sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Esquema de leitura: GUIVANT, Julia S. A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia

Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Ciência e Gestão da Sustentabilidade
Professores: Frederick Mertens, Elimar Nascimento 
Discente: Juliana Capra Maia
Ficha de Leitura:
GUIVANT, Julia S.  A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia. Estudos Sociedade e Agricultura, 16, abril 2001: 95-112.
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INTRODUÇÃO

** Ulrich Beck. Conquistou papel de destaque internacional após a publicação de "Sociedade de Risco", na década de 1980.
  • A sociedade capitalista industrial teria sido ultrapassada pela sociedade de risco. Nova forma de capitalismo. 
  • Riscos ecológicos, riscos químicos, riscos nucleares, riscos genéticos e riscos econômicos. Todos são produzidos industrialmente, externalizados economicamente, individualizados juridicamente, legitimados pela ciência ("sistemas peritos") e minimizados pela política. 
  • Nem a ciência, nem a técnica seriam capazes de predizer e de controlar os riscos que criaram. Não raro, quando os descobrem, os efeitos deletérios já são irreversíveis. 
  • Cruzamento entre o fenômeno da globalização e os riscos. Os riscos são democráticos: afetam a todos, indistintamente.
  • Efeitos sociais visíveis: Pobreza em massa, nacionalismos, fundamentalismos religiosos, crises econômicas, possíveis guerras, catástrofes ecológicas, catástrofes tecnológicas, tudo isso coexistindo com espaços no planeta onde há maior riqueza, tecnificação rápida e alta segurança no emprego. 


** Pretensão de Beck, apresentada nos livros The reinvention of politics – Rethinking modernity in the global social order (1997); Qué es la globalização? Falacias del globalismo, respuestas a la globalización (1998); World risk society (1999) e The brave new world of work (2000): constituir uma Teoria da Sociedade Global de Risco (não apenas um conceito) que estabeleça novos paradigmas dentro da Sociologia, de modo a permitir a reinvenção da sociedade e da política.
  • A Sociologia fundamentada em conceitos e categorias estáveis já não daria conta da realidade. Seria como uma "loja de antiguidades especializada na sociedade industrial". 


** O artigo de Julia Guivant trata do alcance da teoria da sociedade global de risco.
  • Sociologia ambiental como tema-chave para compreender a sociedade de risco.
  • Críticas à teoria de Ulrich Beck: 1) evolucionismo, linearidade e eurocentrismo na explicação da dinâmica da globalização; 2) imprecisão acerca da proposta de subpolítica ou das novas formas de fazer política; 3) imprecisão nos caminhos para a desmonopolização do conhecimento científico; 
  • Aplicação do arcabouço teórico na análise do conflito global entre leigos e peritos a respeito das sementes transgênicas.



OS LIMITES DA GLOBALIZAÇÃO

** Em "A sociedade de risco", Beck, em uma perspectiva linear e evolucionista, argumenta que a sociedade de classes teria evoluído para a sociedade de risco. Problema: no mundo globalizado, coexistem sociedade de classes e sociedade de risco. 


** Essa falha foi percebida pelo autor. Em seus recentes escritos, Beck tenta se afastar dessa perspectiva evolucionista e: 
  • reconhece que há certa diacronia dentro daquilo que pode ser chamado de modernidade: "países menos industrializados, ainda em busca de atingir o que se entende como as vantagens da modernização simples, ao lado de países altamente industrializados nos quais diversos setores questionam os fundamentos e os objetivos da modernidade industrial";
  • reconhece que os processos de modernização não são irreversíveis;
  • argumenta que a modernização sempre produziu elementos de contra-modernidade, tais como o nazismo, o comunismo, a opressão das mulheres, a industrialização da guerra, a engenharia e a medicina genéticas;
  • enfatiza que, tanto sociedades ocidentais quanto não ocidentais podem enfrentar os riscos da segunda modernidade;

** Tipos de ameaças globais, presentes na simultaneidade diacrônica da modernidade, os quais podem se complementar ou se acentuar quando inter-relacionados: 
  • Bads: a destruição ecológica decorrente do desenvolvimento industrial (exemplo: buraco na camada de ozônio e o efeito estufa) e os riscos que traz a engenharia genética para plantas e seres humanos;  
  • Riscos diretamente relacionados com a pobreza: problemas com habitação, alimentação, perda de espécies e perda da diversidade genética, demanda por energia, indústria e tamanho de população;  
  • NBC (nuclear, biological, chemical): armas de destruição em massa, riscos que aumentam quando vinculados aos fundamentalismos e ao terrorismo privado. 

** Críticas > 
  • Beck ainda desconsidera a complexidade de Estados tais como o Brasil, que convivem com grandes desigualdades entre classes e problemas típicos das sociedades de risco, situação que agrava os riscos; 
  • Enxerga a globalização como simultaneidade de transformações entre as nações ocidentais, distinguindo-as das nações orientais. 



A SUBPOLÍTICA DIFUSA

** The reinvention of politics: Com o fim da Guerra Fria, seria necessário revisar os conceitos políticos e sociais. Não cabe mais investir em uma política baseada em revoluções, crises ou desintegrações. Agora, é pertinente pensar em redesenho, em renegociação.


** Coexistência entre o aparato da política institucional e a individualização dos conflitos e interesses (participação direta de grupos e de indivíduos nos diversos debates políticos).


** Substituição da metáfora direita-esquerda pelas dicotomias:
  • "seguro-inseguro" (responde às perguntas sobre quais atitudes adotar em relação à incerteza); 
  • "inside-outside" (responde às perguntas sobre quais atitudes adotar em relação aos estrangeiros);
  • "político-apolítico" (responde às perguntas sobre a possibilidade de desenhar a sociedade).

** Acepção construtivista e acepção realista dos riscos. Limites.
  • Se os riscos são reais, como lidar com as percepções dos leigos;
  • Se os riscos são construtos sociais, como conciliar diferentes concepções.

** Para Beck, a abordagem construtivista dos riscos é insuficiente para compreender o seu caráter dual (imaterialidade-definição social X materialidade-ação). Ademais, desconsidera o potencial de aniquilação ecológica e nuclear característicos do período subsequente à Segunda Guerra. 


** Por outro lado, a forma como os riscos são percebidos é elemento chave para a sua transformação. Desse modo, é indispensável a criação de instituições abertas, transparentes, que alertem o público e as indústrias, para que se possa conviver com os riscos da sociedade moderna, no lugar de bani-los >>> Em outras palavras, é indispensável que se crie e alimente a esfera da subpolítica (formação de fóruns de negociação).

Esses fóruns de negociações não seriam necessariamente “máquinas de produzir consenso com sucesso garantido” nem eliminariam conflitos ou perigos industriais fora de controle. Mas poderiam contribuir para prevenir riscos, garantir uma simetria de sacrifícios que não pudessem ser evitados, tornar mais transparentes quem são os vencedores e os perdedores.


** Se todos somos afetados pelos riscos, todos poderemos participar da tomada de decisões. Críticas >>>
  • A defesa da democratização da ciência por meio dos fóruns parece depender do mito da democracia popular, como se o público fosse homogêneo e incontaminado pelo conhecimento perito.
  • Leigos e peritos não se opõem uns aos outros, como blocos homogêneos. Há uma complexa e heterogênea rede de alianças em torno de questões tais como "o que fará esta cidade melhor".



OS TRANSGÊNICOS NA SOCIEDADE GLOBAL DE RISCO

** Laboratório para testar os limites das teorias acerca da sociedade global de risco.

** Transgênicos percebidos como risco de diferentes intensidades pelos consumidores europeus e pelos consumidores brasileiros >> Retração da Monsanto na Europa.

** As alianças contra os transgênicos, no Brasil: Partido dos Trabalhadores, o MST, o Greenpeace, o IBAMA, o Ministério Público Federal, os Procons e o IDEC: peritos, agricultores, servidores públicos e leigos, portanto.

** Limites da teoria da sociedade global de risco, após a análise do caso dos transgênicos: 
  • a necessidade de conceituar a globalização de modo que se considerem as especificidades locais ao invés de apenas opor países ocidentais aos não ocidentais;
  • a necessidade de se definir, com mais precisão, o que vem a ser a subpolítica.

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