sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Ficha de Leitura: Natureza e identidade, o caso brasileiro. Lúcia Lippi de Oliveira

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS 
Programa de Pós Graduação 
Doutorado
Disciplina: Oficina de textos científicos
Professores: José Augusto Drummond e Marcel Bursztynt
Discente: Juliana Capra Maia
Ficha de Leitura
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Natureza e identidade: o caso brasileiro. Desigualdade & Diversidade – Revista de Ciências Sociais da PUC-Rio, nº 9 ago/dez, 2011, pp. 123-134. 

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** Tema central do texto >>> o papel da natureza na construção da identidade nacional brasileira.
• O tema da identidade nacional não fazia parte das principais discussões acadêmicas nos países centrais entre os anos de 1960 e 1980. Era um tema típico das ciências praticadas no Terceiro Mundo. 
• A comemoração do bicentenário da Revolução Francesa acendeu a discussão nos países centrais e abriu espaço para a produção de historiadores e cientistas sociais. 
• A extensiva migração para os EUA e para a Europa favorece a discussão acerca da construção das identidades e das alteridades. 

** Durante os séculos XIX e XX, a natureza funcionou como grande diferencial da nação brasileira frente à matriz luso-europeia. 


** Tanto no Brasil quanto nos EUA, a geografia teria fornecido fortes embasamentos para a construção das identidades nacionais >>>
Brasil >>> Tropicalismo, exotismo.
EUA >>> Fronteira, cowboy


** Fontes da associação entre natureza e identidade nacional brasileira >>>
1. Relatos de viajantes: 
  • Os relatos dos viajantes, cientistas, artistas e expedicionários europeus do século XIX (Karl Friedrich Phillip von Martius, Johann Baptist  von Spix, Auguste de Saint-Hilaire, Ferdinand Denis, G. I. Langsdorff. 
  • Os textos e as iconografias produzidas pelos viajantes sobre a colônia que forneceram matizes da nacionalidade dos trópicos. 
  • Encantamento, deslumbramento e estranhamento. 
  • Associação entre os trópicos, o calor, a umidade, as plantas, os animais e as pessoas exóticas. 
  • Natureza intimamente vinculada à identidade nacional ao longo do século XIX.
  • Ambivalência do europeu perante o mundo selvagem e a realidade exótica >>> transmitida aos nativos >>> o atraso social passou a ser interpretado como decorrência do clima.

2. Ufanismo: 
  • 1900. Livro escrito por Afonso Celso para crianças chamado “Porque me ufano do meu país”. Exalta as belezas naturais, ausência de catástrofes naturais e as enormes dimensões territoriais como motivos de orgulho nacional. 
  • As imagens da grandeza territorial e da exuberância das nossas matas foram e ainda são uma constante. 
  • Bandeira do Brasil: Verde e amarelo como metáforas para as matas e o dourado do nosso ouro.  
  • A enormidade do território e a exuberância das matas compõem o imaginário nacional, para além da forma como exploramos tais recursos.  
  • Entretanto, nos séculos XIX e XX, ser civilizado significava dominar a natureza.

3. Paraíso ou inferno:
  • Natureza paradisíaca versus Natureza ameaçadora. 
  • Natureza pródiga e fértil (motivos edênicos da época dos descobrimentos e da colonização) versus natureza implacável que corrói os costumes dos homes civilizados. Os trópicos, na segunda versão, foram associados a uma forma de viver marcada pela preguiça, pela sexualidade excessiva, e até pela tristeza.

4. A historiografia brasileira: 
  • Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Celso Furtado. 
  • No Brasil, a nação foi pensada como espaço territorial, como natureza, cabendo ao Estado a responsabilidade por garantir as fronteiras nacionais, mapear as riquezas e fomentar sua ocupação, assim como zelar pela manutenção da unidade entre diferentes áreas isoladas e, mais tarde, pela integração entre tais áreas no todo nacional. 
  • Natureza tropical compreendida como bem ilimitado, que poderia ser explorado ao bel-prazer dos brasileiros. 

5. Integração nacional como política de Estado
  • A política do Estado teve como metas fundamentais garantir não só a unidade do imenso território, mas sua ocupação pelo menos dos anos 1930 até o fim do século. 
  • O mito do “gigante pela própria natureza” tem sido mesmo a mais forte matriz para interpretar o Brasil. Foi ele que definiu a atuação do Estado como guardião do território e como responsável por conectar as diversas ilhas de ocupação entre si.



** A Amazônia ontem e hoje >>>
• A imagem do país como paraíso ou inferno tropical se atualiza no fim do século XX, com a questão global e regional representada pela Amazônia.
• Até 1970, a Amazônia só havia perdido 1% de sua natureza 99% de sua área continuava intacta. 
• A atuação do Estado na região Amazônia nos anos 1970, durante a ditadura militar, se deu dentro de uma visão geopolítica, já que não havia necessidade econômica para tal empreendimento. A decisão de ocupar espaços vazios e levar brasileiros para lá foi guiada por temores de internacionalização da região.  
• Estabelecimento de uma dinâmica de fronteira.   
• Empreendimentos de iniciativa estatal: Rodovia Belém-Brasília, Rodovia Transamazônica. Abertura de regiões para mineração (Serra Pelada), para criação de gado e para industrialização (Zona Franca de Manaus).  

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