Universidade de Brasília – UnB
Centro de
Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa de Pós
Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina: Ciência
e Gestão da Sustentabilidade
Professores: Elimar
Nascimento, Thomas Ludewigs, Maurício Amazonas e Frederick Mértens.
Discente: Juliana
Capra Maia
Resumo do Texto:
SAES,
Flávio Azevedo Marques de. “Subdesenvolvimento
e desenvolvimento na obra de Celso Furtado”, in CORSI, Francisco Luiz;
CAMARGO, José Marangoni (organizadores). Celso
Furtado: os desafios do desenvolvimento. São Paulo: Cultura Acadêmica;
Marília: Oficina Universitária, 2010.
O capítulo de Flávio Saes na coletânea de artigos a respeito de
Celso Furtado (CORSI e CAMARGO, 2010) aborda o desenvolvimento, o
subdesenvolvimento (dois conceitos elementares à teoria do economista da CEPAL)
e sua relação com a industrialização. Afinal: a industrialização seria o
caminho da superação do subdesenvolvimento e da pobreza?
Uma primeira leitura do clássico de 1959, “Formação Econômica
do Brasil”, levaria a crer que a industrialização é o caminho para o desenvolvimento
brasileiro. Afinal, o texto explica o processo histórico por meio do qual uma
economia escravista e exportadora – de açúcar, de ouro e de café – se
transformou em uma economia progressivamente industrial e dirigida ao mercado
interno (configuração econômica que tende a reduzir a pobreza). Em 2005,
entretanto, Celso Furtado afirmou que não concluíra “Formação Econômica do
Brasil”. Afirmou que não acreditava que a industrialização da economia
brasileira consistisse elemento suficiente para superar o nosso subdesenvolvimento.
Informou que não revelou antes tais conclusões para que elas não minassem
iniciativas bem intencionadas e com algum potencial, tais como a criação da SUDENE.
E por que a industrialização da economia brasileira não seria
suficiente para nos levar ao desenvolvimento? Porque essa industrialização viria
por meio da “modernização”, isto é, por meio da adoção de padrões de consumo
sofisticados sem o correspondente processo de acumulação de capital e progresso
nos métodos produtivos. Como resultado, de acordo com Furtado, a
industrialização brasileira (“industrialização subdesenvolvida”) provocaria um
aprofundamento da concentração de renda, bem como um acirramento da resistência
política às mudanças que conduziriam à homogeneização social (até porque tais
mudanças implicariam, necessariamente, alteração nos padrões de consumo).
Veja-se: para Furtado, desenvolvimento não é sinônimo de simples
progresso técnico ou de aumento de capital. O principal aspecto do desenvolvimento é a
homogeneização social (p. 92), isto é, a eliminação da pobreza. Por seu lado, o
subdesenvolvimento não é conceituado, pelo autor, como “uma etapa em direção ao
desenvolvimento, mas sim como produto histórico da expansão do capitalismo industrial”
(p. 92), caracterizado pela disparidade na produtividade entre áreas rurais e
urbanas, relevante percentual da população vivendo em nível de subsistência fisiológica
e massas crescentes de subempregados em zonas urbanas.
Então, é possível superar o subdesenvolvimento? Como? De
acordo com o autor, sim. O subdesenvolvimento não seria uma sina, um destino
que os países subdesenvolvidos teriam de carregar por todo o sempre. No
capítulo ora resumido, são citados três casos de superação do
subdesenvolvimento: China, Coréia do Sul e Taiwan. Nos casos das três economias,
houve forte intervenção do Estado (sendo o caso chinês o mais extremo). Na
Coréia do Sul e em Taiwan, os Estados Nacionais investiram na universalização
da educação, na reforma agrária (retomada dos territórios ocupados pelo Japão
até a 2ª. Guerra), em planos de desenvolvimento, em crédito indutor de
investimentos e em busca de autonomia tecnológica.
Esse modelo, entretanto, seria inadequado para o Brasil. A
uma, porque não há espaço para a centralização excessiva do Estado. A duas,
porque já existe um processo de modernização bastante avançado. A três, em
decorrência do já avançado processo de globalização. Então, qual caminho
adotar? Indiscutivelmente, Furtado ressalta, é impossível superar o subdesenvolvimento
pelo livre jogo das forças do mercado. O Brasil deveria buscar soluções
criativas da sua cultura, a fim de mitigar a força do ciclo vicioso ditado
pelos bens de consumo sofisticados produzidos nos países centrais.
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