Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Unidades de Conservação -- Ideias, Ativismo e Políticas Públicas
Professor: José Luiz de Andrade Franco
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de leitura: DRENGSON, Alan. Ecophilosophy, Ecosophy and the Deep Ecology Movement: An Overview. Disponível em http://www.ecospherics.net/pages/DrengEcophil.html, 1999. Publicado também em The Trumpeter: Journal of Ecosophy, Vol 14, No. 3, Summer 1997, pages 110-111.
_________________________________________________________
** Ao longo dos últimos 30 anos, os filósofos têm criticado as premissas do pensamento ocidental moderno a respeito do mundo natural. Como a discussão era estranha à filosofia, cunhou-se a expressão “Ecofilosofia”, cujo objetivo seria a “Ecosofia” (sabedoria ecológica). Esse objetivo seria alcançado por meio da investigação contínua, abrangente e profunda acerca dos valores, da natureza do mundo e do Self.
The mission of ecophilosophy is to explore a diversity of perspectives on human-Nature contexts and interrelationships.
** Definição de “Ecosofia”, para Naess: Ecosofia é uma sabedoria (sofia) voltada à harmonia ou ao equilíbrio ecológico. Ela é abertamente normativa, contendo normas, regras, postulados, prioridades de valor e hipóteses. Implica diagnóstico e prognóstico.
** 1973. Introdução, na literatura ambiental, do "movimento da ecologia profunda". Arne Naess.
- O ambientalismo surgiu como movimento político de base popular na década de 1960, após a publicação de Silent Spring, de autoria de Rachel Carson.
- As raízes mais profundas desse movimento ambientalista incluíam ativistas como Henry David Thoreau e John Muir. Os mais recentes e festejados eram “descendentes” de Guifford Pinchot (“uso racional de recursos naturais”).
- A partir de uma abordagem histórica, Naess identificou duas formas de ambientalismo, não necessariamente incompatíveis entre si: um ambientalismo “raso” ou “superficial” e um ambientalismo “profundo” ou “de longo alcance”. “Raso” e “profundo” se relacionam com o nível de questionamento envolvido em cada uma dessas vertentes.
- Questionamentos profundos avançam para as premissas e normas finais, ao passo que o ambientalismo “raso” mantém essas premissas intocadas. O processo de derivação e de aplicação das premissas (ambientalismo “raso”), por sua vez, implicam o desenvolvimento de políticas e ações práticas.
- Aspectos distintivos da Ecologia Profunda (Deep Ecology): reconhecimento do valor intrínseco de todos os seres vivos; reconhecimento do valor intrínseco da diversidade. Aqueles que trabalham para mudanças sociais com base nesses aspectos são motivados pelo amor da natureza e pelo amor aos seres humanos.
** 08 Princípios da Ecologia Profunda > Podem ser adotados por pessoas de diferentes orientações culturais ou religiosas. Isso permite que possam trabalhar mediante compartilhamento de esforços.
- O bem-estar e o florescimento da vida humana e não-humana na Terra têm valor em si mesmos (isto é, valor intrínseco). Esses valores são independentes da utilidade do mundo não-humano para as finalidades humanas.
- A riqueza e a diversidade das formas de vida contribuem para a realização desses valores e também são valores em si mesmos.
- Os seres humanos não têm o direito de reduzir essa riqueza e diversidade, exceto para satisfazer necessidades humanas vitais.
- O florescimento pleno da vida humana e das culturas é compatível com uma diminuição substancial da população humana. Por sua vez, o florescimento da vida não-humana exige tal diminuição.
- Os seres humanos têm interferido excessivamente no mundo não-humano. Essa interferência tem piorado (aumentado?) rapidamente.
- As políticas devem ser alteradas. Essas políticas afetam estruturas econômicas, tecnológicas e ideológicas básicas. O estado resultante das coisas será profundamente diferente do presente.
- A mudança ideológica é principalmente a de apreciar a qualidade de vida ao invés de aderir a um padrão cada vez mais alto de consumo. Distinção entre “big” (grande / muito) e “great” (ótimo / pleno).
- Aqueles que subscrevem os pontos anteriores têm a obrigação de tentar, direta ou indiretamente, implementar as mudanças necessárias.
** Naess chama sua própria filosofia final "Ecosofia T" (não de Deep Ecology). Ela é influenciada pelo friluftsliv norueguês (movimento para experimentar a vida ao ar livre), a não-violência (Gandhi), o Budismo Mahayana e o panteísmo Spinozano.
- "T" refere-se a: a) Tvergastein, a cabana de montanha de Naess, na Noruega, onde boa parte da "Ecosophy T" foi elaborada; b) a palavra norueguesa de interpretação (tolkning).
- Ecosofia T: Realização do Self para todos os seres. Observação: distinção entre Eu e Self (Budismo Mahayana).
Ninguém que defenda a Deep Ecology pode ser, ao mesmo tempo, anti-humano.
** Tomando essas definições como premissas, ninguém que defenda a Deep Ecology pode ser anti-humano. A não-violência, a paz e a justiça social constituem imperativos da doutrina. O que é inconsistente com a Deep Ecology é postura antropocêntrica, que recusa reconhecer valor intrínseco noutros seres vivos, além dos seres humanos. Em outros termos, a Deep Ecology se contrapõe ao mandamento: “Seres humanos primeiro!”.
** A cultura industrial se apresenta como o único modelo aceitável de progresso e de desenvolvimento. No entanto, a aplicação deste modelo em todas as áreas do globo resulta na destruição de habitats, extinção de espécies e destruição de culturas indígenas. A sociedade industrial é como uma monocultura: seus modelos interpretam a Terra como única matéria-prima a ser usada para satisfazer o consumo e a produção voltados não só às necessidades humanas vitais, mas aos desejos inflados, cuja satisfação requer cada vez mais consumo. Nesse sentido, trata-se de uma monocultura que destrói a diversidade cultural e biológica, ambas portadoras de valor intrínseco.
Industrial culture represents itself as the only acceptable model for progress and development. However, application of this model and its financial and technological systems to all areas of the planet results in destruction of habitat, extinction of species, and destruction of indigenous cultures. The biodiversity crisis is about loss of critical species, populations and processes that perform necessary biological functions, and it is also about loss of multitudes of other values which are good in themselves and depend on preservation of natural diversity and wild evolutionary processes. Industrial society is a monoculture in agriculture and forestry, and in every other way. Its development models construe the Earth as only raw material to be used to satisfy consumption and production to meet not only vital needs, but inflated desires whose satisfaction requires more and more consumption. Its monocultures destroy cultural and biological diversity, both of which are good in themselves and critical to our survival and flourishing. The older industrial development models are now superseded by the ecological approaches referred to in this paper.
** A Ecosofia não aceita o paradigma da sociedade industrial. Sugere que aprendamos com os seres vivos que habitam os mesmos ecossistemas que nós, bem como com as sociedades indígenas. Não há uma regra única e simples de ação, aplicável a todos os povos e a todos os lugares do planeta.
** Exemplos de aplicação da Deep Ecology: o Bioregionalismo, a Ecoagricultura, a Ecopsicologia, o Turning Point Project, o projeto para medir nossa pegada ecológica e a redefinição do progresso por meio de um índice geral que leve em consideração as variáveis ambientais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário