Centro Universitário de Brasília - Uniceub
Faculdade de Direito / Pós-Gradação
Pós Graduação Lato Sensu em Direitos Sociais, Ambiental e do Consumidor
Monografia Final
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de leitura
Texto: HECHT, David K. "How to make a villain: Rachel Carson and the politics of anti-environmentalism". Editora Elsevier, Endeavour, Volume 36, no. 4, Dezembro de 2012.
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Resumo
** Artigo que trata da evolução da retórica anti-Rachel Carson.
** Os argumentos anti-Carson mudaram bastante ao longo dos últimos 50 anos. Entretanto, a imagem da autora como anti-heroína continuou a ser útil.
- Primeiro momento >>> Crítica às repercussões de Silent Spring para a Ciência.
- Segundo momento >>> Críticas ao papel intervencionista do Estado, demandado pelo ambientalismo e advogado em Silent Spring.
Introdução
** Desde a sua publicação, Silent Spring provocou grande repercussão. Suscitou críticas negativas dos cientistas simpáticos à indústria dos defensivos agrícolas.
** Até hoje, proliferam críticas incendiárias contra a autora e contra o seu Silent Spring, publicado na década de 1960. Ela é acusada, por exemplo, de ter matado de malária milhares de crianças africanas, ao incentivar a proibição do DDT.
** Linda Lear e Mary Hazlett apontaram que a retórica anti-Carson é cheia de discriminações de gênero, apologias à indústria e à doutrina de segurança nacional típica da Guerra Fria. Naomi Oreskes and Erik M. Conway sustentaram, por sua vez, que o discurso revisionista anti-Carson demonstra como aqueles que idolatram o livre-mercado simplesmente rechaçam a ciência que não os convém.
** O autor, entretanto, chama a atenção para o foco distinto das críticas, que variam conforme a cronologia:
Her firt critics were mostly bothered by the implications of Silent Spring for science, both its philosophical underpinnings and institutional place. Their successors focused on the ramification of her work for free market advocacy. Pp. 150.
Rachel Carson: uma radical?
** Quando publicou Silent Spring, Rachel Carson já era uma famosa escritora, conhecida em decorrência da publicação de três livros a respeito do Oceano.
** Em Silent Spring, Rachel Carson chamou a atenção para o fato de que o uso de pesticidas químicos (especialmente do DDT) implicava riscos grandes e incertos, quer para o meio ambiente, quer para a saúde pública. Esse argumento provocou a ira de diversos cientistas, sobretudo daqueles que precisavam dos recursos da indústria química para financiar suas pesquisas.
Silent Spring challenged a number of comfortable assumptions: that existing regulatory structures were sufficient to safeguard public health; that technical experts could be trusted to understand the consequences of their research; that technological advance always carried more benefits than harm; and that humans were largely exempt from the consequences of ecological change. Pp. 150.
** A leitura de Silent Spring pode levar a um questionamento geral acerca da ordem social vigente. Entretanto, essa não é uma leitura necessária. Ao sugerir o controle biológico dos defensivos agrícolas, Carson tira o foco dos aspectos sistêmicos, por exemplo, da indispensabilidade dos lucros auferidos pela indústria de pesticidas ao sucesso da agricultura capitalista.
By focusing on the idea of ‘biological control’ as a substitute for an approach based in chemistry, she made it possible to deplore the immediate issue of pesticides without demanding focus on the interwoven economic and scientific structures that had enabled the ecological damage to occur in the first place. Pp. 150.
** Os críticos de Rachel Carson vêm enfatizando este ou aquele aspecto de Silent Spring que melhor se adequa aos seus objetivos ("Teoria do Espantalho")
Para além do DDT
** Os primeiros críticos de Silent Spring advogavam que o DDT consistia uma tecnologia desenvolvida para o bem-estar e para o conforto humanos. Queixavam-se de que os argumentos de Rachel Carson eram antitéticos com o desenvolvimento e com o progresso.
** Robert White-Stevens: Um dos primeiros e mais duros ex adversus de Rachel Carson.
- Explícito defensor de pressupostos do cientificismo, atacados por Carson.
- Carson: deixou registrado em Silent Spring a firme opinião de que o controle sobre a natureza era uma ilusão concebida na arrogância típica da Pré-História da Biologia e da Filosofia.
- White-Stevens: defendia que os seres humanos haviam conquistado um espaço especial, que lhes permitia controlar a natureza.
** Edwin Diamond: ex-assistente de Rachel Carson. Desferiu ataques pessoais contra Rachel Carson. Afirmou que seus argumentos eram mais emocionais que acurados e que continham elementos de paranoia: "Diamond located Carson’s critique of pesticide use as resting, not with recognition of interconnectedness in nature, but rather with irrational and alarmist insistence on returning to a pre-modern era of suffering and squalor". Pp. 151.
** Frederick J. Stare: nutricionista de Harvard. Comparou a fartura e a saúde das sociedades que dispunham dos pesticidas com a carestia e a doença das que não dispunham. Qualificou os argumentos de Rachel Carson como irracionais e emotivos, na mesma linha de Edwin Diamond.
As many scholars have noted, attacks on Carson were highly gendered, often contending that Silent Spring was emotional and irrational, not dispassionate and factual. These claims were not trivial; they functioned as ways of discrediting her Science. The voices in the backlash’, Maril Hazlett notes, ‘argued that when Carson questioned pesticides, she revealed herself as a bad, mis- guided, unreliable woman – a powerful force of social disorder. This exclusively feminine brush also tainted anyone else who aligned with her ideas. Exploring Carson’s ecological ideas meant inviting social chaos’. Pp. 151.
** A retórica anti-Carson valeu-se de aspectos pessoais como forma de deslegitimar a expertise da autora. O ataque à sua condição feminina era a primeira e mais óbvia estratégia dos seus detratores. "Her critics assailed her as a woman who stood opposed to the whole edific of modern science and the world it supported". Pp. 152.
** LL Baldwin: um dos mais replicados ataques a Silent Spring. Não transforma Rachel Carson em uma vilã, ao contrário, enumera diversos pontos com os quais a autora provavelmente concordaria. Inicialmente, acredita, tal como ela, que é necessário um controle mais rígido e cuidadoso com os pesticidas. Também salienta que o sucesso inicial dos pesticidas pode ter levado a um tratamento descuidado com uma tecnologia que pode causar sérios prejuízos. Entretanto, Baldwin lida com os riscos de forma diversa: os riscos do DDT e de outros defensivos agrícolas devem ser considerados frente aos seus benefícios.
Da ciência à economia
** Rachel Carson tornou-se um símbolo retórico conveniente para as críticas neoliberais contra a intervenção estatal. Demonizando Rachel Carson, os adeptos do livre mercado provariam que uma intervenção estatal, supostamente bem-sucedida, não foi realmente bem-sucedida. Desse modo, poderiam demonizar a intervenção estatal na economia, em geral (p. 152).
Oreskes and Conway [argue that] such political actors are primarily interested in DDT as a proxy through which to attack what they perceive as twin evils: environmentalism and state regulation. [...] David Kinkela [also defends that]despite the fact that the pesticide may have a role to play in the contemporary world, ‘critics of environmentalists are more concerned with fightin past battles, suggesting that environmental regulation was the singular cause of so much harm around the world’ . Pp. 152.
** Rachel Carson >>> Alvo de certo tipo de ativismo político.
** Os que querem responsabilizar Rachel Carson pela erradicação do DDT omitem o fato de que ela faleceu 8 anos antes da EPA (Environmental Protection Agency) adotar essa decisão. Noutros termos, houve diversos outros atores envolvidos na erradicação do DDT, embora apenas ela seja demonizada.
- Roger Bate: "Entretanto, como ela foi progenitora do movimento ambientalista, atribui-se-lhe parte da culpa pelos impactos que esse movimento teve". Pp. 153.
** Os críticos, entretanto, não são honestos com os argumentos de Carson em Silent Spring >>>
- Carson admitiu que não pretendida advogar a extinção do DDT. Dizia-se incomodada com o uso abusivo e desregrado do pesticida
- A autora salientava que não havia pesquisa suficiente a respeito dos efeitos do DDT no solo, nas águas, nos animais e nos homens, motivo pelo qual criticou o seu uso sem restrições.
- A autora restringia as suas observações ao uso do DDT na agricultura. Não tratou do enfrentamento de doenças.
- Carson chamou atenção para o fato de que os insetos desenvolviam resistência ao DDT, de modo que quantidades cada vez maiores do veneno tornavam-se necessárias. Essa é uma realidade factual negada pelos seus críticos.
- Silent Spring é um livro de ecologia e ultrapassa as discussões acerca do DDT, da saúde humana ou do meio ambiente.
Uma vilã útil
** Ao longo dos últimos 50 anos, os críticos de Rachel Carson têm desenvolvido vários argumentos contrários à autora. Mas a sua demonização tem sido uma constante.
The early critics, faced with Silent Spring’s ample documentation and Carson’s obvious command of her material, broadened the discussion to an attack on the underlying ecological principles. Their successors, looking for evidence to marshal against the challenge that environmental science poses to conservative understandings of the free market, did the opposite. They hammered home a pro-DDT argument that aimed to criticize environmentalism by proxy. Across these evolving strategies, however, there remained at least one constant. Both sets of commentators found it rhetorically useful to demonize Carson herself. Her persistence as a villain has been more durable in anti-environmentalist rhetoric than have the specific errors for which she stands accused. Pp. 155.
** Na opinião do autor, o criticismo dirigido contra Rachel Carson é matéria que interessa a historiadores, historiadores da ciência e às ciências ambientais.
- Em se tratando de um ícone, a referência a Rachel Carson como uma personagem permite reduzir enormes discussões e controvérsias, o que facilita a divulgação dos discursos científicos para amplas audiências.
- As críticas a Rachel Carson reforçam as representações de gênero também no campo científico.
- Na década de 1960, no contexto da Guerra Fria, os argumentos ecológicos pareciam uma ameaça ao status quo e à segurança nacional. Atualmente, quando as interconexões da natureza são aceitas no meio científico, os argumentos de Carson se tornaram ameaçadores aos defensores do neoliberalismo.
Carson’s logic forces an acknowledgment of those limits. Free-market capitalism – whatever its virtues – is a cherished fiction in a nation in which virtually all political actors advocate state economic intervention of some kind. Like many such fictions, it tends to serve powerful interests, and tends to serve them best when unexamined. Pp. 155.
- Demonizar Rachel Carson é uma forma de deslegitimar completamente o seu argumento, retirando-o da arena dos discursos. Em outros termos, é uma forma de evitar o debate, não de vencê-lo.
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