terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Esquema de Leitura. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa, de José Augusto Drummond

Centro Universitário de Brasília - Uniceub
Faculdade de Direito
Pós Graduação em Direitos Sociais, Direito Ambiental e Direito do Consumidor
Discente: Juliana Capra Maia
Monografia Final
Esquema de Leitura
Referência: DRUMMOND, José Augusto L. A história ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. In Estudos Históricos, Rio de Janeiro, volume 04, n. 08, 1991, pp. 177-197.

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Introdução

** Objetivo do artigo: trazer notícia acerca da história ambiental, disciplina acadêmica praticada em países de língua inglesa.

** Apontar escritores brasileiros que trilharam por caminhos próximos à história ambiental. 

** Pretende convencer historiadores e cientistas sociais a incluir variáveis naturais nos seus respectivos estudos acerca das sociedades humanas.


Tempo, história social e história natural

** A percepção do tempo é socialmente construída. E, como outras categorias que se incorporam ao inconsciente social, o tempo torna-se um pressuposto, uma categoria a priori, inclusive para os cientistas. 


A história natural do século XIX e as suas diversas herdeiras desafiaram o tempo do Velho Testamento e da cultura européia e ocidental. pp. 179


** Até o século XIX, apregoava-se que o mundo tinha -- conforme consta do livro do Gênesis -- apenas cerca de seis milênios. As ciências naturais exigiram que essa informação fosse revista, de modo que correspondesse aos seus achados (fósseis, derretimento de geleiras, erosões, etc). 

Pelo fato de repensar a história da terra e dos seres vivos numa escala de centenas de milhões de milênios, um punhado de cientistas naturais do século XIX provocou um cataclisma no sistema "ocidental" de contagem do tempo. PP. 179.

** As ciências sociais se construíram alheias à nova dimensão do tempo geológico. E essa característica tem sido duradoura.
  • Os cientistas sociais permanecem prisioneiros do tempo cronológico, o tempo do Velho Testamento. É que a explicação dos fatos, ações ou processos sociais tem sido possível mediante utilização da escala cronológica do Gênesis.
  • Ademais, as humanidades recusaram o imperialismo spenceriano, isto é, a explicação dos processos sociais a partir de elementos biológicos ou físicos. Desse modo, as sociedades humanas foram explicadas a partir do pressuposto de que obedeceram apenas aos ponteiros do tempo cultural de alguns milênios.  

As ciências sociais não colidiram de frente com o ainda autoritário teto de seis mil anos, porque não precisavam - ou pensavam não precisar - ir além de alguns poucos milênios para interpretar os fatos - sociais, ou a ação social, ou o processo histórico. Esses poucos milênios da história humana registrada em documentos pareciam mais do que suficientes. Por serem criadores de símbolos e culturas, os humanos foram subtraídos - às vezes explicitamente - do tempo geológico e dos processos naturais a ele associados. Pp. 179.  

  • Para os clássicos das ciências sociais, as sociedades humanas estavam "fora" ou "acima" do tempo geológico: paradigma da "imunidade humana" aos fatores da natureza. 
  • O racismo-territorialismo dos anos 1930/1940, característicos do Nazismo, fez com que as ciências humanas se afastassem ainda mais das variáveis físico-ambientais. 

** Os dilemas ambientais do fim do século XX trouxeram novos desafios às ciências sociais. Não é mais possível pensar no homem "descolado" da realidade natural. Por isso, tem sido necessário que essas disciplinas superem o paradigma dentro do qual foram concebidas.

** Não por acaso, cientistas naturais (biólogos, engenheiros, físicos) inauguraram o olhar ecológico sobre as sociedades humanas. 

** História ambiental >>> "colocar a sociedade na natureza". Os elementos naturais recebem o status de forças causais ou de condicionantes da cultura. 


Conceitos, temas, fontes, métodos e estilos de trabalho da história ambiental de língua inglesa 

** Características metodológicas e analíticas da história ambiental:
  • Quase todas as análises focalizam uma região com alguma homogeneidade ou identidade natural. Desse modo, a história ambiental acaba se identificando com a história regional, dado que focaliza processos históricos geograficamente circunscritos. 
  • Diálogo com as ciências naturais: geologia, geomorfologia, meteorologia, biologia vegetal, zoologia, mineralogia, ecologia, entre outras. Não se trata de uma "breve visita" a tais disciplinas, mas uma incursão profunda, fortemente dependente. 
  • Explorar as interações entre os quadros de recursos naturais úteis e inúteis e o estilo civilizatório das sociedades humanas. 
  • Grande variedade de fontes pertinentes ao estudo das relações entre sociedades e o seu ambiente. Relatos de viajantes, mapas, relatórios técnicos, inventários de fauna, inventários florísticos, leis, atas, decretos, crônicas, mitos, diários, inventários de bens, testamentos, escrituras de compra e venda de terras, tudo enfim que permita ver: (a) quais recursos naturais são locais e quais são importados, (b) como eles são valorizados no cotidiano das sociedades e (c) que tecnologias existem para o seu aproveitamento. 
  • Trabalho de campo. Serve para identificar as marcas deixadas na paisagem pelos diferentes usos humanos, marcas essas que nem sempre constam de documentos escritos.

** Antecedentes e referências da história ambiental:
  • História das civilizações.
  • Estudos acerca da fronteira norte-americana, isto é, acerca da marcha para o oeste;
  • Estudos que correlacionam cultura material e cultura simbólica.
  • Geografia Humana e Econômica.
  • Estudos sobre energia e tecnologia.


** Temais mais comuns:
  • Origens e efeitos de políticas ambientais e da "cultura" científico-administrativa de organismos governamentais com responsabilidades pelo meio ambiente;
  • Usos conflitivos de recursos natuiais por povos com marcadas diferenças culturais (nativos americanos versus europeus, por exemplo), ou por grupos sociais distintos de sociedades complexas (protetores de animais versus caçadores);
  • Valores culturais coletivos relativos à natureza, ao meio ambiente e aos seres animais e vegetais;
  • Idéias de escritores ou militantes ambientalistas individuais; 
  • Estudos de casos notáveis de degradação ambiental. 


** Autores e livros relevantes para a história ambiental: 
  • Donald Worster (Nature's economy: a history of ecologic ideas; Dusl bowl - the southern plains in lhe 1930'; Rivers of empire - waler, aridity and the growth of lhe American West).
  • William Cronon (Changes in the land - indians, colonists and the ecology of New England).
  • Alfred Crosby (The Columbian Exchange: biological and cultural consequences of 1492; Ecological Imperialism - the biological expansion of Europe, 900-1900). 
  • Stephen J. Pyne (Fire in America: a cultural history of wildland and rural fire).
  • Leo Marx (The machine in lhe garden: technology and the pastoral ideal in America).
  • Roderick Nash (Wilderness and the American Mind).  

Nash cria o conceito de "valor de escasser' da natureza "selvagem". Para ele, essa natureza é tão mais temida e desprezada quanto mais abundante e mais próxima ela é do sujeito, e é tão mais amada e admirada quanto mais escassa e distante ela estiver. Pp. 191.   

  • Frederick Turner (Beyond geography: the western spirit againsf the wilderness).
  • Warren Dean (Brazil and fhe sfruggle for rubber: a study in environmental history).
  • Sérgio Buarque de Holanda (Monções e O Extremo Oeste).
  • Gilberto Freyre (Nordeste).
  • Aziz Ab'Saber (História Geral da Civilização Brasileira).
  • Alberto Ribeiro Lamego (Brejo, Restinga, Baía de Guanabara, Serra).
  • Euclides da Cunha.
  • Oliveira Vianna.
  • Alberto Torres.
  • Varnhagem.
  • Capistrano de Abreu.
  • Caio Prado Jr.
  • Viajantes e naturalistas dos séculos XIX e XX (relatos condensados no livro "Reconquista do Brasil"). 


Conclusão 

** História do Brasil como sucessão de ciclos econômicos >>> Demonstra que a economia do país foi e continua estreitamente atada à exploração de curto prazo de recursos naturais (florestas e produtos florestais extrativos, animais selvagens, terras agrícolas e pecuárias, depósitos minerais, rios, entre outros).

** Nova historiografia >>> Ênfase nas relações dialéticas entre capital e trabalho. Não permite que se compreenda exatamente quais os tipos de sociedade são gerados pela exploração deste ou daquele recurso natural.

** História ambiental >>> Fornece uma alternativa ao binômio ciclos estanques x ciclos abstratos. Pode contribuir para identificar, em escala regional e local, que tipo de sociedade foi formada em torno deste ou daquele recurso natural; que duração tiveram essas sociedades e quais as suas consequências para as sociedades que lhe sucederam.

Grandes setores da nossa população e da nossa economia continuam a depender do uso extensivo e raramente prudente de recursos naturais: novas terras agrícolas e pecuárias, novos empreendimentos de mineração, novos produtos extrativos, novas usinas hidrelétrica. O mercado mundial está pagando cada vez menos por esses recursos naturais. 
Sabemos que todas as dimensões da nossa economia de recursos naturais estão articuladas. Não podemos mais adiar um conhecimento histórico mais consistente de cada uma dessas dimensões. É minha opinião que a história ambiental pode dar uma contribuição decisiva para entendermos o nosso passado e o nosso presente de país rico em recursos naturais e assolado por dívidas sociais.  Pp. 195.

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