quinta-feira, 11 de junho de 2015

Esquema de leitura. O regime de chuvas na Amazônia Meridional e sua relação com o desmatamento, de N. Debortoli

Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS 
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável / Doutorado
Disciplina: Mudanças Climáticas
Professor: Saulo Rodrigues
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de leitura: 
DEBORTOLI, Nathan dos Santos. O regime de chuvas na Amazônia Meridional e sua relação com o desmatamento. Tese de doutorado. Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Université Rennes (co tutela), Brasília, 2013. Introdução, capítulo 1 e capítulo 2.


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INTRODUÇÃO

** IPCC >> preocupação com o sistema atmosfera-superfície-oceano e suas relações com as mudanças climáticas.  

** Estudos realizados por meio de modelagem climática >>
  • Projeções do IPCC prevêem escassez hídrica para a região Amazônica devida, entre outros motivos, à expansão da fronteira agrícola.
  • O Brasil já estaria, no presente, sofrendo os efeitos da mudança climática (secas extremas, inundações, tufões, etc).

** Supressão de vegetação >> Colabora para a maior emissão de GEE gerando, ao mesmo tempo, perda de umidade no ambiente.
  • Perda ou diminuição dos efeitos da evapotranspiração (florestas descritas como "oceanos verdes").

** Política ambiental brasileira >> Ambígua. Por um lado, apresentação de metas ambiciosas de redução de GEE; por outro, aprovação de um Código Florestal flexível que atende os interesses dos grandes produtores de commodities.
  • Brasil: prisioneiro do sistema de produção primário herdado dos tempos da colônia.
  • Fragilidade político-institucional. 

** A iniciativa de revisão do Código Florestal partiu dos agricultores da região Sul >> 
  • Problema local: grandes extensões territoriais de topografia acidentada. Ilegalidade de produzir em áreas com grandes declividades. 
  • Outros grupos de agricultores viram na revisão do Código Florestal uma oportunidade de aumentar a área desmatada de suas propriedades rurais.
  • Os ambientalistas consideraram o novo Código Florestal uma derrota, um retrocesso se comparado à legislação antiga. 

** A perda de florestas tropicais causa prejuízos à vida mesmo a milhares de quilômetros de distância da origem do desmate:
  • Redução das chuvas em regiões tropicais.
  • Mortalidade de árvores devido ao stress hídrico. Proliferação de incêndios florestais.
  • Setores de agricultura e de energia >> altamente dependentes dos ciclos hidrológicos.

** Objeto de pesquisa >>
  • Identificação de padrões pluviométricos em escala regional e local, na porção meridional da Amazônia Brasileira e no Cerrado ("arco do desmatamento"). 


CAPÍTULO 01 - INTRODUÇÃO À MODELAGEM CLIMÁTICA EM ESTUDOS INTERDISCIPLINARES


** Modelagem  >>
  • Compreensão da circulação de sistemas atmosféricos, oceânicos e terrestres, principalmente em estudos de grande e média escala.
  • Ferramenta poderosa nas mãos dos tomadores de decisão.
  •  Avanços por meio de super computadores, radares e satélites com capacidade de cálculo elevada. 
  • Utilização de reanálise dos dados globais afinados para escalas regionais.
  • Uma das ciências mais caras do mundo. Fortemente dependente dos avanços na área de informática e computação espacial estatística.

** História dos modelos climáticos >>
  • Disciplina desenvolvida ao longo dos últimos 2 séculos.
  • Fotografia, técnicas e pesquisas militares permitiram o desenvolvimento de satélites, radares, reatores nucleares e aeronaves, essenciais aos estudos climáticos. 

** Divisão entre meteorologia (previsão dos fenômenos climáticos de curto prazo) e climatologia (análise dos fenômenos climáticos de forma lenta, apurada e de longo prazo)  >> 
  • Ptolomeu: descrição do movimento das massas de ar e divisão climática latitudinal do planeta.
  • Halley: teoria dos ventos alísios (afluxo de ar quente das áreas tropicais para os pólos).
  • Hadley: efeito Coriolis de rotação do planeta e respectivas influências nas massas de ar.
  • Humboldt: divisão de isolinhas de contorno, transformando-as em linhas isotérmicas.
  • Milankovich: periodicidade de mudanças climáticas em larga-escala (como a Era do Gelo), causadas pela órbita da Terra. Mudanças de até 30% do total de energia solar recebida pela superfície do planeta.
  • Vilhem Bjerknes: criação de equações primitivas de movimento e de estado que, por sua vez, permitiram espacializar dados em sistemas complexos.

** Consolidação das informações esparsas em um núcleo de análise da ciência do clima. Intercâmbio de dados climáticos mundiais. 
  • Acoplamento de modelos globais a partir do final da década de 60 e início da década de 70 >> consenso nas previsões de aquecimento global provocado por GEE.   
"Os conflitos armados foram responsáveis pela transformação da meteorologia. A nomenclatura da guerra está presente todavia nos mapas sinóticos e análises meteorológicas. Apesar de existirem fundos específicos que patrocinem o desenvolvimento da ciência do clima, a área militar continua relevante na criação de tecnologias que poderão ser úteis para a sociedade em que pese a sua utilização para propósitos bélicos." P. 32.

** Os modelos climáticos atuais utilizados pelo IPCC resultam de esforços coletivos, ao longo de décadas, de milhares de cientistas, militares e cidadãos comuns interessados na observação do clima >>
  • Troca de informações inicialmente promovida por meio de telégrafo. 


MODELAGEM CLIMÁTICA

** Primeiros modelos (EBMS): 2 variáveis, tais como CO2 e temperaturas.

** IPCC  >> começou trabalhando com modelos de 3 dimensões (GCMS). Incluem listas extensas de variáveis, tais como o movimento planetário e circulatório da atmosfera, as correntes em jatos, as interações entre a rotação do planeta, a gravitação e os níveis de insolação. 

** 1980 e 1990. Earth System Models (ESM). 
  • Expansão da modelagem do clima por meio de adição de elementos tais como capas de gelo, vegetação, neve, agricultura. Tentativa de reproduzir sistemas climáticos semelhantes aos do planeta Terra. 
  • Inclusão de variáveis antrópicas, tais como nuvens de resíduos radioativos. 
  • A partir de 1986: inclusão das temperaturas dos oceanos nos modelos. As temperaturas das massas de água (mais constantes) mostraram-se mais importentes para as previsões climáticas que as temperaturas terrestres (mais sujeitas a oscilações). 
** Dados de satélites >> construção de modelos 4 D com maior nível de detalhamento. 

** Modelos não são somente teorias, mas conjecturas ajustadas para as condições observadas no mundo real.



INPUT DE DADOS EM MODELOS CLIMÁTICOS

** Problema com a coleta dos dados climáticos >> 
  • Movimentação de instrumentos de medição.
  • Mudança de uso e ocupação do solo nos arredores das estações pluviométricas.
  • Calibração errônea de instrumentos de medição.
** Solução: cruzamento de dados para reduzir as inconsistências. 

** Estações meteorológicas têm sido substituídas por dados de satélite. 

** A maior parte dos dados é obtida por meio dos próprios modelos computacionais.



ASPECTOS DA MODELAGEM CLIMÁTICA NO BRASIL

** Vácuo histórico de dados sobre áreas tropicais, em geral.

** INPE. Aquisição de um supercomputador que terá como escopo a análise de áreas tropicais. Pretende igualar-se aos modelos europeus e norte-americanos em qualidade de modelagem climática e previsão do clima para a América do Sul.



CAPÍTULO 02 - A FLORESTA AMAZÔNICA E O CLIMA

** A Floresta Amazônica expandiu-se durante o Holoceno e regrediu nos períodos secos. 

**  Mecanismos que influenciam as precipitações na Amazônia >>
(a) Convecção diurna profunda devido ao aquecimento da Amazônia Central; 
(b) Zona de Convergência Intertropical; 
(c) Zona de Convergência do Atlântico Sul; 
(d) Temperaturas da superfície do mar. 
(e) Linhas de instabilidade originadas na boca do Amazonas e impulsionadas pelos ventos alísios que atingem os Andes em direção ao continente Sul-Americano. 
(f) Atividade convectiva em mesoescala associada a penetração de sistemas frontais no Sul do Brasil. 
(g) Corredor de umidade (JBN) que carrega ar úmido da Bacia Amazônica durante o verão austral para o Sul do Brasil, Norte da Argentina e Bacia do Prata. 
** O vapor de água disponível para as precipitações do Brasil Central durante o verão austral vêm diretamente da Amazônia. 
  • "Estradas de nuvens". 
  • Cerca de 50% da água precipitada é evapotranspirada como vapor de água de volta à atmosfera. 

** Características gerais do bioma amazônico  >>
  • No oeste da Amazônia, as precipitações ocorrem ao longo de todo o ano. Nas áreas centrais ao leste e ao sul (Mato Grosso e Rondônia), há um período de seca bem definido.
  • Baixo albedo.
  • Altas taxas de reciclagem de nutrientes.
  • Forte fluxo de superfície, devido à rugosidade.
  • Alto potencial de armazenamento de água nos solos. 
  • Oscilação Madden-Julian (OMJ). Modulação da Zona de Convergência do Atlântico Sul. Predomina no verão austral, mas também se propaga no inverno austral em direção ao norte.

** ENOS >> fenômeno de abrangência global. Funciona como uma oscilação acoplada do oceano-atmosfera que produz alterações na superfície do mar, na pressão, nos ventos e na convecção tropical.
  • Mais facilmente observáveis no Oceano Pacífico.
  • Influencia diretamente o clima do Brasil. Trata-se da principal fonte de variabilidade interanual do clima no Brasil.
  • Duas fases opostas: El Niño e La Niña. 

** Variações decenais na temperatura dos oceanos  >>
  • No Oceano Pacífico, essas variações de temperatura acopladas com El Niño ou La Niña podem acarretar peculiaridades climáticas drásticas.
  • No Oceano Atlântico, influencia a intensidade da Zona de Convergência Intertropical e, por consequência, o clima (em especial as precipitações) da região Nordeste. 

** Interação Oceano-Atmosfera na América do Sul >>
  • Energia em forma de fluxo de calor é trocada entre a atmosfera e o oceano.
  • Corrente Brasil-Malvinas. Águas quentes saem do Brasil em direção às Malvinas. Águas frias saem das Malvinas em direção ao Brasil.
  • Ventos mais intensos << >> águas mais quentes. Ventos mais fracos << >> águas mais frias. 

** Correntes em jato >>>
  • Correntes de ar em forma de estreito cano de conduto, quase horizontal, próximo da tropopausa.
  • A velocidade dos ventos pode atingir, no eixo principal, entre 140 e 300 km/h.
  • O Jato Subtropical é relativamente constante. O Jato polar, por sua vez, é altamente variável. 

** Jatos em baixos níveis ao longo dos Andes >>>
  • Canalização do vento devido às elevadas dimensões dos Andes.
  • Esteira de transporte de umidade das regiões tropicais para as regiões subtropicais.
  • Sistema típico de monções. Transporta a umidade da Bacia Amazônica para a Bacia do Paraná-Prata. 

** Sistemas Frontais >>> 
  • Forma-se com mais frequência na latitude 60 graus, no cinturão de baixas pressões (ciclones extratopicais).
  • A passagem de frentes é mais frequente entre maioe e setembro e menos frequente no verão. 
  • As frentes são mais frequentes nos anos de El Niño.

** Monção da América do Sul >>>
  • Monção "é uma região sob circulação de reversões sazonais na direçãodo vento que causam verões chuvosos e invernos secos". P. 57.
  • A monção na América do Sul começa no início de setembro, nas proximidades da Cordilheira dos Andes, e propaga-se para Sudeste, atingido 48 graus Oeste em Dezembro.

** Ondas atmosféricas ou frentes >>>
  • Fenômeno de menor escala temporal e espacial. 2000 a 3500 km de comprimento e período de 3 a 5 dias. 
  • Propagação em direção a Oeste.
  • Perturbações sobrepostas ao estado básico. 
  • Redistribuem o calor buscando o equilíbrio térmico, sem sucesso. 
  • Influencia a estação das chuvas na Região Nordeste.

** Complexos convectivos de mesoescala >>>
  • Responsáveis pela maior parte da precipitação nos trópicos.
  • Agrupamento de nuvens cúmulos-nimbos.
  • Seu tempo médio de vida gira em torno de 16 horas.
  • Tamanho total de 190.000 km.
  • Maior frequência na primavera, depois no outono e, por fim, no verão.
  • Movimento preferencial na direção leste. 

** Vorticidade potencial >>>
  • Centros de pressão relativamente baixa que se originam na alta troposfera.
  • Podem se deslocar lentamente tanto para leste quanto para oeste, por vários dias.
  • Ocorrem com mais frequência entre dezembro e fevereiro.
  • Duração entre 4 e 11 dias.

A INTERAÇÃO ENTRE OS DIVERSOS SISTEMAS DE VARIABILIDADE CLIMÁTICA E DE CIRCULAÇÃO EM ESCALA SINÓTICA NO CLIMA AMAZÔNICO

** O clima na Bacia Amazônica se comporta como um sumidouro de umidade recebida a partir da floresta tropical e do Atlântico Tropical. 

** O aumento da temperatura do mar ao longo dos últimos 50 anos na parte norte do Atlântico Tropical tem contribuído para o aumento do transporte de umidade do oceano em direção à Bacia.
  • Contribuição do Atlântico para a formação de chuvas: 37%.
  • Contribuição docontinente para a formação de chuvas (o que fortalece a ideia de interação entre o clima e a floresta): 46%
** Os fenômenos ENSO também influenciam o clima amazônico. A seca de 2010, a pior já conhecida pela Amazônia desde o início dos registros históricos, foi impulsionada pelo El Niño.

** Fatores de pressão na Floresta Amazônica >>> Associados ao mercado mundial de commodities. Demanda urgente de novos instrumentos de gestão. 
  • Produção de biodiesel a partir do óleo de palma e outros biocombustíveis.
  • Produção de grãos.
  • Ampliação de terras agricultáveis.
  • Pecuária.
  • Suinocultura.


CARACTERÍSTICAS DO CLIMA SUL AMAZÔNICO
  • Oferta pluvial relativamente elevada.
  • Diversidade de tipos climáticos associados às latitudes equatoriais continentais e tropicais.
  • Estação seca entre junho e setembro; estação chuvosa entre novembro e março. 
  • Durante o período seco, a maior contribuição para formação de chuvas (calor + umidade) vem do solo. 
"Durante a estação seca as regiões cobertas por florestas parecem ter capacidade suficiente de manter a energia de calor latente na atmosfera-biosfera, o que não é o caso das regiões com vegetação típica de cerrados ou que sofreram desmatamento". Pp. 74.


PADRÕES PLUVIOMÉTRICOS DA AMAZÔNIA MERIDIONAL / SUL AMAZÔNICO E AS SÉRIES CRONOLÓGICAS DE PRECIPITAÇÕES
  • O desmatamento da Amazônia teve início em 1964 e intensificou-se em 1975-1976. A partir de 1983, assumiu um ritmo assustador.
  • Identificação de decréscimo abrupto das precipitações para toda a Bacia Amazônica nos anos de 1993 e 1994.
  • Identificação de redução das precipitações na Amazônia entre 1996 e 2005, nas áreas cujo dossel da floresta é mais esparso.
  • Identificação do aumento da sazonalidade durante o período seco e precipitações mais violentas em curto espaço de tempo entre 1979 e 1993.
  • Em escala regional, a transpiração consiste o mais importante serviço ambiental prestado pela floresta.
"Os estudos mostram que com um percentual maior de floresta intacto e denso, as árvores se tornam menos vulneráveis a seca, devido a profundidade das raízes do solo". P. 75. 


PREVISÕES E DIAGNÓSTICOS DOS MODELOS CLIMÁTICOS PARA A AMAZÔNIA
  • Modelos do IPCC  >>> há 80% de probabilidade de intensificação da estação seca nas regiões do Sudeste Amazônico, em função das mudanças climáticas.
  • Na Amazônia, o fator "vegetação" é responsável por grande parte das chuvas locais e regionais.. Já em mesoescala, existem limites da influência da floresta sobre o clima. Prevalência de fatores como a barreira da Cordilheira dos Andes, a Zona de Convergência do Atlântico Sul e os contrastes termais entre continente e oceano.
  • Simulações computadorizadas considerando a variável "mudança no uso do solo" (desflorestamento) preveem o prolongamento da estação seca em até 1 mês e a conversão, em cerrado, das porções limítrofes situadas a leste e a sudeste do bioma. 
"O desmatamento na região do Arco do Desmatamento causa importante decréscimo na evapotranspiração, devido a redução da profundidade das raízes responsáveis pelo bombeamento de água para atmosfera, e o o acréscimo do [sic.] taxa de Bowen nas áreas desmatadas". P. 81.

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