Universidade
de Brasília – UnB
Centro de
Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina:
Unidades de Conservação -- Ideias, Ativismo e Políticas Públicas
Professor:
José Luiz de Andrade Franco
Aluna:
Juliana Capra Maia
Esquema de
leitura: TURNER, James Morton. The
Promise of Wilderness: American Environmental Politics since 1964. Seattle:
University of Washington Press, 2012, Introdução, p. 01 a 13.
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** O conceito e o debate ao redor da Wilderness forjaram boa parte da cultura
política estadunidense.
"Few
ideas have been more important than wilderness in shaping how Americans have
viewed, debated, anda managed the landscape [...]". P. 01.
"Debates over wilderness[...] are as much about Amercian society and its politicas as they are about the land. How Americans have debated wildernesws and public lands reform more generally has raised questions not just about environmental protection, but about the power of the federal government, who speaks for the public interest, and the rights of indiiduals". P. 01 e 02.
"Viewed through the lens of wilderness, the history of American environmental politics looks different: it explains the importance of the public lands to the rise of environmental oppositon an radical environmentalism, it reveals the changing relationship between local and national environmental advocacy organizations, and helps to explain why Demoncrats and Republcans often appear on opposite sides of environmental reform. Other environmental issues are important to these changes too, but wilderness offers a crucial barometer for considering the history of mainstream American environmentalism and its plance in American political life". P. 02.
** Wilderness é uma ideia, um lugar e um
processo político. P. 02.
**
1964: Wilderness Act, que criou o National Wilderness Preservation System.
Atualmente, cerca de 5% das terras dos EUA são protegidas por esse sistema.
Tais terras estão fora do alcance da mineração, das estradas, dos veículos
motorizados e de quaisquer manifestações de desenvolvimento econômico.
** Conceito de Wilderness de acordo com o Wilderness Act: "A natureza selvagem, em contraste com aquelas áreas em que o homem e as suas obras dominaram a paisagem, é reconhecida como um espaço em que a Terra e a comunidade da vida estão fora do alcance humano, ou seja, em que o homem é um mero visitante". (p. 02, tradução livre).
** As áreas públicas destinadas à conservação nos EUA possuem tamanhos variados: entre 6 e mais de 9 milhões de acres. Elas estão espalhadas em todos os Estados Federados, mas a maior parte delas localiza-se no Alasca (a última fronteira).
** Natureza selvagem (Wilderness) é um dos conceitos mais centrais e mais problemáticos na historiografia estadunidense. Para muitos escritores e artistas nacionais, a natureza selvagem dos EUA é que permitiu que se formasse uma cultura distinta daquela vigente na Europa. Exemplos: Frederick Jackson Turner, que atribuiu à Wilderness o componente essencial da formação das instituições democráticas dos EUA; Aldo Leopold afirmou que a natureza selvagem consistia no núcleo duro, na essência do que os EUA eram feitos.
"[...].
For Americans, wilderness has been a patriotic inspiration, a primitive recreational
retreat, a place of sublime beauty, a contercultural ideal, and a reserve for
biodiversity. Wilderness has powerfully informed the American environmental
imagination". P. 04
**
Não se diz, com isso, que haja consenso nos EUA a respeito da preservação de
áreas públicas de Wilderness. Essa,
aliás, é uma questão altamente controvertida. Seus oponentes argumentam que a
estatização de terras para preservação violou direitos individuais e ignorou os
interesses das comunidades rurais. No meio acadêmico, diz-se que a preocupação
com áreas de Wilderness sequestrou o
ambientalismo, que deveria estar focado em questões muito maiores, tais como a
mudança climática e a justiça na distribuição dos recursos ambientais. Contudo,
esse conceito -- debatido desde os primórdios do novo ambientalismo -- norteou
a edificação de um processo político que mobilizou diversos grupos de cidadãos.
**
Outras questões também foram suscitadas pelo ambientalismo ao longo das últimas
décadas: controle populacional, crise nuclear, diminuição da camada de ozônio,
desequilíbrios hormonais decorrentes de poluição, por exemplo. Mas esses
debates surgiram e foram eclipsados, ao passo que a discussão sobre terras
públicas destinadas à Wilderness
permaneceu.
** E por que a discussão sobre Wilderness permaneceu?
- Abordagens negativas e correntes:
-- Críticas às áreas de Wilderness, como incapazes de proteger a biodiversidade;
-- Críticas segundo as quais a discussão sobre Wilderness é mero artefato romântico;
-- Críticas aos objetivos lúdicos das áreas de Wilderness: coisa de classe média alta e branca estadunidense. Por esse motivo, o ambientalismo não conquistou as comunidades urbanas, especialmente os negros e os pobres
-- Críticas ao ambientalismo ao argumento de que o foco nas áreas de Wilderness é uma prova de equívoco na escolha de prioridades para o dito movimento social;
-- A preocupação com áreas de Wilderness seria fruto do preservacionismo acrítico, cultura política vigente no mainstream em que o ambientalismo foi forjado.
- Abordagem do autor:
-- A defesa de áreas de Wilderness é uma defesa aberta das "áreas públicas", o que desafia a intangibilidade da propriedade privada dos proprietários de terras, das grandes corporações e até mesmo as reivindicações territoriais das populações ameríndias remanescentes;
-- Wilderness tornou-se um ponto central para discussão de interesses nacionais;
-- É fácil identificar e divulgar as ameaças às áreas de Wilderness: muito mais fácil do que comprovar a ocorrência das mudanças climáticas ou da diminuição numérica dos cardumes.
-- Normalmente, as áreas de Wilderness são de importância econômica secundária, o que reduz a oposição da indústria ou das comunidades locais.
-- A meta do advocacy pró-Wilderness é muito clara: mais áreas de Wilderness.
"The point here is that environmentalists who worked for wilderness did so not because they were confused about realities of the environmental crisis or because they were ignorant of or insensitive to urban issues or claims of environmental justice advocates, conservation biologists, or other critics. A more useful explanation is that the environmental community has been pragmatic. Protecting a public resource of marginal economic value that commands national interest, is clearly threatened, and has significant ecological value has been easy compared to addressing environmental concernes that more directly challenge the social or economic structure of modern America, consumer culture, or private property rights. When wilderness advocates did begin to more aggressively use wildereness as a vehicle to advance a borader public lands reform agenda -- such as logging reform, biodiversity protection, and ecosystem management -- they faced more sustained opposition and greater challenges". P. 07.
** A distinção entre uma geração mais antiga de ambientalistas, que defendiam a
Wilderness, e uma geração mais nova, focada na poluição, nas toxinas e nas
ameaças à saúde humana explica somente em parte a história do movimento. A
verdade é que os defensores da Wilderness
nunca deixaram de atuar politicamente e passaram a se valer de novas
estratégias – legislativa, científica, legal – para impor avanços na
conservação das áreas públicas de Wilderness.
** O autor defende a necessidade de reconsiderar o debate sobre Wilderness e sobre as terras públicas na história do ambientalismo estadunidense, especialmente em três questões cruciais:
1) Quem são os defensores da Wilderness na política dos EUA? Grandes organizações, tais como o Sierra Club e a Wilderness Society? Ou seriam as pequenas ONGs locais?
A história revela que, apesar dos holofotes terem sido dirigidos às grandes organizações, as alianças entre grupos locais foram essenciais. Ou seja, a contrário do que se defende normalmente, a história do ambientalismo estadunidense em prol da Wilderness não é a história das grandes organizações ambientais ganhando poder e influência e desalojando os grupos locais. Ela também é a história da proliferação do ativismo ambientalista local.
2) Por que a reforma ambientalista se tornou um divisor de águas na história política dos EUA?
A questão ambiental era um problema comum a gregos e troianos, podendo servir como fórmula para unificação dos interesses nacionais. Até por isso, bandeiras ambientalistas foram adotadas por Republicanos e por Democratas, apesar das divergências ideológicas entre os referidos partidos. Os movimentos ambientalistas souberam aproveitar essa capilaridade da causa ambiental para defender a sua agenda no parlamento dos EUA, garantindo a perenidade da política ambiental instaurada na década de 1960. Em outras ocasiões importantes, os debates a respeito da Wilderness e das terras públicas não foi simplesmente moldado pela polarização da política americana. Eles contribuíram para essa polarização.
3) Quais foram as estratégias políticas ambientalistas mais importantes e mais bem sucedidas?
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, as demandas por reservas públicas de Wilderness recaíam sobre áreas relativamente pequenas, evitando-se confronto com indústrias-chave e desafios ao desenvolvimento nacional ou à economia. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, por sua vez, com justificativas científicas, os ambientalistas passaram a demandar áreas maiores ou maior restrição a atividades econômicas, desafiando diretamente a função das terras públicas como fornecedoras de recursos naturais. Ademais, a partir de 1970, os ambientalistas passaram a se utilizar de outros recursos além do advocacy legislativo para impor as suas demandas: normatização administrativa, recursos administrativos, litígios judiciais.
"Some
of the most important issues in public lands politics – protecting national
forest roadless areas, reforming mining and grazing regulations, and protecting
western canyon lands – often followed policy pathways that went around, not
through, Congress". P. 12.
"For
every legislative victory, there are dozens, even hundreds, fo less-recognized
administrative and judicial victories that have been won behind the
scenes". P. 13.
“Indeed,
few environmental issues have drawn more attention at the local, regional, and
national levels, among radicals and moderates, Democrats adn Republicans, and
environmentalists and their opponents, than wilderness. If we wish to tell a
story of modern American environmental politics, wilderness is an important
place to begin". P. 13.
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