domingo, 5 de abril de 2015

Esquema de Leitura: O que é ser contemporâneo?, de Vincent Descombes

Universidade de Brasília - UnB

Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável / Doutorado
Disciplina: Dimensão histórico-sociológica do constitucionalismo (DIR)
Professores: Cristiano Paixão e José Otávio Guimarães 
Discente: Juliana Capra Maia 
Esquema de Leitura. 
Referência: DESCOMBES, Vincent. “O que é ser contemporâneo?”, em Humanidades (presente-tempo-presente), n.58, Brasília: Edunb/SESC-DF, junho 2011, p. 132-141.

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** Sob a perspectiva filosófica, há duas concepções de "contemporâneo" >>>
  • Filosofia da História. Dianteira do mundo moderno. É o que há de mais moderno no moderno.
  • Concurso entre as várias mudanças atuais. Sob essa perspectiva, há um problema elementar da História Contemporânea, que é o problema da posição do historiador, dada a parcialidade da testemunha (parcialidade da testemunha versus imparcialidade da posteridade).

"A cor da contemporaneidade se refere inicialmente às paixões do historiador do presente, paixões que ele partilha com os atores. Isso quer dizer que há uma modalidade afetiva própria do contemporâneo. As paixões experimentadas pelos atores são paixões dos contemporâneos, pois essas paixões nascem do fato de o caso não estar decidido, de os acontecimentos em curso não serem ainda fatos realizados". Pp. 135.



"O passado pode ser lamentável ou memorável. O futuro pode ser desejável ou temível. Do ponto de vista afetivo, o contemporâneo é marcado por seu caráter irritante, doloroso ou delicioso". Pp. 135.



** Kierkegaard >>> Os acontecimentos epocais, de dimensão histórico-mundial, não possuem testemunhas. Em relação às coisas efetivamente decisivas, não se poderia falar, portanto, rigorosamente, em contemporaneidade.

Os contemporâneos assistiram aos acontecimentos do nosso passado, mas eles não possuem privilégios sobre nós em relação ao significado desses acontecimentos. Damos sentido aos acontecimentos dizendo o que são para nós. Eles mesmos atribuíram-lhes sentido ao decidir o que esses acontecimentos deveriam ser um dia para nós. [...]. O contemporâneo que atribui um sentido ao que foi vivenciado é alguém que levanta uma hipótese arriscada sobre o que será o julgamento da posteridade. Ele possui, portanto, em relação ao acontecimento, o status de alguém que vem após os fatos. Ainda que tenha sido um agente dos acontecimentos, fala deles como faria um intérprete posterior. Os acontecimentos são, também para o contemporâneo, um "texto" recebido e do qual ele nos oferece sua "leitura". Pp. 137. 

** A cronologia abstrata  define somente uma contemporaneidade indiferente.


** Atualidade histórica >>>

  • Para que duas atividades possam ser consideradas efetivamente contemporâneas, é preciso que o fato de ocorrerem no mesmo espaço temporal possa afetar tanto o modo como essas atividades se desenvolvem quanto os seus resultados. É preciso, pois, que a sua relação de contemporaneidade seja um fato histórico.
  • Concurso histórico de processos em curso, fonte de interferências mútuas. 
  • O contemporâneo apresenta-se como conjunto de atividades que, ocorrendo ao mesmo tempo, se contradizem (competição) ou se reforçam (cooperação) umas às outras. 


** Contemporaneidade >>>
  • Não é uma propriedade, uma qualidade ou um conjunto de qualidades que se poderia esperar fixar em um tipo ideal. As tentativas de definir um arquétipo do contemporâneo pressupõem a existência de uma essência histórica comum a todos os atores presentes na mesma cena. Ocorre que há de tudo na cena histórica: o tradicional, o moderno, o arcaico, o antigo...
  • Não é uma relação entre pessoas ou entre objetos históricos. É uma relação entre processos, entre mudanças, entre atividades. 
  • A grande questão, portanto, não residiria em encontrar os traços epocais da modernidade avançada. "A grande questão é [...] a de saber em que condições se produz para nós, no mundo que é o nosso, o concurso temporal das diferentes mudanças em concurso e das diferentes ações engajadas que compõem a nossa atualidade". pp. 141.   

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