Universidade de Brasília – UnB
Centro
de Desenvolvimento Sustentável – CDS
Programa
de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Disciplina:
Socioeconomia do Meio Ambiente
Professores:
Marcel Bursztyn e Doris Sayago
Aluna:
Juliana Capra Maia
Esquema
de Leitura
Texto: LOWY, Michael. “De
Marx ao Ecossocialismo”, disponível em http://www.mra.org.br - Marxismo
Revolucionário Atual, Consultado em 27.07.2007 às 11:14.
* O socialismo e a ecologia são cada um à sua maneira, herdeiros da
crítica romântica.
Críticas comuns desferidas, simultaneamente, pelo Socialismo e pela
Ecologia
|
Valores
qualitativos reivindicados, simultaneamente, pelo Socialismo e Ecologia
|
|
- A racionalidade instrumental;
- A autonomização
da economia;
- O reino
da quantificação;
- A produção
como objetivo em si;
- A ditadura
do dinheiro;
- A redução
do universo social ao cálculo das margens de rentabilidade;
- A redução
do universo social à necessidade da acumulação do capital.
|
- O valor de uso;
- A
satisfação das necessidades;
- A
igualdade social para o primeiro;
- A
salvaguarda da natureza e o equilíbrio ecológico.
- A economia como “encaixada” no meio ambiente
social e natural.
|
* Os ecologistas acusam Marx e Engels de produtivismo. A acusação é justa? Sim e não.
a) Não, porque, mais do que ninguém, Marx que denunciou a lógica capitalista de produção, a acumulação do capital, das riquezas e das mercadorias como objetivo em si. A própria ideia de socialismo consistiria uma produção de valores de uso, de bens necessários à satisfação de necessidades humanas. Para Marx, o objetivo supremo do progresso técnico não é o crescimento infinito de bens [“o ter”], mas a redução da jornada de trabalho e o aumento do tempo livre [“o ser”].
b) Sim, porque se encontra amiúde, em Marx ou Engels uma tendência a fazer do “desenvolvimento das forças produtivas” o principal vetor do progresso. Postura pouco crítica para com a civilização industrial, principalmente, em sua relação destruidora para com o meio ambiente.
* Os escritos de Marx e de Engels carecem de uma perspectiva ecológica de
conjunto.
- Nem o esgotamento das matérias-primas, nem a ameaça de destruição do equilíbrio ecológico do planeta pela lógica produtivista eram um problema para Marx. Tais consistem questões eminentemente contemporâneas.
- A questão ecológica apresenta-se como desafio à renovação do pensamento marxista no limiar do século XXI. Exige revisão crítica de conceitos elementares (tais como “as forças produtivas”), da ideologia do progresso e do paradigma tecnológico da civilização industrial moderna.
- Ainda hoje o marxismo (teórico ou prático) está longe de ter alcançado uma adequada sistematização ecológica. O movimento operário tradicional europeu ainda é marcado pelas ideologias do “progresso” do produtivismo. Já defendeu a adoção de políticas claramente antiecológicas, tais como o uso da energia nuclear e o fomento da indústria automobilística.
- Contribuições teóricas dignas de nota >>>
a) Walter Benjamim >>> Um dos primeiros marxistas do século XX a denunciar a ideia de que a subjugação da natureza consistia um ensinamento eminentemente capitalista. Benjamim propunha uma nova concepção da técnica como “controle da relação entre a natureza e a humanidade”. Sugeriu enriquecer o marxismo com as ideias de Fourier, que sonhara “com um trabalho que, bem longe de explorar a natureza, está em condições de fazer emergir dela as criações que estão adormecidas em seu seio”.
b) James O’Connor >>> “à primeira contradição do capitalismo – entre forças e relações de produção –, analisada por Marx, deve-se acrescentar uma segunda, ou seja, a contradição entre as forças produtivas e as condições de produção: os trabalhadores, o espaço urbano, a natureza”.
* Méritos da Ecologia >>> Alerta acerca dos perigos que ameaçam o planeta – dirigindo a humanidade a uma verdadeira catástrofe -- em consequência do atual modo de produção e consumo. Alerta para uma crise civilizatória, dados:
a) O crescimento exponencial da poluição do ar, do solo, da água;
b) A eliminação de espécies vivas;
c) A desertificação das terras férteis;
d) A acumulação de dejetos nucleares incontroláveis;
e) A ameaça constante de novas Tchernobys;
f) A destruição em um ritmo acelerado das florestas;
g) O efeito estufa;
h) O perigo de ruptura da camada de ozônio
* * Deméritos da Ecologia >>>
a) Ignorar a conexão entre o produtivismo e o capitalismo, o que conduziria à ilusão de um “capitalismo limpo” ou de reformas capazes de controlar seus “excessos” (ecotaxas, por exemplo).
b) Tomar o capitalismo e o socialismo como variantes do mesmo modelo, tomando como paradigma as economias socialistas na Europa Oriental.
c) Arvorar-se ao papel de criticar o capitalismo em lugar do marxismo, desconsiderando, para tanto, a relação entre o produtivismo e a lógica do lucro. Noutros termos, a lógica do mercado e do lucro é incompatível com as exigências ecológicas.
d) Nas suas correntes fundamentalistas (o autor cita textualmente a Deep Ecology), a Ecologia, sob o pretexto do combate à ética antropocêntrica, recusa o humanismo e coloca todas as espécies vivas no mesmo plano. “Será justo considerar que o bacilo de Koch ou o anófele têm o mesmo direito à vida que uma criança doente de tuberculose ou malária?”.
* Ecossocialismo >>> Desenvolveu-se no decorrer dos últimos vinte e cinco anos a partir das pesquisas de alguns pioneiros russos do final do século XIX e início do século XX (Sérgio Podolinsky, Vladimir Vernadsky).
a) Autores: Manuel Sacristán, Raymond Williams, Rudolf Bahro, André Gorz, James O’Connor, Barry Commoner, Ted Benton, Juan Martinez Allier, Francisco Fernandez Buey, Jorge Reichman. Jean-Paulo Déléage, Jutta Dittfurth, Thomas Ebermann, Rainer Trampert, Erhard Epple, Lemar Altvater, Frieder Otto Wolff.
b) Argumentos:
- Há limitações
ecológicas para a expansão dos padrões de produção e de consumo dos países
avançados aos demais países. Noutras palavras, os altos padrões de produção e
de consumo dos países ricos só se sustentam em decorrência das desigualdades
sociais e econômicas existentes entre povos do Norte e povos do Sul.
- A globalização conduz à intensificação dos problemas ecológicos nos países periféricos em consequência de uma política deliberada de “exportar a poluição”.
- A globalização conduz à intensificação dos problemas ecológicos nos países periféricos em consequência de uma política deliberada de “exportar a poluição”.
- A expansão da economia
de mercado, mesmo sob o pálio da desigualdade socioeconômica Norte X Sul,
ameaça a sobrevivência da espécie humana.
- O tempo do
mercado capitalista não é o tempo da Terra. A racionalidade do capitalismo
(lucro imediato) é contraditória à racionalidade ecológica que leva em
consideração a longa duração dos ciclos naturais.
* Conclusões do autor >>>
a) Propõe uma aliança entre os “vermelhos” e os “verdes”, entre o movimento operário e o movimento ecológico, com a finalidade de lutar por uma utopia comum.
b) Reformas parciais são insuficientes para lidar com a crise da civilização contemporânea. Deve-se substituir a racionalidade estreita do lucro por uma racionalidade holística, social e ecológica:
- Substituição das atuais fontes de energia por outras, não-poluentes e renováveis, tais como a energia solar.
- Controle sobre os meios de produção e sobre as decisões de investimento e de mutação tecnológica.
- Reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo, baseada em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a salvaguarda do meio ambiente.
c) Economia de transição para o socialismo. As mudanças radicais necessárias ao equilíbrio ecológico levarão a um modo de vida alternativo, a uma nova civilização, para além do reino do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade e da produção ao infinito de mercadorias prejudiciais ao meio ambiente.
* E quais são as condições
para que verdes e vermelhos possam se unir em torno dessa causa comum?
A Ecologia deve:
A Ecologia deve:
- Renunciar às tentações do naturalismo
anti-humanista.
- Abandonar
a pretensão em tomar o lugar da crítica da economia política.
Por sua vez, o Marxismo deve:
- Desembaraçar-se do produtivismo, substituindo o esquema mecanicista da oposição entre o desenvolvimento das forças produtivas e relações de produção que o entravam, pela ideia de uma transformação das forças potencialmente produtivas em forças efetivamente destruidoras.
* Não alimentar ilusões acerca da possibilidade de ecologizar o capitalismo não implica abandonar toda e qualquer pretensão de sugerir ou de atuar em favor de algumas reformas imediatas. O atendimento dessas demandas já poderia fomentar a convergência entre vermelhos e verdes. Sugestões do autor:
a) Promoção dos meios coletivos de transportes – trem, metrô, ônibus, bonde – baratos ou gratuitos como alternativa aos engarrafamentos e à poluição provocados nas cidades e nas zonas rurais pelos veículos automotores individuais e pelo sistema dos transportes rodoviários;
b) Luta contra o sistema da dívida e dos “ajustamentos” ultraliberais imposto pelo FMI e pelo Banco Mundial aos países do Sul, com dramáticas consequências sociais e ecológicas: desemprego massivo, destruição da proteção social e das culturas alimentícias, assim como dos recursos naturais destinados à exportação;
c) Defesa da saúde pública contra a poluição do ar, da água [lençóis freáticos] ou da alimentação pela avidez das grandes empresas capitalistas;
d) Redução do tempo de trabalho como resposta ao desemprego e como visão da sociedade que privilegia o tempo livre em contraposição à “acumulação de bens”.
e) Agregar às reivindicações as pautas dos movimentos sociais de todos os matizes, dado que tais movimentos sociais (feminismo, movimento negro, movimento LGBT, etc.) constituem movimentos emancipadores.
* A Europa seria o continente mais favorável para a levar a efeito essas experiências.
Nenhum comentário:
Postar um comentário