Universidade de Brasília - UnB
Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentável
Doutorado
Socioeconomia do Meio Ambiente
Professores: Doris Sayago e Marcel Bursztyn
Ficha de Leitura
Texto:
LIPIETZ, Alain. "", Ambiente & Sociedade - Vol. V – nº 02 - ago./dez. 2002 - Vol. VI – nº 01, Jan/Jul de 2003.
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INTRODUÇÃO
* Objeto do texto >>> Compatibilidade do marxismo com a Ecologia Política.
* Marxismo >>> O autor refere-se ao marxismo como a aplicação das hipóteses básicas suscitadas por Karl Marx para encontrar "a direção correta em qualquer situação concreta", como orientação para a "ação transformadora". (pp. 09)
Crítica: O autor pretende desenvolver uma argumentação teleológica? Justificar Marx a qualquer custo? Esse apego aos textos -- à custa dos dados e fatos -- não condiz com uma postura científica, mas antes com uma postura dogmática.
* Ecologia Política >>> Após o fracasso das experiências socialistas, a Ecologia Política seria o único movimento que poderia reivindicar a agenda de "transformar a realidade com base na análise teórica, na militância e na luta política" (pp. 09). Por tal motivo, não por acaso, cada vez mais esquerdistas se aproximam das causas ambientais.
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UMA SEMELHANÇA FAMILIAR MARXISTA?
* Materialismo >>> Tanto Marx quanto os ecologistas enfocam as relações entre humanidade e natureza e, mais precisamente, as "forças produtivas", que nada mais seriam além das relações
entre as pessoas que se aplicam à natureza. De acordo com o autor, para Marx, essas relações seriam positivas, para os
verdes, negativas.
Crítica: Entendo que o argumento é duplamente falso. Nem os ecologistas enxergam as relações entre humanidade e natureza como necessariamente negativas, nem Marx considera as "forças produtivas" como positivas. Para Marx, elas simplesmente são, ou seja, são um dado da realidade.
* A Dialética >>> Tanto operário, quanto o movimento ecologista (potenciais sujeitos revolucionários) teriam surgido em decorrência de uma postura humana crítica em relação às estruturas, respectivamente, capitalista e produtivista.
* O Historicismo >>> Para o autor, tanto os ecologistas quanto os marxistas considerariam seus respectivos momentos históricos como especialmente críticos, dada a iminência de uma catástrofe ou de uma hecatombe. Esse cenário futuro -- antevisto por marxistas e ecologistas -- demandaria a intervenção dos sujeitos em prol de uma grande transformação. Ao final, a ordem vigente (capitalismo ou produtivismo) deveria ser anulada.
* Progressivismo político >>>
-- Os ecologistas, ao longo do tempo e tal como o movimento operário, estariam se aliando a movimentos pela emancipação humana (tais como o feminismo, o regionalismo, o socialismo do tipo anarquista e o terceiro-mundismo).
-- Pelo fato de se oporem ao produtivismo, verdadeiro cerne do capitalismo, os ecologistas seriam, necessariamente, progressistas políticos.
-- Socialismo e ecodesenvolvimento seriam temas afins, até porque consistem dois modelos de esperança, ao mesmo tempo, materialistas, dialéticos e históricos.
-- Os ecologistas defenderiam diversas ações, mas exercer o poder por meio dos mecanismos estatais não seria alternativa considerada por eles.
Críticas: Há vários aspectos falsos nesses argumentos. Inicialmente, não há qualquer incompatibilidade entre movimento ecológico e tradicionalismo político. Ao contrário, a preocupação com a limitação dos recursos naturais, até mesmo nos anos recentes, partiu de grupos de capitalistas (Clube de Roma), em nada identificados com as causas terceiro-mundistas, feministas ou camponesas. Correntes preocupadas com o enorme incremento populacional das últimas décadas apregoam intervenção pública para reduzir as taxas de natalidade (o que, vamos convir, não ocorre necessariamente pelo caminho democrático). Finalmente, o argumento segundo o qual os ecologistas não apostam nas estruturas estatais é contra-factual, isto é, não encontra qualquer respaldo na realidade. Os pactos internacionais e as legislações ambientais nacionais têm sido ferramenta dos movimentos ecológicos.
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* Para o autor, a ecologia política representaria o futuro do marxismo. Tal como o marxismo surgira em resposta às mazelas da revolução industrial, a ecologia política teria surgido como resposta à crise do socialismo.
Crítica: Falso. A ecologia como movimento social e político surgiu ANTES do declínio dos regimes socialistas.
* Discordância fundamental >>> A principal divergência entre ecologistas e marxistas residiria na centralidade, atribuída por Marx e seus seguidores, do processo de transformação da natureza pelos trabalhadores em atividades organizadas de formas mais ou menos alienantes. Noutras palavras, os ecologistas seriam ética, teórica e politicamente confrontados na tendência marxista de reduzir a história da humanidade às atividades transformadoras dos homens.
* Solução >>> Ao longo da história os movimentos sociais (camponeses, anticolonialista e de mulheres) acabaram engrossando as fileiras dos movimentos operários. Os puristas se contentaram com o argumento de que esses movimentos também lutavam
contra o Estado capitalista e confiou na Revolução para colocar fim a todos os possíveis conflitos entre essas causas. Com a Ecologia Política não precisa ser diferente.
* Análise econômica da crise ecológica >>> Em sentido amplo, a Ecologia Política foca nas contradições entre indivíduos e a coletividade, aplicáveis ao meio ambiente. E o meio ambiente seria, a um só tempo, condição e produto das nossas atividades no mundo.
-- A Teoria da Mercadoria, marxista, pode auxiliar na solução dos impasses.
-- Para Marx, a mercadoria "fala". Ela contém, em si, o valor necessário para a reprodução da mão-de-obra.
-- E o que a mercadoria, em tempos de crise ecológica, deve expressar? Para o autor, o grau de interesse que a sociedade tem no bem-estar de seus integrantes, bem como a sabedoria que demonstra na administração do patrimônio comum da humanidade.
-- O mercado não atenderá espontaneamente a esse tipo de demanda social e política. Deverá ser forçado pelo Estado por meio de taxas ecológicas e impostos.
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A “REVOLUÇÃO PROLETÁRIA” (OU, PELO MENOS, O PAPEL DO TRABALHO ASSALARIADO NA MUDANÇA SOCIAL)
* Contrariamente às previsões de Marx:
-- Não se verificaram, nas economias centrais, a completa expropriação do conhecimento do trabalhador;
-- Não se verificou, nas economias centrais, a redução de todo trabalho ao trabalho simples não ocorreram nas economias centrais. Resultado: o conceito de alienação tem que ser repensado.
-- As forças intelectuais do processo de trabalho não mais estão em choque com o proletariado. Elas permanecem sujeitas à dominação capitalistas, mas fora do processo de transformação. Então, o que é trabalhador, nos dias de hoje? Para o autor, hoje, o que se confrontaria com o capital seria a massa assalariada, não mais o proletariado.
-- O capital não precisa mais de todo o proletariado à sua disposição. A ideia da indispensabilidade de um exército industrial de reserva tornou-se obsoleta e só se justifica em regimes de acumulação extensivos. Quando a acumulação torna-se intensiva e sem uma redistribuição substancial de ganhos de produtividade, não há razões para o crescimento da produção capitalista ser governada pela oferta de trabalho.
-- Noutras palavras, as recentes reestruturações da demanda por mão-de-obra deixam frações maiores do proletariado estruturalmente desempregado, não obstante os seus salários sejam baixos. "Assim, juntamente com o assalariado (mas não necessariamente ao seu lado), aparece a figura do excluído ou marginalizado" (pp. 19).
-- Esfacelamento da identidade empregado - trabalhador - assalariado.
Para Marx, o papel messiânico da classe operária era atribuído ao fato de que ela não tinha “nenhum interesse específico a defender”, e tinha “a perder apenas os seus grilhões e o mundo inteiro a ganhar”. Hoje, o mundo que os excluídos esperam ganhar é aquele do assalariado (que têm seus salários a perder); pelo próprio fato de sua exclusão, perderam toda a força que poderiam ter tido. Pp. 19.
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O HORIZONTE COMUNISTA
* Depois de um século de experiências frustradas, a propriedade comum tornou-se uma piada.
* A fórmula “A cada um segundo suas necessidades” e “A cada um de acordo com suas capacidades” deve ser revista. Afinal:
-- Que necessidades? A Ecologia Política exige que essas necessidades sejam refletidas, até porque o padrão do trabalhador americano já recebe, proporcionalmente, 10 vezes a capacidade do planeta em lhe proporcionar bens naturais. Ocorre que o trabalhador americano e o indiano devem ser encarados como portadores das mesmas necessidades...
-- Que capacidades? Ambíguo. Os Yuppies são acusados de concentrar todo o escasso trabalho disponível.
* Por fim, a aspiração de cada um se expressar em sua “capacidade de agir”, e de “ver os resultados de sua própria atividade”, não conduz a um movimento pela organização coletiva da produção. Tendencia: sonho artesanal generalizado.
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