Centro Universitário de Brasília - Uniceub
Faculdade de Direito
Pós-Graduação em Direito Urbanístico e Regulação Ambiental
Discente: Juliana Capra Maia
Monografia Final
Ficha de Leitura: HENRÍQUEZ R., Afonso. Peter Singer y la ecología profunda. Nómadas - Revista Crítica de Ciencias Sociales y Jurídicas, n. 32, v. 04, 2011.
1. Arne Naess e o Biocentrismo
** A Ecologia Profunda é um movimento social, filosófico e cultural, iniciado nos anos 1960 e 1970, diante das preocupações com degradação ambiental provocada pela ação antrópica.
** 1973. Arne Naess, Universidade de Oslo. Texto: "The shallow and the deep, long range ecology movements".
** Ética tradicional, contra a qual se insurge a Ecologia Profunda: Antropocêntrica. Atribui ao homem uma série de características que fariam dele o único ser digno de valor intrínseco.
** Dualismo fundacional da ética tradicional: cisão entre o homem o meio que o rodeia, isto é, a natureza. Aqui, o homem é considerado um ser superior em relação ao mundo natural, o que autoriza a sua livre exploração e aproveitamento. A natureza aparece somente como um conjunto de bens disponíveis, passíveis de apropriação.
** Proposições de Arne Naess.
1) Rechaça o imaginário da cisão homem-meio em favor daquele que contempla uma visão global / holística;
2) Igualitarismo biosférico;
3) Princípios de biodiversidade e de simbiose;
4) Postura anti-classes;
5) Luta contra a contaminação e o esgotamento dos recursos;
6) Complexidade, e não complicação;
7) Autonomia local e descentralização.
** Naess nega a existência do "homem no seu meio-ambiente". O que realmente existe, salienta, é uma rede de relações e interconexões por meio das quais se constitui o indivíduo. Esse indivíduo, portanto, apresenta uma série de características que só existem em suas relações com a alteridade.
Naess pretende derrogar uma noção muito cara à filosofia ocidental: a separação entre natureza e cultura.
** Na Ecologia Profunda, propõe-se a atribuição de valor intrínseco à VIDA. E se a vida é a medida do valor, os seres vivos possuiriam uma espécie de "direito" de existir, de prosperar e de desenvolver plenamente as suas potencialidades.
** Crítica de Singer. Se entre todos os seres só existe um continuum, não há como avaliar os pesos relativos de duas formas de vida em rota de colisão.
** Autorrealização plena. Para nos desenvolvermos, normalmente impomos aos outros os nossos interesses egoístas. A autorrealização plena, entretanto, implica uma abertura à interconexão e à identificação que existe entre todas as formas de vida: o potencial individual não é maximizado pelo sujeito isoladamente, mas somente em conexão com os demais seres. Esse entendimento permite superar o individualismo e substituí-lo pelo ideal de igualdade da biosfera.
** A posição de Naess não implica a desvalorização do homem, nem a negação das suas diferenças em relação às demais formas de vida. Antes, ela é uma rejeição do postulados aristotélico de separação entre homens e natureza pelo critério "consciência" x "não-consciência" (ou do critério de Singer, que é um alargamento do critério aristotélico: "maior complexidade" x "menor complexidade").
** Princípio da proximidade (Empatia? Solidariedade?). Os seres humanos priorizam interesses humanos não porque tenham maior nível de consciência que os demais seres vivos, mas porque guardam maior proximidade com os membros da sua espécie do que com os membros de outras. Todos os seres vivos usam outros para o próprio benefício. O chamado de Naess é que os homens sintam-se parte da comunidade de seres vivos, o que deve conduzir a uma atitude de respeito, não de exploração.
** Biodiversidade e simbiose. A diversidade das formas de vida fortalece as capacidades de sobrevivência dos indivíduos, de seus grupos e espécies. Nesse sentido, "lutar pela vida" não é sinônimo de consumir e matar, mas de coexistir e cooperar.
** E o que é vida? Para Naess, a vida é uma totalidade, não uma condição biológica animal ou vegetal, até porque essas individualidades necessitam de uma série de insumos inorgânicos para satisfazer as suas necessidades. Desse modo, também os compostos inorgânicos fazem parte do conceito de "vida" de Naess. A "vida", para Naess, é um processo integrado e em evolução permanente. É uma grande teia.
2. Aproximações com a Ecologia Profunda
** Hipótese de Gaia. 1985. James Lovelock e Lyn Margulis. "Gaia, uma nova visão da vida sobre a Terra". A Terra formaria uma todo orgânico, retroalimentável, autorregulado e teleológico, composto de uma série de subsistemas hierarquicamente organizados. O homem tornara-se um perigo para Gaia, um perigo do mesmo status ocupado pelos meteoritos e pelas explosões vulcânicas. Sendo o homem o problema e a vida na Terra, o elemento mais valioso, surge o questionamento: "seria lícito moralmente prescindir de toda uma espécie para manter o equilíbrio do sistema?".
** A Ética da Terra. Aldo Leopold, 1940. "A Sand County Almanac". O sujeito moral, por excelência, é a espécie e não os indivíduos (humanos ou não). A natureza forma uma comunidade biótica no bojo da qual devorar e ser devorado, viver e morrer fazem parte do jogo. Os indivíduos, isoladamente considerados, não tem direito a viver: somente a sua espécie o possui. A finalidade última (valor moral mais elevado) é o equilíbrio entre as espécies.
** Teleologismo biocêntrico. Paul Taylor. “Respect for nature: a theory of environmental ethics”. Um organismo e todas as formas de vida, em geral, são bens em si mesmos. Todos os seres vivos possuem valor intrínseco. Isso não se deve à consciência (até porque muitos seres não a possuem, o que lhes retiraria o valor intrínseco), mas à sua capacidade de lutar pela própria sobrevivência e pelo próprio bem-estar. E qual é o papel do homem? Os humanos são membros da Comunidade da Vida na Terra. Taylor também ressalta a liberdade, que se amplia a seres não humanos: tanto eu quanto uma árvore aspiramos "ser" de determinada forma, adequada à nossa sobrevivência. Para isso, impõe-se a liberdade.
3. O antropocentrismo de Singer à luz da Ecologia Profunda
** "Há valor fora do âmbito dos seres capazes de sentir?" A resposta a essa indagação permite classificar as diversas abordagens teóricas em ecocêntricas ou em antropocêntricas.
** Peter Singer. Antropocentrismo mitigado. Esconde um certo privilégio da espécie, embora dessacralize a vida humana. Recorre a elementos como "capacidade de sentir dor" para estender a proteção ética aos seres sencientes (um espectro muito maior do que o Homo sapiens).
** E no caso de conflito? Por que vida optar quando estão envolvidos dois seres sencientes? Singer resolve o problema por meio do estabelecimento de uma hierarquia das formas de vida, da mais complexa à mais simples, considerando, para tanto, o critério "autoconsciência".
"¿Esto implica que Singer afirma que los intereses de nuestra especie siempre se impondrán sobre los de otras? Evidentemente no, pues claramente y dada la conformación de su filosofía, los factores a considerar estarán dados en primer lugar por el nivel de placer o dolor, y en segundo lugar por el grado de conciencia, sin que tenga relevancia explícita la especie a la que pertenezcan los individuos".
** Critério da autoconsciência para estatuir a hierarquia > Ponto em que Singer revela-se antropocêntrico. Em defesa da própria teoria, Singer esclarece que seus critérios são mais objetivos do que aqueles contemplados pelas diversas abordagens que se aproximam da Deep Ecology.
El choque se produce como se puede ir apreciando, en los diversos postulados desde los cuales parten ambos sistemas, pues si Singer remite en último termino al utilitarismo, las Ecologías Profundas lo hacen a una concepción del hombre que ven en el atomismo utilitarista una de sus piezas de crítica, reemplazándola por un holismo (Naess, 1973) en el cual el ser humano surge como un elemento más, pasando incluso la vida, a comprender tanto lo animado como lo inanimado.
4. Conclusão
** Peter Singer e a Ecologia Profunda tratam de forma diversa os seres humanos. Enquanto Singer vê nos humanos um centro de interesses dada a sua qualidade de ser senciente e autoconsciente, a Ecologia Profunda enraíza o seu interesse na simples condição de se tratar de um ser vivo e, desse modo, um centro teleológico de vida.
** A Ecologia Profunda oferece um critério radicalmente mais inclusivo e universal que o sistema proposto por Singer: muito mais seres são considerados entidades morais.
** O critério de Singer, fundado no utilitarismo, se baseia em uma visão antropocêntrica ao fazer prevalecer o critério da autoconsciência sore outras características possíveis. Gera, desse modo, um privilégio em favor da espécie humana.
** O critério da Ecologia Profunda, além de mais inclusivo, prescinde da "hierarquia de complexidade" presente no pensamento de Singer (também no aristotelismo e em boa parte do pensamento de matriz ocidental). Ela trata todos os seres como iguais em relação ao seu "impulso de vir a ser".
** O autor não considera que os critérios utilizados por Singer sejam mais objetivos, racionais ou legítimos do que aqueles oferecidos por Naess ou Taylor. Os autores da Ecologia Profunda se referem a uma propriedade objetiva (não intencional) presente nos indivíduos que compõem o ecossistema. A crítica de Singer à Deep Ecology, sob esse aspecto, seria insubsistente.
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