terça-feira, 22 de agosto de 2017

Esquema de leitura: WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental

Universidade de Brasília – UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Unidades de Conservação: Ideias, Ativismo e Políticas Públicas
Professor: José Luiz de Andrade Franco
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de leitura: WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8. 1991, p. 198 a 215. 



** No fim do século XIX e início do século XX, a história era tratada como "política do passado" (conchavos entre autoridades, disputas entre legisladores e presidentes, declarações de guerra e de paz). À medida que o mundo tornou-se mais globalizado e mais democrático, essa historiografia começou a dar lugar ao pensamento das pessoas comuns, observadas as diferenças de gênero, raça, classe ou casta. Finalmente, surgem os historiadores ambientais, que querem encontrar a própria Terra como agente da história.  


A história ambiental é, em resumo, parte de um esforço revisionista para tornar a disciplina da história muito mais inclusiva nas suas narrativas do que ela tem tradicionalmente sido. Acima de tudo, a história ambiental rejeita a premissa convencional de que a experiência humana se desenvolveu sem restrições naturais, de que os humanos são uma espécie distinta e "super-natural", de que as consequências ecológicas dos seus feitos passados podem ser ignoradas. P. 199.

** A velha história portou-se como nós, humanos, não vivêssemos neste planeta, como se não fôssemos parte dele. Obs. Esse também é um handicap das ciências sociais.


** A história ambiental se desenvolve no clima dos anos 1970, com as discussões e as reivindicações ambientalistas >> Anos de reavaliação e de reforma cultural em escala mundial. Também foram afetadas as ciências sociais, a economia, o direito, a filosofia, entre outras disciplinas.


** Preocupação da história ambiental >> Como os homens, ao longo do tempo, foram afetados pelo ambiente; como os homens, ao longo do tempo, afetaram o ambiente. Discute a evolução das epidemias e do clima, as calamidades naturais agravadas pela falta de antevisão, o hiperconsumo industrial, mazelas urbanas e industriais, congestionamento, poluição sonora. 

  • EUA. Um dos mais produtivos centros da história ambiental. Pioneiros: Nash e Hays. Nash recomenda que olhemos o mundo ao nosso redor como fosse um apanhado de documentos em que os americanos escrevem a respeito de si mesmos. Precursores de Nash e Hays: historiografia norte-americana a respeito da fronteira. Turner, Webb e Malin. 
  • França. Historiografia dos Annales, que há muitos anos já chama atenção para as questões ambientais. Marc Bloch (vida rural na França); Lucien Febvre (geografia social); Fernand Braudel (moldagem da vida humana nos processos de longa duração). Em 1974, foi publicada uma edição especial dos Annales dedicada à história ambiental.
** Distinção entre natureza e cultura. Embora pareça arbitrária em uma época em que todas as partes do globo são o foram direta ou indiretamente afetadas por seres humanos, trata-se de uma distinção útil para nos lembrar que há forças atuando no mundo cuja origem não está nos seres humanos (florestas, ciclos hidrológicos, derretimento de geleiras, afastamento de placas tectônicas).

** 3 grupos de questões são pertinentes à história ambiental:

  • Entendimento da natureza propriamente dita, tal como se organizou e funcionou no passado (aspectos orgânicos e inorgânicos), incluindo-se, aqui, o organismo humano.
  • Domínio sócio-econômico e suas interações com o meio ambiente. Ferramentas, trabalho, relações sociais, modos de produzir bens a partir de relações sociais e recursos naturais disponíveis.
  • Percepções, valores éticos, mitos, religiões que se tornam parte do diálogo de um grupo com a natureza.



AMBIENTES NATURAIS DO PASSADO


** As ciências naturais, apesar de possuírem uma linguagem própria bastante hermética, constituem ferramentas essenciais para a compreender a história ambiental. A química dos solos pode ter reduzido os potenciais da agricultura; oscilações de temperartura aniquilaram safras e custaram cabeças de reis.   




O historiador ambiental sempre precisa começar o seu trabalho a partir da reconstrução das paisagens do passado. 


** A Ecologia é particularmente útil ao historiador ambiental, dado que, desde Charles Darwin, ela se dedica às interações passadas e presentes, o que constitui elemento básico do processo de evolução. 

  • Encontro entre homens e vegetais. Domesticação de vegetais. 
** Aldo Leopold projetou a aliança entre ecologia e história ao defender que deveria ser realizada uma "interpretação ecológica da história". James Malin: revisão ecológica da história dos EUA.   

** Conceito-chave: ecossistemas. Englobam elementos orgânicos e inorgânicos. Olhados "de fora" (em uma escala menor), esses elementos possuem certo grau de equilíbrio. Olhados "de perto" (em uma escala maior), esses elementos estão em constante mudança. Isso é um fator que dificulta compreender o impacto real que os humanos provocam no meio.  



MODOS HUMANOS DE PRODUÇÃO


** Humanos se diferenciam dos demais animais, em especial, por serem criadores de cultura. Essa cultura -- material e imaterial -- é construída a partir de um número limitado de opções fornecidas pela natureza. Exemplo: esquimós não desenvolveram (nem poderiam desenvolver) a agricultura.


** Modo de produção: núcleo tecno-cultural de uma sociedade. No longo prazo, nenhum se adaptou adequadamente ao seu ambiente. Caso contrário, haveria pouco espaço para a história.  



PERCEPÇÃO, IDEOLOGIA E VALOR


** A natureza é uma entidade autônoma, independente dos seres humanos; mas também é uma ideia, um conceito. A história ambiental deve incluir o estudo de aspectos da estética e da ética, mito e folclore, literatura e paisagismo, ciência e religião: ela deve ir a todos os lugares em que os homens articularam o conceito "natureza".


** Ideias são socialmente construídas e refletem a organização das sociedades -- inclusive a forma como a sociedade se organiza para produzir a sua subsistência.


** História ambiental também deve englobar a história da ciência (até em decorrência dos impactos que a ciência moderna provocou no mundo natural). 


** A história ambiental retira informações das ciências naturais, mas também da teologia, da antropologia e da geografia. Ela é essencialmente interdisciplinar.

  • Semelhanças entre a geografia e a história: A geografia e a história são mais descritivas que analíticas. O geógrafo insere fenômenos no espaço, assim como o historiador insere fenômenos no tempo. O geógrafo gosta de uma boa paisagem, assim como o historiador aprecia uma boa história. 
  • Os geógrafos nos alertaram para o fato de que estamos moldando o ambiente, mais do que sendo moldados por ele.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Artigo publicado em periódico. De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson

Universidade de Brasília - UnB Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS Centro Universitário de Brasília - Uniceub Faculdade de Direito P...