sexta-feira, 22 de julho de 2016

Esquema de leitura: Ecologismo, Ambientalismo e Ecologia Política, de Jatobá, Cidade e Vargas.

Centro Universitário de Brasília - Uniceub
Faculdade de Direito
Pós-Graduação em Direitos Sociais, Ambiental e do Consumidor
Monografia Final
Ficha de Leitura: JATOBÁ, Sérgio Ulisses Silva; CIDADE, Lúcia Cony Faria; VARGAS, Glória Maria. Ecologismo, Ambientalismo e Ecologia Política: diferentes visões da sustentabilidade e do território. Revista Sociedade e Estado, Brasília, Universidade de Brasília, v. 24, n. 1, p. 47-87, jan/abr, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/se/v24n1/a04v24n1.pdf. 



INTRODUÇÃO

** As visões de sustentabilidade não são neutras nem imutáveis. Elas variam de acordo com a mutação das relações entre natureza e sociedade.

** Objetivo do artigo >>  Apresentar a "evolução histórica do conceito de sustentabilidade desde a criação da ecologia como ramo científico, passando pelo surgimento do ambientalismo moderado e seu desdobramento no desenvolvimento sustentável, até abordagens mais recentes como a da ecologia política" (p. 49).
  • Perspectiva da ecologia radical >> Separa as questões de proteção e conservação da natureza das questões de desenvolvimento econômico. Equaciona o território como uma natureza romantizada. Engloba a ecologia tradicional, o protecionismo, o conservacionismo, a ecologia profunda, a economia ecológica entre outras correntes que enfatizam o enfoque ecológico.
  • Perspectiva do ambientalismo >> Equilibrar os aspectos econômico, social e ambiental do desenvolvimento, em contraposição à ideia de se associar desenvolvimento exclusivamente a crescimento econômico. Enfoca basicamente a conciliação do crescimento econômico, do desenvolvimento social e da conservação ambiental, por meio do "desenvolvimento sustentável". Considera o território como um quadro neutro.
  • Perspectiva de ecologia política >> A sustentabilidade decorre da necessidade de articular sociedade e natureza, sob uma perspectiva de justiça social, empoderamento e governança. Tanto o território quanto a socionatureza constituem base do processo produtivo e palco de conflitos. Propõe "a análise dos problemas ambientais em função do seu contexto socioeconômico e político-ideológico" (p. 50). 



A ABORDAGEM DA ECOLOGIA RADICAL

** Sob o rótulo "ecologia radical" os autores se referem a todas as correntes teóricas que partem do ecocentrismo, que "pressupõe a submissão das atividades humanas às leis naturais e opõe-se ao tecnocentrismo, que credita à capacidade humana a possibilidade de reverter desequilíbrios ambientais e suprir a escassez dos recursos naturais por meios tecnológicos". P. 50. 
  • Visão teórica biocêntrica. Origina-se com a própria Ecologia, ainda no século XIX. Outorga valor intrínseco à natureza, ou seja, valor de existência. Ressalta importância da biota para a manutenção do equilíbrio ecológico. Contemplaria duas correntes: o preservacionismo e o conservacionismo. O principal foco do preservacionismo seria a separação de grandes extensões territoriais para a criação de unidades de conservação. Os conservacionistas, por sua vez, tinham preocupações de combater a caça e preocupações higienistas. 
"Embora com propostas muito semelhantes, preservacionistas e conservacionistas se diferenciavam pelo enfoque que os primeiros davam à criação de reservas naturais, enquanto os últimos se preocupavam também com a relação homem-meio ambiente no meio urbano". P. 51. 
  • Visão teórica ecológica. Fortaleceu-se após a segunda metade do século XX. Confere tratamento científico às questões ambientais, afastando-se da "postura mais romântica dos primeiros ambientalistas" (p. 52). 
"A produção e o consumo de massa, baseados no uso intensivo do petróleo e da eletricidade como fontes energéticas, geraram uma mudança radical no uso dos recursos naturais e nos seus efeitos ambientais. O uso militar da energia atômica e desastres ambientais como os do Dust Bowl nos anos de 1930, nos Estados Unidos; Donora na Pensilvânia USA (1948); o smog londrino de 1952; a contaminação da baía de Minamata, no Japão (1956) e outros, alertavam para os grandes riscos das atividades potencialmente poluidoras para o homem e para o meio ambiente". p. 52.


** Abordagem territorial da ecologia radical >>
  • Criação de áreas protegidas, preferencialmente intocadas, ou seja, sem a presença humana.
  • Bioregionalismo. 
"Na visão biorregional, o centro da experiência humana dá-se na relação das comunidades com a sua matriz de natureza local e regional, na qual a natureza e a sociedade são reunidas em um contexto de lugares específicos. O biorregionalismo dá destaque às potencialidades endógenas e às culturas locais, reconhece o território das populações tradicionais e o direito à diversidade cultural". P. 54. 


** Conclusões da ecologia radical >>
  • Aspecto comum entre as correntes que compõem a ecologia radical: submissão dos aspectos econômicos e sociais ao enfoque ecológico.
  • A abordagem da ecologia radical permitiu que compreendêssemos os processos ecológicos e a forma como as atividades humanas se inserem e afetam esses mesmos processos ecológicos, podendo provocar desequilíbrios que ameaçam a espécie humana.
  • Limitação: A ênfase nas questões ecológicas tende a dificultar a sua conciliação com as demandas econômicas e sociais.
Após a Conferência de Estocolmo, as questões ambientais adquirem um caráter mais político, pois perpassam fronteiras institucionais e barreiras econômicas. O desafio de concretização da retórica da sustentabilidade em ações efetivas faz com que o discurso da sustentabilidade adquira um tom mais conciliatório, buscando contornar resistências à sua aplicação nas políticas de desenvolvimento. Essa tendência abre espaço para o ambientalismo moderado [...]. P. 55. 


A ABORDAGEM DO AMBIENTALISMO MODERADO

** Surge em meio a uma crise econômica: a crise do Petróleo, na década de 1970.
Exposição da fragilidade da economia global.
  • A escassez de recursos naturais, além de ameaça ecológica, representava ameaça às bases de produção material. 
  • Texto: The Limits to Growth, coordenado por Meadows (1972) e patrocinado pelo Clube de Roma, uma associação de empresários. Trabalho de inspiração neomalthusiana. Foco no crescimento populacional, nos níveis de produção e de consumo. Alerta para uma possível crise econômica e ecológica sem precedentes. Ensejou:
a) A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo em 1972. Proposta, com o apoio dos países industrializados, de moratória para o crescimento econômico e populacional global. Proposta rejeitada pelos países em desenvolvimento (a pobreza seria um problema mais grave que a degradação ambiental). 
b) A criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). 
c) O posicionamento dos países subdesenvolvidos abre caminho para que a ONU preparasse o casamento entre o crescimento econômico e a conservação ambiental: "desenvolvimento sustentável". 
A crise econômica e energética dos anos 1970 teve efeitos ambientais diferentes nos hemisférios Norte e Sul. No Norte, ela impulsionou melhorias tecnológicas, que resultaram em melhor desempenho ambiental das empresas. No Sul [...] o aumento dos níveis de desemprego e de pobreza acarretou maior mobilidade socioespacial da população, acelerando a urbanização em condições precárias e, conseqüentemente, criando maiores danos ao meio ambiente. Em paralelo, a produção agrícola e industrial, buscando baixar custos e com recursos limitados para investir em melhorias tecnológicas de cunho ambiental, também aumentou a pressão sobre os recursos naturais. As propostas do ambientalismo moderado buscavam soluções para esses problemas, que ocorriam de forma distinta nos países do Norte e do Sul, de modo que fossem viáveis sem alterações radicais no modelo econômico vigente. P. 57.
  • Texto: Relatório Brundtland. Aprovado pela Assembléia Geral da ONU em 1987. Adota pressupostos claramente antropocêntricos. Foco na qualidade de vida dos seres humanos. Não contemplava uma visão catastrofista, como o Relatório Meadows. Antes, apostava na tecnologia como forma de mitigar os danos das atividades econômicas. 
  • O Relatório Brundtland e o "desenvolvimento sustentável" foram consagrados na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Cúpula da Terra, Rio-92 ou Eco-92, que contou com a participação de 175 países.
  • Rio + 10, em Joanesburgo. Balanço dos compromissos selados na Rio-92. Nos dez anos entre as duas conferências, detectou-se uma piora nos indicadores socioambientais, além da redução da ajuda dos países ricos aos países pobres. A conferência acabou se focando na redução da pobreza. 
Pode-se dizer que, a partir dessa Conferência, a questão social emerge então como elemento fundamental da sustentabilidade. Isso ressaltou a necessidade de considerar a inclusão social [...] como fator-chave na construção da sustentabilidade, mas também expôs as contradições da proposta do desenvolvimento sustentável. A constatação de que ocorreram poucos avanços nos compromissos firmados desde a Rio 92 reforçou o fato de que o desenvolvimento sustentável, enquanto propósito global, estava sendo mais retórico do que real. [...] a Conferência de Johanesburgo [...] caracterizou-se mais pela apresentação de recomendações do que pela definição de objetivos, metas e prazos concretos para a solução dos problemas sociais e ambientais do mundo. P. 59.
** Ecodesenvolvimento >>  Conceito precursor do "desenvolvimento sustentável". De acordo com Sachs, o Ecodesenvolvimento seria uma proposta de revisão do modelo econômico, pois advoga que a superação da pobreza e da destruição ambiental só será possível com maior justiça econômica para os países em desenvolvimento e com um pacto de cooperação entre os hemisférios Sul e Norte.

** Desenvolvimento sustentável >> Evolução do conceito de "ecodesenvolvimento". Definido no Relatório Brundtland como “aquele [desenvolvimento] que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. "Desenvolvimento sustentável", que pressupõe crescimento econômico, seria uma proposta mais facilmente negociável que "ecodesenvolvimento". Nesse sentido, "desenvolvimento sustentável" é um conceito que invoca uma proposta apaziguadora e utópica (teria substituído o New Deal e o socialismo, ambos falidos). 
No contexto socioeconômico, o desenvolvimento sustentável emergiu em meio à transição do fordismo para a acumulação flexível e entre os seus postulados está o de não abrir mão do crescimento econômico como forma de combater a recessão produtiva iniciada nos anos de 1970. Além disso, entre os defensores da factível conciliação entre conservação ambiental e crescimento econômico se propagou a idéia de que só com crescimento conseguir-se-ia vencer a crise ambiental, por meio de investimentos em alternativas tecnológicas e energéticas que, por sua vez, propiciariam a recuperação das taxas de lucro com aumento de produtividade, em função da utilização de menos insumos e mão-de-obra. Da mesma forma, defendiam que a crise social e a pobreza, bem como a crise ambiental, seriam automaticamente vencidas quando se atingisse um determinado nível de renda per capita. Os adeptos dessa tese panglossiana baseiam-se principalmente nos estudos de Grossman e Krueger que, ao examinar a relação entre renda per capita e indicadores de degradação ambiental, concluíram que, a partir de um nível de renda, estimado por eles em oito mil dólares, ocorreria uma reversão da degradação ambiental (Veiga, 2008 ). P. 61.
  • "Desenvolvimento sustentável" tornou-se expressão corriqueira nos documentos oficiais, nas políticas públicas, nas convenções internacionais. Apesar da existência de experiências locais bem-sucedidas, não há como sustentar a existência de modelos de crescimento com sustentabilidade.

** Abordagem territorial do ambientalismo moderado >> Sustentabilidade espacial, isto é, melhor distribuição no território dos assentamentos humanos e das atividades econômicas (Sachs).   
[Sachs] propõe a desconcentração metropolitana e industrial, uma configuração rural-urbana mais adequada, a promoção da agricultura e da exploração agrícola de florestas de forma sustentável, e freio à destruição de ecossistemas frágeis por processos descontrolados de colonização. P. 63.
  • Exemplo: organização territorial da União Europeia, que vem sendo implantada desde a década de 1980, cujas principais diretrizes são: "1) desenvolvimento de um sistema urbano equilibrado e policêntrico e de uma nova relação urbano-rural; 2) garantia de acesso paritário à infra-estrutura e ao conhecimento; e 3) desenvolvimento sustentável, gerenciamento prudente e proteção do patrimônio natural e cultural". (p. 64).


** Conclusões do ambientalismo moderado >>
  • Trouxe à tona a discussão de como colocar em prática as propostas da ecologia radical, sem frear o crescimento econômico e sem alterar substancialmente o modelo de desenvolvimento vigente.
  • Reconhece a pertinência e a urgência dos alertas dos ecologistas, ao mesmo tempo em que compreendem que a moratória do crescimento seria de difícil negociação internacional.
  • A expressão "Desenvolvimento Sustentável" tem sido criticado por seus aspectos ambíguos e contraditórios. Afinal, é possível  conciliar crescimento econômico, conservação ambiental, desenvolvimento social e participação? 
  • A premissa de que "crescimento" implica eliminação da pobreza mostrou-se historicamente questionável.
  • A "participação", por sua vez, não exerceu o papel redentor que se esperava. 
A constatação de que os compromissos internacionais firmados nas várias reuniões de cúpula sobre meio ambiente e desenvolvimento não se efetivaram, ou se efetivaram muito aquém da medida necessária, levou a um certo descrédito na proposta do desenvolvimento sustentável enquanto objetivo político. A resistência à aceitação de medidas que pressupõem sacrifício do padrão de consumo dos mais ricos em favor de uma melhor qualidade de vida para os mais pobres, implicando uma redistribuição de renda e do poder entre as nações, pode ser a razão principal para a não-efetividade das propostas e acordos firmados nas grandes conferências mundiais sobre meio ambiente (Estocolmo, Rio de Janeiro e Johanesburgo). P. 65 e 66.
  • As propostas do "desenvolvimento sustentável", especialmente no Terceiro Mundo, não têm logrado reduzir a concentração econômica, socialmente excludente e espacialmente segregadora. Nos países desenvolvidos, por sua vez, seja pelo grande aporte de recursos, seja pelos menores níveis de desigualdade, as políticas territoriais e sociais têm maior convergência.



A ABORDAGEM DA ECOLOGIA POLÍTICA

** Expressão introduzida pelo antropólogo Eric Wolf em 1972. 
  • Década de 1970. A origem do movimento de ecologia política. Ehrlich, Hardin, Heilborner e Ophuls. Trabalhos inicialmente identificados como neomalthusianos que queriam destacar a importância da pressão demográfica sobre os recursos naturais, trazendo à tona conceitos como "capacidade de carga" ou de "suporte". 
-- Capacidade de suporte >>  Dimensiona a população máxima de uma determinada espécie que pode viver de forma sustentável em um dado território.
  • Década de 1980. Recuperação da expressão "ecologia política". Trabalhos contestadores da abordagem neomalthusiana da crise ambiental e a ênfase em medidas meramente técnicas para a resolução dos problemas ambientais. Watts, Blaikie e Bunker. Ferramentas analíticas neomarxistas para relacionar degradação ambiental, opressão social de atores locais e contexto político-econômico nos países com grande desigualdade social.
  • Final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Contestação do determinismo neomarxista, apoiando-se em preceitos teóricos neoweberianos. Skocpol; Mann; Blaikie e Brookfield; Guha; Peluso; Newman e Schroeder. Tentam explicar os conflitos socioambientais com base nas relações desiguais de poder e nos diferentes interesses dos diversos atores sociais.

** Identifica-se com movimentos em prol de minorias raciais, mas principalmente com os países em subdesenvolvimento, que sofreram toda a sorte de reveses em decorrência de um modelo predatório de desenvolvimento global. Para a Ecologia Política, problemas ambientais só podem ser compreendidos se inseridos nos contextos social, político e econômico a partir de onde foram gerados.
Eles [os países subdesenvolvidos] cresceram com base no modelo exportador de matérias-primas e na exploração predatória de recursos naturais. Isso teve consequências sociais profundas, tais como aquelas destacadas por Sunkel (1967): baixo nível de renda para a maioria da população; fortes desigualdades socioeconômicas; diferenças estruturais drásticas entre países importadores e exportadores; crescimento das economias periféricas atreladas às economias centrais, devido ao modelo exportador; subaproveitamento dos recursos naturais nãointeressantes para o comércio internacional; falta de diversificação da atividade produtiva; injustiça fundiária; e remessas de lucros de empresas transnacionais para o exterior. Nesse contexto propício a conflitos socioambientais, surgem os movimentos de resistência que caracterizam a ecologia política. P. 68.

** A Ecologia Política teria como principal temática o estudo dos desequilíbrios distributivos (de renda, mas também de recursos naturais) em economias cada vez mais predatórias. 
  • Problemas ambientais não podem ser solucionados a partir de sugestões meramente técnicas. Internalização dos impactos ambientais no sistema de preços, desmaterialização da economia e ecoeficiência não são suficientes para eliminar os dilemas existentes entre ecologia e economia.
  • Objeto de interesse da Ecologia Política: privatização dos recursos naturais e socialização dos impactos ambientais.
O inevitável choque entre economia e meio ambiente materializa-se nos conflitos que envolvem a transferência dos custos ambientais para os segmentos sociais mais fracos e no exercício de fato dos direitos de propriedade sobre o meio ambiente. Isto implica que a contaminação ambiental recai sobre determinados grupos sociais e a expropriação de recursos naturais beneficia certos grupos sociais em detrimento de outros. Ou seja, uma distribuição desigual de ônus e benefícios ambientais, em função de capacidades desiguais de poder entre os atores sociais. P. 69.
  • Tem como estratégia o fortalecimento de movimentos ambientais e propõe alternativas ao desenvolvimento, justiça ambiental e a resistência como estratégia de luta. 

** Movimentos ambientais ou socioambientais >>
  • Nasceram a partir de manifestações de grupos indignados com situações (normalmente locais) de degradação ambiental, tais como contaminação por substâncias tóxicas, poluição hídrica, obras de forte e largo impacto, assim como ameaças à biodiversidade. 
  • Movimentos sociais urbanos nos EUA dos anos 1980, grupos ambientalistas tais como o Greenpeace, movimentos em prol de grupos desfavorecidos (no Brasil, os autores citam como exemplo o MST, o Movimento dos Atingidos por Barragens, além dos movimentos em prol de ribeirinhos e quilombolas).
  • Alguns autores os definem como grupos anti-estado. Isso se aproxima mais da verdade (embora não completamente) nos países de Terceiro Mundo. Nos países desenvolvidos, organizações como Greenpeace, WWF e IUCN trabalham articuladas com o Estado.

** Justiça ambiental >>
  • Nasceu como movimento urbano, tipicamente dos EUA. Constatação de que depósitos de lixo e de produtos tóxicos sempre se localizavam em bairros habitados por grupos discriminados. "Racismo ambiental". 
  • Conceito apropriado, no Brasil, por movimentos como o MST, MAB, o Movimento dos Pequenos Agricultores e os movimentos para o reconhecimento de territórios tradicionalmente ocupados. 

** Resistência como estratégia de luta >>
  • Desobediência civil.
  • Geralmente está associada à defesa de direitos sobre o território, direitos esses ligados à subsistência, à cultura e ao sagrado. 
  • Tentativa de estabelecimento de "sítios simbólicos de pertencimento" (Zaoual).

** Alternativas ao desenvolvimento >>
  • As alternativas ao atual modelo de desenvolimento propostas pelos movimentos socioambientais geralmente aliam atividades econômicas (de baixo impacto) à melhoria da condição social, econômica e política de grupos anteriormente envolvidos em atividades poluentes ou degradadoras.
  • Exemplos: Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), captação de água da chuva, defesa de métodos tradicionais de irrigação, manejo comunitário de recursos pesqueiros ou florestais, agroecologia.
A crítica a essas propostas alternativas é que, por um lado, elas não apresentam sustentabilidade econômica e, por outro, só têm viabilidade em escala reduzida e em sistemas fechados. P. 73.

** Abordagem territorial da ecologia política >>
  • A ocupação do território está intimamente ligada ao resultado das disputas entre  os diversos atores sociais pelos recursos naturais (que são limitados). Sob esse aspecto, a ocupação do território é muito mais uma questão política do que ecológica.  
[...] aborda o território em função das relações de poder dos atores sociais e das suas práticas socioespaciais, em diferentes escalas geográficas [...]. A disputa por recursos naturais escassos entre atores sociais com capacidades desiguais de poder e objetivos distintos gera conflitos socioambientais e condiciona a forma de ocupação dos territórios e as modificações ambientais que sofrem. Da mesma forma, a distribuição humana no espaço é condicionada mais por aspectos políticos do que meramente ecológicos. A forma como os humanos definem a sua territorialidade é fruto da prática do seu poder sobre o espaço territorial. P. 73/74.



Grupos com maior poder >> Maior quantidade de recursos >> Maior potencial de degradação
Grupos com menor poder >> Menor quantidade de recursos >> Mais exposição à poluição 


  • Nas regiões mais pobres do mundo, os homens são fortemente dependentes de recursos naturais. Ou seja, nessas localidades, projetos que atinjam os recursos naturais tendem a provocar severas dificuldades de subsistência para tais populações.  
  • Essas proposições, é claro, não são leis gerais. Constituem uma tendência empírica observada. "[...] só a análise do contexto socioeconômico e político vai apontar as razões pelas quais um determinado território é ocupado além da sua capacidade de suporte e esclarecer os fatores que levam à sobreexploração de seus recursos naturais, alem de identificar quais atores sociais são atingidos pelos impactos gerados". P. 75.
  • Assimetria do poder na solução das questões ambientais. Em países pobres, os maiores causadores dos danos ambientais são justamente os maiores envolvidos na sua solução. Em regra, limitam-se a prescrever soluções meramente técnicas e generalistas, desvinculadas da realidade a que deverão ser aplicadas. Por outro lado, os maiores atingidos pelos danos ambientais são normalmente alijados das discussões para solucionar os problemas ambientais.

** Conclusões >>
  • Para a Ecologia Política, a justiça social estaria no cerne dos problemas ambientais.
  • A Ecologia Política não esconderia as verdadeiras causas dos problemas ambientais (injustiça na distribuição de recursos naturais) sob o véu aparentemente neutro da técnica e do pragmatismo.  
Só por meio de uma abordagem política das questões socioambientais pode-se buscar um novo equilíbrio de forças entre atores sociais, gerando maior justiça na distribuição de ônus e benefícios decorrentes de alterações ambientais. P. 76.
  • A perspectiva da Ecologia Política, que é dialética e do conflito entre classes sociais, tem provocado impasses entre o Estado (principal ator envolvido em conflitos socioambientais) e os grupos sociais menos favorecidos.
Para a ecologia política, o território é uma construção política resultante da interação de forças entre atores com capacidades desiguais de poder e objetivos por vezes antagônicos. Quando dotado de equipamentos, infra-estrutura e redes, o território é também o arcabouço no qual se desenvolve e se perpetua o circuito produtivo, em um processo ao mesmo tempo consumidor de recursos naturais e produtor de um ambiente transformado, a socionatureza. No território, portanto, os conflitos de poder acirram-se diante de um cenário de crescente escassez de recursos naturais. 
Exacerbando os conflitos socioambientais, a ecologia política evidencia, de forma mais contundente do que as propostas da ecologia radical e do ambientalismo moderado, as contradições e dificuldades no alcance de um real modelo de sociedade sustentável. Embora as suas propostas também ainda não tenham sido capazes de fomentar este modelo alternativo de sociedade, a ecologia política aponta para um questionamento mais profundo do sentido das ações e interações humanas sobre o ambiente, da organização social e dos padrões de produção e consumo da sociedade moderna (Lipietz, 2002). Principalmente, a ecologia política revela que a crise ecológica está intimamente relacionada com a crise social e que a sustentabilidade é incompatível com uma sociedade não-igualitária e baseada no privilégio e na dominação de classes (Goldsmith, 1992). P. 77.
** A Ecologia Política não logrou, ainda, apontar qualquer solução para a crise ambiental: seja porque essa não é a sua proposta (demonstrar os conflitos tem sido prioridade), seja porque tem se concentrado em criticar as demais abordagens.



TENDÊNCIAS RECENTES, CRISE AMBIENTAL E PERSPECTIVAS

** O desafio da sustentabilidade é tema mais atual do que nunca. Aquecimento global.
  • De acordo com o IPCC, o aquecimento global possui causas majoritariamente antrópicas. Os efeitos mais severos das alterações climáticas deverão ser sentidos nas regiões tropicais do planeta, ou seja, justamente aquelas ocupadas por países pobres ou menos desenvolvidos. 
** As três principais correntes são também as três principais formas de interpretar os problemas ambientais atualmente.


"[..] a ecologia radical prioriza o aspecto ecológico, o ambientalismo moderado [...] prioriza o aspecto econômico e a ecologia política enfatiza o aspecto social. [...] o reconhecimento de que a crise ambiental tem efeitos que comprometem [...] o ecológico, o econômico e o social aproxima as três abordagens, mostrando que cada uma [...] tem aspectos a serem considerados nas alternativas [...] que ainda estão sendo buscadas pela humanidade". P. 80.



  • As três principais correntes possuem rebatimento espacial, mas tratam o território de forma diversa. 
a) A Ecologia Radical romantizaria a natureza, proporia a instituição de áreas protegidas inacessíveis ao homem, bem como o biorregionalismo.  
b) O Ambientalismo Moderado propõe a conciliação entre os usos conservacionistas e econômicos de determinado território.  
c) A Ecologia Política enxergaria o território como palco de conflitos que refletem a correlação de forças existente em determinada sociedade. Propõe a análise territorial em diferentes escalas, o que revelaria a pluralidade e a diversidade de atores envolvidos. 
Diante de crescentes ameaças ambientais e tendo em vista as diferenças entre as três correntes do ambientalismo, cada uma encararia o cenário crítico recente de forma distinta. A preponderância que a ecologia radical dá às questões ecológicas, sobrepondo-as às questões sociais e econômicas, é claramente limitada para enfrentar a complexidade das questões ambientais, mas mostrar-se-ia plenamente adequada para enfrentar um cenário crítico, no qual o desequilíbrio ecológico já teria atingido tal grau de severidade que só a opção prioritária por medidas preponderantemente ecológicas poderia salvar a humanidade de um caos social e econômico.  
Mantida a situação de crescente insustentabilidade que se encaminha progressivamente para esse mesmo cenário crítico, o discurso do ambientalismo moderado, louvado como a proposta conciliatória entre desenvolvimento e conservação ambiental, se esvaziaria na mesma medida em que a sua retórica não tem conseguido transformar-se em ações efetivas. O seu objetivo parece ser mais o de reformar o modelo econômico existente do que encarar a necessidade de revê-lo em suas bases. Contudo, é esse discurso, com as suas inegáveis fragilidades e contradições, que ainda domina o cenário das políticas ambientais. Isso ocorre especialmente quando não há nada concreto para se apresentar como alternativa ou quando enfrentar seriamente a questão ambiental exige mudanças nos padrões culturais e econômicos, mudanças essas que as sociedades ainda não estão dispostas a realizar. P. 79 e 80.

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