamente o oposto da premissa investigada, isto é, quanto mais dependente diretamente de recursos naturais, menos próspera será uma sociedade. 

** Hipótese mais plausível (e incômoda) >>> A prosperidade e o bem estar social de determinado país ou região, em geral, não dependem da riqueza local de recursos naturais.


MÉTODO DE EXPOSIÇÃO E CONTEXTO CONCEITUAL E TEÓRICO

** Foco no papel desenvolvimentista das atividades e das regiões extrativistas, entendendo-se "regiões extrativistas" como os locais de ocorrência dos recursos naturais, sem manipulações reprodutivas ou processamento industrial (conceito que diferencia a pesca e a piscicultura; o extrativismo madeireiro e a silvicultura).


** Exemplos de atividades extrativistas >>>
  • Corte de árvores nativas;
  • Mineração (incluindo-se extração de petróleo e de gás natural);
  • Coleta de bens vegetais;
  • Caça;
  • Pesca;
  • Captação de água para diversos fins (energéticos, abastecimento, irrigação);
  • Prospecção de espécimes da biodiversidade.

** Se riqueza natural se traduz em prosperidade social, as atividades extrativas, logicamente, deveriam ser desenvolver o papel de suportar essa prosperidade.
  • Agricultura e pecuária, mesmo que dependam de recursos naturais, incorporam capital, tecnologia e trabalho em proporção maior que as atividades extrativistas.
  • Atividades industriais e serviços são tratados como antípodas do extrativismo, dado que são atividades intensivas em capital, tecnologia e mão-de-obra. 


** Raul Prebisch >>>  
  • Fundou, há de 50 anos, a perspectiva estruturalista ou cepalina da sociologia do desenvolvimento.
  • Dissertou acerca do papel dos recursos naturais no desenvolvimento e no subdesenvolvimento. 
  • Preocupação: tendência histórica de "deterioração dos termos de troca" dos recursos naturais (bem como dos bens primários da agricultura e da pecuária) frente aos bens industrializados. Volumes cada vez maiores de recursos naturais seriam progressivamente necessários para adquirir volumes fixos ou decrescentes de bens industrializados. 
  • O setor primário (sobre o qual os países subdesenvolvidos normalmente apoiam as suas economias), desse modo, seria incapaz de propiciar processos autônomos de desenvolvimento. Em outros termos, desenvolvimento e prosperidade não brotariam a partir de bens primários, muito menos do extrativismo.
  • Solução: substituição de importações. Proteção das indústrias nacionais por meio de tributos e interferência na política cambial.
  • As hipóteses de Prebisch foram testadas e ratificadas por Diakosawas e Scandisso, que usaram uma ampla base de dados com os preços, entre 1900 e 1982, de 19 commodities


** Albert O. Hirschman >>> 
  • Contemporâneo e antípoda da escola cepalina.
  • Influenciou o conceito de "polos de desenvolvimento regional" na Amazônia e em outras regiões na década de 1970.
  • Por um caminho diferente daquele trilhado por Prebisch, também atribuiu às atividades extrativistas papel limitado -- ou mesmo nulo -- no desenvolvimento dos países subdesenvolvidos.
  • Argumento mais conhecido >>> Influência das conexões produtivas (intercâmbios) entre os diferentes setores da economia. Mede-se o número de conexões produtivas pelo consumo que um setor faz dos produtos inacabados de outros. 
  • Tanto maior o número de conexões entre setores econômicos, tanto maior o desenvolvimento (dado que as conexões geram mais demandas e ofertas para empreendimentos associados, multiplicando investimento, emprego e diversificando a produção). 
  • Desse modo, para Hirschman, as políticas públicas de aceleração do desenvolvimento deveriam favorecer atividades estratégicas, capazes de gerar maiores números de conexões, quais sejam: têxteis, produtos químicos, papel, celulose, derivados do petróleo, metalurgia. 
Observação de Drummond >>> esses setores tipicamente: a) transformam recursos naturais; b) consomem grande quantidade de energia; c) são grandes geradores de resíduos poluentes ou tóxicos. 

** Teoria da Dependência >>> Frank, Cardoso & Falletto. Duvida do papel dos recursos naturais no desenvolvimento dos países pobres contemporâneos ou simplesmente os excluem desse papel.


** Teoria dos Sistemas Mundiais >>> Wallerstein. Duvida do papel dos recursos naturais no desenvolvimento dos países pobres contemporâneos ou simplesmente os excluem desse papel.


BUNKER: O EXTRATIVISMO COMO MODO DE PRODUÇÃO SUBORDINADO

** Stephen Bunker, sociólogo americano, ocupa-se com as perspectivas desenvolvimentistas das regiões extrativistas no mundo contemporâneo.
  • Trabalha com  a da teoria dos sistemas mundiais de Wallerstein.
  • Ocupa-se com as relações entre as empresas produtoras de recursos naturais e as nações subdesenvolvidas; bem como com as relações entre as nações e empresas industriais nos países desenvolvidos.
  • Fez pesquisas originais sobre regiões extrativistas do Brasil, em especial, a Amazônia.
  • Examina as relações entre abundância de recursos naturais e a pobreza.


** Constatações >>>
  • A diversificação produtiva é típica de nações ou regiões desenvolvidas.
  • Predominância do extrativismo >>> Indicador de subordinação de uma região ou de uma nação a outros, que possuem economia diversificada.
  • Em oposição diametralmente oposta às defendidas por Hirschman e por Prebisch, as políticas desenvolvimentistas não são capazes de reverter as péssimas perspectivas para as regiões extrativistas. É o que Bunker teria constatado em pesquisas acerca da economia de países como a Venezuela, Jamaica, Suriname e Indonésia. 
  • As regiões extrativas fazem a simples "mineração" de recursos naturais brutos a serem processados em outros locais. Desse modo, essa atividade enriquece, em matéria e energia -- e, portanto, em valor --, o local de destino das mercadorias. Com o tempo, os insumos naturais tornam-se impossíveis ou mais difíceis de se obter e à região extrativista lega-se apenas o passivo ambiental.


Para Bunker, será sempre perdedor aquele que estiver na extremidade extrativa do intercâmbio entre insumos naturais e bens industrializados.


** Bunker decidiu estudar a Amazônia porque ela seria um exemplo vivo de como o extrativismo mantém marginais as regiões onde é praticado. Apesar de fornecer recursos naturais para centros industrializados há mais de 300 anos, a Amazônia continua a ser, nas palavras de Bunker, "uma das regiões mais pobres do mundo"


** Desvantagens da empresa extrativista >>>
  • O mercado remunera magramente o trabalho desqualificado, típico das empresas extrativistas (converge com a teoria de Wallerstein).
  • As economias extrativistas perdem duplamente:
a) Ficam na extremidade prejudicada dos intercâmbios comerciais; 
b) Têm que lidar com os impactos sociais e biofísicos locais dos ciclos produtivos;  
  • A empresa extrativista não pode mudar de produto, de modo que grandes investimentos de capital em empreendimentos extrativistas ficam presos a único produto. Essa situação dificilmente pode ser mudada, a menos que, concomitantemente:
a) Outros produtos naturais ocorram no mesmo lugar;
b) Que esses novos produtos naturais sejam exploráveis mediante uso da mesma tecnologia;
c) Que esses novos produtos naturais tenham mercado.     

O resultado líquido disso é o que Bunker chama de "subordinação de economias dependentes da produtividade natural àquelas economias capazes de manipular a produtividade social". As economias extrativistas ficam assim "particularmente sujeitas às características [naturais] do bem extraído" e a sua dinâmica mais pesada e inelástica cria-lhes desvantagens em relação às manipulações factíveis em empreendimentos industriais. Pp. 12.  

  • "O centro permanece, a periferia se muda" >>> As demandas por recursos naturais são contínuas e constantes. Com o esgotamento dos recursos naturais dos primeiros depósitos, a tendência é que ocorra a migração da atividade extrativista em direção a novos depósitos, situados em locais cada vez mais inconvenientes.
  • O "momento certo" e o "local certo" para produzir ou utilizar recursos naturais escapa aos desígnios humanos. 
  • Custos com transportes mais altos, inclusive, que os custos de toda a empresa extrativista.


FREUDENBURG: ARQUIPÉLAGOS DE POBREZA EXTRATIVISTA NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS

** A questão das relações entre desenvolvimento sócio-econômico e recursos naturais se aplica, também, aos próprios países desenvolvidos. É comum encontrar enclaves de pobreza -- ou de prosperidade menor -- entre regiões e populações dedicados à extração de recursos naturais.



Semelhança entre a economia  das regiões extrativistas de países desenvolvidos e a economia de países subdesenvolvidos  



** Freudenburg, sociólogo rural. Linhagem de estudos da sociologia rural norte-americana acerca da pobreza, prosperidade e emprego rurais.
  • Literatura da sociologia rural norte-americana: deixou patente que as regiões extrativistas têm um desempenho ruim, mesmo quando comparadas com as regiões de agropecuária.
  • Locais estudados >>> 
a) Mineradoras de carvão da Virginia, de Ohio, da Pennsylvania. 
b) Campos petrolíferos de Louisiana, Texas, Oklahoma e Arkansas.
c) Cidades pesqueiras do Maine, de Washington e do Alaska.
d) Extração de madeira no Alaska. 


** Fatores da instabilidade econômica das populações dependentes de recursos naturais >>>

  • Compressão de custos e preços, característica dos empreendimentos extrativistas. Os custos de produção dos recursos extrativistas tendem a subir constantemente devido ao esgotamento relativamente rápido dos recursos mais acessíveis. Por outro lado, os preços das commodities têm caído constantemente desde o início do século XX. Internacionalização e nivelamento "por baixo" dos preços das commodities.

Há décadas existem  preços internacionais praticados para produtos extrativistas como o petróleo, os minérios de ferro, alumínio, estanho e manganês, a madeira em toras, etc., e para certos produtos agrícolas ou agro-industriais como trigo, milho, arroz, soja, café, açúcar, algodão, frutas cítricas, etc. É difícil ver uma região, um país ou uma empresa extrativa que consiga obter preços excepcionalmente mais elevados para os seus produtos extrativos, já que as características naturais dos mesmos variam em faixas já bem conhecidas pelos mercados e que nenhuma região extrativa pode recorrer a práticas de diferenciação dos seus produtos sem virar uma região industrial (o que exige longos prazos, grandes investimentos e tecnologias de natureza transformativa). Por consequência, qualquer produto extrativo sofre a competição direta dos similares produzidos em qualquer outro lugar do mundo, enquanto a busca de diferenciação de produtos para alcançar preços mais elevados requer investimentos adicionais em transformaçãoPp. 16 e 17.
 
  • Escassez relativa de novos capitais em países desenvolvidos. Até porque as atividades extrativas são pouco atrativas financeiramente: são pesadas, de longa maturação, exigem muito investimento e têm baixo retorno. 
  • Nos EUA, a maioria dos empregos e dos capitais se desconectou das atividades extrativistas há muitas décadas. Desse modo, registra-se menor peso econômico, populacional e eleitoral das populações dependentes de recursos naturais.
  • Dificilmente o reinvestimento do lucro obtido com as atividades extrativistas ocorre no mesmo local de ocorrência dessa atividade. O nível inicial de investimento na atividade extrativista pode ser suficiente por décadas.
  • Localização "aleatória" dos depósitos de recursos naturais. Tendência: localizar-se fora dos eixos dominantes das economias urbano-industriais. Critérios de localização das economias urbano-industriais: proximidade de clientes; fornecedores e empreendimentos correlatos; disponibilidade de energia, comunicações e transportes; concentração de trabalhadores qualificados; proximidade às sedes dos órgãos governamentais; acesso a subsídios e incentivos fiscais; disponibilidade de bons serviços governamentais de educação, segurança, saúde; qualidade de vida. As empresas extrativistas não podem se dar ao luxo de escolher a sua localização com base nesses critérios. 
  • Diferenciais de poder. As empresas extrativistas exercem grande poder sobre as comunidades dependentes de recursos naturais. Assim, é ilusório acreditar no controle comunitário sobre tais empreendimentos. A interação entre comunidades dependentes de recursos naturais e grandes empresas extrativistas é do tipo "one shotter X repeat player".
  • Ciclo vicioso. Para atrair empresas extrativistas, os governos deferem incentivos fiscais, direitos trabalhistas flexíveis, serviços públicos subsidiados. Ocorre que, ao invés de trazer desenvolvimento, a situação excepcional inicial tende a ser perpetuar, prejudicando a comunidade dependente de recursos naturais. Quanto mais concessões, mais dependência. Esse é o drama das "company towns", cidades dependentes de uma ou poucas empresas.
  • O fato de haver indústrias transformadoras ligadas às empresas extrativistas não garante o desenvolvimento da economia local. Para haver desenvolvimento, importaria menos a ocorrência de conexões produtivas que a natureza dessas conexões. Citação: "Mesmo uma prosperidade durável baseada em conexões dependentes de uma única commodity pode representar nada mais que um longo prólogo à depressão ou à decadência depois que esse bem sofrer abalos no mercado". Pp. 20.
FREUDENBURG & GRAMLING concluem, num tom acautelador, recomendando "...um ceticismo prudente em relação a qualquer tendência de equacionar extração de recursos naturais com prosperidade e desenvolvimento".


CONCLUSÃO

** Ao contrário do que é consagrado pelo senso comum, existem motivos para acreditar que a abundância de recursos naturais em uma localidade ou em um país se associa ao subdesenvolvimento ou a um nível mais baixo de prosperidade e de dinamismo.

** Uma base de recursos naturais é desejável para qualquer economia. Entretanto, atividades extrativistas ou agropastoris têm outputs limitados em comparação com os sistemas industriais, comerciais e de serviços. 

** Tecnologia da informação >>> Tende a relativizar os próprios outputs do sistema industrial, lançando uma perspectiva ainda mais sombria sobre as economias dependentes do extrativismo.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Esquema de Leitura: "O cuidado da natureza: a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza e a experiência conservacionista no Brasil: 1958 - 1992", de José Luiz Franco e Jose Augusto Drummond.

Centro Universitário de Brasília - Uniceub
Faculdade de Direito
Pós Graduação em Direitos Sociais, Ambiental e do Consumidor
Monografia Final
Discente: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura
Referência: FRANCO, José Luiz de Andrade; DRUMMOND, José Augusto L. O cuidado da natureza: a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza e a experiência conservacionista no Brasil: 1958-1992, Revista Textos de História, volume 17, nº 1, Brasília: Universidade de Brasília, 2009.
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** Texto que trata do surgimento e da atuação da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, a FBCN.
  • Fundada em 1958.
  • Por muitos anos, foi a mais importante e influente ONG conservacionista no Brasil.
  • ECO-92. Marcou o declínio da FBCN.


A criação e o período de dormência da FBCN (1958-1966) 

** Fundação da FBCN em 1958; publicação do seu boletim, a partir de 1966 >>>
  • Ponto a partir do qual se concentraram e se disseminaram as preocupações conservacionistas no Brasil.
  • Ponto de convergência entre pessoas preocupadas com o conservacionismo no Brasil.
  • O discurso conservacionista ganhou um corpo conceitual mais bem definido.
  • Fundadores >>> 
a) auto-identificados como um "grupo de idealistas que pretendia se contrapor ao padrão imprevidente da atividade econômica corrente no país" (pp. 62) e para quem a "finalidade única da FBCN é promover uma ação nacional para a conservação dos recursos naturais e para a implantação de áreas reservadas de proteção à natureza” (pp. 62).
b) Majoritariamente, engenheiros agrônomos.
  • Objetivos da FBCN >>> 
a) criação e estabilização de parques, reservas, monumentos e semelhantes, com especial atenção para as espécies raras ou ameaçadas de extinção; 
b) cooperação entre os governos e as organizações nacionais, estrangeiras e internacionais interessadas na conservação da natureza e dos recursos naturais; 
c) estudos e pesquisas concernentes à conservação dos recursos naturais; 
d) difusão dos conhecimentos conservacionistas.

** Esforço para enfrentar a corrente desenvolvimentista ("desenvolvimento a qualquer custo"), característica dos anos JK >>> "Tentativa de disciplinar a ação humana para impedir a devastação do patrimônio natural brasileiro" (pp. 63).


** 1ª fase >>> 1958 a 1966 >>> Dormência. Mesmo não tendo desenvolvido atuação mais intensa, os quadros da FBCN :
  • exerceram influência política decisiva para a criação de 11 parques nacionais (Aparados da Serra, Araguaia, Ubajara, Brasília, Caparaó, Chapada dos Veadeiros, Emas, Monte Pascoal, São Joaquim, Sete Cidades e Tijuca) e uma Floresta Nacional (Caxiuanã).
  • influenciaram a elaboração do ante-projeto de lei que instituiria o Código Florestal de 1965. 


Estruturação e clímax da FBCN (1966-1989)

** 1966 a 1989: Auge da FBCN. Organizou-se de maneira mais efetiva, ganhou mais dinamismo e maior capacidade de atuação.
  • Presidente: José Cândido de Melo Carvalho, zoólogo e professor do Museu Nacional do Rio de Janeiro. 
  • Desenvolvimento de projetos.
  • Edição de revista, com a publicação de artigos acerca da conservação.
  • Realização de eventos.
  • Parceria entre a FBCN e o IBDF a partir de 1968. A partir desta parceria, a FBCN passou a contar com recursos para desenvolver projetos de conservação da natureza, exercendo influência duradoura nas esferas do governo.
** União das metas preservacionistas e conservacionistas >>> José Cândido de Melo Carvalho buscava conceituar a conservação da natureza abarcando tanto as preocupações utilitárias e pragmáticas com o uso dos recursos naturais (o conservacionismo de Gifford Pinchot), quanto o imperativo de proteger espécies ameaçadas de extinção e paisagens de grande beleza cênica (o preservacionismo de John Muir)

Embora houvesse uma preocupação com o estabelecimento de estratégias para que fosse “assegurado o uso racional, com base científica, dos recursos naturais e sua renovação para as gerações futuras”, a concepção de conservação da natureza, no âmbito da FBCN, estava fundamentalmente relacionada com a idéia de conservar os recursos naturais por meio da criação de espaços reservados, fechados à exploração econômica direta e abertos à pesquisa científica e à fruição estética. As ações a serem desenvolvidas nesses espaços estavam voltadas para a difusão de um conhecimento e logo de uma consciência mais ampla sobre a necessidade da conservação, o que poderia ser alcançado principalmente pela cooperação entre governos e instituições, tanto nacionais quanto internacionais, voltadas para tal finalidade. Pp. 68.


A FBCN em retração (1989-1992) 

** Até a ECO-92, a FBCN ainda desempenhava papel de liderança, no Brasil, entre as ONGs ambientalistas. Todavia, já enfrentava dificuldades para manter-se, sendo que a principal delas era de ordem financeira.
  • Endividamento decorrente de convênios com o Poder Público (passivo trabalhista);
  • Concorrência com outras ONGs de feição preservacionista / conservacionista;
  • Emergência de movimentos socioambientalistas, que deram novo significado à questão ambiental, flanqueando ideologicamente a FBCN.


A FBCN flanqueada ideologicamente: a crítica socioambientalista

** Surgimento do movimento socioambientalista >>> 
  • Final da década de 1980 e início da década de 1990. 
  • Grupo orientado pelas noções de sustentabilidade e de justiça social. 
  • Centravam suas preocupações na questão da sociodiversidade, motivo pelo qual partiram em defesa dos povos indígenas, das populações rurais pobres (também chamadas "tradicionais") e de remanescentes de quilombos.

** As tensões entre socioambientalistas e preservacionistas / conservacionistas estabeleceram-se e acirraram-se durante o debate da Lei do SNUC (Lei nº 9.985/2000). As divergências concerniam, sobretudo, à permissão ou proibição de fixação de populações humanas no interior de áreas protegidas. 
  • Raiz das críticas dos sociambientalistas >>> 
a) Os preservacionistas / conservacionistas não ostentavam preocupações sociais evidentes e não e enquadravam em nenhuma vertente do pensamento socialista ou de esquerda.
b) Os preservacionistas / conservacionistas baseavam as suas preocupações em conhecimentos oriundos das ciências naturais, o que supostamente faria com que se focassem em animais e plantas.

** Méritos da FBCN em relação aos socioambientalistas >>> 
  • Abordagem da questão da biodiversidade que esteve ausente das preocupações da esquerda durante os anos de chumbo e que, até hoje, continua de difícil compreensão para a nova corrente do ambientalismo.
  • Defesa dos parques nacionais.
  • Tribuna para os cientistas que trabalhavam na burocracia do Estado, o que gerou a formulação das principais políticas ambientais de seu tempo.

** Os preservacionistas/conservacionistas da FBCN, "ao se preocuparem com espécies raras ou ameaçadas de extinção e com a criação de espaços protegidos (parques nacionais e reservas equivalentes) se ocupavam também com a proteção dos ecossistemas e com o uso racional dos recursos naturais". pp. 75.

A FBCN [...] entendia que a natureza, como conjunto de recursos econômicos, deveria ser explorada racionalmente no interesse das gerações presentes e futuras, e, como diversidade biológica, objeto de ciência e contemplação estética, deveria ser protegida. Pp. 76.  
Os indivíduos que fizeram parte da FBCN foram pioneiros, indagaram-se sobre a questão da biodiversidade quando ela era bem pouco visível, alertaram contra os perigos do “desenvolvimento a qualquer custo” e foram habilidosos o suficiente para conseguir espaços para a conservação da natureza em meio a governos e a uma sociedade predominantemente avessos a este tipo de preocupação. Pp. 77.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Esquema de Leitura. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa, de José Augusto Drummond

Centro Universitário de Brasília - Uniceub
Faculdade de Direito
Pós Graduação em Direitos Sociais, Direito Ambiental e Direito do Consumidor
Discente: Juliana Capra Maia
Monografia Final
Esquema de Leitura
Referência: DRUMMOND, José Augusto L. A história ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. In Estudos Históricos, Rio de Janeiro, volume 04, n. 08, 1991, pp. 177-197.

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Introdução

** Objetivo do artigo: trazer notícia acerca da história ambiental, disciplina acadêmica praticada em países de língua inglesa.

** Apontar escritores brasileiros que trilharam por caminhos próximos à história ambiental. 

** Pretende convencer historiadores e cientistas sociais a incluir variáveis naturais nos seus respectivos estudos acerca das sociedades humanas.


Tempo, história social e história natural

** A percepção do tempo é socialmente construída. E, como outras categorias que se incorporam ao inconsciente social, o tempo torna-se um pressuposto, uma categoria a priori, inclusive para os cientistas. 


A história natural do século XIX e as suas diversas herdeiras desafiaram o tempo do Velho Testamento e da cultura européia e ocidental. pp. 179


** Até o século XIX, apregoava-se que o mundo tinha -- conforme consta do livro do Gênesis -- apenas cerca de seis milênios. As ciências naturais exigiram que essa informação fosse revista, de modo que correspondesse aos seus achados (fósseis, derretimento de geleiras, erosões, etc). 

Pelo fato de repensar a história da terra e dos seres vivos numa escala de centenas de milhões de milênios, um punhado de cientistas naturais do século XIX provocou um cataclisma no sistema "ocidental" de contagem do tempo. PP. 179.

** As ciências sociais se construíram alheias à nova dimensão do tempo geológico. E essa característica tem sido duradoura.
  • Os cientistas sociais permanecem prisioneiros do tempo cronológico, o tempo do Velho Testamento. É que a explicação dos fatos, ações ou processos sociais tem sido possível mediante utilização da escala cronológica do Gênesis.
  • Ademais, as humanidades recusaram o imperialismo spenceriano, isto é, a explicação dos processos sociais a partir de elementos biológicos ou físicos. Desse modo, as sociedades humanas foram explicadas a partir do pressuposto de que obedeceram apenas aos ponteiros do tempo cultural de alguns milênios.  

As ciências sociais não colidiram de frente com o ainda autoritário teto de seis mil anos, porque não precisavam - ou pensavam não precisar - ir além de alguns poucos milênios para interpretar os fatos - sociais, ou a ação social, ou o processo histórico. Esses poucos milênios da história humana registrada em documentos pareciam mais do que suficientes. Por serem criadores de símbolos e culturas, os humanos foram subtraídos - às vezes explicitamente - do tempo geológico e dos processos naturais a ele associados. Pp. 179.  

  • Para os clássicos das ciências sociais, as sociedades humanas estavam "fora" ou "acima" do tempo geológico: paradigma da "imunidade humana" aos fatores da natureza. 
  • O racismo-territorialismo dos anos 1930/1940, característicos do Nazismo, fez com que as ciências humanas se afastassem ainda mais das variáveis físico-ambientais. 

** Os dilemas ambientais do fim do século XX trouxeram novos desafios às ciências sociais. Não é mais possível pensar no homem "descolado" da realidade natural. Por isso, tem sido necessário que essas disciplinas superem o paradigma dentro do qual foram concebidas.

** Não por acaso, cientistas naturais (biólogos, engenheiros, físicos) inauguraram o olhar ecológico sobre as sociedades humanas. 

** História ambiental >>> "colocar a sociedade na natureza". Os elementos naturais recebem o status de forças causais ou de condicionantes da cultura. 


Conceitos, temas, fontes, métodos e estilos de trabalho da história ambiental de língua inglesa 

** Características metodológicas e analíticas da história ambiental:
  • Quase todas as análises focalizam uma região com alguma homogeneidade ou identidade natural. Desse modo, a história ambiental acaba se identificando com a história regional, dado que focaliza processos históricos geograficamente circunscritos. 
  • Diálogo com as ciências naturais: geologia, geomorfologia, meteorologia, biologia vegetal, zoologia, mineralogia, ecologia, entre outras. Não se trata de uma "breve visita" a tais disciplinas, mas uma incursão profunda, fortemente dependente. 
  • Explorar as interações entre os quadros de recursos naturais úteis e inúteis e o estilo civilizatório das sociedades humanas. 
  • Grande variedade de fontes pertinentes ao estudo das relações entre sociedades e o seu ambiente. Relatos de viajantes, mapas, relatórios técnicos, inventários de fauna, inventários florísticos, leis, atas, decretos, crônicas, mitos, diários, inventários de bens, testamentos, escrituras de compra e venda de terras, tudo enfim que permita ver: (a) quais recursos naturais são locais e quais são importados, (b) como eles são valorizados no cotidiano das sociedades e (c) que tecnologias existem para o seu aproveitamento. 
  • Trabalho de campo. Serve para identificar as marcas deixadas na paisagem pelos diferentes usos humanos, marcas essas que nem sempre constam de documentos escritos.

** Antecedentes e referências da história ambiental:
  • História das civilizações.
  • Estudos acerca da fronteira norte-americana, isto é, acerca da marcha para o oeste;
  • Estudos que correlacionam cultura material e cultura simbólica.
  • Geografia Humana e Econômica.
  • Estudos sobre energia e tecnologia.


** Temais mais comuns:
  • Origens e efeitos de políticas ambientais e da "cultura" científico-administrativa de organismos governamentais com responsabilidades pelo meio ambiente;
  • Usos conflitivos de recursos natuiais por povos com marcadas diferenças culturais (nativos americanos versus europeus, por exemplo), ou por grupos sociais distintos de sociedades complexas (protetores de animais versus caçadores);
  • Valores culturais coletivos relativos à natureza, ao meio ambiente e aos seres animais e vegetais;
  • Idéias de escritores ou militantes ambientalistas individuais; 
  • Estudos de casos notáveis de degradação ambiental. 


** Autores e livros relevantes para a história ambiental: 
  • Donald Worster (Nature's economy: a history of ecologic ideas; Dusl bowl - the southern plains in lhe 1930'; Rivers of empire - waler, aridity and the growth of lhe American West).
  • William Cronon (Changes in the land - indians, colonists and the ecology of New England).
  • Alfred Crosby (The Columbian Exchange: biological and cultural consequences of 1492; Ecological Imperialism - the biological expansion of Europe, 900-1900). 
  • Stephen J. Pyne (Fire in America: a cultural history of wildland and rural fire).
  • Leo Marx (The machine in lhe garden: technology and the pastoral ideal in America).
  • Roderick Nash (Wilderness and the American Mind).  

Nash cria o conceito de "valor de escasser' da natureza "selvagem". Para ele, essa natureza é tão mais temida e desprezada quanto mais abundante e mais próxima ela é do sujeito, e é tão mais amada e admirada quanto mais escassa e distante ela estiver. Pp. 191.   

  • Frederick Turner (Beyond geography: the western spirit againsf the wilderness).
  • Warren Dean (Brazil and fhe sfruggle for rubber: a study in environmental history).
  • Sérgio Buarque de Holanda (Monções e O Extremo Oeste).
  • Gilberto Freyre (Nordeste).
  • Aziz Ab'Saber (História Geral da Civilização Brasileira).
  • Alberto Ribeiro Lamego (Brejo, Restinga, Baía de Guanabara, Serra).
  • Euclides da Cunha.
  • Oliveira Vianna.
  • Alberto Torres.
  • Varnhagem.
  • Capistrano de Abreu.
  • Caio Prado Jr.
  • Viajantes e naturalistas dos séculos XIX e XX (relatos condensados no livro "Reconquista do Brasil"). 


Conclusão 

** História do Brasil como sucessão de ciclos econômicos >>> Demonstra que a economia do país foi e continua estreitamente atada à exploração de curto prazo de recursos naturais (florestas e produtos florestais extrativos, animais selvagens, terras agrícolas e pecuárias, depósitos minerais, rios, entre outros).

** Nova historiografia >>> Ênfase nas relações dialéticas entre capital e trabalho. Não permite que se compreenda exatamente quais os tipos de sociedade são gerados pela exploração deste ou daquele recurso natural.

** História ambiental >>> Fornece uma alternativa ao binômio ciclos estanques x ciclos abstratos. Pode contribuir para identificar, em escala regional e local, que tipo de sociedade foi formada em torno deste ou daquele recurso natural; que duração tiveram essas sociedades e quais as suas consequências para as sociedades que lhe sucederam.

Grandes setores da nossa população e da nossa economia continuam a depender do uso extensivo e raramente prudente de recursos naturais: novas terras agrícolas e pecuárias, novos empreendimentos de mineração, novos produtos extrativos, novas usinas hidrelétrica. O mercado mundial está pagando cada vez menos por esses recursos naturais. 
Sabemos que todas as dimensões da nossa economia de recursos naturais estão articuladas. Não podemos mais adiar um conhecimento histórico mais consistente de cada uma dessas dimensões. É minha opinião que a história ambiental pode dar uma contribuição decisiva para entendermos o nosso passado e o nosso presente de país rico em recursos naturais e assolado por dívidas sociais.  Pp. 195.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Esquema de Leitura: Rachel Carson's Silent Spring, de Linda J. Lear

Centro Universitário de Brasília - Uniceub 
Faculdade de Direito
Pós Graduação Lato Sensu em Direitos Sociais, Direito Ambiental e Direito do Consumidor
Monografia final
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura
Referência: LEAR, Linda J. Rachel Carson's Silent Spring, in Environmental History Review, Volume 17, n. 02, 1993, pp. 23-48.

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** Texto acerca da vida e da obra de Rachel Carson, com ênfase na publicação de Silent Spring e na querela acerca dos agrotóxicos. 
Rachel Carson was an improbable revolutionary, even an unlikely reformer, yet she challenged industrial empires, exposed a scientific establishment that cherished its elitism, and accused the government of being irresponsible. She consciously questioned the dominant system of institutional arrangements and the culture´s unequivocal devotion to technological progress. Her crusade renewed the political power of homeowners and housewives. Most important, her message fundamentally altered the way Americans, indeed citizens of the planet, look upon the living environment. pp.23.  


** Rachel Carson >>>
  • Descendente de escoceses e irlandeses.
  • De tradição presbiteriana.
  • Oriunda de uma família de poucas posses.
  • Nascida em Springdale, Pennsylvania. A cidade fica a nordeste de Pittsburgh e é uma espécie de distrito-dormitório para os trabalhadores da West Penn Power Company.
  • Desde a tenra juventude, tinha facilidade para escrever. Ganhou prêmios por histórias publicadas em revistas juvenis. 
  •  Fortemente influenciada por sua mãe, Maria McLean, que a estimulava a escrever e a observar o mundo natural.
  • Ingressou no Pennsylvania College for Women com a finalidade de tornar-se uma escritora. Lá, alterou a sua opção de estudos, de inglês para biologia. 
  • Cursou mestrado em zoologia na John Hopkins University, enquanto lecionava, parte do tempo, nessa mesma universidade e na University of Maryland.
  • Em 1935, quando seu pai faleceu, Rachel tornou-se arrimo de família. Conseguiu um emprego em tempo parcial no Departamento de Pesca, então subordinado ao Departamento de Comércio. Escrevia roteiros para uma série de rádio acerca da vida marinha.
  • Foi admitida para o serviço público federal (Fish and Wildlife Service), como bióloga aquática. Seus talentos como escritoras foram logo reconhecidos e Rachel Carson foi incumbida de escrever panfletos a respeito de criaturas marinhas. 
  • Em 1949, tornou-se Editora-Chefe das publicações do Fish and Wildlife Service.


** Obras >>>
  • Under the sea wind. Publicado em 1941. Redigido nas madrugadas de Rachel Carson. Estudos custeados pela própria autora, sem apoio governamental.
  • The sea around us. Também redigido durante as madrugadas. Publicado dez anos depois, como série na revista "The New Yorker". Best seller. Livro do mês por vários meses consecutivos. Rendeu a Rachel Carson fama internacional e segurança financeira. Estudos custeados pela própria autora, sem apoio governamental.
  • Com o dinheiro auferido com a venda de seus livros, adquiriu uma propriedade na costa do Maine e aposentou-se do Fish and Wildlife Service em 1952.
  • Em 1955, publicou The Edge of the Sea. Estudos custeados pela própria autora, sem apoio governamental.
  • Uma vez completo o seu trabalho acerca do mar, dedicou-se a outros projetos, inclusive àquele que levaria à publicação de Silent Spring.  
As a young biologist at the Fish and Wildlife Service she had been alarmed by the increasing misuse of synthetic pesticides. Her research led to an unexpected confrontation between a biologist concerned with preserving the life systems of the planet and the little known implications of scientific and technological progress. Silent Spring, the product of this reflection, can be read on many levels, but at its essence, it's the expression of Rachel Carson's outrage of humankind's crude tampering with the physical world she had always thought inviolate. Her critique of the culture that condoned such roughshod carelessness very deliberately attacked the institutions and power structure supporting that technology. The force of her moral convictions as well her scientific evidences initiated an avalanche of changes. Pp. 27.


** Silent Spring >>> 
  • As pesquisas acerca do uso de pesticidas eram conduzidas (com enfoques diferentes), tanto pelo Departamento de pesquisa agrícola, quanto pelo Fish and Wildlife Service. O primeiro com muito mais verbas que o segundo.
  • Enquanto trabalhava no Fish and Wildlife Service, acompanhou as discussões acerca dos pesticidas e viu que elas ocorriam dentro dos departamentos, sem qualquer veiculação dos principais questionamentos à população (que seria a maior interessada). Foi contrária à política do Fish and Wildlife Service de erradicar predadores, posto que considerava que essa política desconsiderava o equilíbrio das cadeias tróficas. Desde essa época, igualmente, sabia da existência de pesquisas que associavam a ocorrência de câncer à exposição química.
  • Na época da publicação de Silent Spring, Rachel Carson era marginalizada em relação ao meio científico. Não tinha PHD. Não participava oficialmente de uma pesquisa. Não era endossada por uma instituição de ensino e pesquisa. E era mulher. Entretanto, era uma escritora respeitada, nacional e internacionalmente. 
[...]. By 1962, Rachel Carson enjoyed an international reputation. She was the most highly regarded marine biologist writing for the general public. She had the unique combination of scientifc expertise and public trust to take on such a controversial subject. One of the finest writers in the English language of her day, she combined a poet's voyce with a scientist's dispassion. Pp. 30. 


  • No livro, atacou o governo, o agronegócio e a indústria química, acusando-os de uso irresponsável e indiscriminado dos pesticidas gerando assim, contaminação humana. 
  • Tal como os livros a respeito do mar, Silent Spring recorre a experiências e a imagens familiares ao público de classe-média urbana e suburbana, que era o público ao qual se dirigiam tais escritos. 
  • O livro foi um sucesso imediato, vendendo mais de 600 mil cópias. Ele alarmou o público. As associações de defesa do meio ambiente registraram recordes de filiações. Também foi um campeão de críticas, acusado de divulgar grandes distorções. 
  • Silent Spring provocou grande impacto nos altos escalões da administração de John Kennedy.
  • Linda Lear afirma que Silent Spring mudou o curso da história. Polarizou o governo, a ciência e a indústria. Fez com que as pessoas olhassem para o mundo sob outra perspectiva: ecologia passou a ser uma palavra cotidiana.
  • Acontecimentos contemporâneos à publicação de Silent Spring >>> Todas essas questões vinham sendo veiculadas na imprensa, de modo que a população começava a se interessar pela temática ambiental.
1. Deformações de crianças pelo uso da talidomida; 
2. Contaminação de morangos por pesticidas;
3. Testes nucleares.
4. Aplicação aérea e maciça dos dois pesticidas sintéticos mais persistentes e agressivos nos Estados do Sul, a fim de erradicar a formiga de fogo. A questão tornou-se central no Departamento de Agricultura e seus agentes intimidavam qualquer pessoa que se opusesse aos pesticidas.
5. Mortalidade de aves causada por aplicação maciça de DDT diluído em óleo diesel, a fim de controlar a população de mosquitos na costa norte de Massachusetts.
6. Judicialização de conflitos decorrentes de testes aéreos com inseticidas em Long Island, afetando peixes, gado, aves, jardins e talvez crianças. 
Carson's decision to tell only one side of the pesticide story was criticized in 1962 and remains a point of contention. Carson made this choice deliberately. She had no quarrel with the use of some pesticides to control insect-born diseases or even for many agricultural applications. While she may have lacked an understanding of the individual farmer's economic choices, she realized that a world without pesticides was neither possible nor preferable. Pp. 35. 


** As críticas a Silent Spring >>> 

  • Críticas pessoais e impessoais. 
  • Rachel Carson foi apontada, pelo ministro da Agricultura, como uma provável comunista ao então presidente D. Eisenhower, afinal, "por qual outro motivo uma solteirona estaria tão preocupada com genética?". 
  • Outros a acusavam de ser uma amante dos coelhinhos e ursinhos peludos. 
  • Terceiros a rotularam como uma mulher histérica. 
  • O presidente a Monsanto acusou Carson de ser uma defensora fanática do culto ao equilíbrio da natureza.
  • Em agosto de 1962, a Velsicol Corporation, fabricante de pesticidas ameaçou processar a editora de Rachel Carson (Houghton Mifflin), caso persistisse com a publicação de Silent Spring.
  • A Associação Nacional de Químicos Agrícolas gastou Us$ 25,000 com retaliações públicas contra Rachel Carson.
  • A comunidade científica encarou Silent Spring como um ataque à sua integridade.Os maiores detratores de Rachel Carson -- I.L. Baldwin, George C. Decker e William J. Darby -- haviam atuado no Conselho da Academia Nacional de Pesquisas acerca de Pesticidas: "They correctly regarded the book as an assault on their work, on the tenets scientific orthodoxy and on the nature of progress itself". Pp. 37. 


** Legado >>> 

  • Desde Silent Spring, a Ciência tornou-se mais transparente (accountable). Rachel Carson demonstrou que o grande público é capaz de compreender questões científicas complexas, desde que haja um esforço de simplificar a linguagem utilizada para explicá-las.  
Silent Spring and the controversy it produced brought science into the wide arena of public understanding and debate for the first time since the end of World War II. Carson convinced those who read her book that there was a fragile partnership between humans and nature, which once broken, could lead to destruction of both. Pp. 40.  


  • Stuart Udall, Secretário do Interior quando Silent Spring foi publicado, considera que Rachel Carson é a cabeça de onde nasceu o novo ambientalismo. O que distinguiria esse novo grupo, de acordo com Udall, seria o fato de que ele compartilha os valores ecológicos de Rachel Carson e se preocupa com a totalidade da vida no mundo. Essa nova ética da interconexão entre os seres vivos seria o maior e mais duradouro legado de Rachel Carson, e a qualidade que define o novo movimento ambientalista. 

Artigo publicado em periódico. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson

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