quinta-feira, 25 de junho de 2015

Resumo e Excertos. The Gentle Subversive: Rachel Carson, Silent Spring and the rise of the environmental movement. Mark Hamilton Lytle.

Centro Universitário de Brasília – Uniceub
Faculdade de Direito
Pós Graduação em Direitos Sociais, Ambiental e do Consumidor
Monografia Final
Orientador: Professor José Augusto Drummond
Aluna: Juliana Capra Maia
Resumo e Excertos
Referência: LYTLE, Mark Hamilton. The Gentle Subversive: Rachel Carson, Silent Spring and the Rise of the Environmental Movement. New York, Oxford University Press, 2007.



PRÓLOGO 

Rachel Carson escrevia Silent Spring quando um caso judicial acerca de pulverizações aéreas com pesticidas em Long Island provocou polêmicas e produziu evidências que a ajudariam na sustentação científica do seu livro. A autora bem sabia que, dada a natureza controversa da temática, apoio científico seria vital para a aceitação do livro que, até então, intitulava-se “Man against Earth”.
Aliás, vale observar que diversos títulos foram considerados para Silent Spring. Citam-se: “The war against nature”, “At war with nature” e “Man against the Earth. “Silent Spring” era, originalmente, o título de um capítulo que versa sobre mortandade de aves em decorrência do uso indiscriminado de pesticidas. Por sugestão de uma amiga de Carson, o título do capítulo acabou se tornando o título do livro.


In the atomic age she grew ever more uncomfortable with the power of science and technology to undermine or even destroy that ecological interdependence. Pesticides were yet another lethal weapon that threatened nature and the ecological systems on which human life depended.
Carson saw that the book she began as a defense of nature against human assault was evolving into a vital lesson in applied ecology. In disturbing the balance of nature, pesticides posed every bit as great a threat to humans as they did to other living things. Pp. 08.


Os possíveis impactos dos pesticidas na saúde humana tornaram as pesquisas de Rachel Carson ainda mais complexas e controversas. A autora, por seu turno, era perfeccionista e não admitia publicar um livro com os flancos abertos para as críticas que certamente viriam. Isso contribuiu para que a data de apresentação do manuscrito foi sucessivamente adiada. Ademais, a saúde da autora já era delicada quando começou a escrever Silent Spring. Rachel Carson sofria de câncer de mama em metástase, motivo pelo qual submetera-se a uma mastectomia, bem como a diversas seções de radioterapia.  
Apesar de todos os obstáculos, Rachel Carson imbuiu-se de um sentimento quase religioso de missão a cumprir, forçando-se a concluir o livro que a tornou conhecida como fundadora do ambientalismo contemporâneo. 



CAPÍTULO 01 – Spring. Sense of wonder: Under the sea-wind. 

Rachel Carson era a caçula entre os três filhos de Robert e Maria Carson. Nascida oito anos depois de seu irmão, na data de 27 de Maio de 1907, foi criada praticamente como filha única.
A família de Rachel Carson era de poucas posses. Seu pai ganhava a vida vendendo lotes e, ocasionalmente, viajando para vender seguros (LYTLE, 2007). Para suplementar a renda familiar, ocasionalmente trabalhava em tempo parcial na West Penn Power Plant, usina situada nas proximidades da pequena cidade de Springdale, situada a nordeste de Pittsburg/Pensilvânia.


Rachel was the third of three children of Robert and Maria Carson. In some ways, she was almost an only child since her sister and brother were so much older. When she was born on May 27,1907, her sister Marian was ten and her brother Robert eight. After Robert’s birth, her father settled the family on a farm outside the village of Springdale, Pennsylvania, 15 miles up the Allegheny River, northeast of Pittsburgh.  The setting evoked an earlier pioneering era. When the Carsons settled in Springdale, farms, woodlands and streams surrounded the village. Pp. 15.


Springdale era uma localidade pequena, com raros atrativos culturais. Ademais, a família Carson morava nos arredores rurais da vila. Desse modo, a leitura de livros, jornais e revistas acabou por se tornar, tanto para Maria Carson quanto para Rachel Carson, uma alternativa de entretenimento.
Reservada, Rachel Carson tornou-se uma aluna exemplar. Incentivada pela mãe, começou a encaminhar os seus escritos para publicação na St. Nicholas Magazine quando ainda tinha 11 aos de idade. A revista refletia, nas suas publicações, o sentimento de reverência à arcádia comum nos EUA do início do século XX. Sob esse aspecto, Lytle (2007, p. 21) afirma que a St. Nicholas fez mais do que encorajar os talentos autorais de Rachel Carson: a revista reforçou a sua vocação como naturalista.
Rachel Carson também seria influenciada por Maria Carson em um traço que lhe marcou o caráter ao longo de toda a vida. Trata-se, aqui, dos fundamentos de uma ética biocêntrica, alimentados pelo movimento de reforma na teologia presbiteriana ocorrido no início do século XX, teologia essa dentro da qual Maria Carson educou a sua filha. A reforma incentivava os estudos a respeito da natureza, como forma de transmitir às crianças um senso de veneração pela obra de Deus.
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Maria Carson inculcated that biocentric ideal in her children, and Rachel took it truly to heart. P. 24.


Ingressou na Pennsylvania College for Women (PCW) no estudo da língua inglesa, com a intenção de aprimorar seus talentos como escritora. Lá, influenciada pela professora Mary Scott Skinker, acabou por optar pelo estudo de biologia.
Apesar das recompensas intelectuais, para mulheres, o estudo de ciências poderia propiciar, nas melhores hipóteses, empregos em escolas ou faculdades femininas. Essas perspectivas, entretanto, não desagradavam a Rachel Carson, que parecia disposta a seguir, com prazer, os passos da professora Mary Scott Skinker. 


For Rachel, PCW brought together the two strands that later defined her career — her ambition to be a write and her love of nature and science. P. 28.

Hopkins did admit her to its biology graduate program, though without the financial support she needed to leave PCW. P. 33.

The graduate school at Johns Hopkins was a different world altogether. It stressed pure research, and students in Carson’s positon were expected eventually to become doctoral candidates. P. 35.

In the fall of 1929, shortly after she enrolled at Hopkins, the stock market crashed, leaving her family's financial situation ever more uncertain. Pp. 36.

The  Depression  era  was  not  the  time  for  Rachel or any other woman to launch a  career, especially in the world of science, where men ruled the laboratories and  academic departments. Pp. 37.

Given the growing financial burden imposed by her family, the sooner she earned that degree, the better. Pp. 37.

She now had to work part-time in order to continue her studies. Pp. 37.


Mesmo que Rachel Carson pretendesse algo diferente, isto é, mesmo que desejasse prosseguir com os estudos na Johns Hopkins, as circunstâncias não lhe permitiriam completar o doutorado. Em 1932, logo depois de obter o título de mestre, os fardos de sua família aumentaram bastante. O irmão Robert deixara a família para morar só. A irmã Marian, mãe de 2 meninas, ficou inválida, vítima do agravamento de um quadro de diabetes. Diante desse contexto, Rachel Carson teve que abandonar o programa de doutoramento e procurar um emprego de professora em tempo integral.
Não fosse suficiente, seu pai faleceria em julho de 1935, vítima de um ataque cardíaco fulminante. Nessa época, os rendimentos familiares estavam tão curtos que a família não teve dinheiro sequer para arcar com os custos do seu funeral. Nesse momento desesperador, Mary Scott Skinker, ex-professora de Rachel Carson, conseguiu que a pupila, previamente aprovada em seleções públicas nas áreas de vida selvagem, biologia aquática e parasitologia, fosse convocada a ocupar uma posição no U.S. Bureau of Fisheries.
O emprego público de Rachel Carson demandava contato direto com dados primários e secundários a respeito da vida selvagem. Essas atribuições lhe permitiram a construção de uma rede de contatos entre pesquisadores dedicados a Biologia Marinha. Para completar os rendimentos, Carson vendia artigos a respeito da vida marinha para o Baltimore Sun: cada artigo publicado lhe rendia, então, US$ 20.
Pouco tempo depois, Marian, sua irmã mais velha, de cerca de 40 anos de idade, viria a falecer vítima de pneumonia. Deixava duas meninas há muitos anos abandonadas pelo pai. Rachel Carson (então com 30 anos) e Maria Carson (com 70), que há muito não contavam com o auxílio de Robert Carson (irmão de Rachel), tiveram de criar as meninas.
Até pela avançada idade de sua mãe, a nova responsabilidade caiu sobre os ombros de Rachel Carson. A autora sentiu o peso do fardo. Uma das formas que ela via de completar a – minguada – renda familiar era conseguir mais dinheiro com as suas publicações, motivo que lhe levou a produzir textos e a submetê-los aos jornais. “Undersea”, publicado no The Atlantic Monthly em setembro de 1937, é resultado dos esforços eivados pela autora durante esse período. Também é fruto do reconhecimento do editor Edward Weeks, que classificou o texto de Rachel Carson como “extraordinariamente eloquente”, pagando-lhe US$ 100 pela publicação.
O texto foi bem recebido nos meios literários e científicos. Quincy Howe, um editor da Simon and Schuster Publising House e Hendrik Willem Van Loon, autor de um dos maiores best-sellers da década de 1920, incentivaram Rachel Carson a transformar “Undersea” em livro (Pp. 44). Rachel Carson já sabia que deveria produzir esse livro afastada do viés antropocêntrico que marcava a maior parte dos escritos a respeito do mar: as criaturas falariam por si mesmas, com pouca ou nenhuma interferência do narrador.
Decidir escrever o livro era muito mais fácil do que escrevê-lo. Ainda mais considerando as atribuições – sempre crescentes – do cargo público no U.S. Bureau of Fisheries, as reestruturações administrativas e as responsabilidades familiares com os quais Rachel Carson tinha de lidar. O seu tempo para dedicar-se ao livro ficou restrito a noites, madrugadas e finais de semana.
Desse modo, forçando-se a lidar com o prazo fatal de dezembro de 1940, foi apenas na primavera de 1940 que Rachel Carson conseguiu entregar um manuscrito suficiente à Simon and Schuster Publising House, garantindo para si, desse modo, um contrato como autora. Em novembro de 1940, apresentou a versão final de “Under the Sea-Wind”, livro que só seria publicado um ano depois, na data de 01 de novembro de 1941.
O livro recebeu boas críticas: combinava rigor científico e talento literário. Transitava com fluidez entre diversas espécies de aves marítimas, descrevendo ciclos de vida animal que ocorriam entre o Ártico e a Patagônia. O gênero de Rachel Carson também chamou atenção. Ela era naturalista, bióloga e mulher, algo extremamente raro na década de 1940. 



CAPÍTULO 02 – Summer. Florescence: The Sea Around Us. 

“Under the sea Wind”, um livro que unia as duas paixões da autora (a literatura e a ciência) foi publicado em novembro de 1941 e, como mencionado, recebeu diversos elogios dos críticos literários e científicos. Mesmo assim, 1941 não foi o ano do triunfo de Rachel Carson.
Pouco depois de um mês da publicação de “Under the sea Wind”, ocorreu o bombardeio japonês à base militar de Pearl Harbor. O público potencialmente leitor, então, voltou a sua atenção às questões de segurança, bem como ao ingresso dos EUA na 2ª Guerra Mundial. Havia pouco espaço para divulgar histórias sobre o oceano e as suas criaturas. As vendas de “Under the sea Wind”, bem como os royalties recebidos por Rachel Carson, foram magros.
No serviço público, por sua vez, Rachel Carson trilhava uma carreira ascendente. Em apenas três anos, ela foi promovida de assistente a associada e, finalmente, a bióloga aquática sênior do Fish and Wildlife Service. Suas atividades profissionais, entretanto, não eram exercidas nos laboratórios (bastante refratários à presença feminina), mas no serviço de informação e publicidade da agência.
Os graus no Fish and Wildlife Service vinham acompanhados de algum dinheiro e muitas responsabilidades. Profundamente envolvida nas rotinas da agência, sobrava pouco tempo para escrever. Carson sonhava em trabalhar como escritora em tempo integral. Naqueles tempos, contudo, esse projeto pessoal tinha de ser sacrificado, até porque, ao fim e ao cabo, era o trabalho no Fish and Wildlife Service que propiciava a subsistência da sua família. 
Apesar de não lhe agradarem, as atividades no serviço público estavam ampliando a rede de contatos e os conhecimentos de Rachel Carson. Como servidora pública, teve acesso a cientistas e a pesquisas de ponta aceca da superfície submarina, das correntes oceânicas, dos habitats de anfíbios e da vida marinha em geral. Também foi no Fish and Wildlife Service que, nos idos de 1945, Rachel Carson ouviu os primeiros relatos a respeito dos efeitos deletérios do DDT para a vida selvagem. Na época, a autora se propôs a escrever um artigo explicando, em linguagem acessível ao público leigo, os achados das pesquisas científicas sobre o DDT para publicação na Reader’s Digest. A revista, contudo, não demonstrou qualquer interesse no texto.   


The Department of Agriculture made DDT available to the public in massive quantities before manufacturers tested its potential danger to humans. Edwin Way Teale, a leading ornithologist and another of Carson’s eminent supporters, wrote an article in the March 1945 issue of Nature Magazine warning that DDT might pose a threat to wildlife. Elmer Higgins, who first hired Carson and urged her to publish in the Atlantic, was one of the researches at Patuxent. Together with biologist Clarence Cottam, yet another of Carson’s scientific allies, Higgins sent a series of reports critical of DDT to Fish and Wildlife for her to edit. As with radar, Carson proposed to translate their reservations into terms a popular audience could understand. The Digest, however, had no appetite for scientific muckraking, especially in the summer of 1945. The triumph of science was the big story in a year in which the United States successfully detonated atomic bombs at Hiroshima and Nagasaki. P. 61. 


Mesmo assoberbada no trabalho, Rachel Carson investia seu tempo livre coletando material para o futuro livro a respeito da história natural dos oceanos. Visitas programadas pelo Fish and Wildlife Service a refúgios costeiros, reservas de pesca, unidades de conservação e centros de pesquisa ajudavam-na a coletar material e a contatar atores-chave.
Aos poucos, parecia aos amigos que o livro imaginado por Rachel Carson ia amadurecendo, tomando forma. Charles Alldredge, um amigo e colega que apreciava os dons literários de Rachel Carson, sugeriu-lhe que contratasse um agente para lidar com os problemas legais e negociais envolvidos na publicação do próximo livro. Acatando a sugestão, Rachel Carson acabou contratando Marie Rodell, uma filha de russos judeus que se tornaria amiga, torcedora, editora e conselheira de Carson no caminho para o sucesso.
Marie Rodell conseguiu, para Rachel Carson, um contrato com a Oxford University Press. A partir desse contrato, Rachel Carson dedicou-se intensamente à elaboração da sua história natural dos oceanos.
Lytle relata que, perfeccionista, Rachel Carson enfrentou dificuldades para concluir o livro dentro dos prazos estipulados. A autora também não se decidia quanto ao título do novo livro. O inicial “Return to the sea” não transmitia exatamente o que ela estava escrevendo. Tampouco o transmitiam os aventados títulos “Story of the Sea”, “Empire of the Sea” e “Sea without End”. “The Story of the Ocean” era um título adequado ao conteúdo do livro, mas comercialmente fraco. Finalmente, a autora decidiu-se por “The Sea around Us”, um título que já havia cogitado anteriormente.
À medida em que o trabalho ficava pronto, revistas e jornais se ofereciam para adquirir capítulos condensados. A publicação dos capítulos nesses veículos de comunicação, além de render royalties para a autora, era propaganda espontânea do livro que logo seria lançado.
Quando finalmente foi publicado, “The Sea around us” foi um tremendo sucesso de críticas e vendas. A Oxford University Press produziu 15 reimpressões da primeira edição apenas nos primeiros dois meses de vendas. O livro ganhou diversos prêmios, inclusive o National Book Award for nonfiction e foi traduzido para 31 idiomas.
Aos 44 anos de idade, Rachel Carson finalmente obteve sucesso comercial, reconhecimento literário e independência financeira. The Sea around Us permitiu que Rachel Carson se deligasse do Fish and Wildlife Serivice para realizar o sonho de ser escritora em tempo integral.
O sucesso do livro não foi um acaso. Era, de fato, um texto muito bom, que abordava sob o viés científico questões que ainda eram míticas no imaginário popular: monstros marinhos e o continente Atlântida, por exemplo.      
 

The sea world Carson unveiled was a place worthy of science fiction – home to all manner of exotic creatures and unexpected sights and sounds. P. 84.


For most readers in 1951, the oceans remained as mysterious as these creatures captured from its sunless depths. Much of what people knew or thought they knew came from the myths of the ancient worlds, the tales of seafarers, or stories such as Jules Verne’s wonderful Twenty Thousand Leagues Under the Sea. Carson offered her reader instead a narrative based not on myth but on science and yet with all the wonder and mystery still intact. Was it true that ships drifting into the Sargasso Sea were destroyed by sea monsters or trapped forever by giant weeds as Columbus’s crew feared? Was there a lost continent of Atlantis? Did terrifying monsters live in the ocean depths as Verne portrayed? P. 85. 


Carson broke her story into parts: creation; surface waters and sunless depths; geography of the sea floor; winds, tides, and currents; resources; and effects on climate. Her larger purpose was not to dissect but to give a sense of the whole. All life, including human live, bears the mark of its marine origins; all life depends on the seas; and in the end, as lands erode, all matter, organic and inorganic, returns to the sea – “to Oceanus, the ocean river, the ever flowing stream of time, the beginning and the end”. To tell this story, Carson drew heavily on science. Indeed, in many ways, The Sea Around Us was a celebration of science and its practitioners. Carson not only reported what scientists had discovered about the sea but also explained how they came to know things and why some explanations remain contested and some mysteries remain unsolved […].
In plumbing the depths of the oceans, Carson asked her readers to think ecologically. Hers was a biocentric view of nature, informed by a Darwinian approach to evolution, in which humans were just another species, albeit a dangerous and often destructive one. P. 87.  


O approach ecológico de Rachel Carson se assemelhava àquele contemplado no trabalho de Alfred North Whitehead, filósofo inglês estabelecido nos EUA nos anos 1920 e um dos intelectuais que formava o “Grupo de Ecologia” da Universidade de Chicago. A principal crítica desse grupo à ciência tradicional era o seu mecanicismo, que reforçava a tendência ao reducionismo. Whitehead dizia que não se podia compreender a unidade do todo apenas por meio da compreensão isolada das partes: na natureza, seres vivos e não vivos estão intrincados na grande teia da vida. A ecologia, então, apresentava-se como disciplina fundamental para estressar a interdependência e a cooperação entre os seres. 
Nos anos 1930 e 1940, o surgimento dos regimes totalitários drenou boa parte do entusiasmo dessa abordagem. Nos anos 1950, por sua vez, sob o espectro da cruzada de McCarthy, a ideia de interdependência de indivíduos a comunidades ficou perigosamente associada ao comunismo. Antes que pudesse reformular as ideias, o grupo de Whitehead foi dissolvido, cessando a sua fluência sobre o pensamento ecológico. Até Rachel Carson.  


There was an exception. In The Sea Around Us and the books that followed, Carson embraced the cooperative ideal. She should do so because she had little concern with the political implications of ecology for human society. The oral condemnations that appeared occasionally in her writing had ecological, rather than political, import. She saw herself as a spokesperson for nature, a writer who promoted a sense of wonder and curiosity at the marvels of the living world. Scientists applauded her as someone who made their work accessible but not as theorizer. As an advocate for nature, Carson did not want to reform humankind in the manner of the Ecology Group. Instead, she wanted to protect nature from degradation by humans.
[…]. In a more reasonable world, by which she meant a more biocentric one, humans should have preserved these oceanic habitats “as natural museums filled with beautiful and curious works of creation, valuable beyond price because nowhere in the world are they duplicated”. Instead, as a fellow scientist observed, “the beautiful has vanished and returns not”. That message may have been lost on many of her readers in the 1950s, but it resonated with a new generation a decade later […]”. P. 90 e 91.   



CAPÍTULO 03 – Fall. The fullness of life: from The Edge of the Sea to DDT. 

O sucesso de “The Sea around Us” abriu novas possibilidades para Rachel Carson. Com os seus direitos autorais, Carson pôde tornar-se escritora em tempo integral, deixando para trás a carreira no Fish and Wildlife Service. O dinheiro lhe permitiu realizar um antigo sonho de adquirir um pequeno refúgio no Maine, perto do mar. A escassez financeira que ela conhecia desde criança finalmente ficara para trás. O sucesso do livro também serviu como cartão de visitas para diversas editoras que passaram a lhe fazer propostas para novos projetos.
Mesmo assim, Rachel Carson tinha pouco tempo para escrever. A fama decorrente do último livro exigia que a escritora participasse de diversos eventos sociais. A vida familiar de Rachel Carson também não era simples. Sua mãe, com 83 anos, demandava cuidados diuturnos, que Carson, salvo situações excepcionais, recusava-se a terceirizar. Uma das sobrinhas que ajudara a criar, Marjorie, se envolvera com um homem casado e engravidara situação que, na década de 1950, representava total desonra. O sobrinho-neto que nasceu em 18 de fevereiro de 1952 e recebeu o nome de Roger, mais tarde, seria adotado pela escritora.
O terceiro livro, que mais tarde seria intitulado “The Edge of the Sea”, foi inicialmente pensado como um compêndio ilustrado de espécies marítimas, um guia do mar voltado para o público leigo. Retirar as espécies do seu ambiente, contudo, não agradava a autora, que entendia que essa perspectiva tornava por demais fragmentado o conhecimento produzido. Em viagens às Ilhas Keys, entretanto, ela encontrou a conexão que faltava entre mundo orgânico e inorgânico, após o que o texto fluiu mais facilmente de suas mãos. Rachel Carson entregou ao seu editor, em fevereiro de 1955, o manuscrito completo de “The Edge of the Sea”.   
   

Have The Edge of the Sea been Carson’s first book, it probably would have inspired the same fanfare that accompanied The Sea Around Us. After its publication, in October 1955, Edge quickly reached the bestseller list, but it never achieved the same level of commercial and critical success. […]. Still, The Edge of the Sea stayed near the top of the list for almost five months. P. 108.


While Carson explored the three distinct shore habitats, a single theme unified the book. Each region might have a distinctive ecology, but within all three the flora and fauna evolved to meet the conflicting demands of the places where land and sea meet. An area that most humans viewed as of little value actually teemed with life. In an environment with extremes of moisture, temperatures, storms, currents, and tides, living creatures must adapt to survive. P. 110.


O livro era bom. Mas as comparações com o anterior eram inevitáveis. Ademais, outros livros sobre o mar haviam sido lançados. Por isso, The Edge of the Sea nunca ultrapassou as vendas de The Sea Around Us.
Na linha dos demais, o trabalho também explorava a interdependência entre todas as coisas vivas, revelando a sua afinidade com o recém-debandado Grupo da Ecologia. Dissecar animais em laboratório para compreender as suas funções vitais tinha uma função, mas não dava conta de toda a realidade que interessava à biologia. Questões como “por que essa espécie predomina nesse tipo de habitat?” não podiam ser respondidas nos laboratórios tradicionais, mas no e a partir do ambiente. 
   

Sitting by a tide pool during one of her research outings, Carson noticed some sponges – creatures simple in structure and little changed since the Paleozoic Era some 300 million years earlier. Suddenly, she felt linked to an ancient past. As she studied them, a fish entered the pool. Compared to the sponges, that fish struck her as a Johnny-come-lately, with an ancestry of no more than 150 million years. And to Carson, who beheld the two “as though they were contemporaries”, the thought occurred that humans were biological infants “whose ancestors had inhabited the earth so briefly that my presence was almost anachronistic”. Such observations challenged the anthropocentrism with which most humans view the natural world. Even more, they evoked the sense of wonder that readers earlier discovered in The Sea Around Us […]. P. 112.


Em 1955, surgiu a oportunidade de Rachel Carson escrever roteiros para programas de televisão. “Something about the Sky”, resultado do entusiasmo da autora pela possibilidade de atingir milhões de expectadores, foi ao ar em 11 de Março de 1956. Fluente e poético, o programa foi um sucesso de público e de críticas.
Rachel ainda tinha um contrato não cumprido com a Harper & Brothers Editora. Pensava em escrever um livro a respeito da evolução. Justamente quando definia o enfoque do trabalho, entretanto, o biólogo Julian Huxley publicou um livro amplamente divulgado a respeito do tema, “Evolution in Action”, de modo que um segundo livro sobre evolução se tornava comercialmente redundante.
Nesse meio tempo, ainda sem definir o seu tema com precisão, escreveu um artigo para a Woman’s Home Companion intitulado “Help your child to wonder”. Nesse artigo, revelou alguns acontecimentos de sua vida privada e do seu relacionamento com o sobrinho-neto Roger.
Em 1957, a sobrinha de Rachel Carson, Marjorie, acabou falecendo vítima de uma severa pneumonia. De repente, a autora, que já não era uma pessoa muito saudável, se viu como única responsável pelo sobrinho-neto Roger – que ela, então, adotou – e por sua mãe, Maria Carson, permanentemente acamada. Ademais, Carson enfrentava uma crise de fé. Até então, acreditava que, não obstante os avanços da ciência, o homem dificilmente conseguiria atingir a vida de forma significativa. Essa concepção foi fortemente abalada pela Bomba Atômica.    


[…]. For Carson, a shift in thinking began with the dawn of the atomic age. Before the ominous mushroom cloud appeared over Hiroshima, “It was pleasant for me to believe, for example, that much of nature was forever beyond the tampering hand of man – he might level the forests and dam the streams, but the clouds and the rain and the wind were God’s…”
Now, Carson found it difficult to sustain any confidence in the enduring capacity of “life” to withstand human assaults. She discovered in herself a new skepticism toward the dominant faith of postwar America in science and human progress. P. 120. 


Quando se sentia moralmente inclinada a redigir um manifesto pela vida, acabou se deparando com o tema do seu livro mais famoso: Silent Spring. Olga Owens Huckins, editora do Boston Post que se correspondia com Rachel Carson, encaminhou à autora, em fevereiro de 1958, uma cópia da carta que publicou no Boston Herald reclamando dos programas estatais de pulverização aérea para controle de mosquitos. Owens denunciou, na carta ao jornal, a mortandade de aves em um santuário de fauna vizinho à sua residência, cuja causa mais provável eram as tais pulverizações. Não fosse suficiente, enquanto os mosquitos permaneceram densos e vorazes, insetos benéficos (tais como abelhas) simplesmente desapareceram.


Carson recalled that she immediately began collecting information about pesticides. The more she collected, “the more appalled I became”. Soon after, she realized she had the material for a book but wanted “to do more than merely express concern: I wanted to demonstrate that that concern was well founded”. […]. In her effort to find someone to help Huckins, Carson “realized I must write the book” […].
Certainly, Huckins played a role; but by the time Carson received her letter, she was already collecting material about pesticides and persuaded of their danger to living things. As early as 1945 Carson had approached Reader’s Digest about an article detailing the dangers of DDT based on research being done at nearby Maryland laboratory. Five years later, a congressional committee held hearings into the potential dangers of DDT thought it recommended no new policy. By the mid-1950s, a whole range of pollution-related issues, from the brown acrid smog over Los Angeles to the phosphate-fed algae blooms chocking Lake Erie, began to receive widespread public attention. As a scientist and a naturalist, Carson knew that an ecological crisis was brewing and that pesticide poisoning was a major factor. She was already involved in two separate cases that drew her attention back to the dangers of DDT and the whole class of pesticides based on chlorinated hydrocarbons.
In the fall of 1957, friends from the Washington chapter of the National Audubon Society told her about a U.S. Department of Agriculture (USDA) program to eradicate the fire ant from vast areas of southern farmlands and forests. For a nation engulfed in the McCarthy era’s witch-hunts, the fire ant was the insect world’s perfect counterpart to Communist subversives – unseen, dangerous, and potentially deadly. P. 121 e 122.    


Havia fundadas críticas ao programa de erradicação da formiga de fogo (fire-ant). Por questões climáticas, a espécie, nativa do Brasil, permanecia confinada no extremo sul dos EUA, até porque não sobrevivia a invernos extremos. Ademais, os fazendeiros do Sul há muito coexistiam com as formigas, que não representavam ameaça significativa às lavouras, ao contrário do que apregoava a propaganda governamental.
Mesmo assim, em meados da década de 1950, a USDA entendeu que a formiga de fogo representava uma ameaça à segurança alimentar dos EUA e desenvolveu um programa de dedetização aérea sobre uma área que se estendia entre 20 e 30 milhões de acres.

[…]. To fight this invasion, the USDA sprayers chose as their version of an entomological atomic bomb dieldrin and heptachlor, both chlorinated hydrocarbons far more lethal than DDT and serious risks to both wildlife and beneficial insects. Yet, no insect lent itself better to limited-spot spraying than the fire ant. Most likely, USDA officials saw fire ant eradication as an opportunity to wage a public relations campaign that would promote both the department’s Agricultural Research Service and the interests of its allies in the agricultural chemicals industry. P. 123.


O programa de erradicação da formiga de fogo foi alvo de incontáveis críticas de grupos conservacionistas, clubes desportivos e cientistas de modo que, o que deveria ser um programa de relações públicas, acabou se tornando um verdadeiro fiasco político e biológico da USDA. 


[…]. Critics pointed out that the USDA had launched the program with no plan to measure the unintended impact of the spraying. Several southern states withdrew their support for the program, which ended as both a biological and a political fiasco. P. 123 e 124.


Rachel Carson se envolveu com a temática por ocasião da segunda onda de críticas aos programas de pulverização aérea da USDA, agora, a serem realizados no populoso Nordeste dos EUA (Michigan, Pennsylvania e New Jersey) e com o objetivo de erradicação da mariposa-cigana. Entre as propriedades pulverizadas – até 15 vezes – estavam algumas, situadas em Long Island, pertencentes a personagens proeminentes dos EUA. Quando souberam que a USDA repetiria as pulverizações no ano seguinte, levaram o caso ao judiciário para brecar o programa.
Os litigantes argumentaram, sinteticamente, que os resultados práticos do programa para controle da mariposa cigana eram extremamente limitados e não compensavam os danos colaterais infligidos à vida selvagem ou mesmo os riscos – ainda desconhecidos – que tais produtos representavam à saúde humana.


[…]. Above all, they believed the government was conducting a badly conceived experiment that put the public at risk. P. 125.


No início de 1958, a autora começou a contatar seus colegas no governo para saber mais a respeito da natureza e da extensão das pulverizações. Ademais, reconhecendo o valor informativo das provas – inclusive periciais – produzidas no curso do processo judicial dos proprietários de Long Island, Rachel Carson obteve uma cópia dos autos com Marjorie Spock.
Quanto mais se iterava do assunto, mais horrorizada ficava com os programas de pulverização levados a efeito pela USDA. Comentou o caso com sua agente, Rodell, que se encarregou em propor artigos acerca do tema para vários jornais e revistas. Nenhum dos periódicos abordados demonstrou interesse em publicar uma temática tão polêmica. Mesmo assim, Carson assumiu, como dever moral, a tarefa de escrever sobre pesticidas. Em maio de 1958, assinou um contrato com a Houghton Mifflin para a edição do “poison book”. A partir de então, estaria comprometida com um projeto que demandaria muito dos seus talentos literários, científicos e dos seus recursos emocionais.



CAPÍTULO 04 – Winter. The poison book and the dark season of vindication. 

Dorothy Freeman, amiga de Rachel Carson residente no Maine, apelidou o novo livro de “poison book”. Além de uma obra literária, o trabalho representava uma verdadeira cruzada para a escritora, instigada pelo que considerava um ultraje, uma afronta da arrogância humana.


[…]. She believed that the arrogance of humankind created a deadly irony: in their determination to control nature, human beings posed a growing threat to all life on earth, including their own. […].
To promote her cause, Carson set out to build a case against those who made wanton use of dangerous chemicals. Such a case required more than gathering evidence. It required finding the right kind of evidence. She undertook her research as a partisan, not a neutral observer. In that sense, Carson violated the canons of scientific objectivity. Those who supported the cause were allies; those opposed, enemies. It was “us” against “them” and “our side” against “their side”. P. 133 


 Segundo Lytle, o ambiente dos EUA na década de 1950 não era receptivo para cruzadas contra grandes interesses comerciais ou políticos. Havia certo consenso, típico do período imediatamente posterior à Segunda Guerra, de que a batalha contra a expansão soviética implicava respeito pelas autoridades constituídas, conformação política, patriotismo acrítico, fé religiosa e comprometimento com o “American Way of Life”. 


[…]. A post-World War II consensus dominated American society. As its core lay a profound anti-Communism that meant both containing Soviet expansion abroad and fighting subversives at home. The consensus encouraged social and political conformity, respect for governmental and community authority, uncritical patriotism, religious faith, and a commitment to a vague notion of an American way of life defined by prosperity material comfort, and secure home. A person did not have to be a Communist to come under suspicion as a subversive. One had to dissent against commonly accepted values, as Carson intended to do, to be considered disloyal. P. 134. 


Rachel Carson era um alvo fácil para as críticas que certamente apareceriam após o lançamento do “poison book”. Sua devoção pela natureza remontava aos românticos do século XIX, um pensamento considerado “irracional”, “emotivo” e mesmo “obscuro” pelos amantes da ciência. Sua vida privada, por seu turno, era extremamente inconvencional: Rachel Carson era uma mulher de meia idade, solteira, que custeava as despesas do lar com o fruto do seu trabalho há vários anos, isto é, que não possuía um pai, um marido ou um irmão para prover as suas necessidades. Seu filho adotivo, na verdade sobrinho-neto, era fruto de um relacionamento amoroso escandaloso de sua sobrinha. Não fosse suficiente, não era adepta do consumismo típico dos “anos de ouro”. 


Rachel knew she faced powerful opposition. A network of government scientists and bureaucrats, chemical companies, trade associations, and corporate scientists made up the “enemy” in what began as a battle between David and Goliath. Chemical and pharmaceutical companies had acquired great prestige from the vital role they played during World War II. Army medics used newly discovered penicillin to treat soldiers with infected wounds and sexually transmitted diseases. Air Crops bombardiers dropped tons of fast-burning jellied gasoline known as “napalm” to force enemy troops out of fortified positions. Dichlorodiphenyltrichloroethane (DDT) proved invaluable in controlling the common disease-bearing insects such as mosquitoes and lice that had long been a scourge of world’s armies. Most scientists were convinced that such pesticides posed no danger to humans and little threat to domestic animals or wildlife.
Carson watched uneasily in the 1950s as the Cold War offered new incentives to expand the nation’s chemical arsenal, whether it the form of weapons of war or products to protect American agriculture. The military tested a wide range of chemical weapons that, unlike an atom bomb, could neutralize an enemy without widespread physical destruction. Scientists developed new classes of potent insecticides, herbicides, and fungicides to eliminate pests. Government entomologists and chemical company publicists freely employed metaphors that compared insects and Communists. P.135, 136 e 137.


A indústria química, por sua vez, gozava de grande prestígio. Com as tecnologias desenvolvidas para a 2ª Guerra – dentre as quais os antibióticos –, houve significativa melhora na qualidade de vida das pessoas. No clima da Guerra Fria, acreditava-se que os armamentos químicos seriam indispensáveis na guerra contra o comunismo, tanto quanto na guerra contra as pragas agrícolas (que supostamente ameaçavam o suprimento de alimentos dos EUA). 


[…]. The reality that all-out war on insects might be dangerous and that some insects might be beneficial or even essential to life seems to have escaped this entomological cold warrior […].
Throughout the 1950s government support for all manner of chemical weapons against both human and insect enemies grew rapidly. So did the close ties between the chemical company executives and the government officials who supported each other’s interests with enthusiasm. [...]. Corporate advertising and government propaganda deflected criticism from those missteps while promoting public support for chemical weapons and wider use of agricultural chemicals. Most Americans were reassured because Du Pont Corporation promised them nothing less than “better living through chemistry”. P. 139.  


Uma série de crises sanitárias preparou os EUA para a mensagem de Rachel Carson a respeito dos riscos envolvidos nos pesticidas, dentre os quais Lytle cita: 1) a corrida pelas armas de destruição em massa e os acidentes envolvidos no desenvolvimento dessa tecnologia; 2) a constatação dos perigos dos agroquímicos; 3) a constatação dos efeitos teratogênicos da talidomida.
O desenvolvimento da bomba de hidrogênio – que prometia ser mais potente que a bomba nuclear – e as hostilidades da Gerra Fria transmitiam aos cidadãos comuns a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, ocorreria uma hecatombe que extinguiria a vida na Terra. Ademais, embora os testes nucleares fossem realizados em localidades isoladas, ocorreram acidentes com radiação que vitimaram civis, inclusive em solo estadunidense.   


The primary culprit in spreading radiation was strontium-90. The isotope had an affinity for calcium. As cows ate grass dusted by nuclear fallout, the strontium appeared in their milk and then in the bones of children who drank it. Once lodged in the bones of children, it increased the risk of cancer. For a nation in the midst of a baby boom, this was terrifying news. P. 144. 


Desse modo, demandas pela extinção dos testes nucleares sobre a superfície se tornaram mais e mais estridentes. Em 1961, até donas de casa de Washington D.C, um grupo normalmente apolítico, pleiteavam o fim da corrida armamentista.
Igualmente, começou-se a duvidar da segurança dos agroquímicos para a saúde humana. A FDA (Food and Drug Administration) baniu do mercado lavouras contaminadas com aminotriazole, um pesticida registrado no USDA que comprovadamente causava câncer. Ocorre que toneladas de produtos contaminados foram lançadas no mercado e, em consequência, consumidas pelas pessoas comuns. A tensão entre USDA e FDA deixava claro que eram necessários maiores controles governamentais dos agroquímicos, visando à proteção dos consumidores.
No verão de 1962, praticamente às vésperas da publicação de Silent Spring, houve divulgação dos efeitos teratogênicos da talidomida, um medicamento utilizado para combater a gripe. O fato tornou-se conhecido porque uma companhia farmacêutica propôs-se a introduzir o medicamento no mercado norte-americano. A FDA entendeu que não dispunha de dados suficientes para atestar a segurança da droga e que testes seriam necessários antes da pretendida liberação.


[…]. Researchers soon established a direct link between use of thalidomide in the first trimester of pregnancy and horrifying birth defects. In Germany and Australia, where the drug was available, babies were born without arms, with hands connected directly to shoulders, with brain damage, as well as with a range of other mental and physical disabilities. This tragedy affected as many as 8000 babies in forty-six countries. P. 145. 


As dificuldades do novo livro de Rachel Carson envolviam: 
A) A coleta e compilação de uma quantidade enorme de dados, escondidos em laboratórios ou em relatórios governamentais, dados esses muitas vezes contraditórios. 
B) Obter informações com representantes da indústria química e da USDA que, por sua vez, tinham poucos motivos para cooperar com ela nesse trabalho. 
C) Traduzir as informações coletadas, extremamente técnicas, em um texto compreensível ao público leigo. 
D) Enfrentar poderosos interesses políticos e econômicos. 
E) Superar os problemas familiares, bem como os limites do seu próprio corpo, já doente.
Para redigir Silent Spring, Rachel Carson fez contato com pesquisadores, bem como com uma rede de conservacionistas. Do hematologista Malcolm Hargraves, Carson obteve a confirmação da conexão entre câncer e pesticidas, citada pelo toxicologista Morton Biskind no processo de Long Island. A mesma conclusão tinha sido alcançada, anos antes, pelo oncologista Wilhelm Hueper: pesticidas eram carcinogênicos. Hargraves, Biskind e Hueper, entretanto, trabalhavam no limite da cientificidade das suas respectivas disciplinas. Os elementos que esses médicos usavam para atribuir o desenvolvimento de câncer ao contato com pesticidas eram circunstanciais. Eles tinham centenas de casos reportados, mas desconheciam o mecanismo pelo qual tais substâncias seriam lesivas ao organismo humano.
Quando as peças pareciam estar finalmente se encaixando, Rachel Carson caiu doente, vitimada por uma úlcera duodenal recorrente. Hospitalizada, a autora foi diagnosticada com suspeita de câncer de mama e submeteu-se, então, a uma mastectomia radical. Sua recuperação foi lenta, dolorosa, e atrasou a conclusão de Silent Spring. Como não tinha forças para escrever, sua assistente, Jeanne Davis, ia três vezes por semana à sua casa para compilar os textos que lhe eram ditados por Rachel Carson. Outra assistente, Bette Haney, ficou encarregada de realizar entrevistas com atores-chave, para incrementar as informações que constariam do livro.
Rachel Carson descobriu, então, que os tumores nas suas mamas eram malignos e que haviam entrado em metástase, no lado direto do seu corpo. Foi então orientada a submeter-se a sessões de radioterapia ao longo de três meses. Sentindo que seu tempo estava acabando, obrigou-se a concluir o livro, que foi entregue ao editor, corrigido, em janeiro de 1962, ou seja, após 4 anos de trabalho.
   

In writing Silent Spring, Carson built a formidable cadre of allies willing, even eager, to join her in battle. Her publishers at The New Yorker and Houghton Mifflin believed in her and in the importance of her message. Rodell worked closely with Carson’s old friend, the Washington publicist Charles Alldredge, to go beyond the usual promotion sources. They sent copies of the book to opinion makers in Congress, government agencies, garden clubs, women’s political organizations, and conservation groups such as the National Audubon Society. Even before excerpts appeared in The New Yorker in June, Silent Spring had attracted a wide and influential readership. P. 161.


Scientists were not the only allies Carson made in preparing her book. Women in public life also championed her cause and none more ardently than Agnes Meyers, owner of the Washington Post. These women, who shared Carson’s passion for defending wildlife and nature, supported her as she came under fire from what turned out to be mostly male critics.
Conservationists offered Carson another body of allies. Supreme Court Justice William O. Douglas, who had himself written on pesticides, gave Carson more than one source she found useful.  P. 163 e 164.

Shortly after the second installment of Silence Spring appeared in The New Yorker, the magazine’s legal counsel received a phone call from the general counsel of Velsicol Chhemical Company in Chicago, Louis Mc Lean. Mc Lean warned that Velsicol, as the sole manufacturer of heptachlor and chlordane, would sue if the magazine printed the last installment. […]. Confident in this instance of the accuracy of Carson’s material, The New Yorker’s counsel invited Velsicol to “go ahead and sue”. P. 165.


[…]. Houghton Mifflin received a letter from Mc Lean, this one implying that Velsicol planned a lawsuit if Silent Spring were published. Beyond this legal threat, Mc Lean launched an attack that evoked the stridency of the anti-communist senator Joe Mc Carthy. Chemicals were essential, he insisted, “if we are to continue to enjoy the most abundant and purest foods ever enjoyed by any country of this world”. Beyond the “sincere opinions of natural faddists, Audubon groups, and others”, Mc Lean alluded to “sinister influences” attacking the chemical industry in the United States and Western Europe. Their ambition, he asserted, was first “to create the impression that all business as grasping and immoral” and, secondo, to reduce the use of agricultural chemicals “so that our supply of food will be reduced to east-curtain parity”. “Sinister parties” inspired or financed the attacks even from the well-intended groups, Mc Lean concluded ominously. P. 165 e 166.

  
Para Lytle, o que causou o furor contra Rachel Carson não foi apenas a exposição de que inseticidas representavam ameaças contra a saúde humana. O que lhe rendeu os maiores ataques e, inclusive, a acusação de subversão, foi a sua crítica consciente contra o paradigma do progresso científico, paradigma esse que definiu a cultura norte-americana no pós-guerra. 


Life as it existed took hundreds of millions of years to evolve until it “reached a state of adjustment and balance with its surroundings”. Time was the crucial factor for future survival. “Given time”, Carson wrote, “time not in years but in millennia – life adjusts, and a balance has been reached”. Under the current chemical and nuclear assault, however, disruptive forces strike so rapidly that “in the modern world there is no time”. […]. Carson argued that no one could believe it was possible to “lay down such a barrage of poisons of the earth’s surface without making it unfit for life”. For that reason, “biocides” was a more accurate term than “insecticides”. Worse yet, spraying was seldom the solution. Insects possessed a Darwinian capacity for survival, by which they sometimes underwent “flareback”, returning in even greater numbers than before the spraying. “The chemical war is never won”, Carson concluded, “and all life is caught in its violent crossfire”.  P. 168.


Em Silent Spring, Carson: 
1) não defende o fim do controle de parasitas; 
2) não prega a erradicação dos agroquímicos; 
3) conclama a indústria e os cientistas a desenvolverem métodos que controlem ou destruam as pragas sem, ao mesmo tempo, destruir os homens; 
4) defende que as tecnologias biológicas são muito superiores às tecnologias químicas para o controle de insetos; 
5) defende que os agroquímicos sejam utilizados de forma cautelosa, por pessoas que conheçam os seus riscos; 
6) defende que a população tem o direito de saber dos riscos dos pesticidas para, coletivamente, decidir como tais produtos devem ser utilizados.  
 

[…]. The alternatives to the chemical road to perdition shared a common trait – they were biological approaches based on an understanding of the ecological niche in which the target organism existed. Most living things have natural enemies. Sterilization of the males of a species proved effective when the USDA employed it to control the screwworm plaguing cattle in Florida. Experiments with insect venoms, repellants, and hormones showed similar promise, as did bacteria, fungi and insects that attacked other insects. All that stood in the way of these new procedures, Carson asserted, was bureaucratic inertia and the determination of chemical companies to preserve their profits. P. 172 e 173


Carson’s critics attacked both her message and the messenger. Not surprisingly, entomologists were among her most vocal assailants. Economic entomologists felt themselves under direct assault as the narrow-minded expert whom Carson charged with seeking only to improve the productivity of the agricultural economy. […]. In condemning DDT and the science that promoted its use, Carson was impugning their personal and professional reputations. Many entomologists dismissed Silent Spring as an emotional rant, hardly the factual indictment of a responsible scientist. George Decker, an economic entomologist and former USDA advisor, charged that “Silent Spring poses leading questions, on which neither the author nor the average reader is qualified to make decisions. I regard it as science fiction, to be read in the same way that the TV show Twilight Zone is to be watched. P. 173 e 174.   


In similar ways, other industry critics failed to confront Carson’s argument that pesticides damaged wildlife and posed a significant risk to public health. Instead, they launched a publicity campaign in which they invited the public to imagine a world without chemicals – a position Carson never advocated. Carson, they suggested, wanted to return the world to a state of hunger and want. If Americans accepted her ideas, warned William Darby, head of biochemistry at Vanderbilt School of Medicine, they would face “the end of all human progress, reversion to a passive social state devoid of technology, scientific medicine, agriculture, sanitations. It means disease, epidemics, starvation, misery and suffering”. P. 174.


A third group of Carson’s critics were the apostles of technology, who saw her as an enemy of scientific progress and the “American way of life”. P. 175.


He [Darby] and Louis Mc Lean of Velsicol were not the only critics who saw Carson as an agent of some subversive cult. Ezra Taft Benson, a Mormon elder who served as President Eisenhower’s secretary of agriculture, turned viciously ad hominin when he wondered “why a spinster with no children was so concerned about genetics? He added his voice to those who saw Carson as an agent of subversion by concluding that she was “probably a Communist”. P. 175.


The notion that rational scientists supported chemical pesticides and only subversives, cranks, and faddists opposed them anticipated a fault line that would widen in the 1960s. That line divide the worldviews of empirical and holistic scientists, of the new ecologists and traditional conservationists, and of the champions of consensus and conformity and countercultural advocates of life in harmony with nature. […]. Most traditionalists believed that by attacking Silent Spring they were preserving the basis of the American way of life. Those who would create the new environmental movement were similarly convinced that in defending Silent Spring they were promoting a better world. P. 175 e 176.  


Os ataques desferidos pela indústria química contra Rachel Carson e Silent Spring só trouxeram mais publicidade para o livro: “Determined to discredit Carson, her adversaries helped spread her message and in the process made her a celebrity”. P. 176.
Muitas das críticas dirigidas a Carson eram calcadas em distorções ou em desinformação. Boa parte dos seus críticos sequer se deu ao trabalho de ler Silent Spring e, os que leram, simplesmente resolveram ignorar as informações trazidas a respeito dos perigos dos inseticidas químicos.
Antevendo a possibilidade de desfazer mal-entendidos, Rachel Carson concordou em participar de um debate com um representante da USDA e com White-Stevens a respeito da controvérsia dos pesticidas, debate esse veiculado pela Rede de TV CBS. No programa, White-Stevens afirmou: “If man were to faithfully follow the teachings of Miss Carson […] we would return to the Dark Ages and the insects and diseases and vermin would once again inherit the earth”. P. 183.   


Critics only increased their volume as the book gained more attention. Most formidable among them was Dr. Robert White-Stevens, the assistant director of the Agricultural Research Division of American Cyanamid, a major chemical producer. […] he described Carson as “a fanatic defender of the cult of the balance of nature”. That charge was common among empirical scientists, who routinely dismissed holistic ecologists such as Carson as more mystic than scientific. While Carson questioned the use of pesticides, White-Stevens believed they were essential and safe. In perhaps his most telling point, he argued that restrictions on pesticides would increase hunger and disease in the developing world. “Chemicals offer the only immediate hope of increasing food production to meet world needs”, he steadfastly maintained. P. 178.


Her writing did introduce Americans to the ideas of environmentalism and the need to live in harmony with nature. P. 187.


[…]. But the honour that moved her more than other was her election to the American Academy of Arts and Letters. Limited to just 50 members, the Academy included the nation’s artistic and literary elite. Carson was one of the only four women inducted into that august body and the only writer of nonfiction among them. P. 189.


A month earlier, in November 1963, an event vindicated Carson in the starkest terms imaginable. Strollers along the Mississippi River levees discovered masses of dead fish floating on the surface. Louisiana officials were no strangers to such mysterious fish kills; they had witnessed some thirty over the past decade alone. But this one was different. Never before they seen so many dead fish. […]. Investigators ruled out parasites and disease. After painstaking analysis using state-of-the-art gas chromatography, they identified the culprit as almost undetectable amounts of the chemical pesticide endrin.
What was the source of the endrin? Investigators finally linked it to a waste-treatment plant in Memphis. […] the operator of the plant was none other than Velsicol, the very company that tried to block the publication of Silent Spring. P. 189 e 190.


Carson faleceu em 14 de abril de 1964, vítima de um ataque cardíaco fulminante. Quando aconteceu, o câncer estava em estado avançadíssimo: já havia atacado o seu cérebro.

[…]. From her earliest days she was drawn, as if by some invisible force, to the study of nature. All forms of live, she came to believe, were connected in an endless cycle. In her writing, she dedicated herself to revealing this vision. […]. Her dedication as a scientist made her credible; her gifts as a writer made her inspirational. Pilloried and honoured, she and her work breathed life into a fledgling environmental movement determined to protect the living things she loved so dearly. Only time would tell whether it would succeed. P. 191.



EPILOGUE. Rachel Carson: The Legacy 

Rachel Carson era tributária da tradição naturalista norte-americana, em especial de H. D. Thoreau, de John Muir e de Charles Elton (para quem conservação era a Ecologia aplicada). Também compartilhava a preocupação dos conservacionistas que seguiam Guifford Pinchot, a respeito do uso irracional e irresponsável dos recursos naturais.


[…]. Ecologists such as Elton and Carson believed that communities in effect formed beings greater than the sum of their parts. P. 203.


Those who knew Carson understood her debt to the new ecology as well as to the traditions of conservation and preservation. Like conservationists, Carson marshalled the authority of science to make her case that pesticides threatened natural habitats and human health. She also shared with John Muir and Thoreau the conviction that humans needed to reconnect to nonhuman world. She embraced Elton’s idea of food chains, but she rejected Tansley’s view that nature must be understood in narrowly material terms. To study living things exclusively in the laboratory and to reduce natural communities to their component parts blinded humans to nature’s larger meaning. Carson instead believed in a realm beyond science […]. At the same time, the conservationist in her warned of “the possibility of nuclear war” and of the “contamination of man’s total environment with such substances of incredible potential harm” that they threatened “the very material of heredity upon which the shape of the future depends” […]. P. 204.


 O movimento ambientalista ganhou enorme apoio público poucos anos depois da morte de Rachel Carson. Tal como Carson, esse movimento bebeu no romantismo do século XIX, no preservacionismo e no conservacionismo do início do século XX e na nova ecologia. O movimento incorporou a esperança de reconciliação entre homem e natureza.  
Surge nos anos 60 um movimento de contracultura: jovens vão residir em comunidades rurais, afastados da vida de consumo conspícuo; cultuam a mãe-terra; tornam-se vegetarianos; procuram a verdade por meio da astrologia, do Zen-budismo, dos saberes xamânicos; do uso de alucinógenos. Esses jovens tornam-se críticos da sociedade americana de então, uma sociedade materialista, racista, com grande quantidade de pessoas na pobreza e envolvida em uma guerra sem fim (Vietnã).
Em meados dos anos 1960, uma série de novos acontecimentos demonstrou a pertinência dos argumentos de Rachel Carson a respeito da ameaça que a destruição da natureza implicaria para a vida humana. Rios poluídos, montanhas de lixo, derramamento de óleo, blackouts, poluição atmosférica e até mesmo um incêndio nas águas do degradado Rio Cuyahoga (Ohio) ameaçavam a população, demonstrando a fragilidade das bases em que se assentava a vida moderna.
A Guerra do Vietnã também era encarada como um desastre ambiental provocado, dado o uso intencional de Napalm e do Agente Laranja, substâncias responsáveis pela destruição de florestas e de lavouras. Isso, sem mencionar os danos à saúde humana: “The American troops who handled it and people exposed to it on the ground suffered unusually high rates of câncer and other diseases”. P. 210.


To anti-war protestors, environmental destruction in Vietnam seemed to be an extension of the misguided effort to conquer nature. The terms “ecocide” and “ecocatastrophe” echoed Carson’s description of chemical sprays as “biocides”. The assault on Vietnam’s ecology seemed yet another demonstration of the destructiveness of the anthropocentric American way of life. Some protestors linked environmental destructiveness to corporate profiteering. P. 210.


[…]. By 1969 many radicals saw ecological politics as another way to discredit capitalism and promote a revolutionary spirit. P. 210.


[…] on April 22, 1970, some 10 million Americans and millions more around the globe reclaimed city streets for pedestrians, planted trees, hiked, and in various ways protested the pollution of the environment. Television and newspaper editorials applauded the new environmentalism as a broad-based movement dedicated to stopping litter, cleaning the air and water, and preserving the wilderness. Earth Day drew much of its style and energy from the teach-ins, marches, and campus demonstrations of the 1960s. […]. Yet, environmentalism did not briefly flourish and then die as upheavals of the 1960s gave way to the conservative backlash of the 1970s. A host of old and new environmental organizations fought to reduce pollution, advocated the rights of all living things, and rejected the assumption that humans had the right to control nature. No event could have done more to celebrate the ideals Rachel Carson bequeathed to the environmental movement. P. 212.  


A questão ambiental ganhou tal dimensão que 1969 testemunhou um movimento sem precedentes de aprovação de normas ambientais. Houve, inicialmente, a criação de uma agência ambiental (NEPA) e do seu respectivo conselho fiscalizador. O congresso criou, também, uma organização para garantir a segurança ocupacional (OSHA). Aprovou, ainda, legislação a respeito de padrões de qualidade para a água, para o ar, de limitação do uso de inseticidas e de proteção de espécies ameaçadas.
Em 1970, Nixon criou a Environmental Protection Agency (EPA), que aglutinou 15 agências e parte de agências do governo federal. Seu primeiro diretor, William Ruckelshaus, determinado a estabelecer a autoridade da EPA sobre a agenda ambiental, tomou o DDT como prioridade de ação.
Entre agosto de 1971 e março de 1972, o DDT esteve literalmente sub judice. O ônus da prova pertencia à indústria e aos seus aliados. Eles tinham de demonstrar que o DDT não era perigoso para animais, consumidores ou para aqueles que o manejavam. Ao final, o Judiciário decidiu a favor da indústria, apesar das diversas provas produzidas pelos seus opositores.
Ocorre que o Judiciário não detinha a palavra final a respeito do registro de agroquímicos nos EUA. Essa competência pertencia à EPA. Desse modo, a decisão a respeito de bani-lo ou não consistia um indicador crítico da força política da EPA na imposição da legislação ambiental. Por isso, Ruckelshaus, em junho de 1972, determinou o banimento da pulverização das lavouras com DDT. O pesticida ainda podia ser utilizado para emergências em saúde pública e podia ser produzido para exportação, mas seu uso indiscriminado nos EUA deveria acabar em até 6 meses.     


[…]. Not only this decision give the EPA broad regulatory authority, it also slew the dragon Carson had attacked. Prior to the publication of Silent Spring, the USDA registered pesticides based on evidence supplied almost exclusively by manufacturers. The public had no voice in those decisions. Now, with the EPA in control, people such as Carson’s friends Olga Huckins from Massachusetts and Marjorie Spock from Long Island would have a role in regulating new chemicals that they believed threatened their health or their property. In banning DDT, Ruckelshaus recognized the power of ordinary people. P. 217.


Setores conservadores que se opunham à regulação ambiental continuaram a pressionar politicamente o Congresso e a EPA pela liberação do uso do DDT. Ressentidos da autoridade da EPA em matéria ambiental, alguns congressistas ameaçavam aprovar legislação sobre o uso dos pesticidas que revogassem os normativos da agência. Esse movimento ganhou força com a eleição de Ronald Reagan em 1980.        


[…]. One of their primary targets was the environmental movement and the regulatory apparatus that it supported. Economic conservatives, who resented government regulations, and libertarians, eager to limit the size and power of government, chafed at the host of laws and agencies created to improve the quality of air and water, save wilderness, protect endangered species, and limit pollution. Many business leaders charged that environmental red tape hamstrung the nation’s ability to compete against foreign manufacturers; libertarians argued that regulation denied private citizens their right to exploit public resources. P. 218.


Reagan’s secretary of the interior, James Watt […] set about reordering the nation’s priorities: opening vast areas to mining and oil drilling, refusing to enforce environmental rules and regulations, turning national parks over to private concessionaires, and selling off public lands. […]. He was not […] a lone voice crying against the wilderness but rather a more outspoken representative of what came to be known as the “Sagebrush Rebellion” and, more generally, the “Wise Use” movement. These conservative rebels were determined to free property owners from environmental regulation and argued that transferring government-controlled resources into private hands would promote economic growth.
To their dismay, Reagan’s Wise Use allies discovered that the public did not want to abandon environmental rules and favoured the cleanup of the nation’s air and water. P. 218 e 219.


Having set out to destroy the environmental movement, these conservatives soon trained their fire on Rachel Carson. How better to discredit the movement than by tarnishing the reputation of its patron saint? In many ways, their tactics differed little from those used in the 1960s by critics of Silent Spring. Carson, they charged, had practiced bad science and thereby misrepresented the value of DDT. P. 219 e 220.


Writing in 1995, shortly after the fall of the Berlin Wall and the collapse of Communism, Rubin believed that Carson’s disciples in the environmental movement, those he dismissed as “utopian reformers”, posed a new threat to freedom and liberty because he suspected that “as red” totalitarianism declines, the aspirations of our radical reformers may become increasingly “green”. In that way, many conservatives believed that environmentalists now replaced domestic Communists as the enemy Americans should fear. P. 221.


Other detractors of Carson claimed that her arguments were not based on science but on faith. They described environmentalism, as Carson and her followers envisioned it, as a pseudoreligion. […]. In the spirit of Judeo-Chrisitan beliefs, [Michale] Crichton suggested, environmentalism begins with an  Eden “a state of grace and unity with nature; there’s a fall from grace into a state of pollution as a result of eating form the tree of knowledge, and as a result of our actions there is a judgment day coming for all of us. We are all energy sinners, doomed to die, unless we seek salvation”. In this environmental religion, salvation comes as “sustainability”. P. 221 e 222.


Some anti-environmental critics moved far beyond accusing Carson of bad science and misguided beliefs. They accused her of murder. […]. Writing in the New York Times in April 2004, Tina Rosenberg put the issue only a bit more soberly: “DDT killed bald eagles because of its persistence in the environment. Silent Spring is now killing African children because of its persistence in the public mind”. P. 222.


In the early twenty-first century no more than in 1960s were critics properly representing what Rachel Carson was saying. Carson would have been among the first to support limited applications of DDT in order to save lives. In Silent Spring, she never spoke against responsible se of pesticide. Rather, she urged that the methods of insect control “be such that they not destroy us along with the insects”. What she did condemn were uncritical and often untested claims that these chemicals were harmless to humans and other living things. She further decried the anthropocentric point of view that saw humans as somehow separate from and not responsible for their impact on nature. P. 226 e 227.

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