quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Esquema de leitura: Violência de Gênero, Sexualidade e Saúde. Por Karen Giffin

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Instituto de Ciências Sociais
Departamento de Sociologia
Monografia Final
Discente: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura

Referência:

Giffin, Karen. "Violência de gênero, sexualidade e saúde", in Cadernos de Saúde Pública, Volume 10, suppl.1, Rio de Janeiro, Jan/1994. Disponível na página eletrônica http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102-311X1994000500010&script=sci_arttext. Consulta em 04/12/2013.

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PANORAMA INTERNACIONAL

**  Apresenta os dados de pesquisas nacionais e internacionais acerca do crime de estupro. Fonte: HEISE, L., 1994. Violence Against Women: The Hidden Health Burden. Relatório Preparado para o Banco Mundial. (Mimeo.) (Manuscrito publicado sob o mesmo título, na série World Bank Discussion Papers 255, Washington, D.C.: World Bank, 1994):


** Violência física e sexual entre parceiros
  • Entre 20% (Colômbia, dados de uma amostra nacional) e 75% (Índia, 218 homens e mulheres num estudo local) das mulheres já foram vítimas de violência física ou sexual dos parceiros.
  • Nos Estados Unidos e no Canadá, 28% e 25% das mulheres, respectivamente, reportam que foram vítimas de violência física ou sexual dos parceiros.
  • Entre 10% e 14% de todas as mulheres norte-americanas declararam que os marido as forçam a fazer sexo contra sua vontade.
  • Entre as mulheres que são vítimas habituais da violência física dos parceiros, esta cifra é de 40%, comparado com 46% na Colômbia e 58% na Bolívia e em Porto Rico.
  • Homicídios de mulheres por parceiros >>> 62% no Canadá (1987); 70% Pernambuco (1992); 73% Nova Guiné (1979/1982).

** Estupro em geral
  • Estados Unidos >>> Entre 1/5 e 1/7 das mulheres norte-americanas serão vítimas de estupro durante sua vida.
  • Dados de atendimento a vítimas de estupro em sete países mostram que >>>
  • De 36% a 58% das vítimas de estupro ou tentativa de estupro têm idade inferior a 16 anos. 
  • Entre 18% a 32% das vítimas de estupro têm menos de 11 anos de idade.
  • Entre 60% a 78% dos casos de estupro, o agressor é uma pessoa conhecida. 
  • Estados Unidos >>> Entre 27% e 62% das mulheres sofrem pelo menos um evento de abuso sexual (não necessariamente estupro) antes dos 18 anos.
  • Canadá >>> Estima que 25% das meninas sofrem algum tipo de abuso sexual antes dos 17 anos.
  • Lima >>> 90% das mães entre 12 e 16 anos tinham sido estupradas e que, em sua grande maioria, o agressor foi o pai, o padrasto ou outro parente próximo.
  • Costa Rica >>> Entidade para mães adolescentes na Costa Rica relata que 95% das grávidas com menos de 15 anos são vítimas de incesto.
  • Estados Unidos >>> São denunciados somente 2% dos casos de abuso sexual de crianças dentro da família; 6% dos casos de abuso sexual de crianças fora da família; e de 5% a 8% dos casos de abuso sexual de adultos.
  • 19% dos anos de vida perdidos por morte ou incapacitação física, entre mulheres de 15 a 44 anos, são resultado de violência de gênero. 
  • Mundo >>> Estupro e violência doméstica trazem, para mulheres, consequências mais sérias que as doenças cardiovasculares ou que o câncer. 
  • Estados Unidos >>> Abusos físicos ou sexuais motivam 35% dos casos de suicídio.
  • 20% das vítimas de estupro contra crianças nos Estados Unidos continuam a apresentar sequelas físicas e psicológicas muitos anos após o evento violento (sobretudo nos casos de incesto). 
  • 68% das mulheres que foram vítimas de estupro na infância relatam que voltaram a sofrer esse tipo de violência na idade adulta.

** Estupro no Brasil
  • 1987 >>> Entre 2.000 casos de violência registrados num período de cinco meses numa Delegacia de Mulheres em São Paulo, 70% ocorreram no lar e em sua quase totalidade o agressor era o parceiro, sendo que 40% referiram danos físicos sérios.
  • PNAD/1988 >>> Em mais que 50% dos casos de violência física o agressor era parente da vítima.
  • 50% dos casos de estupro registrados nas 125 Delegacias de Mulheres entre janeiro de 1991 e agosto de 1992 ocorreram na família.
  • 1990 >>> Delegacias de Mulheres de São Paulo relataram 841 casos de estupro. 
  • Entre julho de 1991 e agosto de 1992, as Deam de São Paulo registraram 79.000 casos, do total nacional de 205.000 crimes contra a mulher, o que representa 562 crimes baseados no gênero reportados diariamente.
  • Levantamento nas delegacias no Rio de Janeiro, em 1992 demonstra que, em 74% dos mais de 10.000 atendimentos, o acusado era o cônjuge ou ex-cônjuge. De todos os inquéritos de crimes sexuais desde 1986, 62% das vítimas eram menores de idade.

** Conclusões de Heise (p. 147)
  1. As mulheres estão sob risco de violência, principalmente por parte de homens conhecidos por elas;
  2. A violência de gênero ocorre em todos os grupos sócio-econômicos;
  3. A violência doméstica é tão ou mais séria que a agressão de desconhecidos;
  4. Embora as mulheres também sejam violentas, a maioria das violências que resultam em lesões físicas é de homens contra mulheres, isto é, a violência sexual é exercida contra o gênero feminino;
  5. Dentro de relações estabelecidas, a violência muitas vezes é multifacetada e tende a piorar com o tempo;
  6. Em sua maioria, os homens violentos não são doentes mentais;
  7. O abuso emocional e psicológico pode ser tão danificante quanto o abuso físico, sendo muitas vezes considerado pior, na experiência das mulheres;
  8. O uso de álcool exacerba a violência, mas não é causa da mesma;
  9. Existem sociedades onde a violência contra a mulher não existe.
  10. Serviços de saúde >>> Locus privilegiado para identificar e referir vítimas da violência. Recomenda treinamento para evitar situações de re-vitimização. 

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GÊNERO, SEXUALIDADE E AS RAÍZES DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER



**  Gênero >>> Desconstrução das categorias "sexo feminino / sexo masculino". Aponta a naturalização de aspectos sociais. Anatomia não é destino. O corpo não determina o status social. 

** Reconhecimento das diferenças de poder entre homens e mulheres (p. 150).

** Família >>> Principal instituição social que organiza os diferentes papéis a serem desempenhados de acordo com os gêneros >>> Controlar a família é, antes de tudo, controlar o corpo das mulheres, que devem aceitar como natural a função de mães. Aqui, a sexualidade é permitida exclusivamente para fins reprodutivos (filhos legítimos). 


O controle da sexualidade e pela sexualidade é o meio mais eficaz de controlar os corpos e as mentes femininas nas culturas patriarcais. 


** A família torna-se, dessa forma, não um ninho de proteção e conforto para mulheres e crianças, mas um verdadeiro aparelho de guerra. Torna-se um lugar para aprender normas, técnicas e valores da violência. "Dentro de suas paredes", todos os tipos de violência podem ocorrer. E todos ficam sistematicamente ocultos ou são sistematicamente negados >>> Violência doméstica não é desvio, mas regra!

** Papéis sociais e sexuais masculinos  << >> Violência, dominação e controle. Explicações biologizantes tendem a retirar dos homens a responsabilidade por seus impulsos sexuais, pornográficos, exibicionistas. Sob essa abordagem, essas seriam características "naturais" dos homens, isto é, os homens seriam naturalmente mais propensos a impulsos sexuais.

** Naturalização dos papéis sociais >>> Construção de pares opostos fixos e mutuamente excludentes. A identidade de gênero suprime as semelhanças naturais entre as pessoas, forçando e reforçando diferenças socialmente construídas (Rubin).
  • Homens >>> Ativos (social e sexualmente). Razão. Mente. Esfera pública. Cultura e civilização. Na tradição cristã ocidental, os impulsos naturais do corpo têm de ser controlados e sublimados pela mente. Noutras palavras, o corpo (metaforicamente associado ao feminino) é algo a ser controlado. A identidade masculina é ameaçada pela intimidade e pela dependência (necessidade de separação da mãe). A negação das emoções é necessidade da manutenção da identidade masculina. Fazer da mulher um objeto. 
  • Mulheres >>> Passivas (social e sexualmente). Emoção. Corpo. Esfera privada. Natureza. Ninfomaníacas predatórias (ilustrado pela alegoria da vagina dentada) ou vítimas passivas. Mulher Satanizada (degenerada?) ou "da rua" X Mulher Sacralizada ou "de casa". A identidade feminina é ameaçada pela separação (meninas têm necessidade de crescer tais quais as suas mães). Conformar-se com o papel de objeto.    
** Mulheres públicas e mulheres pudicas >>>  
A mulher é sedutora, pecadora, responsável pela atração sexual do homem e, portanto, guardiã da moralidade. Pela mesma lógica contraditória, a mulher sempre pode ser culpada pelos ataques sexuais que “ela atrai”. Esta carga feminina é reforçada pela definição do sexo como elemento situado na esfera privada, território feminino também por definição, embora outra forma comum de expressão do caráter ambivalente da identidade sexual feminina seja a afirmação de que existem dois tipos de mulheres: as "da rua" e as "de casa". pp. 151.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Esquema de leitura: The tragedy of the commons, Garrett Hardin

Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós Graduação - Doutorado
Processo de Seleção
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura: 
HARDIN, G. The Tragedy of the Commons. Science, 1968, Vol. 162: 1243-1248. 



** Artigo de Weisner e York acerca da corrida armamentista na Guerra Fria. Conclusão >>> Não há solução técnica para o dilema das nações envolvidas na corrida armamentista, mas apenas uma solução ética. 

** E o que é uma solução técnica? É uma solução que requer apenas a mudança nas técnicas utilizadas pelas ciências naturais, não demandando qualquer alteração nas idéias ou valores da humanidade.

** Normalmente as soluções técnicas são bem vindas. Mas nem todas as questões relevantes para a humanidade podem ser solucionadas por meio da Ciência. Há limites para essa intervenção. 

** O problema do aumento populacional mundial é um daqueles que não podem ser solucionados por meio da Ciência, da técnica. Os pesquisadores ficam buscando soluções como cultivar nos mares ou aumentar a produtividade do trigo. Mas essas medidas não solucionam verdadeiramente o problema do aumento populacional mundial. 



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O que deveríamos maximizar?   

** Malthus já alertava que a população cresce em progressão geométrica (exponencialmente), ao passo que os alimentos crescem em progressão aritmética. Em um mundo finito (nosso mundo é finito?), isso significa que o acesso aos alimentos deverá decrescer. O espaço não é uma alternativa de fuga.

** Um mundo finito suporta apenas uma população finita, ou seja, um crescimento populacional igual a zero. 

** Seria possível alcançar a meta de Bentham, de "o máximo de bens para o maior número de pessoas?". Não. A meta de Bentham é impossível. Porque:
a) Cada um abastece a si mesmo;
b) Implicaria reduzir a quase zero a quantidade de energia despendida pelos seres humanos em outras atividades que não a mera sobrevivência. Seres humanos teriam que aceitar viver sem arte, sem comida especial, sem viagens, sem música, sem literatura. 
** A população ótima é um número bem inferior ao da população máxima. Mas como definir o número ótimo de seres humanos? Pelo máximo de bem disponibilizado a cada ser humano? Mas que é esse "bem"? Fábricas, florestas, praia ou caça? 
-- Impossibilidade teórica de aferir, dado que são grandezas incomparáveis. 

** Mas no mundo prático, é possível identificar esse "bem". Tem a ver com a sobrevivência da espécie. E isso tem a ver com a limitação do número de pessoas sobre o planeta.

** Nenhuma nação rica cresce descontroladamente >>> 
-- O crescimento populacional das nações ricas é quase zero. 
-- As nações pobres, por sua vez, têm crescimento exorbitante. 
-- Essas constatações fazem com que questionemos se há mesmo uma "mão invisível" por trás da sanha reprodutiva da humanidade, isto é, se as escolhas individuais ("laissez faire reprodutivo") estão mesmo nos levando à "população ótima".  



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Tragédia da liberdade de acessar os bens comuns

** Tragédia >>> Destino de que não se pode escapar.  Caminho inexorável e sem remorsos em direção à infelicidade.

** Imagine-se um pasto hipotético, pertencente a ninguém (e a todos), em que as pessoas possam livremente permitir que seu gado se alimente. 
-- Agindo racionalmente, teleologicamente, cada um desejará alimentar tanto gado quanto possa, maximizando seus ganhos. 
-- Mas se todos agirem dessa forma, egoisticamente, o pasto se esgotará, de modo que todos suportarão perdas. 
-- Entretanto, enquanto a maximização dos ganhos individuais é quase +1, o risco de perdas é apenas uma fração de -1. 

** Exemplos de tragédias dos comuns >>> Pesca predatória, levando diversas espécies de peixes e de baleias à beira da extinção (crença de que os recursos do mar são ilimitados); estacionamentos públicos em cidades (que sofrem com o espaço limitado); Parques Nacionais recebem número ilimitado de visitantes, o que lhes causa impactos. 



Noutras palavras, cada homem está preso em um sistema em que é incentivado a majorar seus ganhos até o infinito, em um mundo finito. Veja-se, portanto, que liberdade em bens comuns é ruína para todos.



** A educação pode frear as tendências destrutivas naturais a que estamos submetidos. Mas essa educação deve ser refrescada a todo momento, a cada geração. Conhecimento é perecível

** Opções >>> 
-- Vender todos os comuns à propriedade privada. Tem um limite, já que o ar e a água ao nosso redor não podem ser simplesmente cercados.
-- Manter os comuns como propriedade pública, mas restringir o seu uso a um número limitado de pessoas, quer com base em preços, quer com base em méritos, quer aleatoriamente, por sorteio.



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Poluição

** Aqui, não se trata de tirar algo dos comuns, mas de colocar. Lixo, entulho, radiação, mercúrio, plutônio, césio, fumaça, sinais luminosos irritantes. 
-- O custo de jogar seus dejetos nos comuns sem qualquer tratamento é muito mais baixo que o de tratá-los antes de despejá-los.  
-- Como todos pensam do mesmo jeito, estamos todos a "infestar nosso próprio ninho". 

** Solução >>> Tornar mais barato tratar os dejetos que simplesmente despejá-los. Fiscalização, impostos. 

** Conseqüência do aumento populacional. O aumento da população dificulta os processos químicos e biológicos de reciclagem.  



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Como legislar temperança?

**  É fácil legislar proibições. Difícil é legislar temperança.

** A moralidade de um ato é medida por sua função em relação ao sistema em que é exercido. Usar um córrego como fossa tem um sentido em um rio da fronteira e outro sentido em uma cidade superpopulosa. Essa circunstância foi ignorada pelos codificadores da ética do passado. Apenas se preocuparam com o enunciado abstrato: "Você não pode...".

** O mesmo mecanismo dos codificadores da ética foi utilizado por nossos legisladores. Como resultado, a maioria dos eventos particulares (quantidade de fumaça que um veículo pode expelir, quantos animais podem ser caçados neste ano) vem sendo regulamentada e fiscalizada por normas administrativas. 

** Problema: Quem fiscaliza os fiscais? A delegação da tarefa a agentes públicos pode ocasionar corrupção e descumprimento das diretrizes esperadas por todos. 



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Liberdade de reproduzir é intolerável

**  Só se pode falar em ausência de interesse público no controle de natalidade se e somente se admitirmos um cenário em que as famílias são unidades autônomas e em que as crianças que não forem alimentadas por seus pais são deixadas para morrer de fome. Como isso é inadmissível, há interesse público no controle de natalidade. 

** Em um Estado do Bem Estar Social democrático, como lidar com grupos religiosos, étnicos famílias ou classes sociais que se reproduzem acima da média como estratégia de se multiplicar?

** A Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê que os homens são livres para escolher quantos filhos desejarão ter, circunstância que revela a delicadeza da matéria.  



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Consciência é auto-eliminação

**  Não há como controlar as taxas de natalidade, a longo prazo, com mero apelo à consciência. 

** Em poucas gerações, os homens "conscientes", a favor da redução de natalidade, estarão extintos, sendo substituídos pelos homens insensíveis à redução da natalidade >>> Este argumento presume que as pessoas que desejam se reproduzir transmitem esse desejo hereditária e necessariamente aos seus descendentes, que não são educáveis! 

** O fato é que chamar as pessoas à consciência, isto é, pedir que, individualmente, não dilapidem os comuns enquanto os outros o fazem, é pedir que se eliminem, que se prejudiquem.   



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Efeitos patogênicos da consciência 

** Agir conforme a consciência do bem comum é desvantajoso para o indivíduo a curto e a longo prazo.
 
** Exigir que alguém respeite os bens comuns quando ninguém mais o faz passa duas mensagens contraditórias, o que causa ansiedade, culpa e, em casos extremos, esquizofrenia: 
1) respeite os bens comuns;
2) você é um tolo em respeitar os bens comuns, deixando-os para terceiros.   


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Coerção mútua, acordo mútuo

** Coerção >>> Causa ojeriza aos liberais. Pode ser exercida de várias formas, seja proibindo comportamentos ("não roube um banco"), seja desestimulando (cobrança de taxas pesadas para visitar Fernando de Noronha). 

** Coerção mútua, exercida entre indivíduos, constitui uma alternativa para a tragédia dos comuns. Valer-se de um arranjo social que disciplina comportamentos.
 
** Sugestão >>> Aquisição dos comuns, legados por herança (bens materiais e terras). As pessoas já respeitam a propriedade privada. Não é um sistema justo, mas é melhor que a ruína dos comuns. Implica reformas, mas lutar pelo status quo não é deixar de fazer algo, é fazer. E fazer em benefício da tragédia dos comuns. 




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Reconhecimento da necessidade 

** Bens comuns >>> Justificáveis apenas em cenários de baixa população. Como a população tem aumentado, os bens comuns terão que ser deixados de lado, um após o outro. 
-- Inicialmente, abandonamos as terras comuns para a produção de alimentos.
-- Proibimos o lançamento irresponsável de esgotos a céu aberto. Ainda estamos lutando para que sejam proibidos os lançamentos de fumaça, inseticidas, etc. nos bens comuns. 
** Cada restrição de bens comuns corresponde a uma diminuição da liberdade humana. Mas o que é liberdade, afinal? Indivíduos presos à lógica perversa da tragédia dos comuns são livres apenas para trazer a destruição para si e para os seus.

[...]. No technical solution can rescue us from the misery of overpopulation. Freedom to breed will brign ruin to all. At the moment, to avoyd hard decisions, many of us are tempted to propagandize for conscience and responsible paternhood. The temptation must be resisted, because an appeal to independently acting consciences selects for the disappearance of all conscience in the long run, and an increase in anxiety in the short. 
The only way we can preserve and nurture other and more precious freedoms is relinquishing the freedom to breed, and that very soon. "Freedom is recognition of necessity" -- and it is the role of education to reveal to all the necessity of abandoning the freedom to breed. Only so, can we put an end to this aspect of the tragedy of the commons.  Pp. 1248. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Esquema de Leitura. Conflitos Sociais Contemporâneos. Lúcia da Costa Ferreira.

Universidade de Brasília
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Seleção para o Programa de Pós-Graduação
Doutorado
Discente: Juliana Capra Maia
Referência: FERREIRA, Lúcia da Costa. Conflitos sociais contemporâneos: considerações sobre o ambientalismo brasileiro. Ambiente e Sociedade, nº 05, 1999, p. 35-54, disponível em http://www.scielo.br/pdf/asoc/n5/n5a04.pdf. 


APRESENTAÇÃO
** Objeto do texto >>> Compreender o papel das organizações não governamentais e, assim, o ambientalismo contemporâneo, em especial o ambientalismo brasileiro.
** Tese >>> O fortalecimento das organizações não governamentais revela a fragilidade das construções teóricas das ciências sociais acerca dos movimentos sociais. É que as teorias desenvolvidas por Alain Touraine, Claus Offe e Jurgen Jabermas acerca dos movimentos sociais seriam insuficientes para dar conta das ONGs, porque se valem de uma concepção moderna de política, intimamente relacionada ao Estado Nação. 
** As organizações não governamentais de hoje seriam uma expressão das mudanças sociais e políticas contemporâneas. Elas surgiram em um contexto de erosão da política tradicional, um contexto de fragmentação dos ideais coletivos, do poder e do próprio projeto da modernidade. 
** Por outro lado, o ambientalismo está em permanente crise, já que não dá conta de construir uma utopia única, um conjunto coeso de atores identificados com uma linha de pensamento harmônica. Por isso, a todo tempo está sendo pensado e repensado pelos próprios ambientalistas.


A SUPOSTA CRISE DO AMBIENTALISMO
** Ambientalismo >>> 
-- Emergiu com a aparência ou sob a denominação de mais um movimento social. 
-- Na década de 1970, parecia que, tal como o feminismo, o movimento negro e o movimento estudantil, seria mais um movimento social destinado a afirmar identidades. 
-- Surpreendeu a todos e a si mesmo quando ultrapassou as classes médias para dialogar com outros segmentos sociais e quando, para além de constituir uma oposição genérica à sociedade predatória e imediatista, passou a esboçar um novo projeto de sociedade.
-- Chamou a atenção das novas esquerdas, já que se tratava de um movimento portador de um projeto histórico-social mobilizador de coletividades e, por isso, potencialmente transformador das estruturas sociais.

** Movimentos Sociais >>>  Respostas práticas e coerentes dos atores sociais à distribuição desigual das privações sociais criadas pela mudança institucional. É ao mesmo tempo um conflito social e um projeto cultural, pois visa a realização de valores culturais, ao mesmo tempo que a vitória sobre um adversário social (Touraine, 1997). 

** Elementos constitutivos dos movimentos sociais (Touraine) >>> 
1) A definição do próprio ator; 
2) A definição de seu adversário; 
3) A definição do campo de disputa onde se desenrolaria o conflito proposto 

** O ambientalismo não se enquadra no conceito de movimento social (disparidade entre conceito e realidade). Seria, para Habermas, Offe e Touraine (assim como o feminismo, o movimento negro, etc), um movimento sem fôlego para transformar a sociedade como um todo e, por isso, suas lutas (restritas à afirmação da identidade) seriam incompletas e parciais.  

** Década de 1990 >>> Os movimentos sociais ambientalistas passaram a se reconhecer como atores sociais, a se constituírem como grupo de conflito portador de um projeto cultural de sociedade. Não foram bem sucedidos na demarcação de adversários ou na elaboração de um projeto coerente de sociedade. E isso fez com que os ambientalistas sofressem por uma década o sentimento inconfesso de suspeitar-se incompleto, parcial.  

** Final da Década de 1990 >>> A internacionalização das discussões ambientais, a Conferência das Nações Unidas e a Agenda 21 impediram o fortalecimento dos particularismo e impuseram uma ordem universal ao ambientalismo.

** Ambientalismo como ator social e agente político. Atua como organizador de grupos sociais e como mediador entre a vida social e política. 

** Touraine (releitura do ambientalismo): "não teria sido a ecologia política quem conseguiu, nem que fosse de forma precária, restabelecer o elo rompido entre agentes políticos e atores sociais; quem reintroduziu no sistema político as esperanças e receios de uma sociedade ampliada às dimensões da sociedade humana?”.


O AMBIENTALISMO COMO O OUTRO DE SI MESMO, OU OS MUITOS AMBIENTALISMOS
** A promessa de universalidade e as dificuldades a ela inerentes foram acompanhadas pela disseminação das ONGs, um novo formato de ação ambientalista.

** ONGs ambientalistas transnacionais >>> “grupos não-lucrativos com base ou atividades em mais de um país, cuja missão principal é impedir a degradação ambiental e promover formas sustentáveis de desenvolvimento" (Princen & Finger).

Papel das ONGs ambientalistas transnacionais
 <<< >>> 
Criação de uma sociedade civil global

** Milhares de ONGs emergiram em todos os continentes e suas ações passam ao largo da política tradicional do Estado-Nação. Essa característica revela a insuficiência das atuais teorias sobre movimentos sociais, desenvolvidas ao longo dos anos 1970 e 1980, que associam a dimensão política ao Estado. 

** As ONGs só poderiam ser adequadamente compreendidas a partir de um novo sistema teórico, que levasse em consideração a crise ecológica global, inigualável em proporções. Os atores políticos nacionais e tradicionais são incapazes de fornecer respostas relevantes a essa crise.  

** O rompimento do ciclo vicioso que produz e reproduz a crise ecológica global demandaria a superação do modelo de desenvolvimento inaugurado na modernidade e uma mudança de perspectiva que demandaria novos aprendizados individuais, coletivos, horizontais, verticais e interdisciplinares.  

** Ao longo dos últimos anos, as ONGs desenvolveram projetos voltados à resolução de problemas considerados urgentes e imediatos. 
-- Elas popularizaram as técnicas de agroecologia, forneceram alternativas de emprego e renda a moradores de UC e seu entorno, desenvolveram técnicas sustentáveis de abastecimento de água para zonas semi-áridas, realizaram mutirões para recomposição florestal, desenvolveram projetos de co-gestão de áreas protegidas com parceiros governamentais. 
-- O público preferencial dessas ONGs são populações apartadas (seringueiros, ribeirinhos, sertanejos, etc.). 


"À medida em que encontraram soluções muitas vezes simples e baratas para problemas que pareciam insolúveis, seus recursos de poder e legitimidade aumentaram numa intensidade antes inimaginável". Pp. 46


** Foco na ação transformadora >>> ONGs como agentes do aprendizado social. "O discurso político anterior de contestação e crítica social está perdendo intensidade em nome de um esforço pactuado para dar uma destinação social ao conhecimento técnico-científico interdisciplinar, visando a sustentabilidade dos sistemas naturais e melhoria de vida às coletividades pobres que deles dependem diretamente". PP. 46. 

** Resultados >>> Diálogo intenso entre categorias extremamente diferenciadas de sujeitos: do lado das ONGs encontram-se grupos sociais oriundos das classes médias urbanas intelectualizadas; do outro lado, os apartados, pessoas que são atendidas por essas mesmas ONGs. Si
-- Situação de aprendizagem social intensa e de grande impacto para ambos os pólos da relação (FINGER, 1996).
-- Troca de códigos culturais diferenciados, de sonhos, de expectativas, de crenças, de valores, de modos de fazer e interpretar o próprio feito.


OUTRO DO AMBIENTALISMO, OU DE COMO ENSAIAR CONCLUSÕES
** Particularismos X Universalismos. Contida pela internacionalização das discussões. O ambientalismo se pretende universalizante.

** As propostas das ONGs ambientalistas tem privilegiado a manutenção dos ecossistemas, a manutenção da biosfera como um todo e da vida de um modo geral, o que pressupõe o bem estar das coletividades que vivem e se assentam em seus domínios. 
-- Por isso, e pela própria tradição dos movimentos ambientalistas (herdeiros do anarquismo e do socialismo), no Brasil, fala-se em preservação ambiental associada à erradicação da pobreza.

Nexo entre degradação ambiental e pobreza

** Caso emblemático dos anos 1980 >>> Cubatão/SP. Denunciada como um exemplo de supremacia do sistema produtivo e dos interesses econômicos sobre a qualidade de vida da população e sobre a preservação ambiental.

Militantes, grupos de pressão e tendências culturalistas, em conjunto com alguns grupos predominantes no interior da burocracia governamental decodificaram a cultura desenvolvimentista de um modo geral como o adversário fundamental à manutenção dos ecossistemas nacionais e da biosfera como um todo. Pp. 49.

** Pacto entre a tecnoburocracia, os industriais, o operariado e os representantes do Estado pelo desenvolvimentismo >>> Promessa de domínio sobre a natureza e de ilimitada produtividade do trabalho, fatores que, somados, resguardariam o direito individual ilimitado ao bem estar.  

** As ONGs delimitaram o "campo ambiental" e dentro dele, elas exercem papel preponderante. A sua ação cotidiana foi a chave de seu sucesso, não as suas promessas universalizantes. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Esquema de Leitura: Biologia: Ciência Única, de Ernst Mayr

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós-Graduação / Doutorado
Disciplina: Conservação da Biodiversidade e Processo Evolutivo
Professores: José Augusto Drummond e José Luiz de Andrade Franco
Aluna: Juliana Capra Maia
Ficha de Leitura
Texto: MAYR, Ernest. Biologia: ciência única: reflexões sobre a autonomia de uma disciplina científica. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 



** Contribuiu para a Grande Síntese, para o Neodarwinismo.
** Mayr é o Darwin do século XX.
** Preocupação com a cientificidade da Biologia. Discussões em Filosofia da Ciência. Instigado por Karl Popper, para quem o darwinismo era uma espécie de teologia, doutrina ocultista.
** Vitalismo: Bergson e Kant.


CAPÍTULO 01: CIÊNCIA E CIÊNCIAS

** A Biologia é uma ciência.


** "Ciência é o esforço humano para alcançar um entendimento melhor do mundo, por observação, comparação, experimentação, análise, síntese e conceitualização". Pp. 27.

** Não obstante o conhecimento construído na Grécia Antiga, aceita-se de maneira mais ou menos generalizada que a chamada "Revolução Científica" dos séculos XVI e XVII foi o início real do que hoje é chamado "Ciência". 
  • Observação >>> Para Galileu e seus seguidores, a Ciência não era uma alternativa à religião, mas uma parte inseparável dela. Isso permaneceu verdadeiro até a primeira metade do século XIX, período em que os avanços científicos conseguiram encontrar explicações naturais para cada um dos fenômenos que requeriam a presença de Deus. 
** Primariamente, havia a Mecânica e a Astronomia. Por isso, o conceito de "Ciência" foi construído com base nos métodos e objetivos da Mecânica e da Astronomia.

** Definição de Leibniz: "Ciência era um corpo de doutrina que podia ser conhecido sistematicamente e com alto grau de certeza; contrastava com 'opinião', aquilo que só pode ser conhecido com grau menor de certeza, ou com 'arte', aquilo que exigia mais prática que doutrina" (Garber e Ariew, 1998, apud. Mayr, pp. 29). Incluía as ciências naturais, a história natural, a matemática, a metafísica, a teologia, a história e a linguística. Perdura na dicotomia alemã entre Geisteswissenchaften e Naturwissenchaften. Há, contudo, grandes dificuldades conceituais na separação rígida entre Geisteswissenchaften e Naturwissenchaften.

** Galileu (1564 - 1642) descreveu a "Ciência" tal como a Mecânica. Não percebeu que sua descrição incluía dois conjuntos diversos de características: aquelas válidas para todas as ciências e aquelas válidas exclusivamente para a Mecânica. 
"A física com fundamentação matemática se tornou a ciência exemplar para Galileu, Newton e todos os outros gigantes da Revolução Científica. Tal interpretação fisicalista dominou o pensamento dos filósofos da ciência. E assim permaneceu pelos 350 anos subseqüentes". Pp. 30. 
** A matemática permaneceu como marca registrada da verdadeira ciência. 

** Argumento central >>> A epistemologia construída a partir dos padrões da Física não é adequada à Biologia. Nisso se incluem as teorias da ciência de Hempel, Nagel, Popper e Kuhn. 

** A partir da Revolução Científica, houve proliferação de campos do conhecimento que buscaram seguir a metodologia científica.

** Biologia >>> Fundamentos assentados nos avanços das Escolas Médicas a partir do século XVI (anatomia, embriologia, fisiologia) e da História Natural. 

** Filosofia da Biologia >>> Ignorada. No século XX, Bergson e Driesch buscaram os fundamentos filosóficos da Biologia no vitalismo e na teleologia.


Anotações de aula

** Séculos XVI e XVII. Revolução científica. Newton, Descartes, Galileu.
** Física: rainha das ciências. Problema: estender a todas as outras disciplinas os critérios de cientificidade da Física (em especial, a Astronomia e a Mecânica).
** Ciência passou a ser sinônimo de linguagem da matemática.
** Se fosse possível traçar uma reta que separa as disciplinas científicas das disciplinas não científicas (o que o autor entende que não é viável), a Biologia estaria bem no meio. Ela contempla abordagens experimentais e abordagens históricas.
  • Consolidação das subdisciplinas: embriologia, genética, história natural, que acabaram se consolidando no que conhecemos hoje como Biologia.


CAPÍTULO 02: A AUTONOMIA DA BIOLOGIA

** Foram necessários mais de 200 anos e 03 conjuntos de eventos antes que a Biologia fosse reconhecida como disciplina científica, quais sejam: 


(A) Refutação de certos pressupostos básicos equivocados >>> "A Biologia não poderia ser reconhecida como uma ciência da mesma categoria da física enquanto a maioria dos biólogos aceitasse certos princípios explicativos básicos que não encontram apoio nas leis das ciências físicas e que depois seriam tidos como inválidos". Pp. 36/37. Principais: Vitalismo e Teleologia Cósmica.
1. Vitalismo >>> Crença em uma força invisível que controla as manifestações de vida. Lebenskraft ou vis vitalis. Popular entre os séculos XVII e XX. Henri Bergson e Hans Driesch foram vitalistas proeminentes no século XX. Seu declínio ocorreu quando a Biologia mostrou-se capaz de resolver todos os problemas para os quais os cientistas tradicionalmente haviam invocado o Lebenskraft. O vitalismo teve o mérito de criticar a aplicação da lógica mecanicista da Física (vulgarmente conhecida como "cartesianismo") em matéria de ciências da vida.  
2. Teleologia Cósmica >>> Explicação de processos naturais a partir da ideia de que eles se direcionam a uma causa final. Exemplo: crença de que a vida anseia intrinsecamente pela perfeição. Foi desacreditada pelas descobertas da genética e da paleontologia.  
  
(B) Demonstração que certos princípios básicos da física não podem ser aplicados à Biologia >>> A Biologia compreende dois campos diferentes: a Biologia Evolucionista (ou Histórica) e a Biologia Mecanicista (ou Funcional). Ambos os campos lidam com a pergunta: "o que?". Entretanto, ao passo que a Biologia Mecanicista lida também com a pergunta: "como?" (que pode ser respondida em termos de Física e Química), a Biologia Evolucionista lida com a pergunta: "por que?" (que demanda formulação de hipóteses por meio de narrativas históricas). As ideias de Charles Darwin foram particularmente relevantes para distinguir conceitos da Física aplicáveis e não aplicáveis à Biologia.
1. Essencialismo ou Tipologia >>> Desde os pitagóricos, a diversidade do mundo era vista como limitada a um número certo de essências imutáveis (eide). A variação era entendida como acidental e inessencial. Em Biologia, deu origem à enganadora concepção de raças humanas.
2. Determinismo >>> Crença segundo a qual, na natureza, não há espaço para a variação, para os eventos casuais ou aleatórios.  
3. Reducionismo >>> Crença de que a explicação de um sistema pode ser obtida por meio da redução desse sistema aos seus menores componentes. Uma vez completo o inventário e definida a função de cada parte do sistema, seria fácil compreender o todo. 
4. Ausência de leis naturais universais >>> Os filósofos com formação em Física e Matemática preconizam a enunciação de leis naturais como objetivo de toda ciência. Na Biologia, as leis universais desempenham um papel secundário face à força do acaso e da aleatoriedade em sistemas biológicos. Não fosse suficiente, há diversos fenômenos que são excepcionais e de natureza histórica. Em Biologia, trabalha-se prioritariamente com "conceitos" (exemplos: seleção, especiação, filogenia, competição, população, estampagem, adaptação, biodiversidade, desenvolvimento, ecossistema e função), não com "Leis".        
"Devido à natureza probabilística da maioria das generalizações em biologia evolucionista, é impossível aplicar o método da falsificação de Popper para teste de teorias, porque o caso particular de uma aparente refutação de determinada lei pode não ser mais que uma exceção, como é regra comum em biologia. A maioria das teorias em biologia não se baseia em leis, mas em conceitos". Pp. 44.


(C) Percepção do caráter único de certos princípios básicos da biologia, que não são aplicáveis ao mundo inanimado >>>  A Biologia é uma ciência autônoma. Uma Epistemologia da Biologia deve se basear primariamente nas características peculiares do mundo vivo, embora isso não proíba uma explicação físico-química estrita do plano celular-molecular.  
1. Complexidade dos sistemas vivos >>> Os sistemas inanimados são estruturalmente muito mais simples que os sistemas vivos. Reduzir os sistemas vivos às suas menores partes integrantes não ajuda a compreendê-los. "Devido à sua complexidade, sistema biológicos são dotados, de modo profuso, de qualidades como reprodução, metabolismo, replicação, regulação, adaptação, crescimento e organização hierárquica. Nada desse gênero existe no mundo inanimado". Pp. 45. Ademais, sistemas vivos são únicos e estão sujeitos à evolução. Pensamento populacional (Biologia) X Pensamento tipológico (Física). Os processos biológicos são controlados por fenômenos físicos e por programas genéticos.
2. Biologia Evolucionista como ciência histórica >>> A Biologia Evolucionista lida com fenômenos únicos, tais como a extinção dos dinossauros e a origem dos seres humanos. Não há como explicar esses acontecimentos por meio de leis, nem responder aos questionamentos dessa disciplina por meio de experimentos. Método das narrativas históricas, que é uma metodologia das Geisteswissenchaften.   
3. Acaso >>> Grande gerador de variação. Aspecto mais criticado da Teoria da Seleção Natural.  
4. Pensamento holístico >>> Nos sistemas vivos, ocorrem interações em todos os níveis: entre genes, entre genes e tecidos, entre células, entre organismos, entre organismos e ambiente. Reduzir os sistemas vivos a pequenas partes não fornece explicações suficientes. Em Biologia, interessam os fenômenos do mesocosmos.


CAPÍTULO 03: TELEOLOGIA

** Teleologia >>>
  • Ideologia que mais influenciou a Biologia;
  • Visão de mundo que prevalecia antes de Darwin;
  • Raízes nas crenças milenaristas cristãs, no entusiasmo pelo progresso promovido pelo Iluminismo, no evolucionista e na esperança em um futuro melhor;
  • Teleologia deísta  >>> O cosmos teria uma meta definida: o mundo em sua perfeição final, tal como concebido por seu criador e efetivado por Suas leis;
  • Reforçada pela Filosofia. O conceito de Scala Naturae, a escala da perfeição, refletia a crença em uma progressão ascendente ou de avanço na disposição dos objetos naturais. Bergson, Leibniz, Herder. Posicionamento adequado em um tempo em que a Biologia era rudimentar, não nos tempos atuais. 
     "Causas finais, no entanto, são muito mais plausíveis e agradáveis para o leigo que o aparentemente tão acidental e oportunista processo de seleção natural. Por essa razão, a crença em causas finais teve influência muito maior fora da biologia que dentro dela". Pp. 59. 

** Teorias Biológicas fundadas na Teleologia >>>

  • Teoria de Evolução Transformacionista de Lamarck.
  • Teoria da Ortogênese, bastante popular na Alemanha e na França (Bergson, Estados Unidos, Rússia). Postulava que o impulso pela evolução constante era imanente às espécies. Impulso intrínseco. 
** Origem das Espécies >>> "Golpe mortal de Darwin à Teleologia". Profecia que demorou mais de 100 anos para se concretizar, isto é, até a Síntese Evolucionista ocorrida nas décadas de 1930 e 1940.

** Categorias de teleologia  >>>  A palavra "teleologia" vem sendo indistintamente utilizada para significar processos e objetos diversos, quais sejam:

  • Processos teleomáticos: Mudanças de estado realizadas  automaticamente, naturalmente. A questão: "para quê?" é inapropriada para eles. Exemplo: decaimento radioativo; a água entra em ebulição a 100º;
  • Processos teleonômicos: Devem sua orientação por uma meta à influência e um programa evoluído. Dependem da posse de um programa genético. Exemplos: migração de aves, desenvolvimento de embriões. Não existem na natureza inanimada. Pode envolver programas fechados, tal como parece ser o caso dos insetos (instruções completas são dispostas no DNA do genótipo) ou programas abertos, que regem os animais superiores (algumas instruções são dispostas no DNA do genótipo).
  • Comportamento com propósito em organismos pensantes: Teleologia como aspecto da psique humana. Propósito, intenção, planejamento, estratégia e consciência. Há exemplos de teleologia (sob essa abordagem) no comportamento animal e no comportamento humano. 
  • Características adaptadas: Características que contribuem para a adaptação de um ser vivo. Uso inadequado, enganador, baseado na crença de que o desenvolvimento de características adaptativas implica um caminho, a priori, rumo à perfeição ou ao melhoramento do indivíduo. Levou os biólogos a fazerem perguntas do tipo "por quê? e "para quê?'". 
  • Teleologia cósmica: Crença segundo a qual a mudança do mundo se deve a uma força interior, a uma tendência natural em direção ao progresso e ao aperfeiçoamento. Amplamente preponderante até o século XIX. Derrubada por Charles Darwin. Atualmente, está desacreditada. 
     O reconhecimento de que quatro supostos processos teleológicos -- isto é, processos teleonômicos, processos teleomáticos, a obtenção de adaptação por seleção natural e o comportamento proposital -- são fenômenos estritamente materiais privou a teleologia de seu mistério anterior e de ressonâncias sobrenaturais. 
     Existe adaptação [...] na natureza viva, mas Darwin mostrou que sua origem pode ser explicada de maneira materialista. Embora existam de fato muitas atividades e processos orgânicos que são claramente orientados por metas, não há necessidade de envolver forças sobrenaturais, porque a meta já está codificada  no programa que dirige essas atividades. Tais processos teleonômicos, em princípio, podem ser reduzidos a causas químico-físicas. Afinal, existem na natureza inorgânica todos os processo que tendem a um fim e se devem simplesmente à operação de leis naturais, tais como gravidade e leis da termodinâmica. Nenhum dos quatro processos teleológicos reconhecidos opera retroativamente desde uma meta futura; não existe causação retroativa. Isso refuta a freqüente alegação de um conflito entre explicações causais e teleológicas. Tal alegação poderia ser verdadeira se a teleologia cósmica existisse, mas é inválida para os quatro casos de teleologia hoje aceitos pela ciência. Pp. 80. 


ANOTAÇÕES DE AULA: TELEOLOGIA
** Influenciou a Biologia até Darwin. 03 correntes principais:
  • Mundo constante e recém-criado. Visão do cristianismo ortodoxo.
  • Demócrito: mundo constante, sem meta. Mudança por meio de mecanismos causais.
  • Deístas, vitalistas. Progresso em direção à perfeição.

** Refutação das diversas linhas da teleologia.

** Apresentação da Teleologia >>
  • Processos teleomáticos: processos mecânicos que se dirigem a um fim.
  • Processos teleonômicos: mudanças que obedecem a uma programação de um organismo superior.
  • Comportamentos específicos em organismos pensantes: caça, armadilhas, construção de abrigos, etc.
  • Características adaptativas. Kant entendia que as características adaptativas estavam orientadas ao alcance da perfeição pelos seres.
  • Teleologia cósmica. Crença de que a mudança do mundo se deve a uma força interior em busca de uma perfeição crescente. Teístas: a mudança se deve ao planejamento de um grande arquiteto (Deus).


CAPÍTULO 04: ANÁLISE OU REDUCIONISMO

** Análise é a dissecação um fenômeno complexo em componentes menores, cada um dos quais estudado em separado. Configura operação conhecida desde os primórdios da Filosofia Grega, entre os Jônicos. Contribuiu imensamente para o desenvolvimento da Biologia.
** Na disputa entre vitalistas e mecanicistas, os mecanicistas passaram a demandar que todos os fenômenos vivos fossem analisados até os menores elementos para demonstrar que inexistia resíduo que não pudesse ser explicado em termos de Física e Química. 
** Com o tempo, cunhou-se o termo "reducionismo" para significar a explicação dos fenômenos biológicos em termos de Química e Física. Seus opositores passaram a ser denominados "anti-reducionistas". 
     A composição dos dois partidos, os reducionistas e os não-reducionistas, mudou de maneira um tanto drástica ao longo do tempo. Enquanto o vitalismo ainda estava vivo e era promovido por autores destacados como Driesch, Bergson, J. B. S. Haldane , Smuts e Meyer-Abich, todos os biólogos não vitalistas adotavam de um modo ou de outro o credo reducionista. No entanto, depois que o vitalismo se tornou obsoleto, a crença no reducionismo estrito ficou cada vez mais confinada aos fisicalistas, ao passo que a maioria dos biólogos adotava um organicismo holista. Eles aceitavam a análise construtiva, mas rejeitavam as formas mais extremas de reducionismo.
     Mesmo no já adiantado século XX, filósofos confundiam análise e redução de maneira quase contínua. No entanto, ter isolado todas as partes, mesmo as menores, não é suficiente para uma explicação completa da maioria dos sistemas, tal como alegado pelos reducionistas. Para uma explicação completa, é necessário entender também a interação entre essas partes. PP. 85.  

** Com o tempo, cunhou-se o termo "reducionismo" para significar a explicação dos fenômenos biológicos em termos de Química e Física (Biologia Molecular). Seus opositores passaram a ser denominados "anti-reducionistas" ou holistas.


** "A análise só continua a se aprofundar até o ponto em que colhe informação nova e útil e nãos alega que "as menores partes" fornecem todas as respostas". Pp. 87. Ela permite o estudo separado de cada componente e sua contribuição para o funcionamento do todo.


** Redução explicativa >>> Parte da convicção de que o todo não é mais do que a soma aditiva das suas partes. Propriedades emergentes não existiriam. Dessa forma, para compreender os fenômenos biológicos, seria necessário reduzi-los aos seus componentes físico-químicos, os quais, por sua vez, teriam o poder de explicar todas as propriedades dos níveis superiores. A experiência demonstrou que, para a maior parte dos fenômenos biológicos, a redução tem pouco poder explicativo porquanto:


  • O que interessa no estudo de um sistema complexo é a sua organização. Isso vale tanto para o mundo vivo quanto para o mundo inanimado;
  • Em sistemas complexos, não raro surgem (por meio de novas interações) propriedades que não são explicitadas nos respectivos componentes menores e que não são previsíveis a partir do conhecimento acerca desses mesmos componentes. São as "propriedades emergentes". Exemplo: aquosidade da água, fruto da interação entre dois gases (o Hidrogênio e o Oxigênio).      


** Redução de teorias >>> Postulado segundo o qual teorias e leis de um campo científico não seriam mais que casos especiais de teorias e leis formuladas em algum outro ramo da ciência, mais básico, normalmente a Física. Para "unificar" a ciência, seria tarefa do epistemólogo reduzi-las a apenas uma. A redução de teorias foi preponderantemente uma preocupação de filósofos da ciência, não de cientistas. Apresenta sérias dificuldades, dado que os quadros conceituais das disciplinas são bastante diversos.  



Autonomia da biologia
** Pressupostos >>
(01) Refutação do vitalismo. O vitalismo pressupunha que a diferença entre os seres vivos e os seres não-vivos era a existência de uma “força” sagrada, tal qual a força da gravidade.   
(02) Refutação da teleologia aristotélica. Pressuposto de que tudo se moveria em direção à perfeição.
(03) Demonstração de que princípios da Física não se aplicam à Biologia.  Apresentação de princípios exclusivos da Biologia. Crítica ao essencialismo (inclusive fixidez das espécies); crítica ao determinismo (isto é, às relações de causalidade); crítica ao reducionismo (para Mayr, o todo é mais do que a soma das partes); críticas às generalizações (os sistemas vivos são muitas vezes mais complexos que os sistemas físicos).


Para Mayr, as teorias da Física são baseadas em leis. As teorias da Biologia não são baseadas em leis, são baseadas em conceitos.

** Complexidade dos sistemas biológicos. Sistemas biológicos são sistemas abertos. Possuem causalidade dual, reprodução, evolução, produzem interações.  
  • O evolucionismo é uma ciência histórica. É apreciada a sua coerência interna.
  • Interações. Típicas dos sistemas biológicos e inexistentes na Física.
  • Mesocosmo >> a Biologia vai do átomo até a galáxia. A Física, por sua vez, estuda realidades subatômicas e astronômicas além da galáxia.
** Charles Darwin, revolucionou as diversas disciplinas, a religião, a cultura e a própria autoimagem do homem. Seu nome ficou associado a ateus, agnósticos, materialistas.
  • Buffon e Lamarck: constataram a evolução das espécies, mas não encontraram a sua causa. Desse modo, não excluíram Deus como responsável pelo processo. Por esse motivo, seu impacto na história das ideias foi menor.
  • Darwin. Aceita a evolução das espécies e a explica por meio da seleção natural. Descendência comum: por meio da reprodução, organismos simples evoluíram para organismos complexos. Exclusão de Deus como responsável pelo processo.
  • A variabilidade e as mutações genéticas são frutos do acaso, não de uma seleção em favor dos melhores ou dos mais perfeitos.
  • A seleção natural exclui a teleologia cósmica. Diante de determinados ambientes, alguns indivíduos estão mais adaptados a sobreviver e a reproduzir. Outros, menos adaptados, são eliminados.

ANOTAÇÕES DE AULA

** Reducionismo >> Crença de que os organismos podem ser explicados a partir da análise das suas menores partículas. Problema: a redução em partículas microscópicas não contribui, necessariamente, para a compreensão dos objetos. Essa abordagem não lida com as “propriedades emergentes”. Física e Química lidam com partículas e elementos. A Biologia estuda uma propriedade emergente em relação às partículas e elementos, qual seja, a vida. As Ciências Sociais, por sua vez, lidam com uma terceira propriedade emergente: a cultura.  


CAPÍTULO 06: As cinco teorias da evolução de Darwin
** De acordo com Mayr, o paradigma darwiniano é composto de 05 teorias principais logicamente independentes, o que permite a aceitação de algumas e a rejeição de outras por autores evolucionistas após 1859 (em especial: Lamarck, Haeckel, T.H. Huxley, os neolamarckistas, De Vries e T.H. Morgan).
  • Tratá-las como uma única teoria (e o próprio Darwin o fez) levou a severas controvérsias no âmbito da Biologia.
** A evolução não pode ser uma única teoria porque envolve pelo menos dois fenômenos: diferenciação no tempo e diversificação no espaço.     
** Teorias que compõem o paradigma darwiniano: 
  • Evolução propriamente dita >> Teoria da inconstância das espécies. Segundo ela, o mundo não é constante, mas está em movimento, de modo que os organismos vêm sofrendo transformações ao longo do tempo. Testemunho dos fósseis.
  • Descendência comum >> Teoria segundo a qual cada grupo de organismos descende de uma espécie ancestral comum. As expressões “descendência comum” (visão retrospectiva) ou “ramificação” (visão prospectiva) designam o mesmo fenômeno. Precursor: Buffon. Teoria não aceita por Lamarck, que imaginava uma separação em grandes táxons, não em separação no nível das espécies ou mesmo da possibilidade de ramificação regular. A teoria da descendência comum foi aceita com entusiasmo e auxiliou a robustecer a classificação dos seres vivos. Com o tempo, ficou comprovado – pela citologia e pela bioquímica – que mesmo animais e vegetais tiveram um ancestral comum unicelular. A inclusão dos seres humanos na linha total de descendências foi o único ponto que encontrou resistência vigorosa. Na Inglaterra vitoriana, não se aceitava que seres humanos pudessem ter ancestrais comuns com outros primatas.  
  • Gradualismo versus saltacionismo >> A evolução – tanto das espécies quanto dos táxons – ocorre gradualmente, nunca aos saltos. O gradualismo representou um afastamento drástico da tradição. As teorias saltacionistas eram afins ao essencialismo: e a maioria dos teóricos da época eram essencialistas. O gradualismo de Darwin se afinou com pensamento populacional: gradualismo tornou-se sinônimo de evolução populacional. Durante a Grande Síntese, o gradualismo acabou por sagrar-se vencedor, tanto mais diante das evidências encontradas pelos geneticistas (poligenia e depleiotropia). Debate entre catastrofistas (e após o dilúvio surgiram novas espécies...) e unitarianistas.
  • Multiplicação de espécies >> Explicação da origem da enorme diversidade orgânica: afinal, como surgem as novas espécies? Nem Lamarck, nem Lyell enxergavam a possibilidade de separação de uma espécie-mãe em diversas espécies-filhas. Observação: o conceito de espécie não é baseado na morfologia, mas na reprodução. Indivíduos da mesma espécie são aqueles que se unem para reproduzir (isolamento reprodutivo). A especiação ocorre por variação geográfica ou por preferência de nicho dentro da mesma localidade (especiação simpátrica). Teoria que ainda gera polêmicas, mesmo depois de mais de 145 anos da publicação de Origem das Espécies (dificuldade de reconstituição das sequências históricas; ignoramos o que acontece, em termos genéticos, durante a especiação; mecanismos genéticos distintos para diferentes tipos de organismos).  
  • Seleção natural >> Teoria mais ousada e inovadora de Charles Darwin. Tratava de como a mudança evolutiva podia dar conta da aparente harmonia e adaptação do mundo orgânico. Substituição da teleologia da natureza por uma explicação mecânica. Ocorre por meio de duas etapas: produção de variação e sua discriminação por seleção e eliminação. A seleção natural é uma propriedade populacional: toda seleção tem lugar em populações e altera a composição genética de cada população, geração após geração. Trata-se da teoria de Darwin que encontrou resistência mais acirrada: a sua aceitação implicava rejeição da Teleologia Cósmica. Rejeição de qualquer determinismo no mundo orgânico: a seleção natural é oportunista. A Seleção Natural só foi plenamente aceita entre os próprios biólogos após a Grande Síntese.
** Destino das teorias de Darwin >>
  • Evolução e descendência comum foram adotadas depressa, em no máximo 15 anos.
  • O gradualismo acabou sendo aceito após diversas batalhas, até porque é um conceito difícil para quem não adota o pensamento populacional.
  • A multiplicação das espécies, tal como formulada por Wallace e por Darwin, é tomada como certa. O modo como a multiplicação acontece ainda é controverso.
  • A seleção natural, atualmente, é aceita por quase todos os biólogos. As teorias rivais (finalistas, neolamarckistas e saltacionistas) foram amplamente refutadas e não são mais levadas a sério.
[...] quando se consideram todas as modificações feitas nas teorias darwinianas entre 1859 e 2004, descobre-se que nenhuma dessas mudanças afeta a estrutura básica do paradigma darwiniano. Não há justificativa para a alegação de que o paradigma darwiniano foi refutado e tem de ser substituído por algo novo. Fico impressionado e acho quase um milagre que Darwin tenha chegado em 1859 tão perto do que seria considerado válido 145 anos depois. E essa extraordinária estabilidade do paradigma darwiniano justifica que seja aceito tão amplamente como um fundamento legítimo para a filosofia da biologia e, em particular, como base para a ética humana. Pp. 131 e 132.  


CAPÍTULO 07: Maturação do darwinismo
** Foram necessários 80 anos para que os biólogos compreendessem plenamente o que era o darwinismo. Durante esse período, houve severas divergências entre eles. No século XIX, por exemplo, darwinismo era sinônimo de anti-criacionismo. Em outras palavras, alguém era rotulado como darwinista se aceitasse a ciência como uma empreitada secular:
  • 1859 – 1882. Aceitação imediata de duas das cinco teorias de Darwin: a evolução e a descendência comum. As outras três, entretanto, causavam diversas controvérsias. Darwin acabou por adotar a herança de características adquiridas + seleção natural para explicar a ubiquidade das novas variações.
  • 1883 – 1899. August Weismann refuta a teoria da herança de características adquiridas. Abriu caminho para Mendel. O darwinismo revisado por Weismann ficou conhecido como “Neodarwinismo”.
  • 1900 – 1909. Redescoberta da obra de Gregor Mendel. Os geneticistas mendelianos interessados em evolução rejeitavam a seleção natural, pedra de toque do pensamento darwiniano. Entendiam que novas espécies surgiam mediante mutações genéticas que, em um único salto, dá origem a um novo táxon (mutacionismo). Autores filiados a essa corrente: Hugo de Vries, William Bateson e Wilhelm Johannsen. Havia outros geneticistas, que aceitavam o gradualismo das evoluções genéticas. Mesmo assim, o saltacionismo dominou a genética até 1915, o que colaborou para a criação de um fosso entre geneticistas mendelianos e evolucionistas. Período de mais baixa credibilidade do darwinismo.
  • 1910 – 1932. Desenvolvimento de metodologias e teorias inovadoras no campo da genética. Distanciamento do transmutacionismo dos mendelianos. Pesquisas com drosófilas demonstraram que a maioria das mutações era pequena o bastante para permitir mutações graduais das populações. O saltacionismo foi, então, considerado obsoleto. Síntese fisheriana. 

De acordo com a teoria mais ou menos unificada de Fisher e seus colegas, a evolução foi definida como frequência nas mudanças gênicas em populações, mudança essa ocasionada pela seleção natural gradual de pequenas mutações aleatórias. Já em 1932, um consenso sobre esses achados havia sido alcançado entre as várias escolas de geneticistas em disputa. Foi uma síntese entre geneticistas populacionais matemáticos e selecionistas darwinianos. Tal síntese, que se pode chamar de fisheriana em reconhecimento a seu maior representante, solucionou um dos dois maiores problemas da biologia evolucionista, o da adaptação. Pp. 137.

  •  1937 – 1947. Segundo problema da biologia evolucionista: a explicação da origem da biodiversidade, não solucionado pela síntese fisheriana.
Na realidade, os naturalistas europeus, por meio de seu trabalho em taxonomia e história natural, já dispunham nos anos 20 de uma explicação para a origem da biodiversidade. De acordo com esses naturalistas-taxonomistas, a especiação ocorre quando duas populações de uma espécie se tornam fisicamente separadas uma da outra e, durante esse isolamento espacial, se tornam também reprodutivamente isoladas, seja por meio de barreiras de infertilidade, seja por incompatibilidades comportamentais (mecanismos de isolamento). Às vezes, a separação geográfica ocorre por causa de uma nova barreira física (uma nova cadeia de montanhas ou um novo braço de mar), ou especiação dicopátrica, e às vezes porque uma população fundadora se estabelece além da área de distribuição anterior da espécie, ou especiação peripátrica. Se a população geograficamente isolada contiver o potencial para uma divergência importante, uma nova espécie se ramificará da espécie parental. Tanto a especiação dicopátrica quanto a peripátrica são designadas como especiação geográfica. Pp. 139.

a) Normalmente, geneticistas populacionais matemáticos estavam preocupados com a dimensão vertical ou temporal da evolução; naturalistas, com a dimensão horizontal ou geográfica da evolução. 
b) A ruptura entre geneticistas e evolucionistas, ocorrida no início do século, provocou um abismo entre eles. Não havia diálogo e, por esse motivo, cada campo desconhecia as descobertas do outro. Os evolucionistas, por exemplo, continuaram criticando o saltacionismo dos geneticistas mendelianos, mesmo quando essa questão já havia sido superada na síntese fisheriana. 
c) Esse abismo só foi superado pela síntese evolucionista, ocorrida nos anos 1940, cujo principal foco foi a origem e o significado da biodiversidade: como e por que surgem novas espécies. 
d) A obra que inaugurou essa síntese foi redigida por Dobzhansky e intitula-se: “Genética e a origem das espécies”. Esse livro mostrou a evolucionistas e a geneticistas que as suas teorias eram perfeitamente compatíveis. Dobzhansky esteve no Brasil e ajudou a mudar a cabeça dos biólogos do Museu.
e) A Síntese Evolucionista, da década de 1940, foi enriquecida com as publicações de Mayr (Sistemática e a origem das espécies); Huxley (Evolução, a síntese moderna); Simpson (Ritmo e modo em evolução); Stebbins (Variação e evolução em plantas) e Rensch. 
f) A Síntese Evolucionista permitiu a rejeição de três teorias não-darwinianas sobre a evolução das espécies que ainda eram aceitas na década de 1930: o lamarckismo, o saltacionismo e a ortogênese (evolução orientada por uma meta). Após a Síntese, essas três teorias deixaram de ser seriamente consideradas nos círculos evolucionistas.
g) Após a Síntese Evolucionista da década de 1940, as controvérsias dos últimos 50 anos tornaram-se assunto para historiadores. Restava apenas uma divergência: qual seria o objeto da seleção natural. Para os geneticistas, seria o gene. Para os naturalistas, o indivíduo. 


  • 1950 – 2000.

a) Revolução molecular, logo após a Grande Síntese. Descoberta do DNA. 
b) A biologia molecular trouxe grandes contribuições. Demonstrou, por exemplo, que os códigos genéticos – desde bactérias até mamíferos – são bastante similares, reforçando a teoria da descendência comum. Demonstrou, também, a impossibilidade de ocorrência de herança de caracteres adquiridos. 
c) Genômica. Físicos e bioquímicos passaram a se interessar por evolução. Contribuição para a unificação da biologia. 
d) Reestruturação revolucionária da filogenia de diversos grupos de organismos.
** A solidez do atual paradigma darwiniano. O paradigma darwiniano, produzido nos anos 1940 durante a Grande Síntese e denominado “teoria sintética da evolução” (“evolução é o resultado de variação genética e de sua discriminação por meio de eliminação e seleção”. Pp. 145 e 146), resistiu, sem mudanças radicais, a todos os ataques desferidos nos últimos 50 anos, a todas as revoluções científicas testemunhadas pelo século XX. Fracasso do reducionismo. A sua resistência indica maturidade.  


CAPÍTULO 08: Seleção
** Seleção Natural: Pedra fundamental do paradigma evolucionista de Darwin, embora tenha sido a última das teorias a ser aceita pelos seus seguidores. Ainda encontra resistência entre religiosos praticantes.
** O que é seleção?
  • “Sucesso reprodutivo diferencial não aleatório”. (pp. 149).
  • Para Darwin, a seleção era um processo simples. A cada geração, havia grandes taxas de mortalidade, de modo que apenas os melhores sobreviviam.
  • “Seleção”: termo tomado de empréstimo dos criadores de animais e melhoristas de plantas. Esses sujeitos escolhem os melhores indivíduos para atuarem como reprodutores. Há um outro método: o do “descarte”. Descartar consiste em eliminar determinados indivíduos considerados inferiores. 
  • A natureza atuaria da mesma forma. Em anos de escassez, apenas os melhores indivíduos sobrevivem; em anos de abundância, apenas os piores são descartados. 
  • A seleção por eliminação explica muito melhor a variedade da vida do que a tese da “seleção do melhor”, contemplada pela literatura evolucionista clássica.
  • Eliminação dos menos aptos << >> Imprevisibilidade da Evolução
** Seleção Natural: um processo de duas etapas.
  • Cada etapa do processo evolutivo é marcada, simultaneamente, pela variação (caracterizada pela predominância do acaso) e pela seleção.
  • Os opositores do darwinismo sempre questionaram o fato de a seleção ter tolerado tantas e tão aberrantes tendências evolutivas. De fato, sob a perspectiva da seleção do melhor, elas não teriam tido chance alguma. No entanto, a partir do conceito mais tolerante de eliminação dos piores, há grande espaço para fenótipos diferentes, com diferentes capacidades de se adaptarem às contingências ambientais.
  • A seleção natural não pode “produzir qualquer coisa”. As suas opções, na verdade, seriam limitadas.
** Seleção para sucesso reprodutivo. PP. 154.
  • A adaptação ocorre no fenótipo. É o fenótipo que se adapta, de acordo com as condições ambientais.
  • Seleção não se dá segundo uma finalidade. Há muita aleatoriedade.
  • Seleção ocorre preservando os mais aptos e cortando os menos aptos.


CAPÍTULO 09: As revoluções científicas de Thomas Kuhn acontecem mesmo?
** Estrutura das Revoluções Científicas. De acordo com Thomas Kuhn, a ciência avança por meio de revoluções científicas ocasionais, separadas por longos períodos de “ciência normal”.
  • No curso de uma revolução, ocorre a adoção de um paradigma completamente novo, que dominará o período subsequente de realização de ciência normal.
** Paradigma: matriz disciplinar. Não é apenas uma teoria, mas um sistema de crenças, valores e generalizações simbólicas.
  • Incomensurabilidade entre paradigmas velho e novo.
** Para avaliar a validade da tese de Kuhn, Mayr avaliou a história da biologia e de seus diferentes subcampos.

a) Macrotaxonomia. Classificação descendente e classificação ascendente. A classificação ascendente não eliminou a classificação descendente. Os dois métodos continuaram a existir, ainda que com objetivos diferentes. Tampouco as teorias darwinianas provocaram revoluções na taxonomia.


b) Biologia evolucionista.

  • Apesar das descobertas geológicas e arqueológicas levadas a efeito nos séculos XVII e XVIII, as abordagens teológicas não foram erradicadas. Ao contrário, elas continuaram a existir, paralelamente com as teses evolucionistas desenvolvidas por autores como Buffon, Diderot, Lamarck, entre outros.
  • A enunciação das teorias darwinianas consiste em uma verdadeira revolução científica, talvez uma das maiores da história. Mesmo assim, ela não se encaixa no conceito de revolução científica abraçado por Thomas Kuhn. É que o darwinismo era um pacote de teorias, não uma teoria isolada.
  • Desse modo, poderíamos falar em duas revoluções cientificas movidas pelo darwinismo: a primeira sendo a aceitação da evolução por descendência comum (substituiu o modelo de evolução por linha reta; substituiu o conceito de criação especial); a segunda, pela teoria da seleção natural, que só foi plenamente aceita na década de 1940.
  • Pergunta-se: entre 1859 (quando a Teoria da Seleção Natural foi enunciada) e a década de 1940 (quando foi aceita), praticou-se ciência normal? Mas e as contribuições revolucionárias desse período, tais como a refutação da herança de características adquiridas, a rejeição da hereditariedade com mescla, o desenvolvimento do conceito biológico de espécie, a descoberta da fonte de variação genética? O que foram essas contribuições, dentro do esquema explicativo de Thomas Kuhn? 
Após a adoção generalizada da teoria sintética, digamos que a partir de 1950, modificações de quase todos os aspectos do paradigma da síntese foram propostas e algumas, adotadas. Mesmo assim, não pode haver muita dúvida de que ao longo do intervalo entre 1800 e o presente tenha existido períodos de relativa quietude na biologia evolucionista e outros de mudança e controvérsia bem vigorosa. Em outras palavras, não estão corretas nem a imagem kuhniana de revoluções curtas e bem definidas e de longos períodos intercalados de ciência normal, nem a de seus opositores mais extremos, de progresso lento, firme e regular. Pp. 179.

c) Biologia molecular.
  • Mais revolucionário desenvolvimento da biologia no século XX. Criou novos livros, novos conceitos, novos problemas de pesquisa, novos periódicos, novos métodos experimentais.
  • O desenvolvimento da biologia molecular, contudo, representou uma continuação suave da genética antes de 1953. Não houve rejeição dos saberes até então construídos. Antes, procedeu-se à substituição de abordagens mais grosseiras por outras mais refinadas, além do desenvolvimento de novas metodologias.
  • A ascensão da biologia molecular foi revolucionária, mas não aos moldes kuhnianos.
** A mesma teoria pode ser mais revolucionária em uma disciplina do que em outra. Exemplo: A Teoria da Pangeia foi mais revolucionária na Geologia do que na Biologia. 
** Biologia versus Thomas Kuhn:
  • Não há separação clara entre crise paradigmática e ciência normal.
  • Várias revoluções menores ocorrem mesmo durante os períodos que poderiam ser designados como de “ciência normal”.
  • A introdução de um novo paradigma não resulta na imediata substituição do antigo: não raro, a (s) nova (s) teoria (s) coexiste (m) lado a lado com a antiga. Podem coexistir 03 ou 04 paradigmas.
  • Kuhn não distingue mudanças conceituais e mudanças provocadas por novas descobertas. As mudanças conceituais tendem a ser bem mais radicais (exemplos: inclusão dos seres humanos na árvore da descendência comum; substituição do pensamento essencialista pelo populacional; rejeição da teleologia cósmica).
  • O impacto principal da introdução de um novo paradigma pode ser a aceleração maciça da pesquisa na área. 
** Thomas Kuhn era físico. Os seus escritos sobre as revoluções científicas retratam o saltacionismo e o essencialismo, comuns entre os físicos. Cada paradigma teria uma essência, que só poderia ruir se substituída por outra essência.
  • Teoria incompatível com o gradualismo de um darwinista.
  • “Epistemologia evolucionista”: a ciência avança de forma muito semelhante à do mundo orgânico. O progresso tecnológico também é caracterizado por variação e seleção.
  • Conclusões do autor:
1)   Há com efeito revoluções maiores e menores na história da biologia.
2)   Apesar disso, mesmo as revoluções principais não representam necessariamente mudanças de paradigma súbitas e drásticas. Um paradigma anterior e outro subsequente podem coexistir por longos períodos. Eles não são necessariamente incomensuráveis.
3)   Ramos ativos da biologia não parecem experimentar períodos de “ciência normal”. Sempre há uma série de revoluções menores entre as revoluções principais. Períodos sem tais revoluções somente são encontrados em ramos inativos da biologia, mas pareceria inapropriado chamar esses períodos inativos de “ciência normal”.
4)   As descrições da epistemologia evolucionista darwiniana parecem captar melhor a mudança de teoria em biologia do que a descrição de Kuhn para revoluções científicas. Áreas ativas da biologia vivem a proposição constante de novas conjecturas (variação darwiniana), e algumas têm mais sucesso do que outras. Pode-se dizer que essas são “selecionadas”, até sua substituição por outras ainda melhores. 
5)   É provável que um paradigma dominante seja mais fortemente afetado por um novo conceito do que por uma nova descoberta. Pp. 184.


CAPÍTULO 10: Um outro olhar sobre o problema da espécie
** Problema da “espécie” >> Espécie, indivíduo, célula, gene e população são as unidades mais importantes da biologia. O conceito de “espécie”, utilizado pelos mais diversos ramos da biologia e unidade central para a evolução, recebe diferentes tratamentos, diferentes significações. Afinal, o que é “espécie”?

  • Mayr discutiu o problema da espécie em 64 livros, de 1927 a 2000; descreveu 26 novas espécies e 473 novas subespécies de aves.
  • Crítica ao “conceito filogenético de espécie”, de Wheeler e Meier, publicado em 2000: não consegue satisfazer as indagações dos taxonomistas praticantes. Apelido: “taxonomistas de poltrona”.
  • O conceito de espécie é central para a filosofia da biologia e para a própria compreensão da evolução.
** Problema mais comum: utilização do conceito “espécie” para referir-se a espécie e a táxons de espécies. Página 188. Conceito circular!

  • Conceito de espécie: instrumento heurístico, ferramenta explicativa.
  • Táxon de espécie: populações em particular, concretamente consideradas.
** Espécie >> Desde Platão, Aristóteles até Lineu, no século XIX, definiu-se “espécie” a partir de suas diferenças. Seria uma classe de seres que compartilham certas propriedades morfológicas definidoras, contrastantes com as propriedades de outros seres.
** Conceito tipológico de espécie. De acordo com tal abordagem, as “propriedades definidoras das espécies” seriam constantes e os desvios localizados em relação a tais características seriam meros acidentes (manifestações imperfeitas da essência).

  • Grau de diferença fenotípica.
  • Suportes do conceito tipológico de espécie:
a) Princípio lógico de que a variação deve ser segregada em espécies;
b) Observação dos naturalistas segundo a qual a variação orgânica constituía espécies;
c) Dogma cristão de que a variedade da natureza viva consistia em descendentes do casal de cada gênero criado por Deus no início de tudo.

Assim, Lineu e seus contemporâneos tinham pouca dificuldade em atribuir indivíduos orgânicos a espécies. Com efeito, eles aplicavam esse princípio não só à natureza viva, mas também a entidades inanimadas, tais como os minerais. Uma espécie tipológica é uma entidade que difere das outras espécies por diferenças diagnósticas constantes, mas é subjetivo aquilo que se pode considerar como diferença diagnóstica. O chamado conceito tipológico de espécie não passa de um meio biologicamente arbitrário de delimitar táxons de espécie. Os resultados desse procedimento são classes (tipos naturais) que não têm necessariamente as propriedades de uma espécie biológica. Pp. 190. 

  • Limitações. Arbitrariedade humana. Com o passar do tempo, surgiram as fragilidades do conceito tipológico.
a) Os taxonomistas encontravam espécies cujos indivíduos guardavam sensíveis diferenças fenotípicas provocadas por sexo, idade, estação ou variação genética comum (exemplo: cães). Em alguns casos, os indivíduos se diferenciavam de forma mais acentuada dos demais integrantes da sua espécie do que de integrantes de outras espécies. 
b) Noutros casos, encontravam indivíduos extremamente parecidos, mas com estruturas genéticas totalmente distintas e que não se misturavam, mantendo a sua integridade genética. “Espécies-irmãs” ou “espécies-gêmeas”, particularmente comuns entre protozoários. 
c) Incapacidade de responder ao “por que?” darwiniano: não lança luz a respeito das espécies descontínuas, reprodutivamente isoladas; nada diz sobre o significado biológico de espécies.  
  • A morfologia ainda é utilizada para reconhecer espécies, com os devidos cuidados. É um passo inicial desse processo: não é definitivo e, por vezes, é enganoso.
** Conceito biológico de espécie (CBE) >> Ancoramento na reprodução, na relação  genética, e não na diferença morfológica. Conceito obtido a partir da observação de naturalistas. Indivíduos de uma mesma espécie formam uma comunidade reprodutiva. Por outro lado, membros de espécies diferentes, ainda que convivam na mesma localidade, normalmente não cruzam uns com os outros.  

  • Longa história do CBE. Remonta a Buffon, em 1749.
  • Cada espécie é uma reunião de genótipos balanceados e harmoniosos. Preservação do genótipo, do acervo genético.
  • Espécie é um conceito que se aplica a populações, não a indivíduos. Desse modo, uma população não perde o seu status de espécie quando um dos seus indivíduos “comete um erro” e hibridiza com outra espécie.


Espécies são “grupos de populações naturais capazes de entrecruzamento que são reprodutivamente (geneticamente) isolados de outros grupos similares”. (PP. 192)


  • Organismos vivos se comportam de forma muito diferente dos objetos inanimados, tais como os minerais.
  • Críticas ao CBE >> Normalmente derivam da incapacidade de distinguir claramente conceito de espécie e táxon de espécie (Pp. 195), ou seja, conceito e realidade estudada. Inaplicável a organismos assexuados (que formam clones, não populações).

** Conceito ecológico de espécie >> Baseia-se na ocupação dos nichos ecológicos. Para Mayr, não é um conceito operacional: espécies diferentes de mesmo status podem ocupar o mesmo nicho, ou seja, compartilhar o mesmo nicho; por outro lado, uma mesma espécie pode estar difundida em diversos nichos diferentes (exemplo: onça pintada).
** Subespécie >> Conceito formulado a partir de conveniência taxonômica. Pouca relevância para a Evolução. A subespécie está a meio do caminho para o surgimento de uma nova espécie.


CAPÍTULO 11: A evolução humana
** Mudança climática >> Exigência de adaptação por parte dos ancestrais dos seres humanos.

  • 1º momento. Transformação de parcelas das florestas em savanas arborizadas (símios: australopitecos).
  • 2º momento. Transformação de parcelas de savanas arborizadas em savanas arbustivas (australopitecos: hominídeos).  
** Australipitecíneos >> Homem.

  • Bipedalismo.
  • Crescimento cerebral.
  • Mudança na arcada dentária (esmalte dos dentes), evidenciando o uso do fogo.
** Evolução em mosaico >> Evolução de órgãos diferenciados.

  • Bipedalismo.
  • Crescimento cerebral.
  • Mudança na arcada dentária (esmalte dos dentes), evidenciando o uso do fogo.
  • Extensão dos cuidados maternos.


CAPÍTULO 12: Estamos sozinhos neste vasto universo?
** Alfinetada na Física e na Astronomia, em especial, nas políticas públicas que investem bilhões em pesquisas de prospecção de vida em outros planetas.

** Otimistas (físicos) versus pessimistas (biólogos).
  • Pode até existir vida em outros planetas, e Vênus e Marte são fortes candidatos. Contudo, mais provavelmente, a vida a ser encontrada é microscópica, bacteriana.
  • A tese de que deveremos encontrar vida inteligente pressupõe que a evolução dirija-se ao desenvolvimento da inteligência, isto é, que há uma finalidade na evolução, o que é falso. Inteligência não é uma preferência da evolução das espécies.
  • Se, remotamente, existir vida inteligente, não necessariamente ela será organizada em uma civilização eletrônica.
  • Se houver vida inteligente organizada em uma civilização eletrônica, ela dificilmente estará gastando bilhões de dólares para buscar vida inteligente e eletrônica em outros planetas, quando a vida em seu próprio planeta ainda não foi suficientemente mapeada e compreendida! 

Artigo publicado em periódico. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson

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