quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Esquema de Leitura: Agroecologia, Augusto Ruschi

Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Elaboração de trabalho final - Tese
Orientador: José Luiz Franco
Aluna: Juliana Capra Maia
Esquema de leitura e excertos
Referência: RUSCHI, Augusto. Agroecologia. Brasília: Horizonte, 1978.


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A Agroecologia: Os novos processos tecnológicos da agricultura em confronto com as condições de vida do homem.


** "Vulcão humano". Homens como poderoso agente geológico, interferindo no processo de evolução de bilhões de anos. 


** Os ensaios de ecologia aplicada à agricultura são tão antigos quanto a Revolução Agrícola, ocorrida entre dez e doze mil anos atrás. 


** Os erros nos cultivos ou nas criações de animais eram absorvidos pela abundância da natureza. Com o aumento da população, a profissionalização da agricultura e da pecuária tornou-se necessária, bem assim a introdução de espécies exóticas de reconhecido valor nutritivo.

"Antes de agricultor, o homem foi caçador e pescador e só após ter conseguido armazenar produtos agrícolas ele tornou-se industrial. p. 15.

** Agroecologia >> Estudo ecológico das plantas agrícolas e dos sistemas agrícolas que, por definição, são constituídos de espécies de interesse para economia humana.  

** Atualmente, a agricultura tem provocado fortes desastres ecológicos ao redor do mundo. Isso tem ocorrido em função das extensas monoculturas, que reduzem as defesas das plantas. 


** Os seres humanos têm homogeneizado as paisagens, substituindo as floras nativas por cultivos que lhe interessam. Todos os biomas de alguma forma passaram ou passam por isso. Entretanto, hoje, esses avanços estão restringindo o número de espécies aproveitáveis.



** Os países subdesenvolvidos têm baixa produtividade agrícola devido ao baixo investimento em energia.




ENERGIA =PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA



O homem e sua população em face das condições de vida nos ecossitemas.


** O homem produz cultura e é um animal superior. Mas é um animal >>

"O homem e sua sociedade [...] deve ser tomado além de um elemento cultural e espécie biológica, constituinte como parte integrante de uma ampla rede de espécies interdependentes e não considerado o seu senhor absoluto. Ele, dentro do Ecossistema, é, na cadeia trófica, um elemento consumidor, razão pela qual não poderá jamais estar desligado da ação das leis naturais. A sua condição de ser a espécie de maior valência ecológica e de ser a espécie animal mais evoluída, conquistando o topo da escala zoológica não o exclui de obedecer aos mesmos fundamentos físicos, químicos e biológicos universais, que são verdadeiros e aplicáveis a ele e suas comunidades de igual maneira que o são para as comunidades naturais". p.25.
** Evolução humana >> Deterioração dos ecossistemas naturais
  • O planeta não dispõe de terra ou de elementos minerais fertilizantes suficientes para alimentar mais que 33 bilhões de habitantes.
"[...] sabemos que a crescente população é o grande responsável pela tensão ambiental e escassez de recursos. Entre esses, a demanda de alimentos e o consumo per capita são os mais fortes". p.27.  
  • Cita, textualmente, Thomas Malthus.
  • Cereais ocupam mais de 70% das terras cultivadas em nosso planeta.
  • Crescimento da população X crescimento da produção de alimentos >> Crítico. A fome já abate milhares de pessoas ao redor do mundo, em especial nos países subdesenvolvidos. 
"[...] não sendo o homem produtor no ecossistema, e sim consumidor, hoje, em muito maior escala, o contraste entre crescimento da população e a produção de alimentos se vai tornando ainda mais sério [...]". p.30.  
  • Dieta dos pobres: fraca em proteínas. Grande parte da humanidade ainda come muito menos do que o mínimo necessário.
"Os países subdesenvolvidos (SD) diferem dos PD em certos números de problemas: possuem uma agricultura deficiente, geralmente de subsistência, um produto nacional bruto e renda per capita muito baixos, alta percentagem de analfabetos (70%), taxa alta de crescimento populacional; não são industrializados: não podem escapar à pobreza, aos problemas de saúde, higiene, falta de hospitais, sistema de abastecimento de água e redes de esgotos com tratamento em usinas". P. 32 e 33.  
  • Escassez de alimentos >> Alta de preços, que aflige principalmente as nações pobres de baixo poder aquisitivo. Os Estados não possuem estoques de alimentos para regular preços ou para situações de calamidade. 
  • Fome e miséria >> 
"É muito comum no Brasil, nas grandes cidades, a exemplo do que verifiquei em Vitória, no Espírito Santo, verem-se nos monturos do lixo despejados pela Prefeitura, pessoas em estado de miséria, disputar com os urubus, cães e suínos os restos de alimentos. Pela madrugada, outra faceta degradante pode ser presenciada na mesma cidade, em várias ruas: as latas de lixo estão expostas sobre as calçadas e as crianças pobres ali vão à cata de restos de alimento. Este retrato, para uma cidade que é corredor de exportação, portanto aberta ao contato com muitos países de todos os continentes, exprime realmente os parâmetros de Ecologia quanto à população, recursos e ambiente". p. 33 e 34.  

A fome na atualidade.


** Mesmo que os agricultores deem conta de acompanhar o crescimento da população, há problemas distributivos.  

"Assim, com alimentos suficientes, teremos a continuação de alto índice de mortes por inanição, pois existem as desigualdades de distribuição entre e dentro dos países. Os ricos conseguem mais do que o seu quinhão e podem fazer estoque; e os pobres conseguem menos; além da perda por desperdício, pragas e estragos [...]". p. 35.  
  • Apesar de ser um país rico, nos EUA também há pessoas cronicamente mal nutridas ou famintas. Ação: programas de alimentação em escolas. 

Aumento de produção de alimentos.


** O aumento da produção de alimentos fornecidos pela agropecuária pode ser obtido mediante aumento horizontal das áreas produtivas (ou seja, extensão da fronteira agrícola) ou mediante aumento da produtividade das áreas já cultivadas. 

  • EUA, Rússia, Europa. As áreas agricultáveis estão aproveitadas.
  • América do Sul e África. Dispõem de áreas virgens que podem se converter em áreas agricultadas.  

** Nos países desenvolvidos, que não se podem dar ao luxo de expandir ainda mais a sua fronteira agrícola, há forte investimento em aumento de produtividade.
  • > Produtividade tem sido alcançada mediante reposição, no solo, de três nutrientes indispensáveis às culturas agrícolas: Potássio, Nitrogênio e Fósforo. Esses nutrientes são os principais princípios ativos dos fertilizantes.
  • > Produtividade tem sido alcançada mediante mecanização. Mecanização, por sua vez, demanda energia. O petróleo é um recurso finito e não-renovável.
  • > Produtividade tem sido alcançada mediante melhoramento genético de sementes. Obtenção de híbridos e variedades com linhagens de alta produção. Ruschi: "[...] essas novas variedades tornam-se mais vulneráveis do que as variedades tradicionais, a uma gama mais extensa de pragas e doenças.
  • Fosfatos e potássio. Jazidas no Canadá (potássio), EUA, Marrocos e Tunísia (fosfatos). Recursos limitados, finitos e não renováveis. Mesmo caso do petróleo.

** Industrialização da agricultura >> Mecanização e latifúndios.
"Embora o café não seja produto essencial para a subsistência alimentar, é ainda a mola propulsora do nosso país. O aumento da produção de cereais é o mais importante para a alimentação da humanidade, especialmente a produção de proteína deve ser uma das principais metas a ser atingidas nas áreas dos países SD onde há maior reserva potencial para a produção de alimentos". p. 39.  
** Carência, no Brasil, dos competentes estudos "infraestruturais", sem os quais estaremos fadados ao fracasso.


Agricultura nos trópicos úmidos.


** Ainda estão em andamento os estudos para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária nos trópicos e, especialmente, nos trópicos úmidos.

  • Possibilidade de aproveitamento de espécies locais, em maior escala. Cupuaçu, pupunha, açaí, abioaçu e ata. 
  • Intensificação de estudos sobre as melhores formas de cultivo. 
>> Cita o caso do fracasso da borracha em Belterra e Fordlândia, em decorrência do "mal das folhas" e que aparece apenas em agroecossitemas, não nos ecossitemas naturais.
>> Cita a produção de cacau: plantado à sombra densa, tem menor rentabilidade ou produtividade. Mas está menos sujeito a doenças do que em sistemas intensivos.  
>> Cita a produção de pimenta do reino na Amazônia. Após alguns anos de produção intensiva, luta contra pragas e doenças.  
** A pobreza e a textura dos solos amazônicos facilitam o carreamento dos nutrientes, por lixiviação, para as camadas inferiores ou profundas do solo.

** Em regra, onde ocorre maior produtividade primária (biomassa) também ocorre maior produtividade agrícola.

  • Energia solar >> Fator que controla o potencial da produção de uma região. Baixa fertilidade, deficiência ou excesso de água, por sua vez, podem ser corrigidos mediante adubação, irrigação ou drenagem.
  • Distinção entre a agricultura realizada nas zonas temperadas e a agricultura realizada nos trópicos. Necessidade de reavaliação ecológica da agricultura tropical.
"Assim, o tipo do ciclo dos elementos nutritivos nos trópicos se distingue, em vários aspectos importantes,do que ocorre na zona temperada. Nas regiões frias, uma importante porção de matéria orgânica e dos elementos nutritivos disponíveis está sempre no solo ou no sedimentos, enquanto que nos trópicos, uma porcentagem muito maior está na biomassa e percorre o ciclo dentro da estrutura orgânica do sistema. Esta é a razão porque a energia agrícola da zona temperada, que implica a monocultura de plantas anuais de vida curta, pode ser totalmente inapropriada para as regiões tropicais". p. 52.  
** Os dois ecossistemas, de floresta temperada e de floresta tropical, possuem aproximadamente a mesma quantidade de carbono orgânico no solo. Mas enquanto na floresta temperada o carbono está concentrado no manto e no solo, na floresta tropical, está na própria vegetação.
  • Ciclo de nutrientes e controles nas regiões temperadas: mais físicos; 
  • Ciclo de nutrientes e controle nas regiões tropicais: mais biológicos.
"Quando se elimina uma floresta na região temperada, a terra (solo) conserva os elementos nutritivos e sua estrutura pode assim ser cultivada durante muitos anos pelo sistema "convencional", o que significa que pode ser arada uma ou mais vezes por ano, e nela podem-se plantar espécies anuais e aplicar fertilizantes inorgânicos.  
Durante o inverno, as temperaturas abaixo de zero auxiliam a conservar os elementos nutritivos e a combater as pragas e parasitos. 
Nos trópicos úmidos, com a derrubada da floresta, suprime-se a capacidade do solo de reter e permitir o ciclo dos nutrientes, bem como de combater as pragas, pois as altas temperaturas durante todo o ano e as pesadas chuvas lixiviadoras produzem seu desaparecimento para camadas profundas. 
Com muita frequência, a produtividade do cultivo decresce rapidamente e a terra é abandonada, criando-se assim um tipo ou sistema de "agricultura itinerante" sobre a qual muito se tem escrito". p. 53.   
  • Fungos microrrizais, associados às raízes. Atuam como armadilhas para capturar elementos nutritivos. São abundantes do manto superficial e na fina camada de húmus do piso da floresta.
  • OGM: "Só em raras ocasiões o ambiente exerce influência direta sobre a estrutura genética de um organismo, mas tem muita influência sobre a expressão dos caracteres hereditários. As variedades de maior produtividade, conseguidas pelos recursos da genética, sempre trazem linhagens uniformizadas, o que nos leva a perder vastos patrimônios genéticos diversificados nas plantas selecionadas, eliminando uma fonte importante para a seleção local". p. 54 e 55.
** Escassez de alimentos no mundo. Aspecto crítico: produção de proteínas. Gado, soja e peixes. Gado. Problema técnico. 1 bezerro por ano. Peixes. Oceanos com sobrepesca. Outros caminhos deverão ser encontrados.

** Sistemas agrícolas da atualidade. Combinação de fatores ecológicos, econômicos e culturais. 

  • Brasil. Ainda adota sistemas agrícolas itinerantes, utilizados desde o Brasil Colônia. Os tratos culturais se restringem às capinas e raramente há sistema de irrigação. A agricultura é fortemente dependente das condições climáticas.
** Condições para a agricultura nos trópicos:  
  • O ciclo fechado de nutrientes tem que ser mantido, devendo-se evitar que sejam lixiviados.
  • O dossel formado pelas copas das árvores não deve ser perfurado, pois a exposição à luz solar pode deteriorar rapidamente o solo da floresta.
  • A diversidade biótica deve ser mantida em um número suficientemente alto para que a ação das pragas não constitua uma ameaça grave.
  • "A quantidade de substâncias nutrientes dissolvidas na chuva, incorporadas ao ecossistema, bem como a fixação de poeira pelas plantas e uma pequena quantidade de nutrientes fornecidos pelos substratos devem ser utilizados para determinar o volume constante da colheita a ser feita". p. 64.
** A agricultura convencional se transformou em agricultura industrial  
  • Agricultura do sistema convencional. Implica a aquisição de toda uma "parafernália". 
>> A mais usada nas zonas temperadas. 
>> Lavratura da terra, irrigação, drenagem, adubação e plantio, seja de cultura permanente, seja de cultura temporária. 
>> Cuidados para combater a erosão. 
>> Nos países desenvolvidos já foram determinadas, a partir de estudos, todas as regiões geoeconômicas ("Belts" dos EUA). 
>> Emprego de máquinas, tais como colheitadeiras, plantadeiras, adubadeiras, bombas, carneiros hidráulicos, moinhos a vento. 
>> Aplicação de adubo. Aplicação de pesticidas e herbicidas. 
"Normalmente, no sistema convencional, as culturas são feitas em grandes áreas e por isso conhecidas como agricultura industrial, pois há necessidade de alto emprego de financiamentos para os trabalhos e para a aquisição de implementos, fertilizantes, defensivos, etc. [...]. Com a modernização da agricultura, o sistema convencional teve o aditivo de melhora substancialmente [sic.] as plantas que o homem aclimatou há milhares de anos, mas só mais recentemente ele, com os recursos da genética, conseguiu obter variedades e linhagens de alta produtividade, uma vez que hibridou e interibridou muitas espécies e variedades das principais culturas, como: trigo, arroz, milho, aveia, batata e tantas outras". p. 82 e 83. 
** Aqui, mais uma alfinetada na Aracruz Celulose e no IBDF: 
"Os estudos prévios, antes da introdução de planas exóticas, devem ser também mais prolongados, uma vez que o agroecossistema traz um impacto com grandes possibilidades de alteração em profundidade das culturas. É o que vem acontecendo no Brasil, com o interesse de expansão da pecuária, adotando novas espécies de gramíneas, e mesmo no reflorestamento com muitas espécies de Eucaliptus, que foram plantadas onde os estudos de Zoneamento Ecológico foram foram exíguos e erradamente foram plantadas espécies inapropriadas, redundando em fracassos futuros ou imediatos". p. 84.



"A ecologia é a base do controle biológico de pragas e de hervas daninhas por meio de inimigos naturais". p. 85.



** Crítica à "Revolução Verde". Solução cara e apenas paliativa, dado que o problema central é o aumento populacional: 

"A tecnologia avançada veio acelerar a "industrialização no sistema de cultivo agrícola", estabelecendo as grandes fazendas de produção, criando os latifúndios ou as cooperativas de produção, conforme as regiões e países, sejam capitalistas ou não, e chegou com a chamada "Revolução Verde", não só nos PD mas também nos SD". p. 85.    
"É realmente desleixo acreditar-se na "revolução verde" para resolver o problema da população, como ocorreu ni México, e também acreditar-se que ela resolverá em definitivo a fome no mundo. É claro que, sem ela, teria sido mais trágico. Em vez de 20 milhões de mortes por inanição a cada ano, teríamos tido muito mais. O certo é que a fome continua. A "Revolução Verde" com novas variedades de alta produtividade tornou possível conter a tendência negativa da produção de alimentos por alguns anos, em alguns países, evitando-lhes a fome generalizada. Mas ela não representa uma solução para o problema dos alimentos, foi um meio de ganhar tempo, talvez 15 anos, enquanto estudamos os meios de deter a expansão demográfica [...]." p. 86 e 87. 

** A agricultura convencional (industrial) é cara e complexa >>

  • Demanda muita água, muita energia (inclusive fóssil), muito investimento em pesquisa e tecnologia. 
  • Demanda controle químico da água, do ar e do solo. 
  • Fósforo e potássio, utilizados como fertilizantes, também prejudicam os cursos hídricos: eutrofização.
  • Nas regiões tropicais, em decorrência da sua ecologia, demanda ainda mais controle e investimentos, sob pena de degradação ambiental.
  • Com o emprego de maquinário, ocupará necessariamente grandes extensões de terras, em sistemas de latifúndios. Isso implica a expulsão dos pequenos agricultores para as cidades, criando problemas de toda a ordem. "Alarga-se muito mais a diferença entre os ricos e os pobres e o número destes cresce em maiores proporções". p. 91.
** Salinização dos solos. Ocorreu nos EUA. Começou a acontecer no Brasil, após a utilização errada de potássio nas culturas de soja.
"Os solos agrícolas estão sujeitos ao fenômeno de salinização, uma vez que a aplicação de fertilizantes, principalmente nos trópicos, onde o poder de lixiviação é muito acentuado e o acúmulo de cálcio deslocado em camadas mais profundas e por ação de íons sulfatados ou clorados, é transformado em carbonato de cálcio, tornado o solo salinizado e impermeável". p. 89.   
** Objetivo da agroecologia >> 
"O objetivo da agroecologia é assegurar uma preservação do meio ambiente em qualidade que atinja tanto as necessidades estéticas e de recreio, como o de assegurar um rendimento contínuo de plantas, animais e materiais úteis, estabelecendo um ciclo equilibrado de colheita e renovação" p. 90. 
"Dar mais apoio ao pequeno agricultor nos países SD é um caminho a trilhar como fator positivo e, por outro lado, o desenvolvimento de um plano familiar adequado, para a expansão demográfica mais condizente". p. 91.

O sistema de agricultura biodinâmica (orgânica ou do ecodesenvolvimento).


** Tal como a agricultura convencional, a agricultura biodinâmica também emprega métodos de análises dos fatores abióticos e bióticos, aproveitando os resultados obtidos com as plantas melhoradas e de melhor rendimento. Mas a ênfase é nos elementos bióticos. 

  • Metabolismo do solo. 
  • Vontade do homem de se reconciliar com a natureza. Tendência mundial: "a sanidade desses produtos [orgânicos] e o seu paladar, são bem diferentes dos produzidos pelo sistema convencional-industrial". p. 99.
  • Dois grupos são essenciais na fauna do solo: anelídeos e artrópodes. As minhocas criam solo fértil por meio do seu trato digestivo.
  • Cerca de 80% dos animais do solo são saprófagos, ou seja, nutrem-se de matéria orgânica morta, seja de origem animal, vegetal e mesmo nas bactérias que habitam a matéria orgânica.
  • O produto final da degradação da matéria orgânica é gás carbônico, nitratos amoníacos, fosfatos, entre outros elementos, todos retomados pelas plantas vivas como alimento.
  • Terminologia:
  1. Mull. Húmus macio. Pouco ácido. Forma-se quando o solo é ricos em minhocas e enquitreídeos. Decomposição rápida de detritos. Forma-se nas florestas de copas altas.
  2. Mor. Húmus bruto. Vermes raros. Decomposição lenta de detritos, provocando espessa camada de folhas secas. É o húmus das florestas resinosas.
  3. Moder. Húmus dos solos pobres. Húmus e argilas misturados. Contém muitas formigas, coleópteros, larvas de dípteros. Atividade intensa de fungos e bactérias.
Esses fatos bastam para alertar-nos como é perigoso nos trópicos, onde os solos são pobres, fazer-se a prática de uma agricultura em moldes industriais. Esta, uma vez implantada, jamais poderá deixar de ser continuada, sob pena de nada produzir, pois o solo será esterilizado de todos os seus mais importantes elementos biológicos invertebrados. Adicionam-se como prejudiciais ao solo os pesticidas, inseticidas, fungicidas, herbicidas, arboricidas e desfolhantes, principalmente os clorados e fosforados, mercuriais e todos os demais sistêmicos. p. 97.  
"Há poucos dias apenas, o Chanceler da Alemanha [...] proibiu a fabricação e o uso, em todo o território da República Federal da Alemanha, do DDT [...] que entra na composição dos desfolhantes como o usado em Mato Grosso, há meses passados, o "agente laranja". Entretanto, um grupo industrial alemão está montando uma fábrica de DDT no Estado da Bahia, com capacidade de produzir 100 mil toneladas por mês". p. 97. 
  • Vontade do homem de se reconciliar com a natureza. Tendência mundial: "a sanidade desses produtos [orgânicos] e o seu paladar, são bem diferentes dos produzidos pelo sistema convencional-industrial". p. 99.
  • Utilização de adubos orgânicos, tais como esterco de animais, palhas de resto de culturas fermentadas, resíduos domésticos orgânicos, algas marinhas, etc. 
  • Utilização de leguminosas (que possuem bactérias fixadoras de nitrogênio do ar) como auxiliares na fertilização do solo. 
  • Combate biológico de pragas realizado com produtos com a rotenona e a nicotina.
** Agricultura brasileira. Uso excessivo de pesticidas, inclusive quando comparada à agricultura de outros países. Intoxicação de trabalhadores rurais. 
  • 1964. Pesquisa sobre o DDT afetando a vida aquática. Universidade de Wisconsin. Robert L. Rudd. 
  • clorados como DDT e BHC ficam ativos no solo por mais de 10 anos. 



"Não se conseguem dados oficiais sobre os defensivos clorados ou fosforados com exatidão." p. 106.



 ** Agroecossistemas relacionados com a silvicultura.

  • Nas regiões temperadas, foram realizados estudos com as espécies locais que mais se adaptavam aos objetivos do reflorestamento: produção de madeira ou de celulose. Nas regiões tropicais, não foram feitos estudos adequados ao aproveitamento de espécies nativas.

** Zoneamento Ecológico Florestal para o Brasil >>
  • O IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) contratou a elaboração do esquema de Zoneamento Ecológico Florestal para o Brasil, concluído em 1974 por Lamberto Golfari. 
  • Crítica de Ruschi: O zoneamento considerou aspectos climáticos e edáficos, mas não considerou os fatores bióticos. Sugeriu a utilização de apenas 49 espécies arbóreas, sendo apenas uma nativa do Brasil: a Araucaria augustifolia, o Pinho do Paraná. Pelo mapeamento, o Eucalyptus pode ser plantado em qualquer lugar do Brasil. 
  • Crítica às exóticas, especialmente ao eucalipto:
Isto é uma verdadeira monstruosidade. Os efeitos que confirmam esta monstruosidade já se fazem sentir, com erros imperdoáveis, como aconteceu no Espírito Santo, onde a Aracruz Florestal, da Aracruz Celulose, apesar de advertida pelos meus trabalhos publicados em 1968 [...] fizera o plantio de mais de 71.800.000 de árvores, dentre as quais 68.000.000 das espécies E. saligna e E. grandis, ou seja, espécies inadequadas e condenadas para a área, face aos mais elementares princípios ecológicos dessas especies serem contraindicados. Isso trouxe não só resultados relacionados com o crescimento e desenvolvimento, como ao forte ataque da doença conhecida com o nome de "cancro basilar" [...]. Isso trará um prejuízo bastante significativo, pois não permitirá o rebrote das plantas que não escaparem da doença; será necessário arrancar as raízes e realizar um novo plantio com outras espécies adequadas. p. 104 e 105.  
  • Crítica ao plantio homogêneo ou consociado de nativas:
"Outro erro desproporcional é o de reflorestar ou florestar áreas também homogêneas ou consociadas, com essências regionais. Esse erro reputo tão grande ou maior ainda do que o plantio de Eucalyptus, pois nossas essências regionais jamais foram vistas em consociações em seu habitat. Isso indica, ainda, por princípios ecológicos, que devem ser plantadas associadas, em número variável e nunca menos de 45 espécies [...]. No mais grave problema se torna o erro quando sabemos que tais reflorestamentos no Espírito Santo se estão realizando nas melhores áreas agricultáveis, pois seus terrenos são planos e estão no "platô terciário", Barreiras, onde a altitude está abaixo de 60 metros. Espécies brasileiras, como Trema micrantha (Perequiteira), fam. Umácea, dá corte em 4 anos e 51% de boa celulose". P. 105.

Conclusão.
"A necessidade de produzir mais alimentos [...] em face da expansão demográfica, obrigou o homem a esquematizar uma agricultura em termos de industrialização. A pressão sobre as áreas restantes disponíveis dos PD fez com que elas fossem totalmente aproveitadas. E nessas áreas, com recursos da tecnologia e das ciências agrícolas, e com uma infraestrutura adequada, desenvolveram-se, através da genética, novas variedades e linhagens de alta produção, redundando em maior produtividade". p. 125.

 ** Agricultura em países desenvolvidos >> superindustrializada. Agricultura em países subdesenvolvidos >> empírica. 

  • Países subdesenvolvidos têm potencial para dobrar a sua produção, apenas com a expansão da fronteira agrícola: "É o caso do Brasil, com os cerrados, que abrangem cerca de dois milhões de km2 e da Amazônia, onde uma parte regular, talvez um quinto, poderá ser aproveitada". p. 125. 

** Há necessidade de:

  • Reposicionar os diferentes sistemas agrícolas em todos os continentes. 
  • Realizar os competentes levantamentos para estabelecimento do zoneamento agroecológico. 
"A reconciliação do homem com o meio ambiente, no que toca à agricultura, jamais será conseguida, se continuarmos prosseguindo com o uso cada vez maior de fertilizantes químicos [...] pois, de um lado se consegue aumento de produtividade [...]. Entretanto, essas plantas que tiveram o seu patrimônio genético primitivo alterado substancialmente, para uma alta especialização, também por outro lado ficou altamente vulnerável quanto à resistência das pragas e doenças. Ainda aí, outros fatores vêm ao socorro da garantia da alta produção, ou seja, o emprego crescente dos "defensivos agrícolas", que eu prefiro chamar de "assassinos". p. 126.

 ** A agroecologia objetiva assegurar a preservação do meio ambiente, de modo que:

  • Atinja-se o rendimento contínuo das plantas agrícolas, dos animais e materiais úteis;
  • Garanta-se áreas de lazer;
  • Atenda-se a finalidades estéticas;  
  • Estabeleça-se um ciclo equilibrado de colheita e renovação permanente.
  • Mantenha-se a fertilidade do solo, o mais rico capital que o homem possui.
 ** A recuperação dos solos trabalhados com o sistema da agricultura industrial, nas regiões tropicais, é bem mais difícil do que nas regiões temperadas. 

 ** Necessidade de limitar o crescimento populacional, por imperativos ecológicos. 

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