quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Resenha Greening Brazil. Hochstelter e Keck. Introdução, capitulo 01 e 02.

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável / Doutorado
Disciplina: Ciência e Gestão da Sustentabilidade
Professores: Elimar Nascimento, Thomas Ludewigs, Maurício Amazonas e Frederick Mértens.
Discente: Juliana Capra Maia
Resenha
Texto: HOCHSTETLER, Kathryn; KECK, Margaret E. Greening Brazil: Environmental activism in State and Society. Duke University Press, Durham, 2007, introdução, capítulos 01 e 02.


Greening Brazil, de Kathryn Hochstetler e Margaret Keck, tem como principal objetivo descrever as políticas ambientais brasileiras desde a década de 1950 até os dias atuais. O período pesquisado pelas autoras caracterizou-se por intensas mudanças, tanto histórica quanto institucionalmente. Foi marcado pela ascensão e queda dos regimes militares na América Latina, por dois choques do petróleo, pela crise dos juros e pelo consequente endividamento dos países subdesenvolvidos, pelo fim do Padrão-Ouro (transformando intensamente as finanças internacionais) e pela ascensão das ideias neoliberais. No Brasil, esse período foi majoritariamente desenvolvimentista, quer estivesse o Brasil sob o controle da democracia pós-Estado Novo, quer sob o controle dos governos militares, quer em fase de redemocratização.   
Não obstante a ideologia desenvolvimentista, não se pode falar em ausência de políticas ambientais ao longo do período estudado. Mesmo durante os governos militares – normalmente vistos como antipáticos ao meio ambiente dada a posição do Brasil na Convenção de Estocolmo –, diversas medidas em favor do meio ambiente foram adotadas: a) edição de 19 (dezenove) leis federais ou decretos-lei, dentre os quais o Código de Mineração, o Código Florestal e a Política Nacional de Saneamento; b) edição de 20 (vinte) decretos ambientais; c) criação de uma agência ambiental, a SEMA, que contava inicialmente com apenas 03 (três) funcionários; d) criação do SISNAMA; e) criação de diversas unidades de conservação. É certo que o enfoque de tais medidas –limitadas – era o uso racional dos recursos naturais: medidas que ameaçassem a soberania nacional ou que incentivassem a participação popular eram consideradas subversivas. Todavia, é inegável a sua contribuição para a agenda ambiental brasileira[1].  
As autoras salientam que as políticas públicas brasileiras ainda são fortemente marcadas pelo informalismo, de modo que a mera edição de uma lei não é suficiente para a efetivação da política pública pela burocracia estatal: há leis “que pegam” e “leis que não pegam”. O enforcement depende, em grande medida, da teia de relacionamentos dos executivos interessados em sua eficácia. Desse modo, boa parte das políticas ambientais brasileiras constitui legado de atores sociais engajados.
Nesse sentido, as autoras destacam a atuação de Paulo Nogueira Neto (advogado e biólogo, primeiro titular da SEMA); Maria Teresa Jorge Pádua (IBDF) e José Lutzenberger (ambientalista da AGAPAN, Secretário de Meio Ambiente do Governo Fernando Collor, iniciou programas com comunidades tradicionais, seringueiros, indígenas e ativistas ambientais). Destacam, também, a atuação vitoriosa dos parlamentares engajados na Frente Verde (especialmente Fábio Feldmann) no processo de elaboração da Constituição de 1988[2].
A partir da análise dos dados históricos, classificam em três grandes ondas o ambientalismo brasileiro[3].
A primeira onda seria caracterizada pelo nacionalismo desenvolvimentista e vigorara entre 1950 e 1970. Nesse período, nasceram as mais antigas organizações em prol da conservação ambiental, especialmente a FBCN. Com adoção de uma linguagem cientificista, as entidades criadas nesse período eram majoritariamente preservacionistas. Atores sociais de destaque: Paulo Nogueira Neto, Maria Tereza Jorge Pádua, José Cândido de Melo Carvalho.
A segunda onda coincidiu como fim do governo Médici e o início da abertura promovida pelo governo Geisel. O movimento, autoproclamado o “novo ambientalismo”, apropriou-se politicamente das causas ambientais para desferir críticas ao autoritarismo, ao desrespeito à vida, à natureza e à saúde humana. Tratava-se, portanto, de uma militância em prol de direitos civis, políticos e sociais, paralelamente à luta em defesa do meio ambiente. Durante esse período, os ambientalistas se engajaram na política institucional. Alguns deles, retornando do exterior, fundaram em 18 de Janeiro de 1987 o Partido Verde, nos mesmos moldes encontrados na Europa. ONGs de destaque: AGAPAN, inicialmente presidida por José Lutzenberger. Tornou-se modelo de ONG brasileira; APPN, São Paulo; Oikos, São Paulo (ganhou proeminência no caso de Cubatão).
A terceira onda, contemporânea, coincidiria com o período da redemocratização, marcado por crises econômicas e pelo contato exponencial do Brasil com nações estrangeiras. O período também se caracterizaria pelo aprofundamento dos contatos entre ambientalistas brasileiros e estrangeiros.




[1] Salientam as autoras, entretanto, que tais medidas não devem ser suficientes para caracterizar os governos militares como amigáveis às políticas ambientais. Durante sua gestão foram construídas Itaipu, Angra I e a Transamazônica, obras que causaram sérios impactos ambientais. Também durante o governo militar, ocorreu a mineração aguda na região sul do Estado do Pará (Carajás). Finalmente, os militares incentivaram o desenvolvimento do etanol, biocombustível que para ser fabricado, demandava o despejo de resíduos tóxicos em corpos hídricos. 
[2] Observação: José Sarney e José Sarney Filho integravam a Frente Verde.
[3] De acordo com as autoras, na verdade, a “primeira onda” do ambientalismo brasileiro não foi a primeira. A matéria ambiental vinha sendo suscitada desde José Bonifácio e Joaquim Nabuco. O primeiro Código Florestal foi editado sob o Estado Novo, de Getúlio Vargas. Essas iniciativas, contudo, foram esmagadas pelo “rolo compressor” do desenvolvimentismo

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