domingo, 23 de setembro de 2012

Esquema de Leitura: Os refugiados da Conservação, de Mark Dowie.


Universidade de Brasília
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Disciplina: Antropologia do Desenvolvimento e do Meio Ambiente
Aluna: Juliana Capra Maia
Texto: DOWIE, Mark. Refugiados da Conservação. Orion Magazine, Artigos nº 04, NUPAUB – Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras – USP, São Paulo: 2006.


— Argumento inicial:
·         Denúncia de expulsão de um grupo tradicional (Batwa) da poligonal de uma unidade de conservação de proteção integral em Uganda, ao argumento de que esse grupo, entre outros, estava dizimando gorilas;
·         Os Batwa foram removidos para um acampamento precário, fora dos limites da UC, onde sua cultura está se perdendo.

“Não é nenhum segredo que milhões de povos nativos no mundo inteiro foram expulsos de suas terras para deixar seu lugar para grandes companhias de petróleo, mineração, madeireiras e a monocultura. Mas poucos povos sabem que a mesma coisa aconteceu por uma causa muito mais nobre: a conservação da natureza. Hoje a lista de instituições destruidoras de culturas denunciadas por líderes tribais em quase todos os continentes inclui não somente Shell, Texaco, Freeport e Bechtel, mas nomes também mais surpreendentes como a Conservation International (CI), a Nature Conservancy (TNC), o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), e a Wildlife Conservation Society (WCS). Mesmo a mais sensível aos aspectos culturais, a União Mundial para a Conservação poderia ser mencionada.” (p. 2)

— As atividades das organizações de conservação têm sido consideradas a principal ameaça à integridade das terras indígenas, na visão dos líderes tribais. “Novo colonizador”.
— Ofertas financeiras generosas do Banco Mundial têm incentivado a criação de unidades de conservação, sem muito critério. Os países beneficiados sequer se preocupam em checar se na poligonal da UC existem ou não tradicionais residentes.
—A maior parte dos recursos cedidos pelas fundações internacionais (70%) é absorvida por instituições conservacionistas, como a CI, TNC e WWF. Pouco ou nada é direcionado às populações tradicionais.
— Com o aumento da influência das instituições conservacionistas, mais e mais UC foram criadas. Hoje, aproximadamente 12% da superfície do planeta é composta por unidades de conservação (superfície maior que a do continente africano). 
— Com a criação indiscriminada de UC ao redor do globo, aumentou, também, o número de refugiados da conservação, pessoas excluídas das UC de proteção integral, expulsas de seus territórios.

“O ponto mais importante é que os refugiados da conservação existem em cada continente com exceção da Antártica. E em todos os relatos, vivem de forma muito mais difícil que antes, banidos de territórios que ocuparam por centenas, às vezes milhares de anos”. (p. 03)

— Wilderness Act, de 1964: descrito como expressão máxima de uma ideologia que dá primazia a um “mundo selvagem virgem”, que tende a valorizar toda a natureza, exceto a humana.

“John Muir, um fundador do movimento americano da conservação, afirmava que o “mundo selvagem” deveria excluir de todos seus moradores humanos e ser reservado para satisfazer a necessidade de recreação e renovação espiritual do ser humano urbano. Era um sentimento que se transformou em política nacional com a passagem do Wilderness Act, em 1964 que definiu o mundo selvagem como o lugar em que o ser humano é um visitante, jamais um morador. Não se deve ficar surpreso em não se encontrar algum desses sentimentos entre os grupos de conservação. A preferência por um “mundo selvagem virgem” permaneceu num movimento que tende a valorizar toda a natureza, menos a humana e se recusou a reconhecer a vida selvagem positiva nos seres humanos” (p. 3)

— Há grande divergência quanto à questão das expulsões de populações tradicionais de territórios destinados às unidades de conservação de proteção integral.
a)      “Biologistas”. Argumento: “ao permitir as populações nativas aumentar, caçar e fazer extrativismo nas áreas protegidas, os antropólogos, conservacionistas culturais e outros apoiadores dos direitos dos nativos tornam-se cúmplices no declínio da diversidade biológica”.
b)      “Sócio-ambientalistas”. Argumento: colocam a perspectiva dos direitos das populações tradicionais acima dos interesses da conservação. Denunciam que a  assimilação das populações tradicionais, na melhor das hipóteses, é feita “por baixo”. Os tradicionais viram guarda-parques, guias, porteiros e garçons, não atuando na gestão das UC.

— Como conseqüência da política conservacionista, de “independentes e auto-sustentáveis” os tradicionais estão se tornando “dependentes e pobres”.
— Há modelos de gestão compartilhada de UC, entre governo e populações tradicionais. Exemplo: Xingu. Mesmo assim, há biologistas da conservação que preferem o modelo autoritário, “de cima para baixo”.
— Grandes organizações conservacionistas trabalham lado a lado com corporações ambientalmente agressivas, tais como como a Boise Cascade, Chevron-Texaco, Mitsubishi, Conoco-Phillips, Internacional Paper, a mineração de Rio Tinto, a Shell, e o Weyerhause, interessadas nos recursos naturais existentes nas terras ocupadas pelos tradicionais.
— O modelo atual, qual seja, de expulsar populações tradicionais das poligonais de UC de proteção integral, teria falido, já que a biodiversidade vem decrescendo progressivamente.

“Contudo muitos conservacionistas estão começando a entender que a maioria das áreas que procuraram proteger, são ricas em biodiversidade precisamente porque os povos que estavam vivendo lá tinham compreendido o valor e os mecanismos da diversidade biológica. Alguns admitem mesmo que rompendo o modo de vida de 10 milhões ou mais de pobres, pessoas sem poder, foi um grande erro - não somente um engano moral, social, filosófico, mas também ecológico. Outros aprenderam pela experiência que os parques nacionais e as áreas protegidas cercadas por pessoas irritadas, com fome, que se descrevem como “inimigos da conservação” estão sujeitos ao fracasso.” (p. 06).
  

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