terça-feira, 8 de abril de 2014

Esquema de Leitura. Lowy. De Marx ao Ecossocialismo.

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Socioeconomia do Meio Ambiente
Professores: Marcel Bursztyn e Doris Sayago
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de Leitura
Texto: LOWY, Michael. “De Marx ao Ecossocialismo”, disponível em http://www.mra.org.br - Marxismo Revolucionário Atual, Consultado em 27.07.2007 às 11:14.


* O socialismo e a ecologia são cada um à sua maneira, herdeiros da crítica romântica.

Críticas comuns desferidas, simultaneamente, pelo Socialismo e pela Ecologia

Valores qualitativos reivindicados, simultaneamente, pelo Socialismo e Ecologia

- A racionalidade instrumental;
- A autonomização da economia;
- O reino da quantificação;
- A produção como objetivo em si;
- A ditadura do dinheiro;
- A redução do universo social ao cálculo das margens de rentabilidade;
- A redução do universo social à necessidade da acumulação do capital.


- O valor de uso;
- A satisfação das necessidades;
- A igualdade social para o primeiro;
- A salvaguarda da natureza e o equilíbrio ecológico.
- A economia como “encaixada” no meio ambiente social e natural.



* Os ecologistas acusam Marx e Engels de produtivismo. A acusação é justa? Sim e não.
a)  Não, porque, mais do que ninguém, Marx que denunciou a lógica capitalista de produção, a acumulação do capital, das riquezas e das mercadorias como objetivo em si. A própria ideia de socialismo consistiria uma produção de valores de uso, de bens necessários à satisfação de necessidades humanas. Para Marx, o objetivo supremo do progresso técnico não é o crescimento infinito de bens [“o ter”], mas a redução da jornada de trabalho e o aumento do tempo livre [“o ser”].
b)  Sim, porque se encontra amiúde, em Marx ou Engels uma tendência a fazer do “desenvolvimento das forças produtivas” o principal vetor do progresso. Postura pouco crítica para com a civilização industrial, principalmente, em sua relação destruidora para com o meio ambiente.

* Os escritos de Marx e de Engels carecem de uma perspectiva ecológica de conjunto.
- Nem o esgotamento das matérias-primas, nem a ameaça de destruição do equilíbrio ecológico do planeta pela lógica produtivista eram um problema para Marx. Tais consistem questões eminentemente contemporâneas.
- A questão ecológica apresenta-se como desafio à renovação do pensamento marxista no limiar do século XXI. Exige revisão crítica de conceitos elementares (tais como “as forças produtivas”), da ideologia do progresso e do paradigma tecnológico da civilização industrial moderna.
- Ainda hoje o marxismo (teórico ou prático) está longe de ter alcançado uma adequada sistematização ecológica. O movimento operário tradicional europeu ainda é marcado pelas ideologias do “progresso” do produtivismo. Já defendeu a adoção de políticas claramente antiecológicas, tais como o uso da energia nuclear e o fomento da indústria automobilística.
- Contribuições teóricas dignas de nota >>> 
      a)  Walter Benjamim >>> Um dos primeiros marxistas do século XX a denunciar a ideia de que a subjugação da natureza consistia um ensinamento eminentemente capitalista. Benjamim propunha uma nova concepção da técnica como “controle da relação entre a natureza e a humanidade”. Sugeriu enriquecer o marxismo com as ideias de Fourier, que sonhara “com um trabalho que, bem longe de explorar a natureza, está em condições de fazer emergir dela as criações que estão adormecidas em seu seio”.
      b) James O’Connor >>> à primeira contradição do capitalismo – entre forças e relações de produção –, analisada por Marx, deve-se acrescentar uma segunda, ou seja, a contradição entre as forças produtivas e as condições de produção: os trabalhadores, o espaço urbano, a natureza”.

* Méritos da Ecologia >>> Alerta acerca dos perigos que ameaçam o planeta – dirigindo a humanidade a uma verdadeira catástrofe -- em consequência do atual modo de produção e consumo. Alerta para uma crise civilizatória, dados:
a) O crescimento exponencial da poluição do ar, do solo, da água;
b) A eliminação de espécies vivas;
c) A desertificação das terras férteis;
d) A acumulação de dejetos nucleares incontroláveis;
e) A ameaça constante de novas Tchernobys;
f) A destruição em um ritmo acelerado das florestas;
g) O efeito estufa;
h) O perigo de ruptura da camada de ozônio

* * Deméritos da Ecologia >>>
a) Ignorar a conexão entre o produtivismo e o capitalismo, o que conduziria à ilusão de um “capitalismo limpo” ou de reformas capazes de controlar seus “excessos” (ecotaxas, por exemplo). 
b) Tomar o capitalismo e o socialismo como variantes do mesmo modelo, tomando como paradigma as economias socialistas na Europa Oriental. 
c) Arvorar-se ao papel de criticar o capitalismo em lugar do marxismo, desconsiderando, para tanto, a relação entre o produtivismo e a lógica do lucro. Noutros termos, a lógica do mercado e do lucro é incompatível com as exigências ecológicas. 
d)  Nas suas correntes fundamentalistas (o autor cita textualmente a Deep Ecology), a Ecologia, sob o pretexto do combate à ética antropocêntrica, recusa o humanismo e coloca todas as espécies vivas no mesmo plano. “Será justo considerar que o bacilo de Koch ou o anófele têm o mesmo direito à vida que uma criança doente de tuberculose ou malária?”. 

Ecossocialismo >>>  Desenvolveu-se no decorrer dos últimos vinte e cinco anos a partir das pesquisas de alguns pioneiros russos do final do século XIX e início do século XX (Sérgio Podolinsky, Vladimir Vernadsky).
a)  Autores: Manuel Sacristán, Raymond Williams, Rudolf Bahro, André Gorz, James O’Connor, Barry Commoner, Ted Benton, Juan Martinez Allier, Francisco Fernandez Buey, Jorge Reichman. Jean-Paulo Déléage, Jutta Dittfurth, Thomas Ebermann, Rainer Trampert, Erhard Epple, Lemar Altvater, Frieder Otto Wolff.
b) Argumentos:
-   Há limitações ecológicas para a expansão dos padrões de produção e de consumo dos países avançados aos demais países. Noutras palavras, os altos padrões de produção e de consumo dos países ricos só se sustentam em decorrência das desigualdades sociais e econômicas existentes entre povos do Norte e povos do Sul.
-  A globalização conduz à intensificação dos problemas ecológicos nos países periféricos em consequência de uma política deliberada de “exportar a poluição”.
-  A expansão da economia de mercado, mesmo sob o pálio da desigualdade socioeconômica Norte X Sul, ameaça a sobrevivência da espécie humana.
-  O tempo do mercado capitalista não é o tempo da Terra. A racionalidade do capitalismo (lucro imediato) é contraditória à racionalidade ecológica que leva em consideração a longa duração dos ciclos naturais.
                    
Conclusões do autor >>>  
a)  Propõe uma aliança entre os “vermelhos” e os “verdes”, entre o movimento operário e o movimento ecológico, com a finalidade de lutar por uma utopia comum.
b)   Reformas parciais são insuficientes para lidar com a crise da civilização contemporânea. Deve-se substituir a racionalidade estreita do lucro por uma racionalidade holística, social e ecológica:
-    Substituição das atuais fontes de energia por outras, não-poluentes e renováveis, tais como a energia solar.
-  Controle sobre os meios de produção e sobre as decisões de investimento e de mutação tecnológica. 
-   Reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo, baseada em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a salvaguarda do meio ambiente.
c)  Economia de transição para o socialismo. As mudanças radicais necessárias ao equilíbrio ecológico levarão a um modo de vida alternativo, a uma nova civilização, para além do reino do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade e da produção ao infinito de mercadorias prejudiciais ao meio ambiente.

                    
E quais são as condições para que verdes e vermelhos possam se unir em torno dessa causa comum?

A Ecologia deve:
- Renunciar às tentações do naturalismo anti-humanista.
- Abandonar a pretensão em tomar o lugar da crítica da economia política.


Por sua vez, o Marxismo deve:  
- Desembaraçar-se do produtivismo, substituindo o esquema mecanicista da oposição entre o desenvolvimento das forças produtivas e relações de produção que o entravam, pela ideia de uma transformação das forças potencialmente produtivas em forças efetivamente destruidoras.

* Não alimentar ilusões acerca da possibilidade de ecologizar o capitalismo não implica abandonar toda e qualquer pretensão de sugerir ou de atuar em favor de algumas reformas imediatas. O atendimento dessas demandas já poderia fomentar a convergência entre vermelhos e verdes. Sugestões do autor:
a)  Promoção dos meios coletivos de transportes – trem, metrô, ônibus, bonde – baratos ou gratuitos como alternativa aos engarrafamentos e à poluição provocados nas cidades e nas zonas rurais pelos veículos automotores individuais e pelo sistema dos transportes rodoviários;
b)  Luta contra o sistema da dívida e dos “ajustamentos” ultraliberais imposto pelo FMI e pelo Banco Mundial aos países do Sul, com dramáticas consequências sociais e ecológicas: desemprego massivo, destruição da proteção social e das culturas alimentícias, assim como dos recursos naturais destinados à exportação;
c)  Defesa da saúde pública contra a poluição do ar, da água [lençóis freáticos] ou da alimentação pela avidez das grandes empresas capitalistas;
d)  Redução do tempo de trabalho como resposta ao desemprego e como visão da sociedade que privilegia o tempo livre em contraposição à “acumulação de bens”.
e) Agregar às reivindicações as pautas dos movimentos sociais de todos os matizes, dado que  tais movimentos sociais (feminismo, movimento negro, movimento LGBT, etc.) constituem movimentos emancipadores.

* A Europa seria o continente mais favorável para a levar a efeito essas experiências.

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